Num recente editorial da Wine Spectator, a mais lida
revista de vinhos do mundo, o jornalista Matt Kramer arrisca as suas previsões sobre
o futuro do mercado do vinho. Vamos analisar o que nós esperaria nas duas
próximas décadas, de acordo com a visão dele.
Antes de falar de previsões Kramer lembra que o futuro do vinho
é uma “invenção” recente. Antes dos anos de 1970 ninguém pensava em como seria
o mundo do vinho nas décadas seguintes. Até então o que contava era o passado:
os famosos Chateaux de Bordeaux, os crus da Borgonha, um punhado de Champanhes
de prestígio, umas poucas casas do Porto e uns riesling da Alemanha. Era isso aí e só.
Mas vamos às previsões:
Mas vamos às previsões:
• O futuro “atual” do vinho será determinado pelos Millennials (os nascidos entre os anos
de 1978 e 2000), que representam a faixa etária maior. Por exemplo, só nos EUA
são 76 milhões as pessoas com idade entre 17 e 39 anos e todos eles têm
mostrado bastante interesse em vinho. São os donos do futuro do vinho.
• O Cabernet de Napa continuará em alta (e com altos preços). Além da qualidade
dos vinhos, a região oferece experiências enoturisticas únicas em todos os
sentidos (hospedagem, visitas, comida, entretenimento, etc).
• Os tintos do Norte da Europa (Alemanha, Áustria, e Itália
do Norte) ganharam alto valor. Nestas regiões conhecidas por grandes brancos as
mudanças climáticas criarão o habitat ideal para as uvas tintas também,
especialmente a Pinot Noir.
• As rolhas de cortiça serão se não obsoletas, pelo menos ultrapassadas. As
novas gerações de enófilos se importam muito menos do tipo de vedação que os
tradicionais apreciadores da bebida e para eles não fará diferença alguma se o
vinho tiver screw-cap (tampa de rosca), rolha sintética, de aglomerado, de
vidro, tampa de coroa metálica (tipo cerveja), ou até novas formas de vedação.
• Os vinhos chamados “naturais” não existirão mais. Isso porque os
naturais se tornarão a normalidade. Será normal para os produtores criar vinhos
mais ou menos na linha dos que hoje são considerados “naturais”, com a
diferença que serão todos bem feitos (em comparação com o naturalismo
imprevisível de hoje).
• Por outro lado técnicas puxadas como osmose inversa e cones
rotativos para reduzir o álcool serão cada vez mais comuns e aceitas, e os
produtores serão francos e explícitos a respeito. Por incrível que pareça hoje,
isso será o novo “natural”.
• Com o aumento da demanda de vinhos poucos alcoólicos, os produtores de regiões
mais quentes terão que estudar novas soluções para reduzir o volume alcoólico
de seus vinhos. E se eles saberão demonstrar que a remoção criteriosa do álcool
através da tecnologia não afeta materialmente a "naturalidade" do
vinho, então isto não será um problema para a nova geração de bebedores “tecno-conscientes”.
No final da matéria, o autor também se pergunta se a
Chardonnay continuará sendo a rainha das brancas, se os blends ganharão a
batalha contra os varietais, se Portugal será a nova Itália (com suas centenas
de castas autóctones), não arriscando palpites sobre estas pautas.
De qualquer forma surpreende (e conforta) que até os
americanos estão começando a enxergar a derrota daquele estilo de vinhos
potentes que eles mesmo contribuíram a criar e padronizar.
Claro, vale
lembrar que o Matt Kramer talvez seja os que mais mostrou apreciar vinhos menos
musculosos dentro da turma da WS, mas de qualquer forma está nítido que o
caminho está traçado.
Só me pergunto (tendo em vista que o consumidor brasileiro prefere
vinhos encorpados e alcoólicos tipo Malbeccão, Shirazão, Primitivão, etc): se a
potência será mundialmente substituída pela leveza, quem irá mais tomar vinho
no Brasil?