sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Bom 2011 a todos!

Amigas e amigos leitores,

Será até banal, mas gostaria, com este último post do ano, de agradecer a todos que acompanharam o MondoVinho em 2010, nestes quase 9 meses de vida deste menino blog.

Adorei tê-los por aqui, adorei as trocas de opiniões, as dicas, os elogios e as críticas, foi tudo bom para crescermos juntos. E espero continuar com vocês ainda em 2011, 2012, 2013...

Esta noite levantarei uma taça também para vocês.

Um feliz 2011 para todos. Que seja um ano “efervescente”, em que possam “estourar” sucessos, “maturar” conhecimentos e “equilibrar” os relacionamentos.

Um brinde a nós!

[Não percam o próximo post com os “10 mandamentos enófilos” para o ano novo]

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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Coisas de todo dia: tipo achar uma jeroboam de Latour na própria adega

Eric Renaud é o sommelier do Bern’s Steak House de Tampa, Florida. Restaurante com uma imensa adega, praticamente infinita: mais de meio milhão de garrafas divididas em 3 diferentes depósitos. De vez em quando é preciso ordenar um pouco; assim o Eric está justamente limpando e ordenando quando vê uma Jeroboam (garrafa de 3 litros) “sepultada” atrás de outras garrafas.

O rótulo está escondido, Eric puxa a peça pesada com cautela, a vira, e finalmente lê o rótulo. Consegue exclamar somente as clássicas 3 palavras: “Oh-my-God”.
Nas mãos tem uma Jeroboam de Chateau Latour safra 1947, de valor incalculável. Superado o choque, e lembrando-se de ser um sommelier, atribui um valor para a garrafa que vai direto para a lista de vinhos do restaurante. O vinhozinho vai custar 30mil dólares. Mas se o conteúdo não estiver bom para beber, não será adicionado à conta. Gentileza sua.

Depois de ler esta noticia eu fui conferir vasculhando o fundo da minha adega, nunca se sabe...mas não encontrei nada disso, será por que, hein!?

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O 4° produtor mundial de vinho? Acredite, é a China

De acordo com a BBC News a China pode se tornar o maior produtor mundial nos próximos 50 anos. Hoje em dia o consumo é basicamente interno e a qualidade não alcança ainda patamares internacionais, mas o gosto para vinhos finos está lentamente se radicando e o crescimento do vinho chinês está se desenvolvendo em ritmo notável.

Embora grande parte da viticultura seja executada pelo governo, a paisagem é repleta de propriedades privadas e ainda tem espaço para iniciativa e investimentos particulares. Entre os líderes de mercado, a vinícola Grace Vineyards, com base em Hong-Kong e capital francês, possui vários vinhedos na China. O objetivo do governo para este tipo de investimento estrangeiro na região é envolver a participação da comunidade local: os vinhedos empregam agricultores de vilarejos vizinhos para cuidar das vinhas, da colheita e do transporte.

O mercado mundial está de olho: o País já é o 4° produtor do mundo e especialistas prevêem que dentro de uma década a China poderá se tornar o próximo Chile: um destino de vinhos de qualidade a preços acessíveis.
Por enquanto, o foco real em consumo e educação do vinho está em Xangai, a cidade mais moderna e “ocidentalizada”, onde se concentram as melhores lojas especializadas (as marcas importadas lideram) e as maiores escolas de enologia e de sommelier do País.

Enfim, embora o perfil do vinho chinês seja ainda baixo fora da Ásia, muitos apostam que a China vai se tornar um dos líderes vitivinícolas do planeta.
Afinal de contas, como os salários sobem e sempre mais chineses aspiram a um estilo de vida mais luxuoso, eles deverão consumir vinhos sempre mais finos, muitos dos quais serão eventualmente produzidos no próprio País.

Por exemplo, a dinastia Rotschild já está investindo em uns vinhedos chineses, em quanto o Chateau Lafite-Rotschild  leva o numero 8 em mandarim em todas as garrafas da safra 2008 e o Mouton-Rotschild chamou um artista chinês para desenhar o seu rótulo de 2008.

Enquanto isso, a Jancis Robinson relata “Soube que pessoas de muito dinheiro na China compram rótulos franceses muito caros, mas não gostam do sabor, então misturam com um pouco de Coca-Cola ou Sprite”.

Pelo visto esta mudança em gosto de vinhos dos chineses vai demorar.


terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Um honesto rosé orgânico

Continuando em tema eco-friendly, este é um vinhozinho interessante que vai agradar as suas tardes de verão.

Já falamos aqui da Avondale e dos cuidados que a vinícola sul-africana tem com os próprios vinhedos: agricultura orgânica é a chave do negócio.

Este rosé, de vinhedos de 20 anos de idade da região de Paarl, é um blend à la francês de Muscat de Frontignan e Mourvedre quem nem Languedoc-Roussillon.

A cor salmão confirma a inspiração na região sul da França, já nos aromas e palato tem mais cara de novo mundo. Morango, damasco e flores secas no nariz, na boca um pouco de doçura e uma vaga sensação frisante. Boa complexidade e frescor dado pela boa acidez completam o quadro.

Harmonizou belamente com um prato de Rigatoni com Atum.

Não é exatamente o que chamaria de barganha, mas a relação custo/beneficio não é mal: pode levar a garrafa pra casa com cerca de R$ 45,00.

Voto gringo: 6 ½

Vinho: Avondale Rosé
Safra: 2007
Produtor: Avondale
País: África do Sul
Região: Paarl
Uvas: Muscat de Frontignan (86%), Mourvedre (14%)
Teor Alcoólico: 13,5%
Importadora: Vinhos do Mundo
Custo médio: R$ 45,00

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O vinho com a pegada

Você já ouviu falar em carbon footprint? Literalmente é a "pegada de carbono", ou seja, o calculo do impacto total em emissões de carbono associadas a uma operação, empresa, etc.

Pois bem, chegou o primeiro vinho com a pegada de carbono no rótulo: o Mobius Sauvignon Blanc da vinícola New Zeland Wine Company (NZWC). Ele inclusive é certificado pela Carbon Trust, a agência européia que calcula as reduções de emissões carbônicas na indústria alimentar.

A NZWC se orgulha em afirmar que uma taça do seu Mobius Sauvignon Blanc tem uma pegada carbônica igual à de um percurso de carro de 5 km.

A vinícola introduziu na Nova Zelândia o conceito de sustainability (desfrutar os recursos naturais sem danificá-los e preservando-os para as gerações futuras) e de carbon neutrality (restabelecer um equilíbrio climático ambiental, financiando projetos como o reflorestamento, para compensar o equivalente em emissões produzidas). Já na vinícola usam bagaços das uvas para fertilizar os vinhedos, garrafas de vidro leve, energia renovável, reciclagem de todos os materiais usados, o Skype ajuda a reduzir as viagens de negócios, e em quanto isso as ovelhas providenciam à limpeza dos vinhedos.

Certamente interessante e seria desejável que todas as vinícolas agissem da mesma forma.

Mas não temos que esquecer que nós todos, como consumidores, produzimos dois terços das emissões totais de carbono.

Então, no vinho, como em todo o resto, um futuro melhor depende de cada um de nós.



quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Ceia (e almoço) de Natal: com que vinho vai?

Amigos e amigas, neste post eu ia simplesmente desejar pra vocês um Feliz Natal, mas pensei que pode se tornar mais interessante com uma troca de sugestões.

A minha ceia será, como de tradição da minha terra, à base de peixe e frutos do mar, então “opcionei” da minha adega um Fiano di Avellino Feudi San Gregorio e um Chablis Barton e Guestier Glod Label.

Já para o almoço de Natal será carne e estou ainda avaliando... Acho que vou de Supertoscano e Taurasi, mais estou ainda um pouco indeciso.

E você com que vinho vai?

Um FELIZ NATAL PARA TODOS, até para quem não é Cristão e não comemora esta festividade religiosa: de qualquer forma é uma ocasião para ficar com as pessoas amadas e celebrar a vida. Além de ser uma boa “desculpa” para abrir um vinho mais importante.

Muita saúde, paz e felicidade.

E muitos vinhos bons.
Boas taças a todos!


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Direito privado ou vinho?

Pode uma Instituição de direito privado e utilidade pública ser também produtora de ótimos vinhos? A resposta é afirmativa, pois a Fundação Eugênio de Almeida opera na área de assistência cultural, social e espiritual e produz também vinhos entre os melhores de Portugal (o Pêra Manca lhe lembra algo?).

A Adega Cartuxa está localizada em Évora, no Alentejo, dentro do homônimo mosteiro Jesuíta, um lagar de vinhos desde o 1776.

Este Cartuxa Tinto Colheita 2008 é um corte de Aragonez, Alicante Bouschet e Trincadeira que estagia por 12 meses em barricas de carvalho francês, mais 8 meses em garrafas.

Tem aromas de ameixas e cassis, na boca bastante profundidade e volume, com taninos redondos. Achei a madeira sobressair um pouco, mas certamente um ótimo vinho.

Voto gringo: 7

Vinho: Cartuxa Tinto
Safra: 2008
Produtor: Fundação Eugenio de Almeida
País: Portugal
Região: Alentejo
Uvas: Aragonez, Alicante Bouschet e Trincadeira
Teor Alcoólico: 14%
Importadora: Pacific Importados
Custo médio: R$ 90,00

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O presente para cortar as amizades


Glamouroso como uma loja de ferramentas é o clássico presente que acaba com qualquer amizade mais sólida do mundo.

O saca-rolha elétrico da Bosch parece e funciona como uma furadeira/parafusadeira e substitui a gravata cinza-rato na lista dos presentes menos bem-vindos; e é certamente um dos objetos mais feios das galáxias.

O presente perfeito para seus inimigos.


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Terroir chileno + uva francesa + passaporte italiano = vinhaço

Antes de ser acusado de dar preferência a vinhos italianos ou produzidos por italianos no exterior (o que é a pura verdade), juro que não sabia que por trás do chileno Erasmo tinha um italiano também! Apesar de ter o nome do meu tio...

Tinha lido umas avaliações positivas sobre ele e como o casal de amigos Marcus&Raquel estavam indo pro Chile, resolvi encomendar esta garrafa para experimentar. Detalhe: paguei por ela cerca de R$ 50,00, quando aqui no Brasil custa R$ 180,00. Mas é inútil remarcar sempre as mesmas coisas né? Vamos falar de vinho, que é melhor.

Francesco Marone Cinzano é na Italia uma celebrada personalidade do mundo do vinho, famoso pela produção de espumante Asti e de Vermouth, também possui a renomeada Tenuta Col d’Orcia em Montalcino (na minha adega tenho um Brunello dele, mas estou aguardando o momento justo para tomar). Em 1995, ele decidiu expandir os próprios negócios e escolheu este terroir no Vale do Maule, aonde importou clones de variedades francesas e fundou La Reserva del Caliboro: produz um único vinho de um único vinhedo.

Em poucos anos se tornou um dos mais bem falados vinhos do Chile, coletando prêmios e boas notas pela crítica internacional (91 pontos pelo Robert Parker, 93 pela Wine & Spirits).

Vinhedo único de alta densidade e baixa produção, colheita selecionada e manual, uvas francesas perfeitamente adaptadas ao terroir (é um clássico corte bordales de Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc), maturação de 1 ano em carvalho e mais 1 ano em garrafa sem filtração fazem do Erasmo um vinhaço.

Aroma complexo e delicado (cereja, lichia e notas de tabaco), bastante estrutura, taninos finíssimos, boa acidez, madeira suave e final médio, com retrogosto de alcaçuz.

O chamam vinho de autor, certamente é um belíssimo tinto, muito elegante (entre os mais elegantes do Chile que já provei), que vale a pena experimentar.

Voto gringo: 8 ½

Vinho: Erasmo
Safra: 2006
Produtor: La Reserva del Caliboro (Cinzano)
País: Chile
Região: Maule
Uvas: 60% Cabernet Sauvignon, 10% Cabernet Franc, 30% Merlot
Teor Alcoólico: 14,1
Importadora: Casa do Porto
Custo médio: R$ 100,00

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

10 presentes de Natal “eno-lógicos” a partir de R$ 5,00

Para presentear um enófilo experiente não tem nada melhor que um bom vinho, pois ele já possui a maioria de acessórios e já vimos as 5 regras para não errar. Mas nem todo mundo é enófilo experiente: tem “simples” apreciadores da bebida ou curiosos que estão se aproximando ao mundo do vinho, que vão adorar receber um presente de Natal “eno-lógico”.

Então lá vai a minha lista dos 10 presentes de Natal: acessórios para todos os bolsos.


1) Saca-rolha
O mais clássico, mas sempre apreciado. Tem de todo tipo, do tradicional ao super-tecnológico automático. Pessoalmente prefiro o de alavanca única, o modelo sommelier (chamado de “amigo do garçon”), pois une praticidade e beleza. A partir de R$ 15,00.

2) Decanter
Este é o tipo de objeto que vai agradar o apreciador casual. Ele não vai gastar dinheiro com este produto, pois ignora ou subestima as suas potencialidades. Mas vai adorar recebê-lo de presente. Ou, se não gostar, pode sempre usá-lo como vaso para flores. A partir de R$25,00


3) Livros
“O mundo é um livro bonito, mas pouco serve para quem não sabe ler”, dizia Carlo Goldoni. Nada de mais verdadeiro. Ler é sempre bom, então ler sobre vinhos? Melhor ainda. Tem centenas de títulos interessantes. Eu recomendo o "Atlas Mundial do Vinho" de Hugh Johnson e Jancis Robinson, uma enciclopédia, "Gosto e Poder" do cineasta-sommelier novaiorquino/carioca Jonhatan Nossiter, (que inspirou o título deste blog), uma viagem provocativa no mundo do vinho, e "Vinhos para Leigos", uma abordagem divertida e descontraída. Tem títulos a partir R$ 10,00.

4) Wine memories (Cadernos para rótulos)
São diários/agendas para colecionar os rótulos dos vinhos provados, com específico adesivo que permite de retirar o rótulo da garrafa sem danificá-lo e espaço para anotações pessoais. Pessoalmente eu tenho um pequeno software no pc para fazer isto, mas nem todo mundo é tão tecnológico. E voltar a escrever de caneta em um bonito caderno pode ser uma prazerosa experiência espaço-temporal...A partir de R$ 80,00.


5) Vacu-vin (ou Wine-Saver)
Sabe aquela bombinha com rolha em borracha para retirar o oxigênio das garrafas? É o melhor acessório para vinho ever! Confie, com ele o vinho depois aberto pode ser guardado (na geladeira) por até 5 dias sem perder as próprias características. A partir de R$ 25,00.
6) Artes “vinicas”
Recentemente todas as lojas de decoração estão repletas de artes remetendo ao mundo do vinho (o que comprova o sucesso da nossa amada bebida!). Já vi uns quadros que não vão fazer feio. A partir de R$ 30,00.

7) Aerador instantâneo de vinho
Se tiver R$ 200,00 para gastar em um presente de duvidosa utilidade este é o objeto pra você. Ele até abre um pouco os aromas dos vinhos jovens, mas não faz muita diferença para vinhos envelhecidos, que justamente são aqueles que precisam de mais aeração. Muito melhor o item 2): mais eficaz e mais barato.
 8) Taças
Aqui também a variadade é enorme: borgonhesa, bordalesa, flute para espumantes, etc...Se não for cristal, escolhe vidro não muito grosso, e, por favor, sem pinturas/desenhos/ hieroglíficos.


9) Revistas
Voltando ao tema da leitura, uma assinatura a uma revista de vinho é um presente bem interessante. As mais importantes do País: Adega, DiVino e Wine Style. Eu leio as três, mas nenhuma me satisfaz totalmente. De qualquer forma é um bom entretenimento para descontrair e aprender. A partir de R$ 100,00 (12 edições).

10) Salva-gotas (ou corta-gotas)
Útil e barato. Evita que as gotas escorram na garrafa ou na mesa. A partir de R$ 5,00.

Bônus: 11) Se não gostou de nenhuma destas idéias pegue um belo Panettone. Não é um acessório para vinho, mas é bom! E é perfeito para espumantes, melhor se for um Asti. A partir de R$ 3,99!



Mas se quiser extrapolar com um presente, digamos, “extravagante”, tanto bonito quanto inútil, pode escolher este aqui, ou este outro. Vai ser relembrado para sempre.
 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Madonna e a água que se torna vinho


Eu aqui critiquei os gostos da Madonna, mas ela já tinha entendido tudo!

A Fiji Water, uma das maiores marcas de águas importadas dos Estados Unidos expandiu os próprios negócios ao vinho. A companhia comprou a Justin Vineyards and Winery, vinícola familiar da Califórnia, cujos vinhos são muito apreciados pela crítica (o seu ícone Isosceles foi o n.6 da lista da Wine Spectator em 2000). Junto com os vinhedos a compra incluiu os locais da vinícola que compreendem uma pequena pousada e um restaurante.

A água Fiji, é a mais amada pelo público de classe A da América e pelos fanáticos da saúde do mundo inteiro, pois parece que é uma das águas mais puras do mundo (resta ver se for verdade ou é somente marketing...).

De acordo com o presidente John Cochran, a companhia tinha interesse em entrar na indústria do vinho há cerca de 7 anos, e poderão vir novas aquisições em um futuro próximo.

Temos a Madonna, temos a água que se torna vinho, o Natal se aproxima... é muito misticismo de uma vez!


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Vertical ou diagonal? Descubra os tipos de degustação possíveis

Muitos de vocês devem ter participado de algum tipo de degustação. É uma atividade interessante e divertida: vai conhecer vinhos, histórias e pessoas. E vai voltar pra casa mais feliz.

Muitas degustações organizadas por aí são simplesmente de apresentação de novidades no mercado, ou de promoção de um produtor, sem nenhuma lógica particular nem características didáticas. Mesmo estas degustações sem método trazem uma experiência útil, mas para afinar as capacidades sensoriais e se tornar mais competentes, é mais eficaz seguir um método comparativo.

A comparação é extremamente útil e didática, pois permite o estudo das semelhanças e diferenças entre dois ou mais vinhos. O objetivo claramente não é determinar qual das amostras é a melhor: a finalidade é apenas realçar as qualidades e as características de cada vinho.

Na teoria é possível organizar degustações comparativas com qualquer tipo de vinho, mas obviamente não faz muito sentido – em termos didáticos – comparar vinhos de tipologias totalmente diferentes como um tinto, um branco e um espumante: os vinho tem que ter pelo menos uma característica comum. Mas vamos ver em detalhe os tipos de degustações mais usuais.

Degustação vertical
É provavelmente a mais famosa e certamente a mais fascinante. É o estudo e comparação do mesmo vinho (mesmo produtor e rótulo), mas de diferentes safras. Portanto, se avalia o potencial de evolução de um vinho específico e também é interessante avaliar as safras individuais.
Uma degustação vertical é eficaz quando tiver pelo menos 3 amostras (mas uma boa vertical tem que ter no mínimo 5). A escolha das safras pode seguir qualquer critério: safras consecutivas, ou safras de décadas diferentes, por exemplo. Mas lembre-se que não faz muito sentido comparar dois vinhos cuja idade varia de muitos anos porque as qualidades serão evidentemente diferentes.

Degustação horizontal
É o estudo e comparação de vinhos da mesma safra, da mesma tipologia, mas de diferentes produtores. Os vinhos devem pertencer à mesma região, área ou denominação. Por exemplo, “Chianti Clássico 2004”, “Bordeaux Superieur 2006” e por aí vai. Mas não faz sentido comparar, digamos, Valpolicella com Amarone, mesmo sendo da mesma região. O objetivo pode ser escolher o melhor produtor ou simplesmente avaliar as qualidades de cada vinícola, o estilo e a interpretação da casta de uva e do terroir.

Degustação Diagonal
Entre todas as degustações é a menos difundida. Trata-se de uma avaliação de vinhos da mesma tipologia e zona, mas de safras e produtores diferentes: praticamente em comum somente área geográfica ou denominação. Por isso é pouco utilizada, pois não oferece bases concretas de comparação.

Degustação Varietal
Este tipo de degustação se divide em 2 tipos: o primeiro feito com vinhos mono-varietais (compostos 100% de uma única uva) mas procedentes de áreas diferentes e permite estudar as diferenças de uma mesma casta de uva em relação ao terroir (por exemplo “Cabernets do Novo Mundo”)
Já o segundo tipo é feito com vinhos mono-varietais, mas de uvas diferentes (por exemplo Chardonnay, Riesling e Sauvignon Blanc): isso permite ressaltar, por efeito do contraste, as qualidades de cada casta.

Degustação Territorial
Esta é muito interessante. O propósito é descobrir como um terroir influencia os próprios vinhos. É feita com vinhos da mesma região ou denominação entre um território não muito grande (por exemplo, os crus de Chablis). O mesmo vinho pode ter várias diferenças mesmo se produzido a poucos quilômetros de distância e é interessante descobrir como as influências geológicas e do micro-clima se traduz na garrafa.

Degustação às cegas
Menção à parte para este tipo de prova, que pode ser feita com qualquer um das degustações acima, mas sem que os degustadores conheçam os rótulos degustados.
As garrafas são cobertas geralmente com papel alumínio e a finalidade é avaliar o vinho melhor de forma imparcial, sem ser influenciados pelo nome do rótulo ou pela fama de um produtor. O limite é que os degustadores, para não pagar mico (de dar notas baixas a grandes vinhos e vice-versa) acabam não excedendo nem pra o alto nem para o baixo, nivelando a degustação em notas médias.

Estas são as principais degustações possíveis para uso didático. Já para diversão e socialização vale tudo, afinal, como disse, todo o tipo de degustação traz uma experiência positiva.

Então mãos às taças e fique à vontade de organizar degustações com seus amigos e parentes, todo mundo vai sair mais experiente.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Esta foto acaba com o glamour do vinho...

Pra você que acha o vinho como algo associado ao glamour, elegância, requinte e finesse, esta foto vai clarear suas ideias...



domingo, 12 de dezembro de 2010

O bolso esperto Patagônico

Recentemente falei dos vinhos da Patagônia argentina, este vinho que segue é um interessante exemplar daquele estilo e, o que mais importa, com preço mais interessante ainda.

A Bodega del Fin del Mundo é uma vinícola relativamente recente (1996), situada na província de Nenquem em uma área totalmente desértica. Para poder transformar um local de areia e pedras em verdejantes e prósperos vinhedos foi necessário muito esforço. Como é distante das águas do Rio Negro foi construído um canal de irrigação de 20 km para levar as águas do rio até o solo da vinícola. Confira nas fotos abaixo o antes e o depois.

Mas os resultados chegaram cedo e a Bodega del Fin del Mundo vai ganhando a cada dia mais reconhecimento (até hoje foram cerca de 140 medalhas ganhas em vários concursos ao redor do mundo).

Achei este Ventus Tinto bastante interessante, sobretudo levando em conta o preço: paguei, pela precisão, R$ 19,75.

O nome vem justamente do forte vento que caracteriza a região e que é benéfico para as videiras. É um corte de Merlot, Malbec e Cabernet Sauvignon. Vinho jovem, com breve passagem em madeira para dar um toque de complexidade. Valoriza, sobretudo, a fruta na boca e nos aromas (framboesa, geléia de morango, com nuances de rosas), muito agradável no ataque, equilibrado e elegante. Os seus 13,5% de álcool são já uma raridade para vinhos da Argentina, cuja tendência é superar os 14%.

Enfim, um argentino um pouco diferente, puxado mais para elegância que para a potência.

Para sair da mesmice, o seu paladar e o seu bolso agradecem.

[Importado pela Mr. Man.]

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Mais uma trapaceada: a safra fictícia

Já vimos várias práticas ao limite da legalidade que uns produtores usam para aumentar o lucro e recentemente falamos dos chips. Hoje vamos descobrir uma das outras trapaceadas possíveis .

Pra mim, a marca a fogo do ano de engarrafamento na rolha deveria ser obrigatória, pelo menos em um mundo perfeito. Mas na crua realidade pouquíssimos o fazem e sabem o por quê?

Imaginamos que eu seja um produtor e que nesta safra engarrafei 10mil garrafas: vou armazená-las nas adegas, mas sem colocar ainda o rótulo (onde normalmente se informa o número de lote e safra da colheita). Assim, que chegarem os pedidos vou providenciar a rotulagem.
Porém, neste ano as minhas vendas caíram um pouco e me sobraram uns 3mil garrafas. Entretanto, chega o ano novo e os cliente não querem saber de safras antigas. O que faço? Simples: pego as 3mil garrafas do ano passado, digamos 2010, e coloco o rótulo da safra 2011. Na rolha não tem data e você bebe aquilo que eu, produtor, quero que você beba.

Obviamente não estou acusando ninguém e acredito (espero!) que somente uma minoria de produtores faça isso, mas pelo que eu ando ouvindo dentro do mundo do vinho, a dúvida é licita.

Por isso, tornar obrigatória a data na rolha resolveria o problema e as dúvidas. Mas algo me diz que isso não vai acontecer.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Não desperdice...


"A vida é curta demais para se beber maus vinhos."


> Hubrecht Duijker

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Que vinho presentear no Natal? 5 regras para não errar

O eno-apaixonado é um bicho estranho. Ao supermercado voa direto para a seção dos alcoólicos e passeando com a cara metade pára somente na frente da vitrine da loja de vinhos. E sabe o que ama receber de presente? Que diamantes que nada: uma garrafa de vinho é para sempre, até mesmo se depois de 2 dias ela já se foi. O enófilo apaixonado sabe do que estou falando: aquele vinho é um bem que vai além do material, é uma experiência, uma lembrança. Então aqui estão 5 regras de ouro para escolher a garrafa certa como presente de Natal para seu amigo/parente enófilo.

1) No mesmo preço, nem todas as garrafas são iguais. Entendo que olhando, assim todas ordenadinhas nas prateleiras, pareçam a mesma coisa, mas não é. Seja qual for o seu orçamento se informe sobre os gostos do destinatário. Chame a sua famíliao amigo dele, o seu vizinho, o seu restaurante preferido e peça conselhos sobre o que ele ama beber. Trocar um Malbec mendoncino com um Côtes du Rhône (e vice-versa) poderia ser fatal.

2) Priorize a qualidade sobre a quantidade. Dentro do mesmo orçamento melhor dar uma garrafa “importante” que 3-4 medíocres de supermercado. Normalmente o enófilo prefere vinhos complexos e longevos.

3) Duas garrafas iguais são melhor que uma. Tudo bem com a longevidade e tudo o resto, mas quando se tem uma garrafa que não se conhece o desejo de abri-la logo é muito grande. Então melhor doar duas garrafas idênticas: uma para o consumo imediato, a outra para guardar por anos (e enfim comparar o estado de evolução).

4) Não precisa gastar fortunas. Como vimos, preço alto não garante qualidade. Existem bom vinhos em todas as faixas de preço. Na dúvida, peça conselho. Ou leia as avaliações do MondoVinho.

5) Tente evitar as cestas de Natal pré-embaladas. Em geral o enófilo as acha pouco atraentes em quanto, de fato, raramente contêm emoções. Dentro da caixa podemos encontrar de geléia a caviar... não é mal, mas é nada personalizado. E também, fala sério, parece presente empresarial.

A lista está aberta: qualquer conselho/acréscimo é muito bem vindo. E depois se alguém se apresentar na minha casa com 2 garrafas da mesma safra do Primitivo di Manduria Sessantanni, significaria que leu este post com muita atenção. E a minha mulher (que o prefere aos diamantes) agradeceria pelo resto da vida.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A Disneyland do vinho

O amigo Bruno voltando de viagem de Aruba me trouxe de presente um vinho da Califórnia. Vinho californiano não é bem um produto típico de Aruba, mas como ele me conhece, pensou bem que teria gostado desta garrafa mais do que de uma de areia colorida ou de uma linda concha gigante!

Não conhecia a vinícola e pesquisei uns interesting facts:

Localizada na Sierra Foothills of Murphys há 4 gerações a Ironstone se dedica à agricultura sustentável. O produtor aposta muito no enoturismo, e mesmo quem não gosta de vinho vai gostar de uma visita, pois dentro da vinícola você encontra: jardins e lagos para passear, um restaurante, um museu do ouro (a região é aquela da famosa “febre do ouro”) onde está exposta a maior folha de ouro cristalino do mundo (pesa cerca de 45 Kg); um dos mais antigos órgão de tubos dos EUA (1927) que é tocado diariamente para os visitantes; um anfiteatro que hospeda periodicamente shows de alto nível (já se exibiram The Doobie Brothers, Earth, Wind & Fire, UB40, B.B. King, Steely Dan, ZZ Top, Crosby, Stills & Nash e Chicago, entre outros); uma joelharia; um centro e escola de culinária;. Ah, e é possível também celebrar casamentos nos vinhedos, com conseqüente festa na vinícola e brinde com os vinhos da casa.

Uma verdadeira máquina de diversão, como só os americanos sabem fazer.

Mas tudo isso não significa que os vinhos sejam menos interessantes.
O Ironstone Cabernet Sauvignon Vintage 2007 por mim provado é bem interessante. Vem da sub-região de Lodi e leva no blend também 15% de Merlot. Estagia por 9 meses em carvalho francês.

Gostei bastante. Aromas de violeta e groselha com notas de tabaco. Corpo médio, muito rico em fruta, acidez equilibrada, taninos macios e madeira bem integrada.

A boa notícia (inclusive para o Bruno, que adora este vinho) é que se encontra também no Brasil: é importado pela Porto a Porto.

Voto gringo: 6 ½

Vinho: Ironstone Cabernet Sauvignon
Safra: 2007
Produtor: Ironstone
País: EUA
Região: Califórnia
Uvas: Cabernet Sauvignon (85%), Merlot (15%)
Teor Alcoólico: 14%
Importadora: Porto a Porto
Custo médio: R$ 45,00

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Aromas na taça: dicas e técnicas para desenvolver seu nariz

Aromas do vinho não são uma lenda: sem chegar a estes excessos de uns degustadores sem noção, a verdade é que existem e são muito importantes.

O olfato é componente fundamental na apreciação de um bom vinho, até na parte gustativa: tente beber o vinho com o nariz fechado e verá que tem outro sabor. Nao é a toa que as taças de vinho têm justamente o formato que auxilia o trabalho do seu órgão olfativo.

Todos nós temos capacidade para distinguir aromas de vinhos. Mas então como se explica que uns os sentem claramente e outros não?

A chave está na memória olfativa.
Todo mundo tem a própria, porém nem todo mundo consegue valorizá-la. Mas com um pouco de prática e treinamento é possível chegar a sentir aromas hoje inimagináveis.

Seguem umas pequenas dicas e técnicas para desenvolver seu nariz.

Os cheiros não são uma barafunda, mas uma sucessão de nuances. Quando aproximamos o nariz à taça, pra começar devemos ter uma primeira abordagem olfativa sem mexê-la: tente identificar os possíveis aromas com a taça parada, pois o movimento facilita a areação das substâncias químicas voláteis.

Importante é não inspirar com violência e com intervalos regulares. O cérebro consegue identificar as fragrâncias conhecidas distintamente somente com certa calma. Passa de um cheiro para outro, mas isso não quer dizer que o primeiro tenha sumido, mas que está à procura de aromas sucessivos.

Você vai perceber 3 tipologias de aromas:

Os aromas primários são aqueles típicos da casta de uva e podem mudar bastante dependendo da maturação da uva e do terroir.
Os aromas secundários são aqueles formados durante a fermentação (alcoólica e malolática) e geralmente dão notas de fruta e vegetais.
Os aromas terciários são devidos ao envelhecimento do vinho (infelizmente, às vezes muita presença de madeira acaba escondendo os outros).

Agora gire a taça: irão aparecer mais aromas ainda.

A coisa fundamental a respeito da memória olfativa é que obviamente vale para os cheiros que você conhece (não adianta tentar sentir o mirtilo se você nunca chegou perto de um...!).

O truque está no treinamento: fique mais atento aos cheiros que nos acompanham no cotidiano e tente cheirar mais coisas possíveis. Por exemplo, quando for ao hortifruti ou na floricultura pegue uns produtos e cheire; quando está cozinhando aproxime o nariz aos temperos, e por aí vai. Desta forma o seu cérebro vai formar um registro que vai ser seu aliado nas degustações.

Ah, e não esqueça da temperatura ideal: vinho gelado demais terá os aromas fechados; já se for quente o cheiro do álcool vai sobressair e esconder os outros.

Pronto! Agora que está treinado que nem cão anti-drogas verá quantas surpresas uma taça de vinho pode reservar.

domingo, 5 de dezembro de 2010

O vinho mais antigo à venda e outras raridades em circulação

Hoje falamos de uma das questões que mais fascinam dentro do mundo do vinho: vinho antigo.
Já comentamos aqui sobre o tempo de guarda , e sobre os champagnes de 1780 achados no fundo do mar, mas hoje quero ir além e descobrir com vocês as maiores raridades do mundo do vinho ainda em circulação.

Restos mais antigos de vinho: 6.000 aC
Jarros de cerâmica que continham vinho foram descobertos na República da Geórgia. Claramente não havia líquido nos frascos, mas os sedimentos encontrados nas cerâmicas apontam que se tratava mesmo de vinho. Uma safra de 8mil anos atrás! A coisa mais fascinante ainda é que junto aos sedimentos foi encontrada uma resina de árvores e os cientistas acreditam que era usada para preservar o vinho.

Vinho mais antigo ainda em produção: 800 aC
Trata-se do Commandaria, vinho de sobremesa da ilha de Chipre (no Mar Egeu ao sul da Turquia): produzido com a passificação das uvas autóctones Xynisteri e Mavro, descrito pelo poeta grego Hesíodo em um poema de 800 a.C. Isso faz do Commandaria o mais antigo vinho ainda sendo produzido mais o menos como era na época.

Mais antiga garrafa de vinho: 325 dC
A mais velha garrafa já achada com algo semelhante a vinho foi descoberto em Speyer, na Alemanha em 1867 durante a escavação de fundações para uma nova casa. Estudos provaram que ela continha vinho. A garrafa data cerca de 325 dC.

Mais antigo produtor de Champagne: 1584
Fundada em 1584, a casa Gosset é o mais antigo produtor de vinho na região de Champagne. Naqueles dias, porém, o vinho não era o produto espumante que conhecemos hoje. Esse processo não começaria até o final do século 17, e por quase 125 anos a prática da produção de um vinho espumante por segunda fermentação na garrafa ficou uma ciência inexata e propensa a acidentes. De qualquer forma, a família Gosset estava certamente lá na criação da indústria de vinhos de Champagne.
Supostamente Pierre Gosset era conhecido por produzir vinhos principalmente tintos naqueles primeiros anos, um fato surpreendente, levando em conta a dificuldade de enólogos modernos com castas tintas na região de Champagne. A região é fria e a estação de crescimento é curta, por isso os vinhos tendem a ser de corpo leve e acidez elevada, o que é ideal para ... você adivinhou! Borbulhas!

Mais antiga barrica: 1594
Uma barrica gigantesca com 5 metros de diâmetro e capacidade de mais ou menos 144mil litros (fazendo parecer a atual recordista uma latinha...), demorou 2 anos para ser construída e foi completada em 1594 na Alemanha. Foi construída para celebrar a visita do Rei dinamarquês Cristiano IV. Este povo sim sabia como comemorar!

A mais antiga Denominação de Origem: século I a.C
O Falerno del Massico ainda hoje produzido na região italiana da Campania era o vinho mais famoso, apreciado e caro da antiguidade. Ele pode ser considerado como a primeira D.O.C. da enologia mundial. De fato os antigos romanos, que tinham grande consideração por este vinho, costumavam guarda-lo em jarros fechados por rolhas equipadas com pequenas placas que garantiam a origem e a safra.
Registros e elogios para o Vinum Falernum são freqüentes nas obras de Horácio, Plínio e Cícero. Já o Petrônio conta de um jantar luxuoso onde os haustores (os antigos sommelieres) serviram um Falerno de 100 anos.

O mais antigo vinho atualmente à venda: 1727
O vinho mais antigo hoje à venda parece ser um Rüdesheimer Apostelwein da região alemã de Rheingau. É procedente de uma grande barrica, que hoje descansa nas adegas da Câmara Municipal de Bremen. A safra originária do vinho na barrica é de 1727, mas a ela vêm periodicamente adicionadas parcelas do mesmo vinho de safras mais recentes para poder manter o vinho em perpétuo.
É possível encontrar exemplares recentemente engarrafados em leilões na Christie’s. Mas se quiser ousar mais, voe até Bahamas e procure o Hotel Graycliff. O restaurante do hotel tem uma engarrafada em 1950. Ah, esqueci: separe uns U$ 200mil, pois isto é o valor aproximado dela. E trata-se de meia-garrafa!

sábado, 4 de dezembro de 2010

Desmentido 3 mitos sobre vinho rosé

O verão se aproxima, o calor já chegou, então pensei escrever duas (aliás 3!) coisinhas sobre vinho rosé, este desconhecido, mas interessante amigo em dias de calor. Vamos tentar fazer um pouco de clareza e desmentido os 3 maiores enganos à respeito.

1) O vinho rosé é obtido misturando tinto com branco.
Este é o mais clássicos. Nada de mais falso: a verdade é que misturar uvas tintas é até proibido por lei em muitas regiões vinícolas (pelo menos na Itália).
O rosé é sempre vinificado partindo de uva tinta, com o método de maceração curta. Ou seja, o mosto é deixado em contato com as cascas para um tempo menor do que com os tintos, até chegar à coloração que o enólogo quer.
Somente na França, e exclusivamente na região de Champagne, elabora-se rosé misturando-se tinto ao branco, até de safras diferentes. Eles o chamam de cuveé, mas se pronuncia “marketing”.

2) O rosé foi inventado pelos franceses.
A verdade é que a origem é incerta. Na idade média, por exemplo, nas regiões italianas e espanholas costumava-se adicionar o branco para “aliviar” o tinto. Hoje todo mundo se apropria da invenção, mas parece que a origem dos primeiros rosés vinificados com maceração curta vem da região italiana de Puglia, no fim da segunda guerra. Mas parece que o Conde Pavoncelli di Cerignola em 1890 já vendia aos franceses um vinho rosé de uvas Nero di Tróia.

3) Todos os roses se parecem um pouco.
Nem é preciso comentar, né? Quem pensa (e diz) isso pode voltar ao seu refrigerante.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O futuro do vinho segundo Robert Parker

Semana passada aconteceu em Piemonte o Boroli Wine Forum, encontro entre importantes personalidades internacionais do mundo enológico. Um dos assuntos de discussão era o futuro do vinho: já vimos a visão do Michel Rolland, desta vez  o Antonio Galloni, editor europeu da revista The Wine Advocate do Robert Parker, expôs a visão que o crítico americano enviou por escrito em 10 pontos.

É provável que muitas das coisas por ele evidenciadas aconteçam mesmo, talvez outras não...deixo vocês avaliarem e comentarem.

Aqui o decálogo do Mr. Parker (em negrito, seguido pelos meus comentários):

1) O uso dos site especializados se tornará comum, difundindo de maneira mais democrática cada tipo de informação.
Concordo, sobretudo para o MondoVinho!

2) Verdadeiras guerras acontecerão para poder conseguir comprar os melhores vinhos: graças à pressão de novos mercados como Ásia, América do Sul e Europa do leste, uma caixa de Bordeaux que hoje custa U$ 4mil chegará perto dos U$10mil.
O que no Brasil vai significar cerca de R$ 100mil.

3) A França terá um redimensionamento: a globalização do vinho terá efeitos desastrosos para o país, e se 5% dos produtores continuarem a colocar no mercado vinhos tops muitos irão a falência.
Too bad: é uma pena, mesmo.

4) A rolha de cortiça será eliminada: entre o ano 2015 a maioria das garrafas será com vedação de tipo screw-cap (rolha de rosca).
Isto vai me levar aos prantos.

5) A Espanha será a nova estrela da indústria e entre os 2015 as regiões mais cotadas serão Toro, Jumila e Priorat.
Assino embaixo.

6) Malbec vai estourar: em 10 anos, a grandeza dos vinhos argentinos produzidos com esta uva será reconhecida por todos no mundo.
Ok, Malbec merece. Mas o mundo pode viver também sem ele.

7) A Costa Central da Califórnia vai liderar os EUA e a região de Santa Bárbara vai suplantar a Napa Valley.
Hey, e o Oregon e Washington State que vocês americanos andam tanto falando? Já vão sumir? Ah, tá, é só marketing.

8) O Centro-Sul da Itália aumentará seu prestígio.
Eu já não avisei sobre a Campania?

9) Teremos um número sempre maior de vinhos a bons preços, sobretudo europeus e australianos.
Amém.

10) A palavra chave será "diversidade": teremos vinhos de alta qualidade de países inesperados como Bulgária, Romênia, Rússia, México, China, Japão, Turquia, Líbano e talvez até Índia.
Ok, agora vou logo à procura de um vinho búlgaro. Sabem, para adiantar os trabalhos.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

A verdade sobre a lista da Wine Spectator: composição X execução

Esta recente matéria da Wine Spectator chamou a minha atenção. O colunista Matt Kramer escreve no artigo uma espécie de confissão involuntária sobre as verdadeiras preferências dos jornalistas da revista. Eles, em público premiam vinhos americanos e em privado admitem a inferioridade e bebem vinhos franceses.

Então eu me pergunto: por que aquela top100 list cheia de vinhos americanos? E eu mesmo me respondo: para nacionalismo também, mas, sobretudo para agradar os insercionistas que pagam as propagandas mantendo vivo o lucro da revista.

O artigo titulado “Composition vs. Performance” é bastante cumprido, vou aqui resumir brevemente.
Em um jantar entre amigos enófilos perante a uma garrafa de vinho francês, os presentes se perguntam por que a Califórnia não consegue fazer vinhos de igual qualidade.
Ele admite que a maioria dos vinhos americanos são cópias dos franceses. A causa da inferioridade estaria no fato que a Califórnia é demais performance-oriented, voltada para o desempenho, já a França valoriza a composition, a criação da obra.
Praticamente, o responsável pela qualidade na Califórnia é o enólogo, já na França é o terroir.

Aqui temos duas escolas de pensamento:

1) o vinho não se faz sozinho: o enólogo é fundamental;
2) o terroir é tudo: posso trocar cem enólogos e o vinho continua excelente.

Parece um pouco a velha polêmica da Fórmula 1: quem ganha, o piloto ou o carro?

O debate está aberto. Pessoalmente, mesmo tendo enorme admiração para os grandes enólogos, tenho a tendência a ficar do lado do terroir (assim como o Matt Kramer).
Afinal o Romanée Conti tem a mesma qualidade há séculos, mesmo tendo mudado de direção várias vezes. Mesma coisa com os seculares Barolos, por exemplo.

Um pouco como a Nona Sinfonia de Beethoven: tantos diretores de orquestra e interpretações memoráveis, mas o que realmente é memorável é a obra.

E vocês, preferem composição ou execução?

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Vinho bom não é de grandes empresas

“As grandes empresas não podem produzir grandes vinhos”. Se esta frase fosse minha não seria nada surpreendente (vocês já conhecem a minha opinião a respeito). Mas a pronunciar esta sentença foi o Michael Mondavi, filho daquele Robert, fundador de um império vitivinícola nos EUA, que hoje, por prazer, distribui vinhos de alta qualidade produzidos por pequenas empresas.

Então, por que as grandes companhias não podem produzir grandes vinhos? De acordo com Michael uma vez chegado a certo limite, a paixão cede lugar para o negócio e quem manda são os executivos. Nesse ponto, a pergunta que circula na empresa não é mais "como posso melhorar o meu vinho?" Mas, "como eu posso melhorar o meu faturamento?". Então, vá para o inferno todas as considerações sobre terroir, vinhedos e vinificação. Praticamente a entrada dos managers se traduz com uma queda na qualidade.

Infelizmente ele tem razão. Já perdemos a conta de vinhos que renunciaram à própria identidade (e qualidade) a favor do sucesso (e dinheiro).

Então será até incorreto e feio, mas para aquele pequeno produtor que produz com amor e dedicação aquele vinho artesanal que tanto gostamos, podemos somente desejar que nunca se torne grande.


terça-feira, 30 de novembro de 2010

Como servir o vinho para os seus convidados

O serviço do vinho tem umas regras base.
Sei que para muitos dos meus leitores isso é óbvio e sabido, mas parece que não é tão óbvio assim: garanto que pessoas frequentemente me perguntam sobre estas coisinhas básicas quando estão preparando um almoço/jantar para convidados em casa, então resolvi colocar um breve post sobre o ABC do vinho à mesa.

Claramente não são para seguir ao pé da letra, pois cada caso é um caso, lembrando que o que conta é o gosto pessoal (afinal se você gosta de Gewürztraminer com churrasco quem sou eu para dizer que está errado?), mas por linhas gerais aí estão as minhas dicas.

- Servir sempre em ordem de temperatura (os vinhos mais frescos antes dos menos refrigerados)

- Vinhos brancos antes dos tintos

- Vinhos leves antes de vinhos encorpados

- Harmonizar vinhos com boa acidez e frescor com comida leve (melhor durante as estações quentes)

- Vinhos mais encorpados vão com pratos mais complexos e de longo cozimento (melhor durante as estações frias)

- Vinho tinto nunca com peixe e frutos do mar (bem, quase nunca, dependendo do molho pode fazer umas exceções)

- Vinho licoroso nunca com carne

- Durante uma refeição nunca servir um vinho só

- O único vinho que pode acompanhar uma refeição inteira é o Champagne (ou espumante em geral). Ele vai bem a partir das entradinhas e petiscos, passando por pratos de peixe e carne (leves) e até terminar com sobremesa.

A partir destas regras base sugiro ir experimentando e testando harmonizações mais ousadas.


O Bolso Esperto franco-chileno

Como o Natal se aproxima e provavelmente vai querer comprar uns rótulos mais importantes para comemorar, é bom economizar até lá, com garrafas acessíveis, mas de qualidade respeitável.

Por aqui já falamos várias vezes da família Rotschild, o nome mais importante da viticultura mundial (inclusive achamos também um bolso esperto bordales), hoje vamos falar de um dos seus inúmeros projetos mundiais.

Na década de 90 a Baron Philippe de Rotschild decidiu explorar o solo chileno e se instalou em Maipo, na Vale Central. Em quanto fechava negócios e a parceria com a Concha Y Toro para o ícone Almaviva, dedicou-se também a produção de vinhos simples para o dia a dia.

Daí nasceu a linha Mapu, que no idioma do povo nativo chileno, quer dizer “terra” (Mapuche é o nome do povo e significa “gente da terra”).

Elaborada com know-how e tecnologia francesas, é uma linha moderna, frutada, fácil de beber, e sobretudo, barata: eu comprei este Cabernet Sauvignon no mercado Zona Sul do Rio (no resto do Brasil é distribuído pela Vinho Sul) e paguei por ela a módica cifra de R$ 19,90.

É um varietal 100%, que não passa por madeira, para manter inalterado o frescor da fruta. Bom equilíbrio, acidez correta, taninos amigáveis, pena pelo final curtinho, mas seria pedir de mais né?

Enfim, um vinho super-descomplicado para quem quer o bolso como aliado (nossa, que rima poética!).


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Itália: os vinhos tops da Campania

Hoje vou falar um pouco dos vinhos da minha região, a Campania!
Para quem acha que já sou partidário falando da Itália em geral e que vou ser ainda mais sobre a minha terra específica, vou logo dizer que está...certo! Hehe, não, brincadeiras a parte, como vimos não sou eu a dizer que vinho da Campania é sinônimo de excelência, mas a crítica especializada inteira.

Inclusive me lembrei que a amiga Kátia, que trabalha como sommelier no Copacabana Palace (digo: o Copacabana Palace, não o boteco de esquina), recentemente me procurou para mais informações e dicas, pois o hotel estava pedindo maior conhecimento sobre vinhos da Campania já que a clientela está cada vez mais exigente (...olhem só: eu dando dicas para um sommelier de um dos mais importantes hotéis do mundo...! Estou começando a me achar...)

A Campania, no sul da península, espremida entre montes (muitos de origem vulcânica) e mar, produz vinhos fantásticos, cultuados por especialistas e entendedores, mas poucos conhecidos ao grande público. Isso porque nem todos são vinhos fáceis de beber, sendo um pouco mais tradicionais e austeros, que fogem um pouco da modernidade novomundista. Mas são os parceiros ideais de comida.

Os vinhos ícones da região são o Taurasi para os tintos e Fiano di Avellino e Greco di Tufo para os brancos (os três são DOCG).

O Taurasi é feito basicamente com uva aglianico, que é a uva mais importante e representativa do sul da Itália: é chamada de Nebbiolo do sul pela sua tanicidade e potência. É capaz de criar vinhos de grande complexidade e profundidade e de envelhecer por décadas.

O Fiano di Avellino, produzido com a uva homônima, é um branco fresco e de elegância ímpar, considerado por muitos experts um dos melhores brancos do mundo, frequentemente comparado aos Chablis.

O Greco di Tufo, também de vinhedo homônimo, já é um branco mais mineral, muito expressivo.

Além destes existem cerca de 20 DOC e 10 IGT da Campania, entre as mais apreciadas o Lacryma Christy, o Falerno del Massico e o Piedirosso (ou Palombina) que são vinhos tintos de grande estrutura, balsâmicos e com especiarias.

Já têm brancos muito aromáticos e agradáveis como o Falanghina, o Coda di Volpe e Greco, que também são usados para espumantes.

Isto por linhas gerais e somente para citar os mais importantes, mas como disse, a produção de vinhos campanos é bastante relevante e não cabe certamente em um post.

Melhores produtores e vinhos top:

- Mastroberardino: é sem dúvida o maior produtor, a sua linha Radici é referência no mundo inteiro para brancos e tintos.
- Salvatore Molettieri: o seu Taurasi Cinque Querce foi considerado pelo guia Gambero Rosso não somente o melhor da região, mas o melhor tinto da Itália.
- Clelia Romano: não tem Fiano de Avellino de igual expressão, parece a Borgonha mudada para o sul da Itália. Simplesmente fantástico.
- Villa Matilde: o seu Falerno del Mássico é considerado um dos melhores tintos italianos pela Wine Spectator.
- Montevetrano: este é o vinho mais moderno da região, em estilo supertoscano (um supercampano!). Inimitável blend de Cabernet Sauvignon, Merlot e Aglianico. Extraordinário.