O status do Carmelo Patti mudou em breve tempo de "perfeito
desconhecido" a "lenda viva". Seus vinhos de garagem, depois de ganhar destaques
no guia Descorchados (especialmente seu malbec 2007 ganhando o título de melhor
tinto da Argentina, com 95 Pontos) e altas notas do Parker, se tornaram
cult-wines. No recente Encontro de Vinhos no Rio de Janeiro tive modo de provar
os 3 vinhos que compõem a linha desta “vinícola de autor”, e devo dizer que
fiquei positivamente impressionado.
Viticultor “artesanal”, o Carmelo Patti produz em Mendoza vinhos
da forma que ele aprendeu a fazer e como ele gosta, sem frescura: sem ficar
focado em modismo ou em apelo comercial traz aos seus vinhos uma simplicidade e
um estilo das antigas. Seus métodos de produção são bem tradicionais, com
fermentação em cimento, leveduras indígenas e envelhecimento em carvalho usado.
Na contramão para vinhos argentinos em geral, ele utiliza barricas de até 6º
uso e prefere um longo estágio em garrafa a um em madeira, esperando
pacientemente que seus vinhos cheguem no ponto certo antes de comercializá-los.
Devo admitir que antes de provar os vinhos, que iam de safra
2004 a
2007 fiquei um pouco receoso, pois imaginei que estivessem já na parte
decadente da curva de evolução, mas fiquei surpreso em ver que sequer chegaram
ao seu ápice e ainda tem anos de vida para frente.
Carmelo Patti Malbec
2007: quem me conhece sabe que não sou muito fã da maioria dos malbecs
mendoncinos (e do estilo pesado dos vinhos argentinos em geral), mas este nem
pareceu malbec, tampouco argentino! O vinho tem sim uma doçura, mas a alta
acidez e os taninos abundantes, porém já amaciados, fazem o contraponto num
corpo médio, para um equilíbrio geral e elegância raramente encontrada neste
solo para esta casta.
Carmelo Patti
Cabernet Sauvignon 2005. Embora mais
antigo ele pareceu ser menos pronto devido a certa dureza de seus taninos.
Folhas mortas, tabaco, azeitonas e especiarias no nariz; o grande corpo de
textura terrosa repete na boca as mesmas sensações, com alta acidez e taninos um
tanto rústicos. Vai melhorar ainda com algum tempo de garrafa.
Carmelo Patti Gran
Assemblage 2004. Corte com predominância de Cabernet Sauvignon (47%) e o
restante de Malbec, Merlot e Cabernet Franc, este seja talvez o mais sedutor
dos 3 (embora eu ficaria com o Malbec) por sua textura aveludada e extrema
maciez. Os 4 mostos são fermentados separadamente, mas depois maturam 1 ano em
carvalho todos juntos, como se fossem um único vinho, que depois estagia em
garrafa para cerca de 4 anos. A impressão geral na prova é como uma mistura dos
dois acima: impressiona pela complexidade e pelo corpo sedoso, mantendo alta
acidez e certa rusticidade envoltas em notas de terra e grama molhada, amoras e
azeitonas.
Enfim, vinhos argentinos diferentes, que merecem ser
provados. Sobretudo se estiver cansado do estilo típico da região, com tudo lá
em cima, estes rótulos vão te dar uma outra visão, que em Mendoza é possível
produzir vinhos elegantes que remetem ao Velho Mundo: basta querer.
Os vinhos do Carmelo
Patti são trazidos para o Brasil pela Fine Wines, com preços de R$ 169 a R$ 289.
Grande Mario!
ResponderExcluirEu sou fã dos vinhos do Sr. Carmelo, principalmente do Cabernet Sauvignon e do Assemblage. E são longevos os danados. Bebi, há uns 2-3 anos, um Cabernet de 1996 que estava uma beleza. Realmente são vinhos diferenciados. Quando vou a Argentina sempre coloco Carmelo Patti e Montchenot na mala.
Abraços,
Flavio
Somos dois fãs então. E o Montchenot, que me perdoem Catena Zapata e outros produtores argentinos da moda… é o melhor vinho argentino sem sombra de dúvidas!
ExcluirGrande Flavio! Bem que eu falei que dos 3 o cabernet 2005 foi o menos pronto e que tem ainda bastante vida pela frente, mas 1996??? Nem imaginaria que pudesse ser tão longevo! Claro que depende das safras, mas bom saber! Os vinhos são bons mesmo, mas no ultimo ano o preço quase dobrou. Particularmente acho o assemblage um pouco over-price, problema de sempre...
ResponderExcluirGrande abraço!
Mario,
ResponderExcluirComo estavam os preços dos vinhos no encontro? Era vantajoso para "abastecer a adega"? Tive um contratempo e infelizmente, apesar de estar com o ingresso comprado, não pude estar presente. Abs
Tinha até uns descontos interessantes, mas nada para realmente encher a adega...
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