Vinopoly

sábado, 6 de dezembro de 2014

Um dos ícones de Bordeaux: Château Lynch-Bages 2003

Você sabe que aqui sempre prezamos a relação preço/qualidade (o famoso custo/benefício, se preferir), e a nossa bem sucedida coluna Bolso Esperto exemplifica este princípio. Mas de vez em quando também gosto de me deixar levar pelo puro prazer hedonista e tomar algo benéfico pela autoestima, ehehe afinal ninguém é de ferro, né? Portanto, dependendo da ocasião e/ou da disposição, posso decidir de tirar da minha adega uma garrafa como esta.

Château Lynch-Bages 2003. Um dos tintos mais aristocráticos de Pauillac e de todo Médoc. Confesso que, ficando nestas denominações top, tendo a preferir mais Margaux ou St. Esthepe, normalmente mais elegantes que opulentas, mas aqui estamos falando de um grande Pauillac. Grand Cru Classé pela Classificação oficial de 1855, considerado por muitos um rival dos mais badalados da mesma denominação (como por exemplo Lafite ou Latour), de fato é classificado como Cinquième Cru (5°), mas segundo a opinião geral poderia ser hoje um Deuxièmes Cru (2°), sobretudo em algumas safras em que seus vinhos foram bem melhores que os da concorrência vizinha.

A história da vinícola remete ao século XVI, e passou dos Lynchs por vários proprietários, mas a afirmação começou em 1934, a família Cazes assumiu o controle da vinícola. O revolucionário enólogo Jean-Charles Cazes quis romper com a tradição e assumir os riscos de atrasar a colheita, tanto que se tornou famoso por ser o último a colher em Pauillac. Este método de alcançar a plena maturidade e concentração da fruta lhe garantiu uma série de safras espetaculares. Em particular, algumas bem difíceis e ruins em Bordeaux, foram ao invés muito boas para Lynch-Bages. Nos anos a seguir, os herdeiros André e Jean-Michel Cazes conseguiram manter o alto padrão de qualidade até hoje, o que torna o Château  Lynch-Bages sempre um dos vinhos mais procurados de Bordeaux, em qualquer safra.

Os vinhedos ficam na porta de entrada de Pauillac, a 900 metros do Chateau Latour e a vinícola produz hoje apenas 3 vinhos: o Blanc, o Echo (segundo vinho) e o ícone homônimo Chateau Lynch Bages.

Esta safra de 2003 não foi uma das melhores em Bordeaux, com temperaturas ao longo do ano acima da média, mas felizmente umas boas chuvas em julho conseguiram manter a evolução das uvas num bom nível. E o know-how da equipe da casa fez o resto, entregando um dos melhores tintos da safra de toda Bordeaux.

O vinho é produzido com corte bordalês bem típico de Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, com uma pitada de Petit Verdot, maturado em barricas de carvalho (70% novas) por 15 meses.

Na minha taça
Depois de 11 anos o vinho se mostrou ainda em toda sua juventude, como previsto para tintos desta estirpe, inteirinho e com muitos anos pela frente, mas já com uns aromas terciários bem evidentes. Portanto cerejas, ameixas, alcaçuz, azeitonas pretas no nariz, mas também sensações de defumado, tabaco, couro, grafite. Na boca é preciso e limpo, com textura sedosa. Acidez alta e taninos amaciados, mas ainda vivos com um longo final. Álcool civilizado (13%). Desce que é uma maravilha: o coloquei no decanter, mas não consegui deixa-lo descansar, pois os aromas estavam muito atraentes e gole após gole o nosso amigo foi embora rapidinho.

Agora se me perguntarem se vale o que custa, vou lhe dizer que não, mas certamente o vinho oferece uma experiência gratificante para qualquer apreciador da bebida, especialmente para quem (como eu) adora um bom Bordeaux.

P.S. este rótulo foi uma encomenda gentilmente trazida diretamente de Paris pelo meu amigo e colega Alexandre Follador, cujo blog Idas e Vinhas recomendo a leitura.






Vinho:
Chãteau Lynch-Bages
Safra:
2003
Produtor:
Lynch-Bages (Cazes)
País:
França
Região:
Bordeaux – Pauillac
Uvas:
75% Cabernet Sauvignon, 15% Merlot, 8% Cabernet Franc, 2% Petit Verdot
Alcoól (Vol.)
13%
Preço médio
R$ 1.700,00
Avaliação internacional
RP 95; WE 94; WS 92
Avaliação MV
*** (memorável)


2 comentários:

  1. Prezado Mario, excelente material sobre Bordeaux. Coincidência ou não, na sexta-feria abrimos um Chateau Pontet-Canet 2003. Estava muito prazeroso e se foi rapidamente. Certamente você o conhece, se não, vale muito a pena ! Adquirimos por aproximadamente USD 145,00. Se enquadra facilmente na categoria de "memorável" e "bolso esperto". Abraços !

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  2. Rodrigo, pra mim o Pontet-Canet é uma das melhores compras dentro dos grand cru classes de medoc. Como você justamente interpretou, a minha percepção de bolso esperto não se aplica necessariamente a vinhos baratos, e sim a vinhos que entregam mais do que custam, independente do preço. O pontet-canet faz certamente parte desta categoria. Já o lynch-bages tenho como a impressão que seja mediamente mais caro em função da fama do nome e prestígio. De qualquer forma é sempre bom provar estes grandes vinhos.
    Muito obrigado pela visita e pela sua contribuição.
    Abraço!

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