No dia 19 de Julho fui convidado a participar de um dos
eventos de vinho mais esperados do ano: o Encontro Mistral. Ter a possibilidade
de degustar de uma vez quase todos os excelentes rótulos da maior importadora
do Brasil e ainda conversar com seus produtores é uma oportunidade rara (o evento
acontece a cada 2 anos): o único problema é ter tempo e disposição para partir
“para luta”. De fato, querendo se esforçar para achar uma nota negativa na
perfeita organização, apontaria justamente para o reduzido tempo do evento: somente
4 horas de degustação aqui no Rio de Janeiro, sendo que em São Paulo o evento durou
3 dias.
No meu caso, ainda cheguei tarde (blame on me) e tive pouco
mais de 2 horas para aproveitar e, inevitavelmente, acabei cortando vários
rótulos que tinha curiosidade de experimentar. Por outro lado, mesmo assim,
consegui provar muita coisa boa.
Comecei pelos fantásticos champagnes do Pol Roger: do
Reserve Brut, passando pelo Vintage 2000 e o Blanc de Blancs 2000 até o
extraordinário Winston Churchill 1999 (7 anos de maturação nas borras), um
verdadeiro espetáculo borbulhante.
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Pol Roger Winston Churchill 1999 - R$ 755 |
Proseguindo pela França dei uma passada pelo lotado estand
da bordalés Cos D’Estournel, onde “só” (notar as aspas) consegui uma prova do ícone
tinto Chateau Cos d’Estournel 2004, um 2° grand cru classé: veludo puro na
boca, e equilíbrio fora do comum, mas esperava um pouco mais de complexidade
para um vinho desta estirpe.
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Chateau Cos d'Estournel 2004 - R$ 1.200 |
Da Borgonha, um nome: Joseph Drouhin. Belíssimos brancos,
como os Chablis (sobretudo o 1er Cru Montmains 2010) e o Puligny-Montrachet e
tintos delicados e complexos, como o Volnay 2009, o Chambolle Musigny Premier
Cru 2007 e o soberbo Charmes-Chambertin Grand Cru 2008.
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Joseph Drouhin Charmes-Chambertin Grand Cru - R$ 1.350 |
Da minha Itália sou suspeito em falar de Castello di Ama e
Tasca d’Almerita, pois além de gostar muito, o Nicola Massa - que representa as
duas vinícolas aqui no Brasil - é um grande amigo meu. Mas independentemente
disso estamos falando de duas vinícolas top mesmo. O Chianti Classico de Ama é
referencia absoluta nesta denominação e o L’Apparita é simplesmente um dos
melhores merlots do mundo, rivalizando tranquilamente com ícones como o Chateau
Petrus, por exemplo, mas custando ¼ do valor do francês.
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Castello di Ama Vigna L'Apparita - R$ 775 |
Já a Tasca é uma das melhores vinícolas da Sicília: além dos
vinhos que já comentei
aqui provei também o ótimo
Lamùri, belíssimo Nero d’Avola e o
Tascante, do Etna, feito de Nerello Mascalese em pureza: um Borgonha do sul da Itália.
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Tasca d'Almerita Tascante - R$ 275 |
Para o Piemonte uma seqüência de tirar o fôlego: Vietti e Coppo
um do lado do outro. O Mario Cordero, maior responsável pela renovação e
sucesso da cultuada vinícola Vietti me fez provar um interessante Roero Arneis
2010 levemente frisante; o Perbacco 2009, nebbiolo leve com toques de
especiarias; o Barbera d’Alba Scarrone 2008, fresco e elegante; o Barbaresco
Masseria, complexo e equilibrado; e o belíssimo Barolo Castiglione 2008 (ainda
jovem, mas já pronto – recentemente tomei um 2004 fantástico).
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Vietti Barolo Castiglione - R$ 300 |
Já para Coppo, considerado, com toda razão, o “rei da
barbera”, conversei com o herdeiro Paolo, e os vinhos degustados me deixaram de
queixo caído. O Gavi La Rocca,
branco feito de uva Cortese é fenomenal, assim como o Chardonnay; L’Avvocata, é
um o Barbera d’Asti bem típico e tradicional, de pronunciada acidez; já o
Alterego é um vinho mais moderno, sendo um corte insólito de barbera com
cabernet sauvignon. O Camp du Rouss é um barbera de primeira, prelúdio para o monumental
Pomorosso, pra mim um dos melhores vinhos do evento.
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Coppo Barbera d'Asti Pomorosso - R$ 355 |
Continuando o passeio pela Itália,
Le Macchiole, um dos mais
premiados produtores de supertoscanos, representada pelo simpático Gianluca. Esta vinícola produz um dos meus dos meus favoritos, o
Paleo Rosso
(veja
aqui o fantástico 2004),
Cabernet Franc puro, o
Scrio, um impressionante Syrah e o
Messorio (já ganhador
de 100 pontos pela Wine Spectator), um Merlot de rara elegância, todos de safra
2007.
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Le Macchiole Messorio - R$ 1.000 |
Sempre da Toscana não podia deixar de visitar uma das mais
prestigiosas vinícolas do mundo: a Biondi-Santi. A bonita e simpática Valentina
Gherardi me fez experimentar o Sassoalloro 2008 e o Schidione 2001, dois famosos
supertoscanos do Castello di Montepò, projeto paralelo da família Biondi-Santi
(Jacopo) na Maremma: o primeiro é um varietal de sangiovese grosso, já o
segundo leva no corte também cabernet sauvignon e merlot. Para encerrar, o
vinho que tornou a casa célebre (talvez seja mais verdade dizer: a casa que
tornou o vinho célebre): o mítico Brunello di Montalcino da Tenuta Il Greppo.
Infelizmente não tinha o Riserva para experimentar, mas o “simples” Annata 2007
me deu igualmente grande satisfação e prazer.
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Biondi-Santi Brunello di Montalcino Tenuta Il Greppo - R$ 755 |
Isole e Olena, também é um grande produtor toscano: seu
Chianti Classico é muito elegante e classudo, já o renomeado Cepparello é um
moderno supertoscano feito de 100% sangiovese. A vinícola possui propriedades
também no Piemonte (Sperino) de onde provei o Gattinara Terroir del Nord, um
nebbiolo 100% muito aristocrático e tradicional.
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Isole e Olena Cepparello - R$ 475 |
Do novo mundo só visitei 2 estandes: a Casa Lapostolle e a
Paul Hobbs. Da chilena, a linha Cuvée Alexandre é notável em consistência com
todas as castas e o ícone Clos Apalta é uma delícia (lembrando que a vinícola
faz cultivo orgânico e biodinâmico).
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Casa Lapostolle Clos Apalta - R$ 400 |
A californiana, dispensa apresentações, sendo Paul Hobbs um dos mais
celebrados enólogos do mundo (já dono da nota 100 do Robert Parker). Os
chardonnays Crossbarn e Russian River são frescos e complexos, já falei
aqui de
seu incrível e diferente
Pinot Noir Russian River,
talvez seu melhor vinho de toda a linha; já achei os Cabernet Sauvignons
concentrados demais, embora excelentes (sobretudo o
Beckstoffer Dr. Crane).
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Paul Hobbs Cabernet Sauvignon Beckstoffer Dr. Crane Vineyard - R$ 795 |
Indo para os mais exóticos, o cultuado libanês Château Musar.
Achei o Musar Jeune demasiadamente frutado e com açúcar residual em excesso, sendo
o Château Musar Cuvée certamente mais elegante; já o Château Musar Rouge é um
grande vinho, que justifica sua fama.
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Chateau Musar Rouge - R$ 200 |
Embora de um Pais bem exótico, o libanês acima leva castas
conhecidas (Cabernet Sauvignon, Carignan e Cinsault), já o espanhol Anima Negra
usa castas bem diferentes: da ilha de Mallorca, o top AN é feito de uvas Callet
e Mantonegro-Fogoneu. Um tinto de muita estrutura e longo potencial de guarda,
com grande acidez e taninos vivos.
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Anima Negra AN - R$ 220 |
Enfim, apesar de ter perdido muito, degustei só coisa
fora de série. E ainda conheci gente bacana e revi amigos e colegas que nem
sempre consigo encontrar, como por exemplo, os meus colegas blogueiros numero 1
e 2 do ranking brasileiro, os amigos Silvestre Tavares do
Vivendo a Vida e o Luiz Cola do
Vinhos e Mais Vinhos,
ambos vindo de Vitória especialmente pela ocasião.
Só falta falar de um vinho, que em minha modesta opinião,
foi o melhor da noite. Obviamente levando como sempre em conta também a questão
do preço/qualidade (pois seria covardia eleger um vinho de mil reais) e o
elemento diversidade. Então eu voto no Villa Gemma Montepulciano d’Abruzzo do
Masciarelli. Constantemente ganhador do 3 bicchieri do Gambero Rosso, vem de uma das regiões menos badaladas da Itália, é um
tinto surpreendente e saboroso, mas com perfeito equilíbrio. Fruta abundante
balançada por generosa acidez, corpo médio, mas de bom volume, taninos finos e
final longo. Diferente. Um vinhaço. E ainda o Vincenzo Protti que representa a vinícola
aqui no Brasil é uma simpatia. Ou seja, Masciarelli nos proporcionou alegria
pura.
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Masciarelli Villla Gemma Montepulciano d'Abruzzo - R$ 370 |
P.S. os preços são indicativos