Vinopoly

sábado, 24 de março de 2012

Atualizações sobre as famigeradas “salvaguardas”


Nestes dias não se fala de outra coisa neste nosso eno-mundo, eu tentei acompanhar tudo e venho com as últimas atualizações para vocês  (agradecendo vários amigos blogueiros como Silvestre Tavares, Luiz Cola, João Filipe Clemente, Didu Russo e Sabrina Maciel, entre outros, pela tempestividade das preciosas informações ).

Mais writers ilustres comentaram a absoluta inutilidade da medida, como os conceituados jornalistas Jorge Lucki no Valor Economico, Marcelo Copello na VejaRioLuiz Horta no Estadão e Beto Gerosa no IG.

A famosa chef Roberta Sudbrackcomeçou o boicote em seu homônimo e cultuado restaurante, retirando logo da carta de vinho os rótulos das vinícolas “incriminadas”.

Em campo internacional também se discute: obviamente os produtores mundo afora estão preocupados e indignados: já na imprensa o prestigiado jornal espanhol El Mundo se manifestou contra o "protecionismo exacerbado" e até a renomeada crítica inglesa Jancis Robinson publicou uma matéria em seu site.

Enquanto isso, os primeiros frutos da campanha contra (em poucos dias a petição chegou a mais de 4600 assinaturas) começaram a florescer: esta é a nota oficial da Vinícola Salton, que deu o primeiro passo atrás. Também acho muito fácil mudar de ideia depois que o pedido já está encaminhado querendo logo se limpar e deixar a culpa para os outros, mas pelo menos é um começo (apesar da marca ficar, na minha modesta opinião, manchada de qualquer forma).

Em seguida a Vinícola Cave Geisse (que produz excelentes espumantes, por sinal), que sempre foi contrária, enviou para a imprensa esta carta exemplar de extrema lucidez e bom senso.

E finalmente veio a carta oficial das entidades que estão pedindo a lei da salvaguarda, ressaltando com força as próprias razoes, e tentando amenizar os tons do debate, mas honestamente, de maneira bem pouco convincente.

Talvez eu seja o último titulado a falar (ainda mais que sou gringo!), mas pelo pouco que conheço o Brasil, já imagino que a medida vai ser infelizmente aprovada de qualquer forma e que, como sempre, os pequenos (produtores artesanais e nós consumidores) vão pagar as contas. Além de tudo, quem vai perder é o próprio vinho.
Espero ardentemente estar enganado e que este nosso esforço valha algo.

Abaixo, mais comentários ilustres (fonte Paladar)

CIRO LILLA, importador
"Um espanto. Não consigo entender como o vinho nacional, um setor que cresceu mais de 7% no ano passado - quase três vezes a média do crescimento do PIB - precisa de salvaguarda. A definição de salvaguarda é proteção contra risco de colapso, e os produtores flagrantemente prosperaram. É um retrocesso, vamos voltar aos anos 80: o que vai acontecer é que haverá na prateleira meia dúzia de vinhos gigantes, os que aguentam as taxas."
ROGÉRIO FASANO, restaurateur do Grupo Fasano
"É um absurdo, é protecionismo e quem vai pagar a conta é o consumidor. Não é isso que vai fazer crescer o vinho nacional, até porque o grande concorrente do vinho brasileiro é o vinho da América Latina, que não vai entrar na salvaguarda. O concorrente do vinho do Rio Grande do Sul é o argentino. Não faz sentido penalizar o francês, o italiano."

ROGÉRIO D’ÁVILA, importador  

"O mais grave são as cotas - se for determinado que no Brasil só podem entrar 5 milhões de caixas, a gente vai voltar 40 anos. O governo brasileiro não incentiva a pequena bodega - nos últimos seis meses fecharam cem delas. Vão fechar mais 200 e a culpa não é dos vinhos importados. Elas vão fechar porque o governo trata pequenos e grandes produtores  do mesmo jeito."

ARTHUR AZEVEDO, diretor executivo da ABS-SP 

Fiz a promessa de que enquanto durar essa brincadeira eu não tomo vinho brasileiro e não falo de vinho brasileiro. A coisa mais importante no vinho chama-se diversidade, mas você vai ter de se conformar com aquela meia dúzia de vinhos mequetrefes que produzem lá embaixo. Aí o que vai acontecer? Contrabando. Mas eles esqueceram que hoje nós temos Twitter, Facebook.

ALEX ATALA, chef 

Esse é um lobby prejudicial ao vinho brasileiro, na reta final. Eu tenho colocado vários vinhos brasileiros no cardápio do D.O.M e as pessoas preferem não provar, por segurança – ficam com os argentinos e chilenos. Essa medida só vai piorar. É cedo para falar o que vai acontecer, ainda não tenho uma opinião formada, mas acredito que essa alíquota vá aumentar o consumo de argentinos, uruguaios e chilenos. O mercado não confia no vinho nacional. 

E para fechar, fique aqui  com as sábias palavras do enologo Fernando Andreazza

3 comentários:

  1. Mario, para mim, a carta das entidades dos produtores é realmente pouco convincente, como você disse.

    O parágrafo que mais me impressiona é este :

    "Por fim, para o setor vitivinícola brasileiro, a Salvaguarda não é uma “dádiva”, pois o setor terá, neste período, que implantar medidas de ajuste, principalmente estruturantes, que o auxilie a tornar-se mais competitivo. "

    É exatamente o que se dizia na época da reserva de mercado da informática nos anos 70, como eu disse no meu blog.

    Alguém, sinceramente, acredita que o produtor nacional, uma vez vendo reduzidíssima sua concorrência com os importados, vai realmente se dedicar a implantar esses tais "ajustes estruturais", para que, dentro de digamos 5 ou 10 anos, o produto nacional seja mais competitivo ?

    Ou será que eles vão simplesmente seguir a pura e cristalina lógica capitalista e, comodamente, passar esses 5 ou 10 anos embolsando a renda adicional garantida pela reserva do mercado ?

    Abraços !

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    Respostas
    1. Exatamente Nivaldo,

      Na verdade é uma clara admissão que os produtores nacionais já não acreditam mais nas próprias capacidades de competição em relação a qualidade/preço com os demais importados e simplesmente estão jogando a toalha. Mas na verdade estão dando um tiro no próprio pé.

      Prepare-se para mais uma época de escuridão, meu amigo....

      Grande abraço!

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  2. Bancou o Rolland mas o Parker caiu?
    Investiu pesado mas a qualidade não melhora?
    Não tem problema, joga a conta pros consumidores de miolo mole, afinal aqui o lucro é privado e o prejuízo socializado.
    Caso passem as salvaguardas, espero que os países importadores de vinho brasileiro também as adotem fortemente.
    o Cosumidor não tem de sustentar o Rolland e nem empresários ineficientes.
    Ocupe o Vale dos Vinhedos!
    Boicote Já!

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