É opinião comum e largamente consolidada que a uva que
melhor se adapta ao terroir
brasileiro seja a Merlot, mas tomo a liberdade de afirmar que esta é uma meia
verdade. Porque ao lado de bons merlots, pra mim outras uvas se dão tão bem
quanto e merecem ficar na briga. Falo por exemplo da Cabernet Sauvignon, da
Cabernet Franc (que inclusive anteriormente foi a “escolhida” da vez), de umas
italianas como Ancellotta, Barbera e Sangiovese entre outras. Mas mais que
todas estas eu venho me surpreendendo a cada vez mais com a casta supostamente
mais improvável para o Brasil: a Pinot Noir.
Mas como? A uva mais difícil e temperamental do mundo está
dando certo no Brasil? Yes, ladies and gentleman. Claro, não é qualquer um que
a faz, e tampouco não é qualquer um que a sabe fazer, mas grosso modo eu
diria que o caminho certo está sendo traçado. Mas atenção em não cair na
clássica armadilha: comparar com a Borgonha. Isto seria até covardia, mas me
arrisco em dizer que alguns pinots brasileiros são a coisa mais parecida com pinot de
velho mundo de maneira geral.
Recentemente tive modo de provar, em breve espaço de tempo,
4 pinots nacionais, portanto decidi agrupar as minhas impressões aqui num único
post, até para comparação de estilos.
- Monte Paschoal Dedicato Pinot Noir 2014: da tradicional
vinícola da família Basso (de origem italiana), este vinho procede de vinhedos
situados em Encruzilhada do Sul (RS). De cor bastante extraída para a casta, o
nariz não é tão limpo, mas os aromas típicos estão todos aí: fruta silvestre
fresca, vegetação rasteira, com aromas terciários tipo cogumelos, alcaçuz e um
toque animal. Boa presença de boca, com acidez em equilíbrio com os taninos um
tanto rústicos e a com a madeira. Talvez peque um pouco em precisão, mas me
pareceu um vinho sincero, por isto me conquistou (R$ 90,00)
- Casa Valduga Terroir Identidade 2015: indicado pela
revista britânica Decanter como um dos melhores pinots brasileiros. Do mesmo
terroir que o anterior, este já tem a cor mais tênue que você esperaria de um
pinot, muito límpida, e também paladar mais delicado. Bastante fruta vermelha e
hortelã, com notas de baunilha. Pareceu-me mais puxado para o estilo de pinot
de Novo Mundo, lembrando os da região de Casablanca no Chile, por exemplo. De
qualquer forma bem agradável e tecnicamente impecável (R$ 85,00)
- Pericó Basaltino Pinot Noir 2013: aqui estamos em outro
terroir, aliás em outro estado mesmo: em Santa Catarina, mais precisamente em
São Joaquim. Um vinho de altitude (1300 mt a cima do nível do mar), que mostrou
mais corpo e presença. Em plena fase evolutiva, os perfumes frutados deixaram
espaço para os aromas terciários, de madeira tostada, café, tabaco, couro.
Diferente e interessante (R$ 130,00)
- Serena Pinot Noir Vinhedo São Paulino 2015 : este é um fora de
série e mereceria uma categoria a parte. O Mauricio Voigt Ribeiro produz em Nova Pádua provavelmente o melhor pinot noir do Brasil. Na vertente dos vinhos chamados
“naturais”, vem de cultivo orgânico e biodinâmico; fermentação espontânea,
mínima intervenção humana e quase zero sulfitos. Tinha já provado o Vinhedo
Serena - em mais de uma ocasião, das safras 2011 e 2012 (uma pequena joia mesmo), mas ainda não conhecia este rótulo que vem de outro vinhedo. O resultado é basicamente o mesmo, um vinho finíssimo,
perfumado, elegante e de um frescor incrível (R$ 160,00).
Estes são apenas os últimos provados, mas tem outros vinhos primorosos
e excelentes com base nesta casta produzidos em território brasileiro. Enfim, a
pinot noir nacional vem a cada vez mais mostrando seu potencial para chegar ao topo
da viticultura brasileira.
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