Vinopoly

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Apologia ao vinho branco


Aproveitando a deixa deste recente post, vou continuar aqui minha batalha em favor do vinho branco. Disclaimer: fique claro que não tenho absolutamente nada contra vinho tinto, que, aliás, adoro, mas o irmão pálido dele precisa de uma força.

Quando comento com operadores do setor estrangeiro sobre o desempenho tão pífio da categoria no mercado brasileiro eles ficam abismados. Simplesmente não entendem como num país tropical, tão rico em gastronomia a base de peixe, frutos do mar, verduras, legumes, saladas, o consumidor médio brasileiro, até mesmo num dia de 40 graus, prefere tomar um tinto encorpado e alcoólico que um branco leve e refrescante.

“Vinho branco é a coisa mais parecida com vinho” é uma das maiores atrocidades que já ouvi no Brasil. O tinto seria vinho e o branco algo de categoria inferior. Afinal desde a antiguidade quando se fala de qualquer objeto de cor vinho se subentende a cor de vinho tinto, não é? Errado! Na verdade vinho branco é sinônimo de vinho mesmo, pois já os antigos romanos preferiam tomar o Vinum Candidum feito a partir de uvas brancas, que consideravam como mais nobres para vinificação.

Certamente há razoes “históricas” e culturais neste preconceito do consumidor brasileiro: a partir do Liebfraumilch (o famigerado vinho da garrafa azul), até à suposta dor de cabeça causado pelo vinho branco, entre outras. Mas pelo que pessoalmente tenho observado o problema atual se resume em 2 principais aspectos.

1) o charme (ou a falta de): brasileiro acha vinho tinto uma bebida charmosa, mas não tem a mesma opinião sobre branco.

2) a qualidade percebida versus o valor gasto: o consumidor brasileiro compra tintos que custam centenas de reais, mas para branco não quer gastar mais de R$ 50. Claro que depois acha que branco é ruim...

Fazer vinho branco bom é mediamente mais complicado e dispendioso do que fazer o mesmo com um tinto, inclusive é mais difícil “mascarar” os defeitos. Ou seja, seria preciso repensar na despesa média e adquirir tintos mais em contas, normalmente agradáveis a preços mais acessíveis, e investir em brancos mais caros. Faça a prova e depois me fale.


Outro engano é achar que branco é para consumo imediato e que não dá para guardar na adega. Alguns sim, mas mediamente até os brancos jovens envelhecem mais que muitos tintos. Na verdade a coisa que une todos os grandes brancos é justamente a capacidade de evoluir no tempo, vinhos que não temem as estações e que conseguem surpreender até depois de muitos anos. Isso independente de serem vinificados em inox, em toneis, barricas, cimento ou até ânforas.

Vinho branco significa variedades de cores, perfumes, de estilos produtivos, de áreas geográficas. Características que, juntas, apresentam um panorama fascinante, capaz de oferecer ao enófilo interpretações sempre diferentes, e sobretudo, de revelar na taça uma gama de sensações de surpreendente complexidade. Escuro, âmbar, dourado, palha, ou até claríssimo, cada vinho branco representa uma descoberta que encontra suas raízes na história da região onde nasceu.

O vinho branco acompanha o homem há milênios, seguindo-o como um companheiro fiel em migrações e conquistas, se adaptando ao longo do tempo a condições climáticas até muito diferentes dos lugares de origem.  Assim, é possível falar da Chardonnay na França, ou da Riesling na Alemanha: castas que acharam o próprio lar depois de séculos de adaptação (e de paciente trabalho do homem) e que conseguem hoje originar vinhos únicos e irreplicáveis em outros lugares.

Os brancos inclusive são vinhos ecléticos, versáteis para acompanhar qualquer momento do dia, mas até qualquer prato, característica central para entender a difusão, onde a videira encontrou as condições necessárias para a sobrevivência.

Então, faça um favor a si mesmo: da próxima vez que adquirir uma garrafa de vinho branco, gaste para ela o que você está disposto a gastar numa de tinto. Verá que vai se abrir um mundo até então desconhecido.

De nada 😉

Um comentário:

  1. Para mim é uma simples questão de gosto, ou seja, o branco não me agrada tanto quanto o tinto.
    No verão, prefiro um tinto grego, um Bardolino ou, dependendo do que for comer, água com gás ou até refrigerante.

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