Grande vinho, safra ruim. Vale/não vale? Compro/não compro?
Bebo/não bebo? Guardo/não guardo? Estas devem ser umas das dúvidas cruéis de
todo bom enófilo de carteirinha. È inútil dizer que vinho top de uma safra top
seria o ideal (que observação inteligente, né?), mas como não vivemos num mundo
perfeito, isto nem sempre é possível.
Primeiramente temos que levar em consideração que em safras
boas os preços dos tops tendem a aumentar; e se ainda os queridos Parker &
Cia fazem questão em dar altas notas, aí que o preço vai pro espaço. Neste caso
a dica é pegar os segundos vinhos da casa: em safras boas costumam ter mesma
qualidade que os tops teriam em safras menores, e preço mais acessível. Já em
safras menores não recomendaria fazer o mesmo, aliás (podendo, é claro)
sugiro justamente arriscar um top, que, supostamente, continuaria sendo ótimo, e
com preço reduzido (é possível até fazer boas barganhas!).
Temos porém que fazer umas ressalvas que nem todo mundo
considera e que podem fazer a diferença. Naturalmente quando se fala em safra
se subentende como delimitada dentro de uma região, ou seja: dizer que uma
safra foi excelente na Toscana não significa que aconteceu o mesmo no Piemonte,
isto é óbvio. O que é menos óbvio é que até na mesma região podem ter ocorridos
fatores diferentes entre um vinhedo e outro: continuando com o exemplo da
Toscana, a qualidade de uma safra em Bolgheri não necessariamente coincide com
uma em Montalcino. Por
isso se fala em
microclima. Em algumas áreas circunscritas pode ter havido
forte chuva localizada, ou até granizo (isto sem contar com a possibilidade de
umas doenças nos vinhedos), o que vai afetar negativamente a qualidade dos
vinhos de alguns produtores. Portanto até em safras excelentes é possível
encontrar vinhos decepcionantes.
Uma safra se avalia conforme o andamento climático durante o
ano. A alternação entre calor e frio, as excursões térmicas entre dia noite,
sol e chuva no momento certo, juntos com fatores do terroir como composição e
drenagem do solo, vegetação ao redor, entgre outros, criam uma boa safra. Mas hoje
acontece que uma safra é considerada boa quando Robert Parker decide que é boa.
O que o povo esquece é que Bobby gosta de vinhos maduros, que na verdade são
fruto de safras particularmente quentes (ou seja: ruim). Neste caso os vinhos
são prontos e gostosos para beber logo (como aconteceu na tão valorizada safra
de 2009 em Bordeaux), mas não são tão longevos, pois possuem menos acidez.
Mais um fator para se levar em consideração: os meus amigos
produtores me ensinam que uma safra se avalia não somente depois de ter colhido
as uvas, mas alguns meses depois. De fato se é verdade que, do ponto de vista
climático, as 3 semanas que precedem a colheita são decisivas para determinar a
grandeza ou menos de uma safra, por outro lado não podemos esquecer que uva tem
vida, portanto é preciso esperar a mágica da fermentação para entender se todas
as premissas serão depois mantidas no vinho.
Last but not least: o produtor faz toda a diferença. Um
grande produtor consegue fazer ótimos vinhos sempre, independentemente de
fatores climáticos. Claro que as safras influenciam, ajudando ou dificultando o
trabalho, mas de maneira geral um grande vinho é um grande vinho. Always.
No próximo post: um grande vinho de uma safra ruim que me
deu o gancho para esta matéria.
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