Como anunciado, continuando o discurso sobre “crus” do post anterior, vamos agora ver um pouco mais de perto o que acontece na França, único País
vinícola com uma classificação oficial baseada na (suposta) qualidade dos
vinhedos. De fato o conceito varia bastante de região em região e para o post
não ficar demasiadamente longo e chato, vou dividir em mais partes, começando
pela região mais badalada.
BORDEAUX
Médoc
Em Bordeaux o conceito de cru foi introduzido em 1855 pelo Napoleão III para classificar os melhores vinhos da região, em ocasião da Exposição Universal de Paris. Para elaborar a famosa lista foi utilizado um método simples: o preço. A referência usada foi o valor que cada vinho conseguia alcançar no mercado e foram estabelecidos 5 níveis de cru para os tintos e 3 para os brancos das melhores 88 vinícolas então existentes. Ou seja, o título foi atribuído aos produtores (as marcas dos chateaux) e não exatamente aos vinhedos. 61 tintos e 27 brancos, sendo os primeiros todos secos, já os brancos eram limitados ás variedades de Sauternes e Barsac (botritizados), portanto doces.
Em Bordeaux o conceito de cru foi introduzido em 1855 pelo Napoleão III para classificar os melhores vinhos da região, em ocasião da Exposição Universal de Paris. Para elaborar a famosa lista foi utilizado um método simples: o preço. A referência usada foi o valor que cada vinho conseguia alcançar no mercado e foram estabelecidos 5 níveis de cru para os tintos e 3 para os brancos das melhores 88 vinícolas então existentes. Ou seja, o título foi atribuído aos produtores (as marcas dos chateaux) e não exatamente aos vinhedos. 61 tintos e 27 brancos, sendo os primeiros todos secos, já os brancos eram limitados ás variedades de Sauternes e Barsac (botritizados), portanto doces.
Se por um lado esta classificação mostrou um feeling moderno
focando no mercado e no brand, por outro esta visão não foi atualizada ao longo dos anos,
com a lista ficando basicamente estática desde então, sofrendo apenas duas
modificações em 160 anos: uma apenas depois de 5 meses, com a adição do Château Cantemerle a 5° cru, outra em
1973, quando o Château Mouton Rothschild
passou (politicamente) de deuxième à premier cru. Desde então as vinícolas
mudaram de dimensão, de direção, de enólogos, de filosofias, enfim de
qualidade, algumas para melhor e outras para pior. E esta é a maior crítica que
muitos fazem a esta classificação hoje: ela (salvo alguns casos) não
reflete a realidade atual. Mas evidentemente há muito interesse em jogo...
Os únicos indiscutíveis e incontestáveis continuam sendo os Premier
Grand Cru Classé:
Lafite-Rothschild, Margaux, Latour, Haut-Brion e
Mouton-Rothschild.
Já entre os brancos apenas um produtor ganhou o titulo de Premier Cru
Supérieur: o Château d’Yquem.
O Château Margaux |
Sempre em Bordeaux, com um princípio similar foi criada em 1932 a primeira lista dos
chamados Cru Bourgeois, elaborado
pelas Câmaras de Comercio e Agricultura, selecionando 444 produtores não
incluídos na classificação de 1855. Porém de fato a indicação Cru Bourgeois no
rótulo nunca foi muito influente no mercado. A partir do ano de 2000 a classificação subiu
várias modificações: revista e dividida em 3 níveis (cortando quase pela metade
os produtores incluídos), depois anulada, consequentemente abolida, e enfim
re-introduzida em 2010. A
atual classificação consta de um único nível que é atribuído a cada ano como um
selo de qualidade para o vinho e não para o Château. A lista é publicada 2 anos após a colheita, portanto a de 2015 será inerente aos vinhos de 2013.
Tudo isto até aqui descrito é apenas para a área de Médoc, a famosa margem
esquerda. Mas para concluir o discurso sobre Bordeaux temos que falar também de
Cru Libournais, ou seja, os crus da não
menos famosa rive droite.
Saint-Emilion
Estabelecida pela primeira vez em 1954, a classificação oficial de Grand Cru de vinhos tintos da denominação Saint-Emilion, e se divide em três
categorias:
■Premier Grand cru classé A
■Premier Grand cru classé B
■Grand cru classé
■Premier Grand cru classé B
■Grand cru classé
Esta classificação é revista a cada 10 anos por uma comissão de especialistas que avaliam a qualidade dos vinhos. Após a última
revisão de 2012 os Premier Grand cru classé A não são mais apenas 2, como
acontecia há 58 anos (Ausone e Cheval Blanc) mas 4 (também Angélus e Pavie), o
que obviamente não agradou os primeiros mais antigos, que recorreram na justiça
alegando fatos ilícitos (acha que só Brasil é corrupto?).
Atualmente são classificados 18 Premier Grand cru (4 A , 14 B) e 57 Grand Cru.
Pequena menção - já que estamos na margem direita - sobre a badalada
região de Pomerol, terra de grandes merlots (lhe diz algo o nome Pétrus?): esta
região nunca recebeu nenhum tipo de classificação e os vinhos são designados
apenas pela denominação geográfica (AOC Pomerol). Portanto o Château Pétrus,
considerado como um dos maiores vinho do mundo, no rótulo leva a mesma
denominação que qualquer Pomerol “genérico”.
Excelente matéria... Muito esclarecedora com uma linguagem que torna mais leve o aprendizado...
ResponderExcluirMeus parabéns
Muito obrigado Dimas, fico feliz com seu comentário.
ExcluirNo último post falei dos crus da Borgonha (http://mondovinho.blogspot.com.br/2015/02/porque-o-termo-cru-na-borgonha-e-para.html) ed em breve completarei com as outras regiões da França. Fique acompanahndo!
Obrigado novamente, abraço!