Não adianta provar milhares de rótulos para se tornar
um degustador especialista, pois parece que já se nasce especialista. É claro,
a experiência é importante, mas a capacidade de reconhecer aquela particular
nota de “raiz de alcaçuz molhada pelas primeiras chuvas de outono” é um
verdadeiro dom biológico. Isto pelo menos de acordo com os cientistas da
Pennsylvania State University que publicaram os resultados de uma pesquisa
conduzida em um painel de 110 degustadores profissionais, contra os palatos de
220 consumidores médios.
Durante a prova, os cientistas trucaram o vinho,
derramando algumas gotas de propiltiouracil, substância quase inodora que é
usada para medir a reação das pessoas ao sabor amargo. Os especialistas
ganharam em disparada, reconhecendo logo a sutil nuance, e o Professor Hayes,
que comandou a experiência, declarou: “Não é apenas diferença de aprendizado:
os especialistas parecem ser diferentes a nível genético”.
Tudo isso nos leva a uma outra consideração. O que vai fazer
o consumidor médio com uma avaliação de um super-crítico que coleciona aromas
de alcachofra madura e notas de cerejinas de montanha? O coitado Seu Severinho não sentirá nunca estes
aromas, pois geneticamente não tem o mesmo dom. Ou seja: os 100 pontos não são
para todo mundo apreciar, e na verdade, para quem vive no planeta Terra já adjetivos
como “tânico” e “
ácido” são palavras sem sentido.
Durante esta matéria me esforcei para não escrever o nome Robert Parker, mas é impossível não citar a última: depois que o famoso “advogado do vinho” deu a máxima pontuação
para a safra 2009 de Bordeaux, os preços de tais vinhos imediatamente pularam lá em cima. Particularmente os 19 vinhos que receberam 100 pontos tiveram um aumento de preço de até 26% de um dia para o outro.
Podemos então concluir segundo a ciência: o consumidor que se deixa influenciar
pela crítica vai pagar mais caro e ainda não vai ter a capacidade de apreciar o
vinho pontuado. Comportamento definitivamente pouco cientifico.
Xiii!!! Agora fiquei na dúvida: reconheço a maioria dos aromas por razões genéticas ou porque degusto bastante? rs rs rs.
ResponderExcluirCaro Mário,
Brincadeiras à parte, é como na música, onde alguns raros tem o famoso "ouvido perfeito". Ajuda muito, mas isso não garante que ele vai ser um grande músico. Acho que talento precisa de andar de mãos dadas com o duro aprendizado.
Abs,
Luiz Cola
www.vinhosemaisvinhos.com
Caro Luiz, mas é claro que nós temos o dom biológico, ehehe!
Excluir“Modéstia” a parte :-) você disse tudo e concordo plenamente com as suas palavras.
Obrigado pela visita, grande abraço!