Entre uma coisa e outra quase esqueço de comentar aqui um
dos eventos mais importantes do ano: o Encontro Mistral 2014. Participei, a
convite da importadora, da edição carioca, que ocorreu no dia 8 de Maio no belo
salão do Sofitel Rio, na praia de Copacabana. A organização se mostrou mais uma
vez excelente, a partir da retirada da credencial na entrada até a entrega da mesma na saída. A quantidade dos
participantes era bem proporcional ao espaço e dava para circular livremente
pelas mesas de degustação e provar tranquilamente os vinhos desejados conversando
com os produtores. Ainda havia uma enorme mesa de pães e petiscos lindamente preparados para acompanhar os goles.
Mas de maneira geral, fiquei com a sensação de um evento sensivelmente reduzido em comparação as edições passadas, com menor quantidade
de produtores presentes e nem todos com os vinhos tops. De qualquer forma o
Encontro Mistral continua sendo um dos melhores (senão o melhor) eventos de
vinhos do País.
Dos cerca 60 produtores presentes selecionei os meus Top 10,
tendo em conta que numa tarde não dá naturalmente para provar tudo. Ademais,
neste dia estava tomando antibiótico e mesmo cuspindo o líquido (como de meu costume em eventos do gênero), quis me policiar ainda mais, então
provei realmente só o que me interessava.
Vamos lá (em ordem não de importância e sim casual)
- WEINGUT
BRÜNDLMAYER (Áustria)
Brancos sensacionais, como os Reislings e os Grüner
Veltliner de vinhedo único. Inclusive, seu único tinto presente, o Zweigelt 2011, embora “simples”, foi um
dos vinhos mais interessantes de toda a feira.
- JOSEPH DROUHIN
(França)
Produtor tradicional da Borgonha trouxe uma linha de tirar o
fôlego, dos Chablis aos villages Chambolle-Musigny e Gevrey-Chambertin e um
Volnay Premier Cru. Pena que não tinha os tops mesmo. Em compensação trouxe uns
exemplares de pinots que a vinícola produz no estado americano de Oregon
(Cloudline), mas além da nota didática, a comparação nem vem ao caso.
- DOMAINE FAIVELEY
(França)
Na mesma linha do anterior, e basicamente com as mesmas
denominações: talvez os vinhos sejam um
pouco mais estruturados e “rústicos”, para indicar um aspecto mais austero e
clássico. Sobre todos me encantou o Puligny-Montrachet
1er Cru Champ Gain 2008, complexo e elegante.
- CLOS MOGADOR
(Espanha)
René Barbier, um dos enólogos/proprietários mais cultuados do
mundo, talvez o maior responsável do sucesso dos vinhos do Priorato, estava ali
presente no evento e tive o prazer de conversar com ele (inclusive pessoa muito
simples e simpática). Trouxe uma “mini-vertical” de Clos Manyetes (2006 e 2011) e de seu ícone que da o nome à vinícola
Clos Mogador (2010 e 2011), sendo em
ambos os casos as safras mais antigas ainda um pouco fechadas e a mais novas já
mais macias. De qualquer forma notáveis.
- REMÍREZ DE
GANUZA (Espanha)
Um dos produtores mais badalados de Rioja da atualidade.
Seus vinhos entraram no gosto da imprensa internacional por serem muito
extraídos e densos. O Remirez de Ganuza Gran
Reserva 2004 recebeu os cobiçados 100 pontos pelo Robert Parker:
provando o vinho não fiquei nada surpreso, pois faz exatamente seu estilo, mas
não o meu. Moral mondovínica: um bom
vinho, mas longe de merecer 100 pontos. De qualquer forma valeu a experiência.
- MASTROBERARDINO
(Itália)
Sou suspeito, pois este e o meu produtor de adoção: a
vinícola fica a 60km da minha casa em Napoli e praticamente fui criado com seus
vinhos. Mesmo assim não me canso. A linha Radici
é espetacular e o Taurasi Riserva é
pra se beber de joelhos.
- CASTELLO DI AMA
(Itália)
Consistentemente um dos melhores produtores da Toscana.
Chianti Classico top e uma interessante novidade que não conhecia: o Haiku, supertoscano a base de cabernet
franc, sangiovese e merlot, muito interessante, em estilo internacional. O L’Apparita dispensa comentários: tive a
sorte de degustar este ícone algumas vezes nos últimos anos (inclusive desta mesa
safra de 2008) e é sempre fenomenal: um dos poucos merlot do mundo capaz de competir com
o Petrus.
- DOPFF AU MOULIN
(França)
Fantásticos brancos da região da Alsácia. Os Rieslings bem secos e bastante minerais e um Gewürztraminer rico, complexo e encantador.
- BIONDI SANTI &
CASTELLO DI MONTEPÒ (Itália)
Não podia deixar de falar do famoso “inventor” do Brunello
di Montalcino e da minha amiga Valentina Gherardi, que é gerente de exportações
da vinícola. A linha de supertoscanos como Schidione
e Sassoalloro é de primeiríssima,
mas Brunello é Brunello; e Il Greppo
é “o” Brunello.
- MASI (Itália)
E falando em amigos, também não podia deixar de fora o meu
amigo Vincenzo Protti, mas não pela questão da amizade e sim porque é
representante de uma das melhores vinícolas da Itália. Apresentou-me
uma agradável novidade: o Rosa dei Masi
um rosé com base em Refosco parcialmente passificado. Referência em Amarone, o Costasera nunca desaponta; entre os outros a linha Campofiorin é muito gostosa, sendo o
ORO uma versão mais complexa.
Gostaria também de citar os champagnes da Bollinger, muito frescos e típicos (não
por acaso é o vinho do James Bond), os belos californianos de Paul Hobbs, intensos e ricos, e os
espanhois Pesquera da Ribera del
Duero, tempranillos frutados e amadeirados e os bem feitos vinhos do Luis Pato (sempre super-simpático), diferentes para quem quiser sair da mesmice dentro dos portugueses.
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