Os encontros improvisados com os amigos são aqueles que dão
mais certo (em puro estilo jazzístico). Em meia hora nos reunimos, cada um
levando um vinho e engraçado que, mesmo sem termos definido um tema, acabamos
todos levando vinho francês (talvez porque o nosso anfitrião tinha acabado de
chegar de Paris). Foi quase uma temática exclusivamente bordalês, com exceção
de um branco da Alsácia. Repare o que conseguimos:
- Hunawihr Riesling
Grand Cru Rosacker 2011 (Grand Cru de Alsace): um branco fenomenal. Paleta
aromática complexa que vai de limão a pêssego, passando por casca de laranja
e pêra, mais aquela nota de petróleo típica da casta. A boca confirma as mesmas
sensações, com toques minerais e acidez espetacular.
- Château Le Mont
d’Or 2006 (Saint-Emilion AOC). Produzido por Lavandier, é um pequeno
chateau que faz parte do catálogo do Jean Pierre Moueix, o mesmo negociant do Pétrus. Merlot em
predominância, não é feito para guarda, portanto já mostrou maturidade,
com os terciários em evidência (couro e tabaco principalmente) e taninos bem amaciados.
- La Bastide Dauzac 2005 (Margaux AOC): não
precisa gastar palavras sobre Margaux, sendo pra mim a mais elegantes
denominação de Médoc. Este, de safra histórica, mostrou todas as características
do estilo, com fruta vermelha e grama molhada, paladar fino e aveludado, alta
acidez, taninos numerosos e polidos. Produzido pela badalada família Lurton.
- Château
Lafon-Rochet 2008 (Grand Cru Classé Saint Estèphe) : já avaliei este
vinho da mesma safra excepcional de 2005 (veja aqui),
sem dúvida uma das melhores compras dentro dos grands crus de Saint Estephe,
pois fica na divisa com Pauillac, puxando um pouco do terroir do vizinho Lafite
e do outro lado tem os vinhedos do Cós d’Estournel , considerado o melhor da
appellation. Fumaça, alcaçuz, nozes, com notas terrosas e taninos firmes. Um
clássico.
- Château Pape Clement 2009 (Grand Cru Classé
Graves). O mais
emblemático vinho do renomeado Bernard Magrez, naquela que os críticos consideram
a safra de todas as safras em Bordeaux. De todo o painel este foi o mais
suculento e rico em fruta. Extraído e concentrado entregou cerejas, uva passa,
chocolate e baunilha. Potente.
- Château Montrose 2005 (Grand Cru Classé Saint
Estephe). De
acordo com os amigos foi o melhor tinto da noite, e não apenas porque foi o que
eu levei ehehe. Talvez por reunir um pouco de todas as características dos
outros, juntas: 2° grand cru classé de milésimo histórico, aberto talvez no
auge, mostrou ainda boa fruta, mas também notas de evolução (destaque aromático
para cassis, amoras, azeitona preta, café e tabaco). Elegante e fino, mas sem
deixar de lado a potencia, ficou até o longo final em perfeito equilíbrio entre
a riqueza e a austeridade que dividem os estilos de Bordeaux.
- Château d’Yquem 1996 (Premier Cru Supérieu
Sauterne). Uma
noite desta não podia ser finalizada senão com um grande vinho de sobremesa, no
caso o mais emblemático de todos. Tendo que ser chato devo dizer que o achei um
pouco inferior ao de 1997 já provado (veja aqui), mas é como querer discutir sobre caviar de beluga ou de salmão: é caviar,
caramba! Complexidade de sobra: damasco, mel, amêndoa, caramelo, algodão doce,
laranja, lichia, banana e figo, com notas minerais. Doçura perfeitamente
balanceada pela alta acidez e um final deliciosamente longo.
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