Dentro da densa programação do recente Rio Wine & Food Festival 2016, um dos eventos certamente mais
interessantes e estimulantes foi um seminário, seguido de 2 degustações ás
cegas de grandes Cabernet Sauvingon do mundo, promovido pela vinícola chilena
Santa Rita.
A ideia é apresentar a vinícola (que na verdade dispensa
apresentações) para o mundo e descobrir se seus vinhos podem brigar com rótulos
mais badalados, além de tentar identificar as diferenças que a cabernet
sauvignon apresenta em diversas latitudes e longitudes do planeta. A mesma prova já foi realizada 3 vezes em
Londres e uma vez em Nova York, sendo esta do Rio de Janeiro a primeira fora deste eixo.
O evento aconteceu no badalado hotel Copacana Palace, com a
participação do Marcelo Copello e Sérgio Queiroz (organizadores do festival),
Elena Carretero (Gerente de assuntos corporativos e sustentabilidade da Santa
Rita) e Manoel Beato (sommelier chefe do grupo Fasano, moderador da degustação)
e com a presença dos 2 principais responsáveis pela elaboração dos vinhos da Santa Rita, que nos homenagearam com 2 ricos seminários.
Marcelo Copello apresentando o evento |
O Andrés Ilabaca, enólogo chefe da vinícola nos iluminou com
uma verdadeira “aula magna” sobre cabernet, com uma ampla abordagem que partiu
da genética, terminando nos grandes terroirs onde a casta é cultivada no mundo.
"Aula magna" de Andrés Ilabaca |
A seguir o primeiro painel de degustação ás cegas, formado
por 6 grandes cabernets do mundo (em varietal ou em blend). Vale ressaltar que recebemos
antecipadamente as informações sobre os vinhos da prova, apenas não sabíamos
qual seria a ordem de serviço. Os
rótulos provados foram:
- Catena Zapata, Angélica Zapata 2011 (Mendoza, Argentina)
- Château
Ste. Michelle Indian Wells 2012 (Columbia Valley, Washington, EUA)
- Blason
d´Issan 2012 (Margaux, Bordeaux, França)
- Santa
Rita Medalla Real 2012 (Maipo Alto, Chile)
-
Avignonesi Cantaloro 2014 (Toscana, Itália)
- Jim Barry
The Cover Drive 2010 (Coonwarra, Austrália)
O primeiro painel de degustação |
Seis vinhos com evidentes diferenças: pra mim algumas
ficaram nítidas já no nariz, onde identifiquei de cara o australiano (mais
balsâmico e floral) e o chileno (pimentão verde). Para outros o paladar tirou a
dúvida: a elegância e o corpo aveludado dava claros indícios sobre o Margaux e
os taninos firmes e alta acidez entregaram o Toscano. Acabei apenas trocando o
americano pelo argentino, erro até perdoável.
Quem ganhou este primeiro painel foi o Blason d´Issan, que foi também o meu preferido.
Seguiu coffee-break (que não tinha coffee, para não alterar
o paladar, e umas comidinhas) e de volta para o “duro trabalho” fomos recebidos
por mais uma bela master-class conduzida pelo Gerardo Leal, gerente de
viticultura da Santa Rita, que nós explicou o trabalho minucioso da empresa
dentro dos vinhedos a partir das sementes e um aprofundamento sobre o terroir
de Alto Jahuel/Maipo Alto, onde são cultivadas as videiras da vinícola.
A seguir o segundo painel de degustação ás cegas, desta vez
com 6 Cabernet Sauvignon ícones, no mesmo esquema, também varietais e cortes. Os
vinhos foram:
- Château Pontet-Canet 2011 (Pauillac, Bordeaux, França)
- Santa Rita Casa Real 2011 (Maipo Alto, Chile)
- Solaia Marchesi
Antinori 2011 (Toscana, Itália)
- Stag´s
Leap Artemis 2012 (Napa Valley, California, EUA)
- Te Mata Coleraine 2010 (Hawkes Bay, Nova Zelândia)
- Rockford Rifle Range 2007 (Barossa Valley, Australia)
Aqui as coisas complicaram: os vinhos eram de maneira geral
muito mais parecidos um com o outro, sinal que quando o nível sobe as
diferenças tendem a diminuir. Pessoalmente no começo tinha apenas um vinho no
qual teria apostado, o de Napa, pelo seu estilo marmelada (e de fato acertei).
A partir daí foi seguindo por exclusão: o australiano, de safra mais antiga, só
podia ser o mais evoluído e maduro do grupo, o chileno com a mesma nota inicial
de pimentão e por aí vai. Até o final fiquei apenas com uma forte dúvida entre
qual seria o francês e qual o italiano; acabei acertando a dupla, mas trocando
um pelo outro. Deixei-me condicionar mais pelo instinto e pela memória,
especialmente pelo fato que o Pontet-Canet que provei no ano passado era
totalmente diferente deste, mas era de safra diferente, mais novo (2014) e
servido imediatamente depois de aberto na minha frente na própria vinícola
(veja aqui mais detalhes ):
obviamente o vinho era sim elegantíssimo, mas ainda muito jovem e fechado; já
este 2011 me pareceu perfeito e do fundo do meu nacionalismo esperava que o
vinho que mais eu tinha gostado fosse o italiano, mas fui traído. Malditos
franceses, mais uma vez tive que reconhecer a superioridade de vocês e mais uma
vez tive que declarar o meu amor e paixão aos seus grandes vinhos!
Mas, por minha grande surpresa, o vinho mais votado pelos
participantes neste 2º painel se mostrou ser o Santa Rita Casa Real! Não digo com demérito, pelo contrário, o
vinho é muito bom, e a Santa Rita mostrou saber bem o que faz, se colocando a
frente de 2 vinhos que já ganharam 100 pontos em mais de uma ocasião pelas
maiores publicações do mundo. Mas pra mim o chileno teria ficado em 3º lugar,
depois da dupla franco-italiana. Aí na verdade entra em jogo mais uma questão
de gosto pessoal. Como bom italiano é lógico que prefiro vinhos do Velho Mundo,
e é igualmente normal que uma plateia de brasileiros acabe se identificando
mais com o vinho chileno, é uma questão que envolve familiaridade com os
estilos.
Quanto á brincadeira da degustação ás cegas foi certamente divertida e didática e posso até me considerar satisfeito com a minha performance (se bem
que poderia ter feito melhor, se tivesse pensado mais), cravando 8 de 12
vinhos. E mais ainda cometendo erros até de certa forma coerentes, trocando
afinal 2 vinhos americanos (um do norte por um do sul do continente) de estilo
bem parecido, sendo ambos varietais 100% cabernet e 2 vinhos europeus,
também bem similares, sendo ambos 2 cortes bordaleses.
Afinal, eu que não me considero um grande degustador, fiz
melhor que muitos supostos experts badalados que estavam por ali (shhhh, não
disse nada...! ;-)).
O terraço do sempre charmoso Copacabana Palace |
0 comentários:
Postar um comentário