Vinopoly

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Analisando a situação atual em Bordeaux e sua safra de 2012

Como no post anterior estávamos falando de Bordeaux, vou continuar no assunto, pois esta é uma das regiões vinícolas mais fascinantes do planeta, verdadeiro mito que deixa o coração de qualquer enófilo disparar. Seu brasão remete a aristocracia e a história da França; seu modelo se tornou universal; seus lindos châteaux encantam até quem não gosta de vinho; seus tintos tops são sonho de consumo de qualquer colecionador, com preços que alcançam níveis estratosféricos. Mas será que as coisas estão ainda assim?

Nestes dias está sendo lançada a safra de 2012 dos Grands Vins, então vamos analisar um pouco mais a situação atual ao redor da Gironde, resumindo e organizando informações, noticias e impressões que encontrei espalhadas na rede e em revistas.

A região continua sendo alvo de investimentos vertiginosos. Mas recentemente depois do boom de compras loucas, as vendas estão recuando. A China continua sendo o primeiro cliente, apesar de uma queda de pedidos de cerca 20%, número bem relevante. Isto levou a uma redução na produção, para compensar a falta de pedidos do mercado. Enfim, tudo indica que o período de ouro (por exemplo, a febre para agarrar até os segundos vinhos a preços altíssimos) seja passado. Neste momento é preciso investir em qualidade e imagem e os que mais sofrem desta situação são as vinícolas pequenas e médias, espinha dorsal do vinho de Bordeaux, que não pode viver somente dos 61 Grand Cru Classés. Muitos produtores estão vendendo seus châteaux e terrenos para investidores estrangeiros (novamente chineses, obviamente), causando descontentamento entre os cidadãos e abalando o forte nacionalismo francês.

Quanto aos preços, ainda temos uma ulterior redução em relação a 2011, mas não muito grande, afinal a qualidade da colheita de 2012 é boa: em hipótese nenhuma se compara com as grandes 2005, 2009, 2010, nem se fala em grande longevidade, mas de qualquer forma é superior às ultimas menores como 2002, 2004, 2007, 2008.

A verdade é que a de 2012 de maneira geral é considerada uma ótima safra mais para os brancos (Pessac Leognan e Graves) que para os tintos. E os tintos tiveram melhores resultados com a merlot do que com a cabernet. Então melhor Saint Emilion e Pomerol do que Pauillac e Margaux. Bem, isto na teoria, pois a história nos ensina que os recursos tecnológicos e enológicos dos grandes produtores fazem toda a diferença, sendo capazes de mudar até o curso de uma safra ruim.

Enfim, a região de Bordeaux parece estar passando, de maneira geral, numa fase de transição do ponto de vista econômico-cultural, mas por enquanto seus vinhos continuam mostrando consistência e qualidade.


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