Aproveitando a deixa deste recente post, vou continuar aqui
minha batalha em favor do vinho branco. Disclaimer: fique claro que não tenho
absolutamente nada contra vinho tinto, que, aliás, adoro, mas o irmão pálido
dele precisa de uma força.
Quando comento com operadores do setor estrangeiro sobre o desempenho
tão pífio da categoria no mercado brasileiro eles ficam abismados. Simplesmente
não entendem como num país tropical, tão rico em gastronomia a base de peixe,
frutos do mar, verduras, legumes, saladas, o consumidor médio brasileiro, até mesmo
num dia de 40 graus, prefere tomar um tinto encorpado e alcoólico que um branco
leve e refrescante.

Certamente há razoes “históricas” e culturais neste preconceito
do consumidor brasileiro: a partir do Liebfraumilch (o famigerado vinho da
garrafa azul), até à suposta dor de cabeça causado pelo vinho branco, entre
outras. Mas pelo que pessoalmente tenho observado o problema atual se resume em
2 principais aspectos.
1) o charme (ou a falta de): brasileiro acha
vinho tinto uma bebida charmosa, mas não tem a mesma opinião sobre branco.
2) a qualidade percebida versus o valor gasto: o consumidor
brasileiro compra tintos que custam centenas de reais, mas para branco não quer
gastar mais de R$ 50. Claro que depois acha que branco é ruim...
Fazer vinho branco bom é mediamente mais complicado e
dispendioso do que fazer o mesmo com um tinto, inclusive é mais difícil
“mascarar” os defeitos. Ou seja, seria preciso repensar na despesa média e
adquirir tintos mais em contas, normalmente agradáveis a preços mais
acessíveis, e investir em brancos mais caros. Faça a prova e depois me fale.
Outro engano é achar que branco é para consumo imediato e
que não dá para guardar na adega. Alguns sim, mas mediamente até os brancos
jovens envelhecem mais que muitos tintos. Na verdade a coisa que une todos os
grandes brancos é justamente a capacidade de evoluir no tempo, vinhos que não
temem as estações e que conseguem surpreender até depois de muitos anos. Isso
independente de serem vinificados em inox, em toneis, barricas, cimento ou até
ânforas.
Vinho branco significa variedades de cores, perfumes, de
estilos produtivos, de áreas geográficas. Características que, juntas, apresentam
um panorama fascinante, capaz de oferecer ao enófilo interpretações sempre
diferentes, e sobretudo, de revelar na taça uma gama de sensações de
surpreendente complexidade. Escuro, âmbar, dourado, palha, ou até claríssimo,
cada vinho branco representa uma descoberta que encontra suas raízes na
história da região onde nasceu.
O vinho branco acompanha o homem há milênios, seguindo-o como um companheiro fiel em
migrações e conquistas, se adaptando ao longo do tempo a condições climáticas
até muito diferentes dos lugares de origem.
Assim, é possível falar da Chardonnay na França, ou da Riesling na
Alemanha: castas que acharam o próprio lar depois de séculos de adaptação (e de
paciente trabalho do homem) e que conseguem hoje originar vinhos únicos e irreplicáveis
em outros lugares.
Os brancos inclusive são vinhos ecléticos, versáteis para
acompanhar qualquer momento do dia, mas até qualquer prato, característica
central para entender a difusão, onde a videira encontrou as condições
necessárias para a sobrevivência.
Então, faça um favor a si mesmo: da próxima vez que adquirir
uma garrafa de vinho branco, gaste para ela o que você está disposto a gastar
numa de tinto. Verá que vai se abrir um mundo até então desconhecido.
De nada 😉
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Para mim é uma simples questão de gosto, ou seja, o branco não me agrada tanto quanto o tinto.
ResponderExcluirNo verão, prefiro um tinto grego, um Bardolino ou, dependendo do que for comer, água com gás ou até refrigerante.