Nestes dias de calor, reunimos um reduto grupo de amigos que ainda
acreditam que vinho branco é vinho, e fizemos uma degustação só de brancos, da
qual falarei no próximo post. Parece brincadeira, mas já ouvi muita piada
sobre o fato de vinho branco não ser vinho e outras coisas do tipo, fato é que o
brasileiro ainda tem certas resistências a vinho branco. Quanto a mim, embora de maneira geral também prefira tinto, alguns dos meus vinhos favoritos são brancos.
Poderia estender o discurso para rosé e espumante, mas vou
me limitar ao branco. Gosto não se discute, portanto se você não gostar eu não quero dizer que você está errado, mas saiba que está
mesmo. Ehehe, brincadeiras a parte, se você se considera um amante de vinhos, não
pode se negar o prazer de um bom branco colocando barreiras no seu universo
enófilo. Quem perde de fato é você. Isto sem contar que o clima brasileiro é
certamente mais idôneo para vinhos mais leves e refrigerados.
O problema não é preferir tinto a branco, mas aqui se chega
ao extremo de preferir um tinto ruim a um bom branco.
Analisando a questão, além de preconceitos históricos e restrições
culturais derivantes, com razão, na base de branco ruim que chegava por aqui
quando começaram as importações de vinho, um aspecto fundamental que tenho percebido nos dias de hoje é que o consumidor brasileiro não está
disposto a gastar para uma garrafa de branco o mesmo valor que gastaria para um
tinto.
Na verdade para valorizar o tão procurado custo/beneficio se
deveria fazer o contrário, pois no mesmo preço as chances do branco ser melhor
que o tinto são maiores, e lhe explico o porquê.
Primeiramente o custo de produção para um branco, de modo
geral é menor lá na vinícola; em segundo lugar, como branco é justamente (e infelizmente) uma
tipologia de vinho pouco requerida e consumida, os importadores, distribuidores
e varejistas, aceitam menor margem de lucro sobre estes produtos para
impulsionar as vendas.
Digamos que você tenha um orçamento de R$100 para investir
numa garrafa de vinho que ainda não conhece: com este valor você tem poucas chances
de acertar um tinto muito bom, discretas chances de levar um tinto razoável, e chances
razoáveis de pegar um tinto ruim. Já com branco o quadro é invertido, e pelos
motivos acima citados, você tem mais chances de acertar as cegas um de
alto nível.
Dei o exemplo de R$100, mas as proporções continuam as mesmas
em qualquer faixa de preço, mesmo na entry level: um branco barato tem mais
chances de ser melhor que um tinto barato. Mas acontece que a pessoa que gasta R$300
por um tinto quer gastar 30 para um branco e fatalmente as diferenças emergem; já se gastasse o mesmo valor, talvez os (pre)conceitos começassem a mudar.
Portanto não quero convencer ninguém a gostar de branco (deixo a tarefa para esta publicação mais ilustre), mas simplesmente abrir o olho ao consumidor para que reavalie seus hábitos de despesas com vinho, pois fidelidade cega á própria tipologia de gosto não necessariamente traz boas experiencias. Nisso eu não sou nada coerente: contanto que o vinho seja bom, ele é
bem vindo de qualquer cor. E vou lhe dizer mais: entre um tinto medíocre e um
branco medíocre eu prefiro uma boa cerveja.
100% apoiado! Por isso que você é "o melhor que nós temos".
ResponderExcluirTom Meirelles
Você que é, Tom!
ExcluirObrigado pelo comentário e pelo apoio.
Abraço
Oi Mario,
ResponderExcluirÓtimo artigo! Também tenho (ou tinha) vários amigos assim. Quando conheci meus confrades, não bebiam brancos e torciam o nariz para eles. Até que um dia lhes apresentei um Tondonia. Agora, são fãs incondicionais e nossas reuniões não passam sem um branquelo. O mesmo fiz com dois outros amigos bebedores de vinhos. Levei-lhes um Gravonia e voilá! Suas adegas agora têm um monte de brancos. Quando uma pessoa me diz que não gosta de brancos eu respondo na lata: - É porque você nunca bebeu um bom! rsrs.
Grande abraço,
Flavio
Perfeito Flavio! A questão é exatamente esta. Se as pessoas não estiverem dispostas a gastar um pouco mais para os brancos nunca irão descobrir a variedade e a beleza que este universo pode proporcionar.
ExcluirObrigado pela sua contribuição!
Abraço
Adorei a resposta e adorei a postagem ;)
ExcluirEu também não era chegado a vinhos brancos, mas depois de férias na Borgonha, e conhecendo os maravilhosos chardonnay, de lá me converti.
ResponderExcluirPois é Affonso, o ponto é não desistir depois dos primeiros brancos mais ou menos, pois o vinho branco de cada um existe, é só procurar.
ExcluirObrigado pelo seu testemunho.
Abraço!