Vinopoly

domingo, 21 de junho de 2015

Visitando o único Grand Cru Classé orgânico e biodinâmico


Continuando a série sobre minha viagem a Bordeaux, a minha segunda visita foi para o prestigiado Château Pontet-Canet, Grand Cru Classé de Pauillac.

Ao longo de 2 séculos de história a vinícola pertenceu a 3 nobres dinastias e hoje é comandada pela família Tesseron, mesma proprietária do prestigiado Château Lafon-Rochet (Grand Cru Classé de Saint Estephe, veja aqui) e famosa produtora de Cognac.

O Grand Vin do Château Pontet-Canet é um dos mais badalados vinhos da região - e consequentemente do mundo, continuando a encantar público e crítica (diga-se de passagem, emplacou 100 pontos pelo Robert Parker em duas safras seguidas, 2009 e 2010)

A propriedade possui 80 hectares de vinhedos de mediamente 45 anos (principalmente cabernet sauvignon) adjacentes aos do Mouton Rotschild e d'Armailhac


O château foi qualificado como Grand Cru Classé na famosa classificação de Médoc, precisamente como 5eme cru. Notoriamente isto foi em1855, mas obviamente desde então muitas coisas mudaram: de acordo com as avaliações da Liv-Ex, a Bolsa de Vinho de Londres, se a classificação fosse revista, o Château Pontet-Canet seria hoje um 2eme cru. De qualquer forma é certamente uma das vinícolas mais comentadas e prestigiadas da atualidade. Achei impressionante a admiração que o chateau goza em toda a região: inclusive vários trabalhadores do setor em diferentes lugares e vinícolas que visitei apontaram espontaneamente Pontet-Canet como um exemplo de trabalho a ser imitado.

De fato a chegada dos Tesserons em 1975 trouxe nova energia para a vinícola e uma mudança radical da filosofia de produção. As instalações passaram por reforma e gradualmente os vinhedos começaram a ser conduzidos de forma natural, com menor intervenção humana possível e práticas tradicionais de cultivo. Hoje a vinícola é a única dentro dos grand crus classés de Médoc oficialmente certificada como orgânica e biodinâmica. Outros chateaux nos últimos anos começaram algo parecido em parcelas de vinhedos, mas o Pontet Canet está comemorando este ano sua 11ª safra totalmente biodinâmica.

De acordo com este espírito é proibido nos vinhedos o uso de qualquer tipo de química (como herbicidas, inseticidas, etc), os fertilizantes são exclusivamente orgânicos e utilizados apenas nas parcelas da vinha que requerem uma nutrição extra.

Chegando ao Chateau a simpática e competente Erika Ramos Lopez me conduziu num belo passeio através de um carrinho elétrico (tipo de golf) em volta da propriedade e dentro dos vinhedos, e a pé nas instalações.

Logo estas bandeiras chamaram minha atenção. 


A bandeira do Brasil, me explicou, tinha sido hasteada em minha homenagem. A vinícola costuma fazer isto como forma de prestigiar e agradecer os visitantes (portanto, além da bandeira francesa da casa, naquele dia tinha alguém da Alemanha chegando depois de mim). Ela não sabia que sou italiano, pois quando agendamos apenas comentei que trabalho no mercado brasileiro, mas valeu mesmo assim, afinal hoje me sinto até mais brasileiro que italiano! E de qualquer forma achei muito bonita esta atitude da casa.

Outra coisa impossível de não notar é a ausência total de qualquer maquina ou instrumento mecanizado. Os tratores normalmente visíveis na maioria dos vinhedos da região são proibidos por aqui, onde cavalos e asnos são meio de transporte e principais curadores dos vinhedos, ajudando a arar e compactar o terreno.
Um cavalo trabalhando nos vinhedos

Burrinhos na hora do almoço

As únicas maquinas que pude ver foram estas perfuradoras de solo para realização de poços artesianos, pois a vinícola pretende se tornar totalmente auto-suficiente, com produção própria de energia sustentável.


Um detalhe bem interessante: depois da colheita, rigorosamente manual, as uvas entram na adega diretamente pelos janelões do primeiro andar, onde depois de seleção (também manual) caem diretamente, apenas por gravidade natural, nos tanques de fermentação que ficam no andar de baixo, sem precisar de bombeamento (método que, conjuntamente com o uso de leveduras indígenas permite uma fermentação mais lenta e uma suave extração de taninos). O grand vin matura mediamente 16 meses em barricas de carvalho (60% novas) já o segundo vinho (Hauts de Pontet-Canet) estagia 1 ano em carvalho de segundo uso.

O vinhedo visto da varanda do 1o andar da adega
Os tanques de fermentação vistos de cima
Os tanques de cimento no andar de baixo
Interno do tanque: termoregulado
Ânforas de cimento

1a sala das barricas
Subsolo com mais barricas
Algumas jóias raras da coleção de família


Finalizando a visita, a sommelier da casa abriu e me ofereceu uma taça do vinho top, o Pontet-Canet 2014, para minha avaliação.

A pequena gema degustada

A safra de 2014 pode ser definida como clássica e o vinho era obviamente ainda uma criança, mas já mostrando seu grandíssimo potencial. Esperado blend bordales típico da margem esquerda, com predominância de cabernet sauvignon, cortado com merlot e cabernet franc.
Achei o vinho elegantíssimo. De cor vermelho-rubi profundo, tem aromas de fruta silvestre, especialmente cassis e amoras, alcaçuz, café, toque de figo e notas terrosas. Na boca tem uma enorme estrutura, mas mantendo um caráter muito fino; a excelente acidez e a grande estrutura tânica garantem um potencial de guarda de várias décadas; ótimo equilíbrio geral e final de longa persistência.

Enfim, mais uma experiencia única. Agradeço novamente a Érika e todo o staff do Château Pontet-Canet por ter providenciado esta visita inesquecível.

Mondovinho e Erika  






5 comentários:

  1. Excelente post...Não imaginava que esta vinícola estava tão bem estruturada... Uma pergunta Mario, mesmo com essas inovações eles ainda permanecem com características gustativas dos vinhos do velho mundo ??

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    1. Obrigado Dimas!
      Certamente, e eu ouso dizer ainda mais que a maioria. Vc sabe que entre os vinhos de Medoc, os de Pauillac são os que mais costumam agradar o publico "novomundista", por ser geralmente mais redondos e potentes. Ja achei o estilo do Pontet-Canet (embora seja Pauillac também) mais tradicional mesmo, um pouco mais austero, mas com muita finesse.
      Muito obrigado por passar por aqui!
      Grande abraço!

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  2. Prezado, como consigo seu email ?

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  3. Olá, parabéns pelo blog e pela matéria! Saberia me informar se esta vinícola faz uso da adição de sulfitos e de clara de ovo no clareamento? Agradeço desde já! Um abraço. André

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    1. André peço mil desculpas pelo enorme atraso na resposta, mas não sei porque o blogger não estava me comunicando o recebimento dos comentários...espero que o problema esteja resolvido agora.
      Respondendo a sua pergunta: sim, utiliza os dois (clara e sulfitos).
      Obrigado pela leitura e pelo seu gentil comentário.
      Abraço!

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