Ontem senti a exigência de corrigir o trend do meu consumo de vinho dos últimos dias, pois na semana passada bebi muitos vinhos do Novo Mundo. Nada contra, é claro, inclusive alguns deles estavam maravilhosos, mas honestamente fiquei um pouco enjoado.
Talvez a palavra enjoado seja um pequeno exagero, mas senti a necessidade de degustar um vinho com mais sabor de vinho, e não de madeira e álcool. Não necessariamente rústico, mas um vinho com tipicidade própria.
E olhem que nesta semana não bebi somente os previsíveis argentinos e chilenos, mas também sul-africanos, australianos, e americanos. Analisados singularmente são cada um deles ótimos exemplares (falarei de alguns em breve), mas, paradoxalmente, a sensação final é de ter tomado o mesmo vinho a semana inteira. Mesmas cores, mesmo bouquet de aromas, mesmo paladar.
Este é o grande limite da tão debatida “Parkerização”: vinhos todos iguais, independentemente de casta de uva, País, clima, terroir, produtor, somente para encontrar o gosto do público que a premiada empresa Parker, Rolland & Cia de qualquer forma conseguiu padronizar.
Seja claro: eu gosto deste tipo de vinho (encorpado, macio, com muita fruta, muita madeira e final levemente adocicado), mas como é possível que um shiraz da McLaren Vale em Austrália seja tão aparecido com um zinfandel da Livermore Valley em Califórnia, ou que um pinotage da região de Paarl na África do Sul tenha características muito similares a um malbec da Patagônia?
E a coisa pior é que esta tendência está se difundindo (e muito) também no Velho Mundo e a cada ano temos que assistir impotentes a abdicação de vinícolas tradicionais, com séculos de história rendendo a própria identidade e tipicidade ao gosto de Mister Robert Parker e Monsieur Michel Rolland.
Eu não discuto o estilo (que como disse eu também gosto), nem tampouco critico as empresas, que justamente vivem disso e tem que visar o lucro, mas o que está acontecendo é na minha opinião de assustar: daqui a pouco não haverá mais sentido experimentar um rótulo X no lugar do rótulo Y pois as diferenças serão tão imperceptíveis que será como descobrir as diferentes nuances entre o guaraná Kuat e o guaraná Antártica.
Digressão: por admissão deles mesmo, o Parker e o Rolland são muito amigos e casualmente os vinhos que o enólogo francês elabora recebem sempre notas altas pelo crítico americano.
Um célebre provérbio italiano diz: “Suspeitar das pessoas é pecado, mas frequentemente se tem razão”.
Boa noite, adorei seu post e concordo com você, depois da parkerização está se acabando o sentido de terroir, mas, como você sabe, os grandes vinhateiros visam muito o lucro e uma nota de Perker vale muito.
ResponderExcluirBoa noite...abraços.
De pleno acordo.
ResponderExcluirVinho, Simplesmente Vinho
Simplesmente Vinho, ainda bem que o reinado está acabando...http://mondovinho.blogspot.com/2011/11/o-fim-de-um-reinado-silvio-parker-ou.html
ResponderExcluirObrigado por visitar e comentar.