Em um recente “encontro harmonizado” (como costumo definir os encontros entre amigos enófilos onde cada um leva a própria garrafa) a amiga Isabelle extraiu de sua adega um riesling australiano da Wakefield que se tornou protagonista de um aceso debate: o tal aroma de querosene.
Agora, vale lembrar, este tipo de aroma da família dos hidrocarbonetos, é comum, sobretudo em uns rieslings envelhecidos da região alemã do Reno.
Mas este vinho não era nem envelhecido nem alemão...enfim, o debate continuou sem uma unanimidade (estava com defeito ou não?), fato é que o aroma de petróleo era bem forte e chegou a incomodar; mas a mesma sensação desagradavel não se confirmava na boca.
Recentemente encontrei esta declaração do Chapoutier (um dos maiores produtores da França), que afirma que o aroma de querosene típico do riesling não é sua característica típica, mas um defeito de vinificação, devido à prensagem.
Será? Caiu um outro mito? Fala-se que uns “fedorzinhos” no vinho são sintomas de qualidade, mas neste ponto será que os celebrados aromas animais, selvagem, de fazenda, de couro, de pimentão, de anchova, e o celebérrimo xixi de gato são todos defeitos?
Possível objeção n.1: o Chapotier não sabe do que fala, os produtores de vinho não entendem nada de vinho (dos outros), pois a maioria só bebe o vinho que ele mesmo produz. E ainda mais os franceses, que nem sabem que a Alemanha produz ótimos vinhos!
Possível objeção n.2: então centenas de riesling estão todos com defeito? Como é possível que isso venha acontecendo há décadas?
Observações até justas e para se levar em conta. Mas não vamos esquecer que o tipicissimo aroma de cavalo molhado, considerado até uns anos atrás como característico de uns tintos importantes, hoje é definido como um defeito causado por excesso da levedura Brettanomyces.
Enfim, como estão vendo, no mundo do vinho nada é o que parece e nada é certo até prova contrária.
Na minha modesta opinião, todos estes aromas podem ser interessantes e mostrar a tipicidade do vinho, se não forem excessivos e ficarem em harmonia com o conjunto. Quando os aromas terciários são equilibrados o vinho é bom. Simples assim.
Grande Mario, mais um ótimo post.
ResponderExcluirFico com a segunda objeção...acho muito difícil ser um defeito, já que todas as descrições que vejo de conhecedores (renomados)sobre o assunto remetem ao especifico aroma...tipicidade...
Abs e saúde
Obrigado Silvestre,
ResponderExcluirEu também ficaria com a segunda objeção, vamos ver se esta do Chapotier vai convencer até os enólogos...De qualquer forma, como disse, se for equilibrado o aroma é bem-vindo, já para o vinho da Wakefield que citei parecia estar em um posto de gasolina...!
Obrigado por visitar e comentar.
Um grande abraço!
Interesting Interview of Michel Chapoutier http://tinyurl.com/62k9py7
ResponderExcluirDear Guillaume,
ResponderExcluirThat definitely made it clearer. Thanks for reporting the issue.
And thank u so much for visiting.
Cheers!
Olá Mario,
ResponderExcluirInteressante assunto. Talvez o costume e nosso histórico de paladar podem fazer associarmos algo positivo com vinhos que tecnicamente hoje em dia sejam considerados defeituosos. Um leve brett é considerado como algo interessante por alguns e como um defeito por outros.
Na verdade ele estava se referindo só aos dominantes aromas de petróleo no riesling jovem, não os toques que aparecem com o tempo em um grande riesling da Alemanha (mas ele deve considerar o jovem riesling de Wakefield teve um certo defeito).
Se entendo bem, as uvas riesling que recebem muito calor e sol, e amadurecendo rapidamente, desenvolvem mais carotenóide e potencial para aromas de petróleo como jovem. Aparentemente especialmente uvas queimadas desenvolvem o pigmento carotenóide em cores amarelo e laranja. Em regiões mais frias e com modernas maneiras de trabalhar no vinhedo, cuidando que as uvas fiquem amadurecendo lentamente, tem menos disso antes de ser prensado.
Um abraço
Ulf
Verdade Ulf, inclusive a matéria linkada no comentário acima explica mais claramente a visão do Chapoutier.
ResponderExcluirVocê acertou em cheio e foi ainda mais fundo.
Agora o da Wakefield pessoalmente também aponto como defeito, pois realmente era muito forte. Espero que seja da garrafa em si, pois se o vinho for realmente assim, nao vai emplacar por aqui...
Obrigado pelo seu erudito comentário.
Grande abraço!