Vinopoly

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O primeiro Château d'Yquem a gente nunca esquece


Parafraseando o título de uma matéria de um tempo atrás do amigo Bruno Agostini (do jornal O Globo), a minha abordagem com este mito da enologia mundial nem foi tão diferente: uma prova através de uma Enomatic.
A amiga e colega blogueira Evelyn Fligeri do delicioso blog Taças e Rolhas relatou recentemente   de um novo wine bar em São Paulo onde é possível degustar esta belezura em taça e, aproveitando minha breve passagem pela capital paulista neste último fim de semana, quis conhecer a casa e provar o famoso néctar dourado.

Depois de um belo jantar no celebrado Figueira Rubayat - onde comi uma das carnes mais macias já provadas, acompanhada por um honesto Marques de Riscal - fiz questão de ir até o tal do Bardega para uma saideira digna da noite.
O bar, bastante bonito por sinal, é o primeiro do Brasil a oferecer mais de 100 vinhos em taça, divididos em uma dúzia de maquinas Enomatic, em conceito de self-service. Em total degustei 5 vinhos: dos outros falarei proximamente, hoje vamos falar do rei dos botritizados, com o qual encerrei a noite.
Diferentemente da Evelyn, que provou uma safra recente, naquela noite era oferecido um 1997, uma das melhores safras de sempre em Sauternes (e em particular no Château d’Yquem). A dose de 30ml custava R$70,00, objetivamente cara para provar um golinho, mas válida para aqueles que não querem/podem gastar valores de 4 dígitos para adquirir uma meia garrafa (eu sou um deles).Então não pensei meia vez e peguei meu golinho.

Com 16 anos de vida, o caldo mostrou muita vitalidade, coisa nem muito surpreendente, afinal estamos falando de um dos vinhos mais longevos do mundo, capaz de envelhecer por muitas décadas A linda cor dourada era o prelúdio dos aromas. Nariz impressionante: na verdade de primeira não pareceu tão diferente de outros Sauternes (nem de outros vinhos de sobremesa em geral), com mel em destaque e damascos a escoltar; mas girando a taça saíram dezenas de aromas secundários e terciários. Flores brancas, tâmaras, canela, amêndoa, fruta cítrica, açafrão, baunilha, manteiga, chá verde, e por ai vai. Como o Bruno, fiquei alguns minutos somente namorando os aromas. Finalmente coloquei o liquido na boca. Equilíbrio é a palavra chave. Corpo macio e sedoso, doçura delicada, balanceada por uma excelente acidez. As sensações aromáticas se repetiram no paladar, com a adição de muita mineralidade, algo tipo ferro e querosene. De fato para mim este foi o verdadeiro diferencial, aquela sensação que a Evelyn descreveu muito bem como “ferrugem”, que outro não é que a mineralidade que deu fama aos vinhos de Sauternes, mas neste caso muito mais marcada; mesmo assim nem um pouco incomodante, aliás, pelo contrário, muito agradável e perfeitamente integrada ao resto. A persistência longuíssima deixa o vinho na boca por vários minutos.

Enfim, um vinho extraordinário, não há dúvida. Mas sobre a pergunta, que certamente vocês estão se fazendo, a resposta é: não, não vale os milhares de Reais cobrados. Aí entra em jogo a questão da fama, da marca, do mito, da história e toda uma série de fatores que tornam um vinho caro, que vimos aqui.

De qualquer forma valeu a experiência.

Nas fotos abaixo, o Bardega e o Château d'Yquem (adivinha qual é qual...)



7 comentários:

  1. Mario, o post da Evelyn já tinha me dado água na boca - agora vem este seu e me derruba de vez ...
    Está decidido - sábado vou ao Bardega e vou provar essa maravilha.

    Será que eu vou gostar ??

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    1. Vai sim Nivaldo! Não gostar é impossível, no máximo vai achar overpriced, mas vida é uma, não é? E ademais, você tem mais um motivo para brindar: o seu aniversário! Aproveite e parabéns!

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    2. Primeiro gostaria de agradecer a menção feita a mim e ao meu bloguinho!! Muito obrigada, Mario! Sua descrição foi incrível... Conforme ia lendo o texto, eu me lembrava do vinho!!

      Nivaldo, se vc for ao Bardega hoje(sexta), eu estarei por lá, em mais uma degustação de água!! Quem sabe não nos encontramos finalmente!

      Beijos para vcs!!!

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    3. Que isso Evelyn! Eu sou fã do seu blog, e na verdade sou eu que tenho que agradecer você pela preciosa informação ;-)
      Um beijão!

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  2. Caro,
    Já apreciei algumas safras do Chateau D'Yquem. É um grande vinho? Sim, concordo. Mas também concordo que não vale o valor cobrado por ele. Recentemente bebi um Chateau Guiraud 2005, que tem preço bem mais acessível e que me deixou mais lembranças que os D'Yquem que apreciei. Hoje, se for comprar, não tenho dúvidas: Guiraud!
    Abs,
    Flavio

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    1. Pois é, Flavio. Aí, como disse, é basicamente o fator Marca/Nome o que torna o preço do Yquem tão elevado. Assim como para todos os outros "grandes" vinho do mundo, afinal.
      Nossa "missão" vai ser de garimpar vinhos de qualidades similares com preços mais acessíveis. Até estes não ficarem famosos e aumentarem também...e por aí vai.
      Obrigado pelo seu comentário.
      Grande abraço!

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  3. Caro Flávio, você saberia dizer sobre um livro antigo que tem uma espécie de oração do Chateau d´yquem? é uma viagem na história, tinha esse livro há anos atrás e não o encontrei mais, gostaria muito d achar... Agradeço

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