[Continuando do post anterior]
Tão grande foi a influência do Robert Parker no mundo do vinho até hoje, que entre os comerciantes de vinho americanos circula um ditado: se um vinho recebe menos de 80/100 do Parker, você não consegue vendê-lo nem a preços de bagatela, mas se alcança mais de 90 pontos se tornará caro demais para a maioria dos consumidores.
Mesmo assim, para conseguir suas notas altas, produtores e enólogos dos quatro cantos do mundo se apressaram a fazer o vinho do jeito que ele gosta: potente, frutado, concentrado, encorpado e amadeirado. Não a caso quando se tem na taça um produto com estas características se fala de vinho parkerizado (neologismo mais que apropriado), cujos limites falei aqui.
Mas é um estilo que não está mais recebendo o mesmo entusiasmo do começo, como já apontei aqui, da mesma forma que o sistema de avaliação em centésimos fica cada vez mais criticado. Pois é, a famosa escala de 50 a 100, por ele introduzida e aceita e imitada por outras publicações como a Wine Spectaor, a Wine Enthusiast e a Wine & Spirits parece estar perdendo credibilidade.
Olhem o que afirma a Master of Wine Jancis Robinson: “Eu não sou uma grande fã de combinação de números e vinho: uma vez que deixe espaço para os números, torna-se muito fácil reduzir o vinho a um mero bem financeiro, ao invés de considerar a sua originalidade como fonte única de prazer sensual e de estimulante convívio."
Olhem o que afirma a Master of Wine Jancis Robinson: “Eu não sou uma grande fã de combinação de números e vinho: uma vez que deixe espaço para os números, torna-se muito fácil reduzir o vinho a um mero bem financeiro, ao invés de considerar a sua originalidade como fonte única de prazer sensual e de estimulante convívio."
Mas a homologação do gosto ditada pela influência do Parker foi durante muito tempo na mira de outros críticos, tais como Alice Feiring, autora do livro "A batalha por vinho e amor, e como salvei o mundo da Parkerização " e Elin McCoy, que escreveu "O Imperador do Vinho (a ascensão de Robert M. Parker Jr. e o Reino do gosto americano)": ela acha o Parker ainda influente, mas certamente não tanto quanto cinco anos atrás, já que a livre informação da internet está ganhando rapidamente muito espaço.
Da mesma opinião o Paul Mabray, chefe-executivo da VinTank, empresa especializada em inovação na indústria vitivinícola, que afirma que “as avaliações e comentários sobre vinhos feitas por consumidores na internet são trocadas entre pares, o que representa uma medida de sucesso de um produto muito melhor do que a opinião de uma única pessoa, embora influente”.
Enfim, se é verdade que as notas de degustação da Wine Advocate ou Wine Spectator têm ainda uma discreta importância para fins comerciais, é igualmente verdade que a cada dia que passa aumenta o grupo de consumidores que, para se orientar na compra de uma garrafa não lêem mais as publicações do setor, mas sentam na frente de um computador e mergulham na rede de blogs, fóruns, social network especializados, etc.
Aqui eles encontram sempre alguém disposto a aconselhar, sem nenhum interesse de parte e sem nada a ganhar, partilhando gosto e paixão.
Alguém como o Mondovinho.
Mario.
ResponderExcluirBravo, bravissimo pela sequência sobre o Sr Bobby Parker. Como disse no post anterior não quero satanizar o Parker. Não sou contra o trabalho de ninguém, apenas sou contrário a imposição de um estilo de vinho. O vinho é junto com a culinária e a música o exemplo máximo da cultura de um país. Ele está, muitas vezes há séculos, interligado a culinária de uma região. Portanto querer impor um estilo de vinho, seja ele qual for a quem quer que seja e a que país for é no mínimo uma agressão a cultura de um povo.
E como não sou imperialista, prefiro, ao abrir uma garrafa de vinho viajar ao país em que ela foi feita e, nem que seja no imaginário estar no local em que as uvas foram plantadas e elaboradas.
Mais. Vinho é prazer,claro que se pode aumentar o horizonte deste prazer com experiência, provas, comparações e leituras de blogs como o Mondovinho.
Por último, como dizia nosso grande Nelson Rodrigues TODA A UNANIMIDADE É BURRA.
Um abraço Peter
Grande Peter!
ResponderExcluirEhehe, gostei da ultima frase!
Eu também não sou contra o Robertinho, ele è um grande connoisseur e entendedor, mas como vc disse, um vinho faz parte da cultura daquele lugar e tem que ser preservado, mesmo o Parker não gostando.
Um exemplo famoso é o do Biondi-Santi, te convido a ler esta matéria: http://exame.abril.com.br/pme/noticias/o-anti-parker-m0119333
Grande abraço!
Mario, obrigado pela indicação da leitura sobre o Sr Santi. O alemdovinho não está desatualizado (rsrsrs). O vinho sempre foi e será uma das expressões máximas da cultura de um povo. Mario, nós somos feitos de um somatório de nosso passado. De lembranças de cheiros, aromas e paladares. A imposição de Parker, do flying winemaker Rolland entre outros, além de ser uma imposição, nitidamente, comercial, por tabela impõem e, em alguns casos, com sucesso, uma visão monolítica do vinho, fazendo com que séculos de cultura sejam colocados terra abaixo.
ResponderExcluirPior fica para quem está iniciando neste mundo fantástico E DIVERSIFICADO do vinho. Dezenas de vezes vi pessoas entrarem em lojas especializadas e comprarem somente o que o Sr Parker pontuou.
Nas rodas de degustação a situação não é diferente, por diversas vezes vi e ouvi que os vinhos do velho mundo são, digamos aguados demais, além de serem ácidos, como se acidez fosse um defeito e não qualidade.
Sempre quando abro um Brunello, não deste preço é claro, vou logo avisando que eles são muitíssimos diferentes dos andinos de elite.
São, na verdade, propostas diferentes, e não se pode, jamais, compará-las.
Por analogia temos a impossibilidade de comparar laranja e limão. As duas são cítricas e estão na fruteira, uma ao lado da outra, mas são de mundos diferentes.
Um abraço Peter www.alemdovinho.wordpress.com
Caro Peter,
ResponderExcluirEnfim, Parker é para iniciantes, e já que o mercado brasileiro é praticamente isso, faz sentido colocar a etiqueta RP91 no rótulo para vende-lo.
Já na Itália eu conheço lojas e restaurantes que se for perguntar de vinhos com altas notas do Parker, vai ser gentilmente acompanhado a porta de saída...
Abraço!
Olá Mario,
ResponderExcluirMuito bom. Com novos integrantes no equipe de Wineadvocate parece que está mudando um pouco agora, por exemplo, parece que MW Lisa Perotti Brown se interessa para vinhos mais sutis.
Um abraço
Ulf
Tomara, caro Ulf!
ResponderExcluirO "melhor" (notar as aspas) de todos é o Jay Miller: ele dá 90 pontos até para agua com gás...!
Obrigado por visitar e comentar.
Abraço!
Oi Mario,
ResponderExcluirCômico, talvez sim!
Pontos em geral é fácil de entender, mas pode simplificar demais.
Um abraço
Ulf
Caro Mario, creio que eu também faça parte do time dissonante, destes que não conseque engolir o gosto dos advogados. Recentemente tentei me esforçar para abordar o tema, mais como um acerto de contas pessoal do que para convencer o mundo. Quando dispor de alguns minutos leia http://vinobits.alexaraujo.net/esta-coisa-morta-que-e-o-vinho/
ResponderExcluirGrande abraço,
Alex Araujo
Alex, vc disse tudo! Nao tenho como discordar.
ResponderExcluirObrigado pela visita e parabéns pelo blog. Nao conhecia, e gostei: vou colocar no meu blogroll.
Abraço!
Oi Mario e Alex,
ResponderExcluirColoquei Mondo Vinho e Vinobits no meu blogroll também
Como Alex diz o problema tem a ver com a facilidade de usar pontos para vender. Simples, númerico para reducir algo complexo em números.
Recomendo um video interessante com Tim Hanni, Master o Wine, que um pessoa fazendo pesquisas o que represente sabores para diferentes pessoas:
http://www.youtube.com/watch?v=VS7hVxKnaPo&feature=player_embedded#at=310
Um abraço
Ulf
Caro Ulf,
ResponderExcluirObrigado pelo vídeo, achei muito interessante quando fala das enormes diferenças de avaliação até entre 2 Masters of Wine, e também falando do sistema de 100 pontos do Parker e do grande Gary Vee.
O BioVinho também já está no meu blogroll.
Um abraço!
Mario que bom ver o teu blog bem movimentado. Tu mereces.
ResponderExcluirMas voltando ao assunto de satanizar o Bobby, estes dias vi uma reportagem na televisão sobre a avaliação que os produtores dos EUA faziam com os consumidores que visitavam a vinícola. Pediam para que numa série de vinhos, dos mais simples aos mais sofisticados colocassem no papel qual o aroma e qual o gosto do qual NÃO GOSTARAM. Resultado final? Desta maneira eliminavam o que a média do público não gostou, assim podem Produzir um vinho que agrade a média geral. Ou seja, transformaram o vinho numa espécie de restaurantea quilo. O gosto médio é o que vale, tanto faz trocar deste para aquele restaurante. Como tanto faz este ou aquele produtor/terroir/enólogo. ASSUSTADOR.
Dou razão quando dizem que se faz vinho até de uva.
abs Peter
Peter,
ResponderExcluirMuito obrigado pelas palavras de elogio.
Quanto a historia que me contou é de assustar sim, mas sabe que não me surpreende? Eu cheguei à conclusão que o vinho é mais importante para nós enófilos que para os produtores: eles só visam o lucro, esquecendo terroir, natureza, tipicidade, tradição, etc.
Poderiam estar vendendo vinho ou sapatos que não faria diferença...
Abraço, meu amigo!
Olá Mario, muito bom o post. Sou iniciante e até então compro vinho seguindo a orientação RP. Coincidência ou não, meu gosto é muito parecido com o do avaliador mencionado. Mas diante de minha condição de iniciante e dada a GRANDE variedade de vinhos, como posso evitar produtos ruins sem seguir um avaliador qualquer? Há outro método mais indicado e menos comercial para orientar os iniciantes? Agradeço desde já pela atenção e parabéns pelo sucesso.
ResponderExcluirHenrique,
ResponderExcluirPrimeiramente obrigado por visitar e pelas palavras.
Sobre a “espinhosa” questão RP eu não critico o trabalho dele nem os vinhos que ele gosta (que convenhamos, são muito fáceis de gostar para qualquer um). O problema é quando os vinhos de Bordeaux ficam parecendo com os vinhos da Califórnia somente para ganhar notas altas dele, isto que eu repudio.
Quanto a você, poderia te indicar outros avaliadores que eu gosto mais, mas não vou, pois o certo é que você comece a elaborar um seu próprio sentido crítico.
Como um amigo comentou: “não se bebe vinho pela boca dos outros”, pois cada um tem o próprio paladar e preferências. Vc tem todo direito de não gostar de um vinho pontuado com 95 pontos pelo critico X e nenhum dos dois estará errado. A melhor frase sobre vinho é “O melhor vinho é aquele que você gosta”.
Então sugiro que você comece a experimentar vinhos diferentes do que você costuma tomar para fazer as primeiras comparações, esquecendo as notas da imprensa. No meu caso às vezes indicações de amigos enófilos valeram muito mais que o dos críticos badalados.
Enfim, tente se orientar sem muitas influências. Mas se mesmo quiser seguir as dicas de alguém, então tenho um nome certo pra você: o Mondovinho. Rssrs ;-)
Obrigado e um grande abraço!