Nestes dias não se fala de outra coisa neste nosso eno-mundo, eu tentei acompanhar tudo e venho com as últimas atualizações para vocês (agradecendo vários
amigos blogueiros como Silvestre Tavares, Luiz Cola, João Filipe
Clemente, Didu Russo e Sabrina Maciel, entre outros, pela tempestividade das
preciosas informações ).
Mais writers
ilustres comentaram a absoluta inutilidade da medida, como os conceituados
jornalistas Jorge Lucki no Valor Economico, Marcelo Copello na VejaRio, Luiz Horta no Estadão, e Beto Gerosa no IG.
A famosa chef Roberta Sudbrack já começou o boicote em seu
homônimo e cultuado restaurante, retirando logo da carta de vinho os rótulos
das vinícolas “incriminadas”.
Em campo internacional também se discute: obviamente os
produtores mundo afora estão preocupados e indignados: já na imprensa o
prestigiado jornal espanhol El Mundo se manifestou contra o "protecionismo exacerbado" e até a renomeada crítica
inglesa Jancis Robinson publicou uma matéria em seu site.
Enquanto isso, os primeiros frutos da campanha contra (em
poucos dias a petição chegou a mais de 4600 assinaturas) começaram a florescer:
esta é a nota oficial da Vinícola Salton, que deu o primeiro passo atrás. Também acho muito fácil mudar de ideia depois que o pedido já está encaminhado querendo logo se limpar e deixar a culpa para
os outros, mas pelo menos é um começo (apesar da marca ficar, na minha modesta
opinião, manchada de qualquer forma).
Em seguida a Vinícola Cave Geisse (que produz excelentes
espumantes, por sinal), que sempre foi contrária, enviou para a imprensa esta carta exemplar de extrema lucidez e bom senso.
E finalmente veio a carta oficial das entidades que estão
pedindo a lei da salvaguarda, ressaltando com força as próprias razoes,
e tentando amenizar os tons do debate, mas honestamente, de maneira bem pouco
convincente.
Talvez eu seja o último titulado a falar (ainda mais que sou
gringo!), mas pelo pouco que conheço o Brasil, já imagino que a medida vai ser infelizmente
aprovada de qualquer forma e que, como sempre, os pequenos (produtores
artesanais e nós consumidores) vão pagar as contas. Além de tudo, quem vai
perder é o próprio vinho.
Espero ardentemente estar enganado e que este nosso esforço valha algo.
Abaixo, mais comentários ilustres (fonte Paladar)
CIRO LILLA, importador
"Um espanto. Não
consigo entender como o vinho nacional, um setor que cresceu mais de 7% no ano
passado - quase três vezes a média do crescimento do PIB - precisa de
salvaguarda. A definição de salvaguarda é proteção contra risco de colapso, e
os produtores flagrantemente prosperaram. É um retrocesso, vamos voltar aos
anos 80: o que vai acontecer é que haverá na prateleira meia dúzia de vinhos
gigantes, os que aguentam as taxas."
ROGÉRIO FASANO,
restaurateur do Grupo Fasano
"É um absurdo, é
protecionismo e quem vai pagar a conta é o consumidor. Não é isso que vai fazer
crescer o vinho nacional, até porque o grande concorrente do vinho brasileiro é
o vinho da América Latina, que não vai entrar na salvaguarda. O concorrente do
vinho do Rio Grande do Sul é o argentino. Não faz sentido penalizar o francês,
o italiano."
ROGÉRIO D’ÁVILA,
importador
"O mais grave são
as cotas - se for determinado que no Brasil só podem entrar 5 milhões de
caixas, a gente vai voltar 40 anos. O governo brasileiro não incentiva a
pequena bodega - nos últimos seis meses fecharam cem delas. Vão fechar mais 200
e a culpa não é dos vinhos importados. Elas vão fechar porque o governo trata
pequenos e grandes produtores do mesmo jeito."
ARTHUR AZEVEDO,
diretor executivo da ABS-SP
Fiz a promessa de que
enquanto durar essa brincadeira eu não tomo vinho brasileiro e não falo de
vinho brasileiro. A coisa mais importante no vinho chama-se diversidade, mas
você vai ter de se conformar com aquela meia dúzia de vinhos mequetrefes que
produzem lá embaixo. Aí o que vai acontecer? Contrabando. Mas eles esqueceram
que hoje nós temos Twitter, Facebook.
ALEX ATALA, chef
Esse é um lobby
prejudicial ao vinho brasileiro, na reta final. Eu tenho colocado vários
vinhos brasileiros no cardápio do D.O.M e as pessoas preferem não provar, por
segurança – ficam com os argentinos e chilenos. Essa medida só vai piorar. É
cedo para falar o que vai acontecer, ainda não tenho uma opinião formada, mas
acredito que essa alíquota vá aumentar o consumo de argentinos, uruguaios e
chilenos. O mercado não confia no vinho nacional.
E para fechar, fique aqui com as sábias palavras do enologo Fernando Andreazza.
Mario, para mim, a carta das entidades dos produtores é realmente pouco convincente, como você disse.
ResponderExcluirO parágrafo que mais me impressiona é este :
"Por fim, para o setor vitivinícola brasileiro, a Salvaguarda não é uma “dádiva”, pois o setor terá, neste período, que implantar medidas de ajuste, principalmente estruturantes, que o auxilie a tornar-se mais competitivo. "
É exatamente o que se dizia na época da reserva de mercado da informática nos anos 70, como eu disse no meu blog.
Alguém, sinceramente, acredita que o produtor nacional, uma vez vendo reduzidíssima sua concorrência com os importados, vai realmente se dedicar a implantar esses tais "ajustes estruturais", para que, dentro de digamos 5 ou 10 anos, o produto nacional seja mais competitivo ?
Ou será que eles vão simplesmente seguir a pura e cristalina lógica capitalista e, comodamente, passar esses 5 ou 10 anos embolsando a renda adicional garantida pela reserva do mercado ?
Abraços !
Exatamente Nivaldo,
ExcluirNa verdade é uma clara admissão que os produtores nacionais já não acreditam mais nas próprias capacidades de competição em relação a qualidade/preço com os demais importados e simplesmente estão jogando a toalha. Mas na verdade estão dando um tiro no próprio pé.
Prepare-se para mais uma época de escuridão, meu amigo....
Grande abraço!
Bancou o Rolland mas o Parker caiu?
ResponderExcluirInvestiu pesado mas a qualidade não melhora?
Não tem problema, joga a conta pros consumidores de miolo mole, afinal aqui o lucro é privado e o prejuízo socializado.
Caso passem as salvaguardas, espero que os países importadores de vinho brasileiro também as adotem fortemente.
o Cosumidor não tem de sustentar o Rolland e nem empresários ineficientes.
Ocupe o Vale dos Vinhedos!
Boicote Já!