terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Os Oscars do vinho!


O cinema mudo ganhou: a maioria dos filmes não tem mais nada a dizer (como já disse na minha página do Facebook). Com os Oscars na cabeça, decidi premiar com a estatueta (imaginária) os melhores vinhos cinematográficos, ou seja os melhores vinhos nas melhores cenas de filme.

MELHOR VINHO PROTAGONISTA
Cheval Blanc 1961 - Sideways Entre umas e outras
Sideways é um filme que gerou polêmicas no mundo do vinho e foi capaz de influenciar (talvez ainda até hoje) o consumo do mercado americano. Na mais memorável das cenas o Miles, demasiadamente adepto a pinot noir e declaradamente anti-merlot, acaba bebendo o seu precioso Cheval Blanc ’61 em um fast-food em um copão descartável. Detalhe significante: o Cheval Blanc contem cerca de 40% de merlot em seu corte.

MELHOR VINHO COADJUVANTE
Clos St.Hune Trimbach – Hannibal
No "Silêncio dos Inocentes”, Hanibal Lecter declarava ter comido fígado humano harmonizado com um Chianti. Péssima combinação: com entranhas e miúdos melhor um branco mineral.
O Clos St.Hune Trimbach que aparece na continuação de 2001 é certamente uma melhor escolha. Um dos maiores vinhos da Alsácia, raro e caríssimo. Mas não sei se ser o vinho predileto por Hannibal Lecter é uma boa propaganda...

MELHOR FOTOGRAFIA DE VINHO
Chateau La Canorgue (Chateau La Siroque no film) – Um bom ano.

Tudo bem, na filmografia do Ridley Scott não é um episódio relevante, nem talvez na do Russel Crowe. Mas esta comédia romântica para enófilos é uma ocasião para lembrar que sempre tem regiões vinícolas que a gente conhece pouco, como a Provence, por exemplo, onde se passa o filme.



MELHOR VINHO DE ANIMAÇÃO 
Chateau Latour 1961Ratatouille.
Monsieur Linguini, o senhor seria um idiota de proporções gigantescas para não apreciar um Chateau Latour de 1961 afirma o chef Skinner em uma cena (para nós) notável. Como discordar?


MELHOR VINHO DE ROTEIRO ADAPTADO
Chateau Montelena Chardonnay 1973 - Bottle Shock, o Julgamento de Paris
História verídica, que conta a vitória de um chardonnay californiano entre pares (e muito mais badalados) franceses. A história é bem conhecida no mundo enófilo; quem ainda não conhece pode clicar aqui e ainda se surpreender descobrindo que um californiano ganhou dos franceses também na categoria tintos: Stag’s Leap 1973 levou a melhor na frente de Mouton Rothschild 1970, Haut Brion 1970 & Cia. Armadilhas das degustações às cegas...!



MELHOR VINHO DE ROTEIRO ORIGINAL
Chateau Haut Brion  - Meia Noite em Paris
Vamos dar o mesmo prêmio que na verdade ganhou (melhor roteiro original) para o último do Woody Allen, que celebra em vários momentos o Chateau Haut Brion e La Mission de Haut Brion. A melhor cena é com o Salvador Dalì (Adrien Brody) delirando no bistrô sobre rinocerontes.



MELHOR VINHO DE DOCUMENTÁRIO 
Malvasia di Bosa de Giovanni Battista Columbu - Mondovino
Obviamente não podia faltar o documentário do Jonathan Nossiter que inspirou até o titulo deste blog. Entre os muitos vinhos homenageados pelo diretor, ganha pra mim um verdadeiro vinho de terroir da Sardegna. Um branco de sobremesa capaz de envelhecer bem por 50 ou mais anos. Difícil definir se é doce ou seco: é o definitivo vinho de meditação.



EFEITOS VISUAIS 
Chateau Latour 1945 - O sentido da vida
O jantar do Sr. Creosoto é talvez uma das mais memoráveis (e nojentas) cenas da história do cinema. Ao restaurante ele come um inteiro cardápio, e para acompanhar pede 6 garrafas de Chateau Latour, uma double jeroboam (ou seja uma Imperial de 6 litros) de não especificado champagne e 6 caixas de cerveja escura. Todos sabem como acabou...


MELHOR DIREÇÃO DE VINHO
Dom Perignon 1955 - 007 contra o satânico Dr. No
Se há uma personagem com quem gostaria de compartilhar umas taças é o James Bond. Uma frase que me marcou no "O Espião que Me Amava": (depois de ter matado o malvado) “Talvez eu tenha errado em julgá-lo: um homem que bebe Dom Perignon ‘52 não pode ser tão ruim”.
Mas melhor ainda é quando, no primeiro e mais celebrado filme da saga, o Bond mostra logo seu sentido para Champagne: agarra uma garrafa de Dom Perignon com a intenção de usá-lo como uma arma.
Dr. No: “Isso é um Dom Perignon de ’55, seria um pecado quebrar a garrafa.
Bond: “Pessoalmente prefiro a ‘53.”
Definitivamente o James Bond é um de nós.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Encontro de Vinhos está chegando!


Amigos enófilos cariocas (e não), como antecipado, vou publicar mais detalhes sobre o evento “Encontro de vinho” que nesta semana chega pela primeira vez na cidade maravilhosa.
Eu estarei lá (fui convidado a fazer parte do painel de experts que elegerá às cegas os 5 melhores vinhos do evento), então é também uma ocasião para batermos um papo pessoalmente.

Segue o release oficial do evento:

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Encontro de Vinhos Rio de Janeiro 2012
1º de Março (quinta-feira) das 14h às 22h

Depois de sete edições de grande sucesso no estado de São Paulo, o Encontro de Vinhos escolheu o Rio de Janeiro para começar um novo roteiro de feiras. O evento será realizado no dia 1 de março, das 14h às 22h, no Real Astoria, na Enseada de Botafogo, um dos cartões postais da Cidade Maravilhosa.

A comunidade enófila carioca e o público em geral poderão degustar mais de 100 rótulos de países do Velho e Novo Mundo como França, Itália, Espanha, Portugal, Alemanha, Hungria, Israel, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, África do Sul, Chile, Argentina, Uruguai e Brasil.
Entre os importadores confirmados estão a Zahil (SP), Casa Flora (SP), Interfood/TodoVino (SP), Inovini (SP), Au Vin (RJ), Vinhos Everest (SC), MS Import (SP), Wine Lovers (SP), Max Brands (SP), Vinho Sul (SP) e Cantu (PR), entre outros a serem confirmados. Produtores brasileiros como a Casa Valduga, Domno Brasil, Pizzato e Adolfo Lona também apresentarão seus rótulos durante a versão carioca do Encontro de Vinhos.

Teremos também exposição e venda de camisetas temáticas produzidas pela Stractom.

No mesmo dia será feita uma eleição dos 5 melhores vinhos. A degustação, feita às cegas, conta com degustadores profissionais, jornalistas e sommeliers.

O Encontro de Vinhos conta com a parceria da revista Prazeres da Mesa e Taças Arcoroc (Linha Chef&Sommelier). A entrada custa R$ 60,00 e assinantes da revista e sócios da SBAV-Rio e ABS-Rio pagam apenas R$ 30,00. Os convites são vendidos na hora.

O Real Astoria fica na Av. Repórter Nestor Moreira, 11 – Botafogo

Para mais informações, acesse o site do Encontro de Vinhos –
http://www.encontrodevinhos.com.br

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Finalmente a hora do “bio-europeu”


Lamentamos mais de uma vez por aqui a falta de uma regulamentação para vinhos orgânicos na Europa, e, finalmente, foi aprovado neste mês em Bruxelas um novo regulamento! Já tinha passado da hora, e os parlamentares não podiam mais continuar ignorando a grande demanda do mercado de vinho orgânico, que pede regras bem definidas. 
De fato já a partir da safra 2012, os produtores que cultivam uvas sem tratamentos químicos ou manipulações na vinícola vão poder colocar no rótulo a especificação “vinho orgânico” e o logo “Bio” da União Européia, reconhecido em todos os Paises da União, que certifica oficialmente os ingredientes e os processos de produção utilizados. Uma mudança importante, pois até agora os produtores podiam rotular as garrafas apenas como “procedentes de agricultura biológica” (de uvas orgânicas) e não eram previstas normas especificas para o processo de vinificação.
Detalhe relevante: o novo regulamento prevê também a possibilidade de rotular como orgânicos vinhos de safras anteriores, uma vez, é claro, demonstrada a conformidade às regras.
Ganham os consumidores, pois vão ter certa garantia que o vinho orgânico tenha sido produzido conforme a regras mais rigorosas; e ganham também os produtores, que vão poder explorar um novo nicho de mercado, sobretudo para exportação.
Conforme estabelecido em Bruxelas, para poder aplicar o logo e a definição de “orgânico”, cada litro de vinho não poderá conter mais de 100 miligramas de sulfitos para tintos e 150mg para brancos e rosés.
Mas (sempre tem que ter um “mas”, né?), como previsto, nem todo mundo foi tratado da mesma forma: para os vinhos dos Paises da Europa Central e do Norte, que contenham uma quantidade de açúcar resíduo acima de 2g para litro, o limite tolerado de sulfitos aumenta para 120mg/l para tintos e 170mg/l para brancos e rosés.
Existem outras falhas: se tornou justamente obrigatório o uso de taninos naturais, mas isto não é previsto, por exemplo, para os chips de madeira, que, como vimos, são permitidos e podem receber também tratamentos químicos.
Enfim, certamente há alguém insatisfeito e melhorias a serem feitas, mas uma regulamentação definida já é um importante passo a frente, depois de 21 anos de luta, em direção de uma uniformidade de padrões internacionais que distingam um vinho orgânico de um convencional.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

BOMBA! Robert Parker deixa a Wine Advocate???


Os rumores são sempre mais insistentes e, recentemente, até o ex diretor do Gambero Rosso falou a respeito: Robert Parker estaria passando a Wine Advocate para o Antonio Galloni, atual responsável da publicação para vinhos da Itália, Borgonha, Champagne e Califórnia.

O Galloni, ex investment banker de sucesso, estaria para ganhar o comando e (talvez adquirir a propriedade) da The Wine Advocate e parece a mais lógicas das conclusões da ascensão do Robert Parker ao teto do mundo ao seu atual declínio. 

Já vimos aqui  e aqui a história do advogado de Baltimore que se tornou o mais influente crítico de vinho do mundo. A aposta que ele ganhou foi elogiar exageradamente a safra de 1982 em Bordeaux, que outros críticos tinham desprezado por ser muito concentrada e super-madura. Nascia assim o gosto internacional, ou na realidade, o gosto do Parker. Daí e escalada para o topo do mundo.

A primeira revolução da The Wine Advocate aconteceu em 2006 quando o Parker, que até então havia enfatizado a importância de degustar todos os vinhos pessoalmente, contratou uns colaboradores: o ítalo-americano Antonio Galloni trataria da Itália; o David Schildknecht (dito “The Man-Machine” pois nas degustações ao invés de escrever, ele fala em um gravador) argumentaria sobre vinhos de Alemanha, Áustria e algumas regiões da França como Borgonha, Loire e Champagne; o controverso Jay Miller teria coberto Oregon, Washington, Austrália, Nova Zelândia, Espanha e América do Sul. Do escândalo que o envolveu falamos aqui e aqui.
Em 2010 Austrália e Nova Zelândia passaram para a Lisa Perrotti-Brown, residente em Cingapura: esta mexida foi ditada não somente pelas usuais acusações de conflito de interesse do Miller, mas também pela exigência de influenciar mais fortemente o mercado Asiático.
Sucessivamente outros novos colaboradores ficaram com vinhos de mercados menores e emergentes como África do Sul, Israel, Grécia, Líbano e Europa do Leste.

O Império do Robert Parker se reduzia então a Bordeaux, Califórnia e Rhone, onde impôs, com notas estratosféricas vinhos super-alcoólicos e super-concentrados.

A bomba chega em fevereiro de 2011: Califórnia e Borgonha passam sob a responsabilidade do Antonio Galloni, que no entanto já tinha recebido Champagne pouco antes.
O fim de uma era e o começo de uma nova.
Acontece que o Galloni tem gostos bastante diferentes do Parker (vamos adicionar um “graças a Deus”?): não é um fanático da super-concentração, preferindo vinhos mais equilibrados e de estilo mais tradicional, sobretudo cuidando finalmente do fator terroir, considerado de maneira infeliz pelo Parker uma invenção de marketing dos europeus.

Quem analisou as notas do Galloni dos vinhos californianos - sim, há pessoas que têm todo esse tempo livre - tem notado que as notas de 97 pra cima são a metade respeito a quando o Parker tratava da região; mas a média subiu de 91 para 92. Ou seja, o ítalo-americano é mais generoso na base e menos no topo.

A notícia não está  ainda confirmada, mas parece somente uma questão de tempo. De qualquer forma o Galloni é o crítico da Wine Advocate que mais interpreta a evolução do gosto do mercado que está voltando atrás, cansado de vinhos opulentos e idênticos e à procura de vinhos de terroir; onde mais que o enólogo (quanto o Michel Rolland deve ao Parker?) conta o respeito do território.
Que os produtores tomem nota, sobretudo aqueles que acham que a repetição de uma mesma receita sempre traz resultados: o mercado muda, meus caros.
E faz todo o sentido que uma publicação tão influente como a Wine Advocate respeite a vontade do consumidor. 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Este sim é um vinhaço!


Recentemente comentamos um Chambolle-Musigny um pouco decepcionante, já este de hoje, pelo contrário, é e-s-p-e-t-a-c-u-l-a-r! 
A Domaine Antonin Guyon é uma vinícola relativamente recente (década de 1960) e possui vários crus na Borgonha. Este Chambolle-Musigny Clos du Village Monopole 2007 me agradou muito e em uma palavra poderia dizer: finesse.
Pois é, este pinot noir mostrou elegância pura na taça: já pronto para o consumo (mas com, no mínimo, mais 10 anos de vida pela frente) uma decantada ajudou mais ainda a liberar os delicados e convidativos aromas de violeta e cereja. Na boca mero veludo, e, apesar do corpo leve, revelou complexidade de sobra. Equilibradíssimo, com ótima acidez, taninos finos, álcool sem excesso (13%) e um belo final prolongado com retrogosto frutado e notas defumadas. A madeira, mesmo com estágio de 18 meses em barricas, era apenas um sopro.
Um pouco caro, mas é um vinho fantástico.

Voto gringo: 9 ½

Vinho: Chambolle-Musigny Clos du Village Monopole
Safra: 2007
Produtor: Antonin Guyon
País: França
Região: Borgonha
Uvas: 100% Pinot Noir
Teor Alcoólico: 13%
Importadora: Decanter
Custo médio: R$ 315,00

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Um design feio de “morrer”


Recentemente falamos da importância do nome e do design do rótulo, e como isso influencia as vendas. Existem rótulos criados para agradar todo mundo e outros feitos especificamente por umas categorias especificas. Por exemplo, rótulos com pinturas para quem gosta de arte, com fotos particulares para os amantes da fotografia, com tema musical para os musicofilos, e por ai vai. 
Tem gosto para tudo, e estes vinhos são pensados especificamente para os amantes da categoria "horror & afins" (ainda bem que é Carnaval!).
Shiraz Sangrento, Cabernet Assustador, Pinot Noir Maldito são uns dos nomes da coleção Possesion. Confecção notável: a caixa do vinho tem forma de caixão.
O túmulo do marketing.



sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Chega finalmente ao Rio o “Encontro de Vinhos”.


É com o maior prazer que vou dar uma notícia que vai deixar feliz toda a comunidade enófila do Rio de Janeiro: chega finalmente à cidade maravilhosa o esperado “Encontro de Vinhos”.
O evento já é uma forte realidade em São Paulo, onde tem ganhando muito sucesso ao longo das 7 edições até agora realizadas. Começado “em off” pela paixão dos amigos e colegas blogueiros Daniel Perches do Vinhos de Corte e Beto Duarte do Papo de Vinho, se tornou rapidamente uma referência na praça paulistana em matéria de aproximação entre importadores/produtores e consumidores finais.

Aqui no Rio vai acontecer no dia 1° de Março, no restaurante Real Astoria, localizado em um lugar privilegiado, com fantástica vista para a enseada de Botafogo e para o Pão de Açúcar.   

Mais de 100 rótulos vão estar em degustação, grandes nomes, convidados especiais, debates e muito mais.

Dezenas de importadores e produtores renomeados já confirmaram a presença, inclusive alguns deles poucos presentes no Estado do Rio, então será uma oportunidade para conhecer também novas marcas e rótulos diferenciados.

Em breve publicarei mais detalhes, com a lista completa dos expositores e formas de aquisição do ingresso, que vou logo antecipando, é muito barato para um evento deste porte.

Por enquanto anote a data na agenda e fique ligado. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A importância de ter o nome certo: porque escolhemos o vinho pelo nome


Certamente umas denominações de alguns vinhos trazem certo encanto e sozinhas já são motivo de atração. Mas os nomes dos vinho? Isso influencia o consumo?
Não precisa ser guru de marketing para imaginar a resposta, que é, obviamente, sim.
Na Europa, por exemplo, um dos vinhos mais vendidos neste mês dos namorados (lembrando que o Saint Valentine’s day, cai no 14 de Fevereiro), é um vinho branco do Alto Adige, norte da Itália, chamado justamente St. Valentin
Mas podemos ir ainda além: pesquisadores canadenses descobriram que o nome influencia a avaliação degustativa. Não estou falando de denominação ou da uva (fatalmente Barolo ou pinot noir criam mais expectativa que Chianti ou trincadeira), mas de fonética mesmo. O resultado da experiência foi claro: um grupo de 134 pessoas degustou duas taças de vinho e a amostra com o nome mais complexo foi julgada melhor que a outra mais fácil de pronunciar, que por isto parecia mais banal. Mas as amostras eram idênticas.
Assim podemos concluir que um nome condiciona, instintivamente, a escolha. Nós aqui analisando aromas, taninos, persistência e até cristalização sensível, enquanto legiões de consumidores escolhem o vinho de maneira totalmente irracional.
É a potência do marketing. Eu mesmo, admito a culpa, às vezes faço algo similar: escolho um vinho que não conheço, neste caso não pelo nome, mas somente pela gráfica do rótulo...faz parte do jogo.
E vocês, já compraram uma garrafa só pelo nome ou pela beleza do rótulo? 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Como curtir seu Valentine sem mexer um dedo (ENGENHOSO!)


Você sabe o que é uma Rube Goldberg machine? É uma máquina que executa uma tarefa simples de uma maneira extremamente complicada, geralmente utilizando uma reação em cadeia (fonte Wikipédia).
O estudo fotográfico 2D House de Toronto, realizou uma especial  máquina de Rube Goldberg para o Valentine’s Day, o dia dos namorados, internacionalmente comemorado no dia de hoje, 14 de Fevereiro.
Assim que o casal chegar em casa bastará somente pendurar o casaco e a engenhosa máquina vai cuidar do resto: abrir a garrafa de vinho, servi-lo, ligar o som, acender a luminária até o esperado final...
Very funny, confira abaixo


domingo, 12 de fevereiro de 2012

O 9° melhor vinho do mundo? Mais uma decepção...


Agradável noite a de ontem no Astor Bar, em companhia da amada e dos amigos Rafael e Elisa, na base de drinques, ostras e petiscos vários, mas antes de voltar pra casa decidimos fazer uma legítima “saidera” enófila e fomos até a Cavist Ipanema para encerrar a noite com um bom tinto.
Escolhemos um português, o tão bem falado Carm Reserva Tinto, já considerado o 9°melhor vinho do mundo em 2010 pela revista Wine Spectator em 2010, com 94 pontos.
Eu tinha certeza que não fosse isso tudo, mas quis pagar pra ver. E, olha só, não é que eu estava certo mais uma vez? Tuuuudo bem, a safra da lista da WS era de 2007 e nós degustamos a de 2008, mas de qualquer forma o vinho deveria refletir uma qualidade de Top10, né? Longe disso.
Vejam bem, é um bom vinho - não tenho como afirmar o contrário - porém, sinceramente, nada de especial. Mas vamos aos fatos interessantes.

Carm significa Casa Agrícola Roboredo Madeira. Empresa tradicional (desde 1600), até a década passada focada mais na produção de azeite que de vinho. Foi em 1999 que o rumo foi meio que “revertido” com maior dedicação aos vinhedos.

Este Reserva Tinto 2008 entra na denominação Douro Superior, é um corte de Touriga Nacional , Tinta Roriz e Touriga Franca, maturado por 18 meses em carvalho francês e americano.
Bastante doce nos aromas (baunilha e cereja em compota), ao contrário de muitos colegas de denominação não é muito extraído: tem corpo médio, mas de bom volume na boca. Com boa acidez (acima da média do Douro) e álcool civilizado (13,5%), senti talvez falta de taninos, pois “desceu redondo” demais para os meus gostos. A melhor nota vai para o final, bastante prolongado, com retrogosto frutado de muita persistência.

Enfim, um vinho, como o Rafael disse, muito fácil de beber, que agrada homem e mulher, enófilos e leigos. Mas certamente não é um dos melhores vinhos do mundo, menos ainda em sentido de custo/benefício: não vale absolutamente os R$114,00 cobrados.

Voto gringo 7 ½

Vinho: Reserva Tinto Douro Superior
Safra: 2008
Produtor: Carm
País: Portugal
Região: Douro
Uvas: Tinta Roriz (25%), Touriga Franca (25%) e Touriga Nacional (50%)
Teor Alcoólico: 13.5%
Importadora: World Wine
Custo médio: R$ 114,00
Notas: WS94

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Bolso Esperto de Cava


Hola, que tal um espumante espanhol? ¿Por qué no?
O clima quente destes dias pede um vinho refrescante, então hoje vamos de Cava e ainda de Bolso Esperto, o que querer mais?
A García Carrión é uma empresa tradicional (desde 1890), produz vinhos de denominação de origem em muitas das regiões vinícolas da Espanha, uma verdadeira indústria com várias marcas famosas (a Pata Negra, por exemplo, para citar uma bastante conhecida por aqui). Mesmo assim consegue manter uma boa qualidade e, sobretudo, preços acessíveis. No caso da Cava em questão, a marca Jaume Serra ganhou o título de melhor compra (em termos de custo/benefício) por 3 anos consecutivos pela revista Wine & Spirits.
Pois é, a Cava Cristalino Brut é realmente uma compra interessante. Produzida na região de Penedes, na Catalunha, maior e mais tradicional região produtora de Cavas, é elaborada com o método tradicional (champenoise) nas caves subterrâneas de uma fortaleza do século XVII.
Corte de 3 uvas típicas, Macabeo, Parellada, e Xarel-lo, tem um bel visual na taça, com cor amarela clara brilhante, um perlage delicado e persistente. Boa intensidade aromática, com notas de maça verde, brioches e algo cítrico, na boca é seco, mas amplo, equilibrado e com um final limpo.
Como todo bom espumante, este é um vinho que harmoniza com tudo, capaz de acompanhar uma refeição completa, mas pra mim é particularmente indicado para frios e entradinhas de peixe.
Nada de inesquecível, mas definitivamente uma boa compra, para apreciar a tipicidade da denominação Cava com preço que cabe no bolso: paguei R$32,00, em promoção.

P.S. aqui no Brasil se fala de Cava ao feminino e por isto também usei o mesmo padrão, mas o correto em espanhol seria o masculino “o Cava”.

Voto gringo: 7

Vinho: Cava Cristalino
Safra: Não safrado
Produtor: Jaume Serra (García Carrión)
País: Espanha
Região: Penedes
Uvas: 50% Macabeo, 25% Parellada, 25% Xarel-lo
Teor Alcoólico: 11,5%
Importadora: Vinoteca
Custo médio: R$ 40,00
Notas: 91 W&S

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

AVISO: este é um post chato. Não leia


Bom, eu avisei. Se realmente está a fim de se entediar, então fique a vontade.
O assunto é chato (mas não eno-chato), pois é um pouco técnico, mas trata-se de um tema diferente, que achei interessante compartilhar.
Argumentar de cristalização sensível sem que ninguém de vocês durma vai ser o meu teste de hoje, estamos no campo da especulação biodinâmica, e tudo que eu falar pode ser usado contra mim.

Era uma vez Rudolf Steiner, pensador de inspiração goethiana (se isso significa alguma coisa), procure no capítulo  “Antroposofia”.

Como vimos aqui, a biodinâmica é uma abordagem agrícola muito discutida e controversa: panacéia de todos os males para uns e bruxaria para outros.

Enfim, os primeiros pesquisadores que colaboraram com o tal do Steiner perguntaram se ele tivesse um instrumento para demonstrar a diversidade entre um produto biodinâmico e um convencional, vista a ineficácia das tradicionais análises cientificas.
Foi neste ponto que o Steiner falou de Cristalização Sensível (CS).

Se vocês estão ainda respirando, eu diria: o que diabo é a cristalização sensível?
É a imagem obtida adicionando partes de qualquer substância orgânica a uma solução de cloreto de cobre. O composto é depois colocado em uma cápsula e deixado evaporar em uma caixa especial a temperatura controlada. O sal de cobre, sozinho, iria dar vida a uma cristalização com uma imagem desorganizada; pelo contrário, na presença de uma substância orgânica, a cristalização ocorre de acordo com uma ordem específica característica da substância adicionada. 


Agora não me perguntem se realmente é assim, mas sem entrar muito na questão técnica, a imagem obtida forneceria várias informações.
Falando na substância que nos interessa, o vinho, ela pode revelar:

- Potencial de guarda
- Reação a uma eventual operação (filtração, adição, decantação, etc...)
- Problemas como oxidação, presença de bactérias, e defeitos vários em geral.

Obviamente, tirar conclusões a partir de uma imagem é para poucos e é preciso de anos de experiência. Um dos maiores experts de cristalização sensível é o francês Christian Marcel. Pessoalmente não tenho a menor idéia das bases cientificas desta prática (talvez nem existam), nem como interpretar uma imagem destas. Mais fácil a literatura chinesa em mandarim antigo.
De qualquer forma as imagens falariam de vitalidade do vinho, e não de qualidade. Ou seja, uma bela imagem não vai te dizer se o vinho vai ganhar 96 pontos do Robert Parker, mas somente quanto o produto seja “genuíno”.

Enfim, tudo ainda a ser demonstrado, mas é também verdade que a magia de uma geração é a ciência da geração seguinte.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O que quer dizer “Supertoscano”? Descubra a história deste mito

Frequentemente falamos por aqui em “Supertoscanos”. Mas que raio de vinhos são estes? Qual é a origem deste termo e o que na verdade quer dizer? Neste post vamos descobrir a interessante história deste estilo de vinhos que mudou o panorama da vitivinicultura italiana lançando-a no Olympio dos grandes produtores de vinho internacionais.

Uma definição bem simples do termo Supertuscan poderia ser: “Os vinhos tintos da região italiana de Toscana, produzidos com uvas, ou cortes de uvas, não autóctones ou típicas” (Fonte: mondovinhopédia)

Já numa interpretação mais extensa, tende-se a considerar supertoscanos também todos os vinhos da região, que por qualquer motivo (aréa geográfica, rendimento, métodos de vinificação e/ou maturação, etc...) não se encaixam nas regras estabelecidas das denominações de origem clássicas. 

A história começou com a coragem de uns produtores da região que, desafiando legislação local e desconfiança dos consumidores, conseguiram criar um marco do vinho italiano e um estilo hoje cultuado no mundo inteiro.

Ao redor de 1940 o marques Mario Incisa della Rocchetta, criador de cavalos de raça, e grande apaixonado por vinhos franceses, decidiu realizar o sonho de criar um vinho também de raça. Depois de ter notado semelhanças geográficas e climáticas da área de Livorno (Toscana) com a de Graves (Bordeaux), importou do Chateau Lafite (do amigo Elie Rothschild), uns clones de cabernet sauvignon e cabernet franc; os plantou na Tenuta San Guido e depois de um cultivo de grande cuidado, em 1942 ficaram prontas as primeiras garrafas de Sassicaia. No começo o vinho foi produzido somente para uso familiar, já a primeira safra a ser comercializada foi de 1968.


Inspirado por este exemplo, o marquês Piero Antinori (primo do Mario Incisa della Rocchetta, diga-se de passagem), cuja família produzia vinho há mais de 600 anos, decidiu ousar ainda mais, mudando o processo de vinificação de seus Chianti, adicionando à Sangiovese (típica uva local e mais emblemática uva italiana) um corte de Cabernet Sauvignon e Merlot. Nascia assim o Tignanello, que pode ser considerado o primeiro verdadeiro Supertoscano, pois o Sassicaia tinha no corte somente uvas francesas.


A consagração definitiva do gênero aconteceu depois que o Robert Parker, em uma degustação à cega, deu 100 pontos para o Sassicaia 1985, achando que fosse um Mouton-Rotschild 1986.

Daí vários produtores começaram a imitar este estilo, também trazendo nos cortes outras castas como Syrah e Petit Verdot. Todos grandes vinhos, mas como usavam uvas não permitidas pelo sistema de denominação da região, não puderam ser classificados como D.O.C .(Denominaçãode Origem Controlada) e receberam a indicação de “Vino da Tavola” (vinho de mesa), a mais baixa denominação na pirâmide de classificação italiana. 

Então os críticos americanos, empolgados com estes vinhos, começaram a chamá-los de Supetuscan (provavelmente o primeiro a usar o termo foi o James Suckling, fundador da revista Wine Spectator), para diferenciá-los dos outros tintos de baixa qualidade que levavam no rótulo a mesma denominação de “vinho da tavola”. 

As coisas melhoraram um pouco com a introdução de denominação IGT (Indicação Geográfica Típica) que abraçou todos eles. Em alguns casos ganharam até a própria DOC, como o Sassicaia,  e outros entraram na denominação de origem de Bolgheri Superiore. Mas o problema ainda existe, e estão sendo avaliadas propostas de criar uma nova única denominação que abranja todos os Supertoscanos.

De fato hoje temos basicamente 3 categorias destes vinhos: supertoscanos feitos de Sangioveses e outras uvas autóctones (mas fora das normas previstas pelas DOC e DOCG), supertoscanos feitos com blend de uvas locais e uvas internacionais e supertoscanos feitos apenas com uvas internacionais. 

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Os “infames” sulfitos: o que são e pra que servem?


Já falamos algumas vezes sobre os dois mundos do vinho, o natural e o industrial, e até explicamos a diferença para os alienígenas.

Além da conduta nos vinhedos, o problema principal, núcleo de discussão entre as duas facções, são os famigerados sulfitos, considerados a causa primária da dor de cabeça do dia depois, e de mais várias intolerâncias. 


Mas que bichos são estes e pra que servem?

O dióxido de enxofre, ou anidrido sulfuroso (SO2), tem uma atividade antibacteriana e antioxidante. Ou seja, serve a prevenir o desenvolvimento de bactérias e de transformações oxidativas, que modificam o vinho até torná-lo defeituoso.
Com as recentes tendências de consumo orgânico e natural, o movimento anti-sulfitos no vinho está se espalhando rapidamente ao redor do mundo, e a cada dia temos sempre mais vinhos bio-something. Um exemplo é o projeto “Freewineno sulfites in paradise”, apresentado na última feira Vinitaly, que preza a redução até a eliminação total de química no vinho.

Mas o que acontece sem os sulfitos?

Sem adição de SO2 o vinho faz a malolática rapidamente. Traduzido do sânscrito significa: modifica o nível de acidez. O ácido málico, bastante presente no vinho jovem, se transforma em ácido lático, mais suave, que torna o vinho mais macio.
Os franceses são mestres em vinho orgânico e biodinâmico, mas isso porque muitos vinhos deles têm acidez espetacular que poderiam, fazer 3 fermentações maloláticas e ainda ficar firmes e fortes. Mas os outros vinhos around the world, será que poderiam se dar a este luxo? Por isto se torna necessária a introdução de “um pouco” de sulfuroso.

Muitos produtores eliminaram o uso de sulfitos, com resultados variáveis. Por outro lado, uns enólogos diminuiriam drasticamente as quantidades usadas e o vinho continua bom (ou até melhor!) e, sobretudo sem afetar a saúde dos clientes com intolerância ao dióxido de enxofre. 

Enfim, como já falei em outras ocasiões, o problema fundamental não é sulfito-sim/sulfito-não, mas sulfito-quanto. Não existe uma regulamentação única sobre a questão: normalmente os vinhos que contenham uma quantidade de SO2 acima de 10mg/l devem informar no rótulo “contem sulfitos”, sem, porém especificar a quantidade exata. Ou seja, um produtor que coloque 11mg e outro com 500mg têm direito à mesma consideração pela lei.
Vocês acham justo?

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sóbrio ou bêbado?



“Não é verdade que o homem muda quando bêbado, 
é quando sóbrio que está diferente!”
>Thomas De Quincey 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Um vinho superstar (desta vez merecidamente)


Quem me conhece ou acompanha estas páginas sabe que não sou adorador dos vinhos do Novo Mundo: como todo bom italiano, prefiro um estilo mais tradicional, elegância no lugar da potência, acidez e taninos no lugar de fruit bomb e madeira.
Isso não quer dizer que não bebo vinhos modernos (ou modernistas?), cansei de publicar por aqui comentários positivos sobre rótulos do Novo Mundo que merecem ser provado, e este aqui é mais um que me surpreendeu.

Paul Hobbs dispensa qualquer apresentação, talvez seja o winemaker americano mais cultuado dos últimos 10 anos. Dono de vários projetos, entre eles a argentina Vina Cobos mais outros em Chile e Hungria, é na California que se expressa ao seu máximo nível.
Este Pinot Noir Russian River 2008 me conquistou: mesmo sendo um vinho opulento, tem elegância de sobra e, embora de estilo diferente, acredito que brigaria com muitos pinot noirs da Borgonha. 

Os aromas não são daqueles que pulam fora da taça, as notas delicadas de framboesa, morango e mirtilo deixam logo o lugar para couro e trufa. Na boca é sedoso, e, apesar do corpo médio/leve, tem bom volume. Acidez e taninos doces se balançam e a madeira é apenas perceptível (11 meses em carvalho americano 50% novo).

Enfim, um vinho espetacular. Se tivesse que achar um defeito, apontaria para o excesso de álcool (14,7%), que no começo sobressaiu um pouco. De qualquer forma não chegou a incomodar e ainda melhorou com a areação.

Voto gringo: 9

P.S. Ah, quase esqueço: foi o 6° melhor colocado na lista dos melhores 100 vinhos do mundo da Wine Spectator em 2010 (com 94 pontos), mas é um detalhe que normalmente pra mim não diz muita coisa. Neste caso assino embaixo.

Vinho: Pinot Noir Rússian River
Safra: 2008
Produtor: Paul Hobbs
País: EUA
Região: Califórnia
Uvas: 100% Pinot Noir
Teor Alcoólico: 14,7%
Importadora: Mistral
Custo médio: R$ 255,00
Notas: WS94; RP90

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O Big Brother dos sommeliers


Se você quiser fazer parte da restritíssima lista dos Master Sommeliers, prepare-se a dizer adeus à sua vida atual. De fato, para passar no exame de admissão, você terá que estudar duramente ao longo de anos, esquecendo namoradas, esposas, filhos, amigos e entretenimentos vários, para se converter à religião “enoica” que nem um monge tibetano. A prova parece ser a mais difícil do planeta: tem o menor índice de aprovados e somente 200 pessoas no mundo inteiro podem ostentar o título de "Master of Sommeliers".
O cineasta Jason Wise conseguiu uma façanha nunca permitida antes: gravar as sessões das provas de 4 candidatos e transformá-las em um filme. A filmagem de “Somm” durou dois anos rodando em 6 Países: conta o duríssimo caminho de estudos até o teste final. Uma espécie de reality show com 5 protagonistas: 4 sommeliers e o vinho. Certamente mais interessante que o Big Brother.

SOMM Documentary Trailer 1 from Forgotten Man Films on Vimeo.