Na quinta feira passada participei da World Wine Experience 2010, a convite da
assessoria de imprensa da importadora. Na edição passada, por causa de um
imprevisto acabei não indo, mas fui relatado a respeito de falhas na organização,
espaços pequenos e superlotação. Não posso confirmar a informação pessoalmente,
mas posso dizer que a edição deste ano foi exatamente o contrário: local amplo
(e bonito), tudo muito bem organizado, comida abundante, e numero de participantes na medida
adequada para poder degustar livremente os vinhos e bater um papo com os
produtores sem nenhum tipo de estresse.
O evento contou com a presença de grandes produtores e
sinceramente fica até difícil definir os destaques pela grande qualidades dos
vinhos degustados. Mas vamos tentar.
Como de meu costume em eventos deste tipo, esqueci
a ideal seqüência das normais degustações (espumantes>brancos> tintos
leves> tinto encorpados) e comecei diretamente com os vinhos que queria
provar, sobretudo os italianos, presentes em quantidade maciça. Então, fui
direto para o estande da Tua Rita
para provar o grande astro da noite: o Redigaffi 2008. Um dos grandes merlot
do mundo, supertoscano de primeira - já ganhador de 100 pontos pelo Parker e
pela Wine Spectator - que alguns comparam até com o mítico Petrus, sobretudo em
termos de preço/qualidade (sendo o italiano bem mais em conta que o francês).
Não sei se a comparação é realmente possível, pois ainda não tive o prazer
do provar um Petrus, mas o Redigaffi é certamente um tinto sedutor, de
extraordinária complexidade e finesse, com taninos finíssimos e acidez
marcante, com um potencial de guarda enorme. Um fora de série,
sendo na verdade um dever, pois custa no Brasil mais de R$1200,00. O Syrah da mesma casa e safra estava mais
pronto e redondo, mostrando toda a opulência da casta, mas sem abandonar a
elegância. Já o Giusto di Notri é um velho conhecido.
Continuando na Toscana provei o Oreno 2008, vinho ícone
da Tenuta Sette Ponti (corte de
Merlot, Cabernet e Sangiovese ) que também estava espetacular e o Orma,
projeto paralelo da vinícola em um minúsculo vinhedo de Bolgheri (que no lugar
da Sangiovese leva Cabernet Franc), já considerado um dos melhores tintos da
Itália.
Da mesma região fui para a Fattoria La Massa (veja também aqui) e especificamente para uma vertical do Giorgio Primo, vinho top da casa. Em
seqüência provei 2006, 2007 e 2008, sendo que, paradoxalmente, a safra mais
nova estava mais pronta que as duas anteriores. Corte levemente diferente de
uma safra pra outra em percentagem de Cabernet S., Merlot, e Petit Syrah, sendo
que a 2006 leva também a Sangiovese. A 2008 de primeira impressiona mais em
aromas e paladar, mas pessoalmente prefiri a 2006.
Outros italianos que vão ficar na memória são os fantásticos
Barbaresco
do Bruno Rocca, principalmente o do
vinhedo Rabajà e um dos meus prediletos desde sempre: o fabuloso Granato
da Elisabetta Foradori: da região do Trentino Alto-Adige, produzido com 100% uvas Teroldego de forma
orgânica e biodinâmica. Gastronômico e requintado.
Já o famoso Amarone do Zenato, apesar de ser um ótimo tinto, não me impressionou (mas também
não sou particularmente fã de Amarone).
Da França destaque para os belíssimos brancos da
Alsácia de Hugel e Fils:
difícil dizer se o Riesling foi melhor do Gerwuztraminer ou vice-versa.
Impossível não citar o Philippe
Pacalet, famoso produtor da Borgonha que também faz viticultura
biodinâmica. Seu Chambolle-Musigny não me convenceu, mas o Pommard é um show
de aromas no nariz e de camadas na boca.
Para Bordeaux o destaque vai para o Ségla, segundo vinho do
Rauzan-Ségla (2° Cru Classé em Medoc) que mostrou toda a tipicidade de Margaux,
com sua fruta silvestre verde e notas terrosas.
Para Espanha dois nomes: Marques de Murrieta e Vivanco,
produtores riojanos com estilo bem tradicional (os com base em Garnacha se
destacaram mais).
De Portugal gostei do Carm
SO2 Free, um touriga nacional sem
sulfitos, bem melhor que o famoso Reserva da top 10 WS, e até mais barato.
.
Para não dizer que não provei nada do novo mundo, provei um Shiraz da australiana Angove, nada de especial.
Ainda teria mais, como os sicilianos de Donnafugata (os brancos sobretudo), os belos Fiano di Avellino e
Aglianicos da Feudi San Gregório da
minha região Campania (o Serpico surpreendeu por maciez), o Barolo do Bava, o Gattinara do Travaglini e o Passito Liatico e até
uma grappa muito boa da Feudi San
Marzano.
Mas o grande ganhador da noite pra mim foi um nome só: Arnaldo Caprai, produtor da Úmbria, com
vinhos e castas diferenciadas. Adorei a linha inteira, a partir de um belíssimo
branco com base em Grechetto (lembrando um Sauvignon Blanc, mas com muita mais
complexidade), passando para os tintos feitos com a casta Sagrantino (muito
elegantes e gastronômicos), sobretudo o grandioso Sagrantino di Montefalco 25, e terminando com o
delicioso Passito, apetitoso e nada enjoativo.
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