Meu caro expert, sommelier, degustador ou enófilo, diga a verdade:
quanto você se acha cool pelo fato de
“entender” de vinho? E quantos sinais de admiração você já recebeu pela sua
maravilhosa sabedoria, que inflam sua auto-estima que nem balão de ar quente?
No entanto tem muitas situações em que você teria preferido entender de coisa
nenhuma.
Você vai se reconhecer nas experiências traumáticas a
seguir, mas antes de desperdiçar seu dinheiro com um psiquiatra abstêmio, leia
este breve tutorial, para libertar seu subconsciente e vencer o desconforto de
uma vez por todas.
1) Em restaurantes com amigos a carta
de vinhos vai ser inevitavelmente passada para você: “escolhe aí, você quem é o
expert”. Putz, não tem como fugir. Acabará escolhendo uma garrafa cara demais que
não harmoniza com a camisa brega do cara na sua frente nem com a bolsa Luis
Vuitton falsificada da mulher dele. Fiasco garantido e 10 pessoas que falarão
em seus escritórios que seu conhecimento em matéria de vinho é bem aquém do que
dizem por aí.
2) Tem convidados para um jantar em casa e pela ocasião
nunca falta o carinha que levará um vinho horrível (até no rótulo). Aí quando
estará no último gole do seu Gaja o cara vai dizer: “Não vamos abrir meu
vinho?”. Graças a Deus você não o tinha despejado no molho (seria ruim até para
cozinhar) nem jogado ainda no balde do lixo: é obrigado a tomar e declamar que
o vinho é simples, mas com discreta complexidade e será forçado a ouvir o
sermão do cara que vai te repreender por gastar absurdos com Gaja quando um Reservado Carmenere expressa tão bem a vocação de seu terroir por apenas 19
reais.
3) Degustação entre amigos: vários vinhos para provar ao
longo de uma noite etílica. Você nunca viu 13 dos 14 vinhos presentes, mas
“monte a seqüência, você quem é o sommelier”. Aí mesmo não conhecendo os vinhos
vai por intuição, na base das características típicas das castas e relativas
áreas de produção, mas inevitavelmente logo naquela ocasião o syrah não é tão
apimentado como deveria e o pinot é mais encorpado que o usual, a ordem fica
comprometida e acaba igual ao ponto 1.
4) No restaurante com uma gata incrível nem está acreditando
que ela aceitou sair com você: deve ser engano e não pode perder tempo, ela
pode mudar de idéia...Neste momento você ta nem aí com o vinho e sua única
preocupação é finalizar a noite na melhor das maneiras. Mas aí o sommelier te
reconhece: você é o expert de vinho! E aí começa a ladainha sobre as
fermentações espontâneas e te traz uma garrafa de um pequeno produtor artesanal que só ele
conhece. E vai aparecer á sua mesa várias vezes interrompendo sem piedade seu
jogo de sedução. Resultado: a mulher fica entediada, você não consegue mais
lembrar nenhuma frase romântica que vinha ensaiando há uma semana e a noite
acaba tristemente.
5) Você chega em casa de amigos com uma garrafa de Krug 95 e
a reação deles é a mesma que se tivesse levado um lambrusco de supermercado.
Afinal para não ofender eles vão até concordar que seu Champagne é bom...mas, é claro,
nada que se compare com Veuve Clicquot e Moet & Chandon...
6) Almoço bem chato, você ta distraído e no primeiro gole
não percebe uma leve sensação de bouchonné, sendo que na verdade é o menor
problema daquela garrafa. Vergonhosa desonra e reputação manchada
indelevelmente para sempre.
Então, considerando estes e outros pontos (fique a vontade
em acrescentar) a pergunta que vai se fazer aflora naturalmente: "por que raios fui
inventar de me especializar em vinhos?"
0 comentários:
Postar um comentário