O vinho da Borgonha se produz na Borgonha. Parece uma inútil
redundância, mas pelo visto esta frase tão obvia pode se tornar uma falsidade, ou
pelo menos uma afirmação a ser reinterpretada, por motivos burocráticos.
O INAO ( Institut national de l’origine et de la
qualité) ou seja o instituto que
cuida das denominações de origem da França, está planejando uma verdadeira
revolução na nomenclatura do vignoble da Borgonha. Uma mudança que
prevê a anexação de parte do Beaujolais ao sul e a incrível exclusão da área de Chablis ao norte. Com a consequente perda do direito de usar o termo "Bourgogne" no rótulo
de centenas de viticultores.
Uma situação no mínimo bizarra, pois além da área de
Chablis, é afetada toda a área de Châtillonnais (norte da Côte d'Or, nas
fronteiras do Aube e da região de Champagne) e paradoxalmente até todos os
vinhedos de Dijon, capital da Borgonha!
Aí um jovem enólogo que estudou para continuar os negócios
de seu avô, paga as taxas de herança, replanta com sacrifício 1 hectare na
terra da família, agora está ferrado...
Obviamente, o assunto não é apenas formal e nominal, mas
afeta fortemente os bolsos, pois dos 4.500 produtores da região, mais da metade
(2.500) vive exclusivamente da venda de vinho de denominação regional, o que
chamamos de Bourgogne “genérico”. As consequências
podem ser dramáticas.
Agora se por um lado, como pode se ver no mapa abaixo, as
regiões em jogo ficam um pouco afastadas daquele que é considerado o coração da
Borgonha (a Côte d'Or, por sua vez dividida em Côte de
Nuits e Côte de Beaune),
por outro não dá para entender a inclusão do Beaujolais, que fica mais distante (ocupando até parte do território do norte do Rhône) e ainda tem história e métodos de vinificação diferentes.
Enfim, obviamente há
muitos interesses em jogo, talvez mais políticos que econômicos, mas por
enquanto as reais intenções destas propostas não me parecem ainda claras. Veremos o
que vai acontecer.
Não sei se Chablis seria afetada... apelação muito peculiar e distinta. Tem vida própria! Agora, inclusão de parte de Beaujolais seria talvez interessante para os produtores daquela local. Acho que ganhariam "força" rotulando "Borgonha". Creio mesmo que neste caso aí quem perderia seria a área compreendida Châtillonnais... mas enfim interesses econômicos de alguns mesmo.
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