Habemus Papa. Um
ótimo gancho para falar sobre um dos mais celebrados vinhos do planeta.
Na verdade a colocação do Beto Gerosa em seu Blog de Vinho é muito
pertinente. O Papa Francisco é argentino, de origem piemontesa, uma pessoa humilde e de hábitos
modestos. Então a lógica comparação vínica seria com a Bonarda: a casta é de
origem piemontesa mas é mais cultivada em solo argentino, perdendo somente pela
Malbec. E produz vinhos menos badalados e de temperamento mais modestos, embora
de boa qualidade. Sem dúvida uma ótima observação.
Mas aqui eu falarei hoje
de outro vinho, historicamente associado aos Papas desde a Idade Média: o mítico
Châteauneuf-du-Pape.
A denominação homônima fica situada no sul do Rhône, região
ao sul da França. É bom lembrar que o Vale do Rhône foi praticamente ignorado,
enologicamente falando, até os anos de 1980, quando o nosso querido Bobby
Parker “descobriu” dois vinhos que sucessivamente se tornaram cult, o Hermitage e o Cote-Rôtie, dando
fama e visibilidade para a região inteira.
Mas a história do Châteauneuf-du-Pape é bem mais antiga. A
cidade de Avignon durante vários anos foi residência dos Papas, até que em
1316 o Papa João XXII, apreciador da bebida, resolveu plantar uns vinhedos e
construir uma pequena fortaleza para incrementar a imagem dos vinhos locais.
Nascia assim o “Novo Castelo do Papa”, ou seja Châteauneuf-du-Pape.
A denominação é hoje bastante extensa e seus vinhedos
poderiam produzir grandes quantidades, se não fosse pelo estilo concentrado que se tornou típico, priorizando extração e pequenas produções.
A característica certamente mais chamativa é que a denominação
permite o uso de 13 (treze!) castas, tintas e brancas, sendo Grenache, Syrah, Cinsaut, Mourvèdre, Counoise, Muscardin, Terret Noir, e
Vaccarèse as tintas e Picpoul, Picardan, Clairette, Roussanne e Bourboulenc as
brancas.
Um recorde. Uma possível explicação (embora não confirmada
oficialmente) seria que a legislação quis dar uma espécie de garantia para o
produtor manter boa qualidade dos vinhos, tendo sempre, desta forma, como ajustar e
melhorar o blend inicial com mais
variedades.
Mas de fato, pouquíssimas vinícolas vinificam todas as
castas, usando a maioria delas 3 ou 4 de média (também não são raros os casos de vinhos
monovarietais).
A base é quase sempre a Grenache, mas Cinsault, Syrah e Mourvèdre
também atuam um papel principal: as primeiras dando estrutura e potência, as segundas
acrescentando tempero e frescor. O resultado é frequentemente um vinho complexo e de grande guarda.
Ou você o toma logo ou espera quase uma década!
No quesito "guarda", dizem que e o Châteauneuf-du-Pape tem um comportamento
anômalo na garrafa: depois de um par de anos ele adormeceria, para acordar e
ressurgir depois de 7. Ou seja, no período entre o segundo e o sétimo ano de
vida seria melhor deixar a garrafa descansar, pois o vinho estaria “escondendo”
suas qualidades. Não sei se
isto corresponde a verdade (me parece mais uma lenda), de fato eu tomei Châteauneufs
jovens, com mais de 10 anos e até no período de 2-7 anos de vida e todos foram sempre
bons e marcantes. O ideal seria fazer um teste com 3 garrafas da mesma safra, abrindo uma
logo, uma depois de 4-5 anos e uma depois de 7 para comparar as diferenças.
Haja paciência (e dinheiro!).
De qualquer forma são vinhos excepcionais, os tintos mostrando
fruta evidente e notas exóticas de especiarias, evoluindo para fruta seca,
tabaco e couro.
Os brancos, estruturados, com grande corpo e complexidade
incomum, podem envelhecer por 10 anos ou mais.
Detalhe de estilo: as garrafas usadas são de tipo borgonha (bojudas) e quase sempre levam no vidro um alto-relevo, remetendo a uma efígie papal.
Fica então a dica para brindar ao novo Papa.
Duas garrafas no detalhe |
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