Como no post anterior estávamos falando de Bordeaux, vou
continuar no assunto, pois esta é uma das regiões vinícolas mais fascinantes do
planeta, verdadeiro mito que deixa o coração de qualquer enófilo disparar. Seu brasão remete a aristocracia e a história da França; seu modelo se tornou universal; seus lindos châteaux encantam até quem não gosta de vinho;
seus tintos tops são sonho de consumo de qualquer colecionador, com preços que alcançam
níveis estratosféricos. Mas será que as coisas estão ainda assim?
Nestes dias está sendo lançada a safra de 2012 dos Grands
Vins, então vamos analisar um pouco mais a situação atual ao redor da Gironde,
resumindo e organizando informações, noticias e impressões que encontrei espalhadas
na rede e em revistas.
A região continua sendo alvo de investimentos vertiginosos.
Mas recentemente depois do boom de
compras loucas, as vendas estão recuando. A China continua sendo o primeiro
cliente, apesar de uma queda de pedidos de cerca 20%, número bem
relevante. Isto levou a uma redução na produção, para compensar a
falta de pedidos do mercado. Enfim, tudo indica que o período de ouro (por
exemplo, a febre para agarrar até os segundos vinhos a preços altíssimos) seja
passado. Neste momento é preciso investir em qualidade e imagem e os que mais
sofrem desta situação são as vinícolas pequenas e médias, espinha dorsal do
vinho de Bordeaux, que não pode viver somente dos 61 Grand Cru Classés. Muitos
produtores estão vendendo seus châteaux e terrenos para investidores estrangeiros
(novamente chineses, obviamente), causando descontentamento entre os cidadãos e
abalando o forte nacionalismo francês.
Quanto aos preços, ainda temos uma ulterior redução em
relação a 2011, mas não muito grande, afinal a qualidade da colheita de 2012 é
boa: em hipótese nenhuma se compara com as grandes 2005, 2009, 2010, nem se
fala em grande longevidade, mas de qualquer forma é superior às ultimas menores
como 2002, 2004, 2007, 2008.
A verdade é que a de 2012 de maneira geral é considerada uma
ótima safra mais para os brancos (Pessac Leognan e Graves) que para os tintos.
E os tintos tiveram melhores resultados com a merlot do que com a cabernet.
Então melhor Saint Emilion e Pomerol do que Pauillac e Margaux. Bem, isto na
teoria, pois a história nos ensina que os recursos tecnológicos e enológicos
dos grandes produtores fazem toda a diferença, sendo capazes de mudar até o
curso de uma safra ruim.
Enfim, a região de Bordeaux parece estar passando, de
maneira geral, numa fase de transição do ponto de vista econômico-cultural, mas
por enquanto seus vinhos continuam mostrando consistência e qualidade.
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