Esta recente matéria da Wine Spectator chamou a minha atenção. O colunista Matt Kramer escreve no artigo uma espécie de confissão involuntária sobre as verdadeiras preferências dos jornalistas da revista. Eles, em público premiam vinhos americanos e em privado admitem a inferioridade e bebem vinhos franceses.
Então eu me pergunto: por que aquela top100 list cheia de vinhos americanos? E eu mesmo me respondo: para nacionalismo também, mas, sobretudo para agradar os insercionistas que pagam as propagandas mantendo vivo o lucro da revista.
O artigo titulado “Composition vs. Performance” é bastante cumprido, vou aqui resumir brevemente.
Em um jantar entre amigos enófilos perante a uma garrafa de vinho francês, os presentes se perguntam por que a Califórnia não consegue fazer vinhos de igual qualidade.
Ele admite que a maioria dos vinhos americanos são cópias dos franceses. A causa da inferioridade estaria no fato que a Califórnia é demais performance-oriented, voltada para o desempenho, já a França valoriza a composition, a criação da obra.
Praticamente, o responsável pela qualidade na Califórnia é o enólogo, já na França é o terroir.
Aqui temos duas escolas de pensamento:
1) o vinho não se faz sozinho: o enólogo é fundamental;
2) o terroir é tudo: posso trocar cem enólogos e o vinho continua excelente.
Parece um pouco a velha polêmica da Fórmula 1: quem ganha, o piloto ou o carro?
O debate está aberto. Pessoalmente, mesmo tendo enorme admiração para os grandes enólogos, tenho a tendência a ficar do lado do terroir (assim como o Matt Kramer).
Afinal o Romanée Conti tem a mesma qualidade há séculos, mesmo tendo mudado de direção várias vezes. Mesma coisa com os seculares Barolos, por exemplo.
Um pouco como a Nona Sinfonia de Beethoven: tantos diretores de orquestra e interpretações memoráveis, mas o que realmente é memorável é a obra.
E vocês, preferem composição ou execução?
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