A imagem abaixo já deu a volta ao mundo, explicando ao povo da web/social como se faz o vinho em casa. Claro que se você mostrar isto para um produtor de verdade ele vai rir na sua cara, seja ele um industrial ou um vinhateiro natureba. Mas de maneira geral diria que pode dar uma ideia aos leigos das etapas necessárias a transformar o mosto de uva na sua bebida preferida (ou pelo menos a algo que lembre de longe). O infográfico é legalzinho e até bem feito (embora requer alguns itens não propriamente domésticos), se quiser se arriscar vamos explicar aqui no detalho step by step, mas lembre-se que não é a receita do Pétrus, e também que existem mais métodos de vinificação que cores de esmalte para unhas. Mas se tiver disposição e uma garagem quem sabe que um dia o Michel Rolland não passa casualmente na sua porta e faz de você o próximo Thunevin?
1. Escolhe as melhores uvas e selecione/limpe os cachos.
Poucos bagos estragados ou mofados podem prejudicar o resultado final. Melhor perder um pouco de tempo antes que o vinho todo depois.
2. Esmague e desengace.
A maquinha no desenho é um desengaçador, que sozinha separa as uvas dos cachos (chamados também de engaços) e as esmagas. Se não tiver, tem que fazer a operação com as mãos antes e com os pés depois.
3. Recolha o mosto (suco e cascas) em um grande recipiente.
Fácil né?
4. Adicione as leveduras.
Natural ou indígena? Eis a questão. O dilema é: seguir a praxe e comprar os sachês de leveduras selecionadas ou deixar a fermentação acontecer espontaneamente graças as leveduras selvagens? It´s up to you, my dear.
5. Adicione os nutrientes para iniciar a fermentação.
Se você escolheu a primeira opção, saiba que, para despertar do sono, as leveduras precisam de um pouco de papinha extra, geralmente substâncias nitrogenadas.
6. Adicione ácido.
Ok, mas qual? Málico? Tartárico? Cítrico? Aqui a tabela não é clara. Na dúvida deixe pra lá.
7. Deixe o mosto em fermentação por umas duas semanas mantendo o recipiente fechado (menos quando você faz a etapa n.8).
Não leve ao pé da letra a história das duas semanas, pois a temperatura influencia a duração da fermentação: o calor desperta as leveduras e o frio as adormece.
8. Rompa duas vezes ao dia o "chapéu" (capa) de cascas usando um desentupidor de ralo (novo hein!).
Se achar feio diga que está fazendo batonnage. As cascas tem tendencia a subir na superfície, formando uma capa (um verdadeiro tampão) que impede a oxigenação do mosto. Ademais, se deixar assim, as peles da uva irão gradativamente se secando, não liberando mais as substancias responsáveis por cor, sabor e vida do seu vinho. Quebre então o chapéu com o desentupidor, mas vai por mim, compre um novo, senão seu vinho vai ter como mínimo sabor de água sanitária.
9. Use um hidrômetro para medir os açucares x alcool.
A fermentação termina quando as leveduras acabam a ''comida'' e todo o açúcar se transformou em álcool. Com este instrumento você pode verificar a quantidade de açúcar residual.
10. Depois de umas duas semanas coloque o mosto na prensa.
Bom, esta você consegue sozinho.
11. Prense.
Para separar o líquido das cascas. Mas precisa ser bem delicado, pois nem todo o suco que vai conseguir espremer é digno de ser bebido: uma prensagem mais ''rude'' pode originar vinho excessivamente tânico ou amargo.
12. Envasilhe o suco que saiu da prensa em garrafões de vidro.
Eles servem para completar o afinamento e clarificar o vinho antes do engarrafamento propriamente dito. Verifique que os garrafões sejam bem limpos.
13. Adicione taninos (a gosto).
Outro ponto controverso. Assim como as leveduras, existem os taninos naturais (veja aqui) e os taninos enológicos adicionados. Sem querer fazer polêmicas (mas fazendo), se trata de substâncias naturais,tudo bem, normalmente um pó concentrado extraído de uvas ou de outros vegetais. Mas não deixa de ser um aditivo, não concorda? Eu não colocaria, mas se quiser mesmo dar uma de flying winemaker compre o Quertanin intense: seu vinho ganhará do nada uma riqueza de notas tostadas, amêndoas e café.
14. Adicione também chips a gosto.
Quem não sabe do que estamos falando leia aqui please. Também não recomendo, mas se quiser usar mesmo, lembre-se de não exagerar e principalmente de não utilizar a serragem do seu marceneiro de confiança.
15. Deixe descansar o vinho por alguns meses.
Ele merece, coitado.
16. Transfira o vinho de um garrafão para outro várias vezes, deixando a borra no fundo.
Com o tempo uns sedimentos irão se depositar no fundo da garrafa, e através dessa operação, agindo lentamente e sem agitar os recipientes, obterá um vinho mais límpido. Se quiser tirar mais onda ainda faça isso usando a luz de uma vela e diga que está fazendo soutirage.
17. Prove o vinho muitas vezes até ele não ter um bom sabor.
Como assim, não está curioso? Vai, experimente logo, antes que se torne vinagre...!
18. Adicione uns tabletes de sulfitos.
Vulgarmente: enxofre e seus derivados. Presentes em muitos alimentos, esses ''remédios em pilula'' servem neste caso para matar bactérias e possíveis outras leveduras selvagens (e até eliminar resíduos de eventual cloro), portanto evitará fenômenos indesejados, como re-fermentação espontânea e acidificações, e o seu líquido será mais estável. Mas siga atentamente a dosagem se não quiser ter um gostinho do inferno.
19. Engarrafe.
Esta operação também tem que ser realizada com o máximo cuidado, para não colocar de novo os sedimentos em suspensão. Inútil dizer que as garrafas têm que ser super-limpas, né?
20. Arrolhe (ou tampe).
Se seu sobrenome não for Gaja deixe pra lá rolhas de cortiça profissionais e caras. Uma rolha de aglomerado ou de silicone será mais que suficiente. Inclusive pode até usar as tampas metálicas igual a da cerveja. Afinal seu vinho não vai desafiar os séculos.
21. Deixe as garrafas descansar por algum tempo.
Semanas ou meses no máximo, Não queira deixar evoluir por décadas para que seus netos fiquem te xingando...Já te falei que seu vinho não é um Petrús?
22. Beba.
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