Começamos hoje a série de “reportagens” sobre as vinícolas
que tive o privilegio de visitar diretamente em Bordeaux, a Meca mundial do vinho.
Cheguei à cidade por volta das 21:30h e 10 horas depois já
estava dirigindo em direção a Médoc, precisamente com o gps indicando o melhor
caminho para Saint-Julien. Querendo começar com o pé direito, a primeira visita
tinha que ser “de peso”, e de fato não poderia ter sido melhor, pois estava
indo para o Château Léoville Las Cases.
O leão é símbolo da casa |
Um dos chateaux mais antigos de Médoc, pertenceu desde o
século 17 a
uma das familhas mais nobres e influentes da França inteira. Consequentemente à
revolução francesa a propriedade foi dividia em 3 partes, os conhecidos chateaux
Leovilles, sendo o Las Cases o maior deles. Hoje o château pertence ao
Jean-Hubert Delon, proprietário único inclusive também do Château Potensac no alto Médoc e do Château Nénin em Pomerol.
O Château Leoville Las Cases é um Grand Cru Classé,
precisamente avaliado como segundo cru pela celebre classificação de 1855.
Desde sempre com qualidade constante, vem ganhando pontualmente notas
estratosféricas pela imprensa internacional; para se ter uma idéia baste
lembrar que somente na última década
ganhou 4 vezes 100 pontos pela Wine Spectator.
Chegando a vinícola, a primeira coisa que chamou a atenção é
a proximidade ao rio Gironde (coisa que garante micro-clima único e sanidade
das uvas) e a sobriedade do château: consegue passar a nobreza do brasão, mas
mantendo certa informalidade em comparação com as vinícolas vizinhas. E neste
clima informal fui muito bem recebido pelo Maître de Chai (literalmente “mestre
da adega”, ou seja diretor da cave) Monsieur Bruno Rolland que me conduziu ao
longo do processo de vinificação da casa. Conseguimos nos comunicar em bom
franglês (mistura de francês com inglês) e a visita foi muito interessante.
Para não deixar o post entediante, sobre os aspectos
técnicos vou postar apenas umas fotos, mas quem tiver interesse em mais detalhes pode me contatar que irei fornecer mais informações com prazer.
Tanques de fermentação em cimento |
Tanques de fermentação em inox |
Engarrafamento: mais uma maquina italiana #proud |
No final da visita o
Sr. Rolland me levou até uma cozinha/laboratório onde nos esperavam 7 belezuras
engarrafadas, uma amostra do melhor da produção dos Domaines Delon da safra
2012. Devo ressaltar que as garrafas foram abertas na minha frente, portanto não
tiveram areação necessária, especialmente para vinhos deste tipo. Começamos a prova.
Fugue de Nénin 2012
Segundo vinho do Chateau Nénin, em Pomerol. Basicamente um merlot, como de costume nesta sub-região, com 18% de cabernet franc. Frutado e
macio, embora tenha bom potencial de guarda, pode ser desfrutado já mais
jovem.
Chateau Nénin 2012
Vinho ícone da propriedade em Pomerol, foi um dos meus
preferidos da seqüência, combinando potencia e elegância, complexidade e
pureza, fineza e frescor. Merlot 70%, Cabernet Franc 30%. Fantástico.
Chapelle de Potensac
2012
Segundo vinho do Chateau Potensac, Cru Bourgeois do norte de
Médoc. Merlot 56% e o restante dividido entre cabernet sauvignon e franc mais uma
pitada de petit verdot. De acordo com o Sr. Rolland este seria um vinho descomplicado,
para piquenique. Já deste lado do mundo, em nossa visão tupiniquim
este seria um vinho de bom nível, com boa fruta e bons taninos, para acompanhar uma boa
refeição.
Chateau Potensac 2012
O único “Cru Bourgeois Exceptionel” dentro de sua denominação,
representa o puro estilo de Medoc. Clássico corte bordales, mas com leve
predominância de merlot. Talvez ainda um pouco austero, mas com equilíbrio perfeito.
Indo para o grand finale, os 3 vinhos do célebrado Château Léoville Las Cases
Petit Lion du Marquis de Las Cases 2012
Como o chateau tinha dois primeiros vinhos, considerados de
igual importância, em 2007 foi lançado este rótulo como segundo vinho da casa; embora
tenha predominância de cabernet sauvignon (48%), tem uma significativa
proporção de merlot (44%) para que o vinho seja mais macio e desfrutável desde
jovem (o restante 8% é de cabernet franc). Uma delicia.
Clos do Marquis 2012
Criado em 1902, mesmo não tendo uma classificação de cru,
este rótulo é considerado um primeiro vinho da casa, igualmente ao Grand Vin,
embora com características bem distintas. Procedente de um pequeno vinhedo murado
adjacente à propriedade. Praticamente um varietal de cabernet sauvignon com 92%
da casta e o restante dividido entre merlot e cab franc. É um tinto mais
robusto, se comparado com os outros, de grande estrutura e complexidade e longo
potencial de guarda.
Grand Vin de Leoville du Marques de Las Cases 2012
Este é o campeonissimo. Interessante notar que embora seja
um grand cru classé (e deuxieme, ainda por cima!) a política low-profile
da empresa não faça questão de ostentar o status no rótulo, diferente de todos
os concorrentes cru classes. Quem conhece, conhece. Cabernet Sauvignon 74% (o
restante é merlot e cab franc). O vinho é um show de elegância e equilíbrio.
Obviamente vai dar o melhor de si só na próxima década, mas já está sensacional.
A harmonia entre fruta, acidez e taninos é de outro planeta. A textura é pura
seda e o liquido, embora encorpado, passa na boca com extrema sutileza,
deixando um final de longa persistência.
Enfim, foi uma experiencia super-enriquecedora. Agradeço enormemente o Sr. Rolland pela simpatia e
disponibilidade e a Sra. Isabelle Mas por ter viabilizado a visita.
M. Rolland et moi |
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