Vinopoly

sábado, 31 de janeiro de 2015

Entenda as classificações de "cru" na França (Parte 1: Bordeaux)


Como anunciado, continuando o discurso sobre “crus” do post anterior, vamos agora ver um pouco mais de perto o que acontece na França, único País vinícola com uma classificação oficial baseada na (suposta) qualidade dos vinhedos. De fato o conceito varia bastante de região em região e para o post não ficar demasiadamente longo e chato, vou dividir em mais partes, começando pela região mais badalada.


BORDEAUX 

Médoc
Em Bordeaux o conceito de cru foi introduzido em 1855 pelo Napoleão III para classificar os melhores vinhos da região, em ocasião da Exposição Universal de Paris. Para elaborar a famosa lista foi utilizado um método simples: o preço. A referência usada foi o valor que cada vinho conseguia alcançar no mercado e foram estabelecidos 5 níveis de cru para os tintos e 3 para os brancos das melhores 88 vinícolas então existentes.  Ou seja, o título foi atribuído aos produtores (as marcas dos chateaux) e não exatamente aos vinhedos.  61 tintos e 27 brancos, sendo os primeiros todos secos, já os brancos eram limitados ás variedades de Sauternes e Barsac (botritizados), portanto doces.
Se por um lado esta classificação mostrou um feeling moderno focando no mercado e no brand, por outro esta visão não foi atualizada ao longo dos anos, com a lista ficando basicamente estática desde então, sofrendo apenas duas modificações em 160 anos: uma apenas depois de 5 meses, com a adição do Château Cantemerle a 5° cru, outra em 1973, quando o Château Mouton Rothschild passou (politicamente) de deuxième à premier cru. Desde então as vinícolas mudaram de dimensão, de direção, de enólogos, de filosofias, enfim de qualidade, algumas para melhor e outras para pior. E esta é a maior crítica que muitos fazem a esta classificação hoje: ela (salvo alguns casos) não reflete a realidade atual. Mas evidentemente há muito interesse em jogo...

Os únicos indiscutíveis e incontestáveis continuam sendo os Premier Grand Cru Classé:
Lafite-Rothschild, Margaux, Latour, Haut-Brion e Mouton-Rothschild.
Já entre os brancos apenas um produtor ganhou o titulo de Premier Cru Supérieur: o Château d’Yquem.
O Château Margaux
Sempre em Bordeaux, com um princípio similar foi criada em 1932 a primeira lista dos chamados Cru Bourgeois, elaborado pelas Câmaras de Comercio e Agricultura, selecionando 444 produtores não incluídos na classificação de 1855. Porém de fato a indicação Cru Bourgeois no rótulo nunca foi muito influente no mercado. A partir do ano de 2000 a classificação subiu várias modificações: revista e dividida em 3 níveis (cortando quase pela metade os produtores incluídos), depois anulada, consequentemente abolida, e enfim re-introduzida em 2010. A atual classificação consta de um único nível que é atribuído a cada ano como um selo de qualidade para o vinho e não para o Château. A lista é publicada 2 anos após a colheita, portanto a de 2015 será inerente aos vinhos de 2013.

Tudo isto até aqui descrito é apenas para a área de Médoc, a famosa margem esquerda. Mas para concluir o discurso sobre Bordeaux temos que falar também de Cru Libournais, ou seja, os crus da não menos famosa rive droite.


Saint-Emilion

Estabelecida pela primeira vez em 1954, a classificação oficial de Grand Cru de vinhos tintos da denominação Saint-Emilion, e se divide em três categorias:

■Premier Grand cru classé A
■Premier Grand cru classé B
■Grand cru classé


Esta classificação é revista a cada 10 anos por uma comissão de especialistas que avaliam a qualidade dos vinhos. Após a última revisão de 2012 os Premier Grand cru classé A não são mais apenas 2, como acontecia há 58 anos (Ausone e Cheval Blanc) mas 4 (também Angélus e Pavie), o que obviamente não agradou os primeiros mais antigos, que recorreram na justiça alegando fatos ilícitos (acha que só Brasil é corrupto?). 

Atualmente são classificados 18 Premier Grand cru (4 A, 14 B) e 57 Grand Cru.

Pequena menção - já que estamos na margem direita - sobre a badalada região de Pomerol, terra de grandes merlots (lhe diz algo o nome Pétrus?): esta região nunca recebeu nenhum tipo de classificação e os vinhos são designados apenas pela denominação geográfica (AOC Pomerol). Portanto o Château Pétrus, considerado como um dos maiores vinho do mundo, no rótulo leva a mesma denominação que qualquer Pomerol “genérico”.


Coming up next: os crus de Borgonha e muito mais a seguir. Vai querer perder?


2 comentários:

  1. Excelente matéria... Muito esclarecedora com uma linguagem que torna mais leve o aprendizado...
    Meus parabéns

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    Respostas
    1. Muito obrigado Dimas, fico feliz com seu comentário.
      No último post falei dos crus da Borgonha (http://mondovinho.blogspot.com.br/2015/02/porque-o-termo-cru-na-borgonha-e-para.html) ed em breve completarei com as outras regiões da França. Fique acompanahndo!
      Obrigado novamente, abraço!

      Excluir

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