Em resposta a esta matéria que comprovaria que as mulheres
preferem de maneira geral vinho branco, a comunidade de enófilas meio
que insurgiu nas redes sociais declarando orgulhosamente o próprio amor ao
tinto.
Justo, elas têm toda razão. De fato, se eu parar pra pensar,
posso dizer que quase todas as minhas amigas, confrades (ou seria confreiras?)
e colegas têm predileção para tinto.
Então devemos concluir que o citado estudo é um fake?
Furado? Longe da verdade dos fatos? Fiquei intrigado e comecei a reparar na
questão. Vamos analisar comigo os seguintes fatores (mas obviamente posso estar
enganado):
1)
Estas amigas que afirmam preferir tinto são,
como disse, enófilas de carteirinha senão profissionais do vinho, ou no mínimo
apreciadoras interessadas no assunto (afinal os comentários surgiram em grupos
de vinho) e portanto com o paladar já mais acostumado. Já a pesquisa pegou 600
pessoas “random”, de maneira totalmente casual: certamente havia umas com certa
vivência com vinho, mas provavelmente também diversas pessoas iniciantes ou até
sem nenhum tipo de experiência, imagino especialmente as da Republica Tcheca (diga-se
de passagem, o maior consumidor de cerveja do mundo) onde não existe uma
cultura do vinho propriamente dita.
2)
Estas mesmas meninas brasileiras red lovers foram criadas num País que sempre teve aversão ao vinho branco, onde o
consumidor médio mesmo com 45º graus lá fora prefere tomar um tinto encorpado e
alcoólico mais que um branco leve e refrescante. Por outro lado os produtores
de vinho sulamericanos que mandam no nosso mercado não se destacam certamente
pela produção de brancos (embora haja algumas exceções) e raramente chegam ás
nossas prateleiras coisas diferentes dos trivias Chardonnays e Sauvignon
Blancs. Portanto, se for verdade (como a própria pesquisa afirma) que a cultura
de um povo/lugar influencia o gosto pessoal então podemos claramente afirmar que
a definição do gosto das nossas amigas brasileiras foi influenciada por este
fator cultural, já que provavelmente foram iniciadas a tomar vinho através do
tinto encorpadão mesmo.
3)
Seguindo o mesmo raciocínio e lembrando que a
pesquisa fala especificamente da percepção da sensação de amargor/adstringência,
os tintos mais consumidos por aqui são basicamente vinhos do novo mundo ou com características
“modernas” como Malbec, Carménère, Primitivo (de maneira geral tipologias de
tintos bastante macios e com açúcar residual importante). Já me pergunto se a situação seria a mesma em regiões
onde os tintos mais comuns são com base em Sagrantino, Tannat, Nebbiolo, Aglianico,
Sangiovese...?
Portanto eu não condenaria o citado estudo como não verdadeiro
e sim ressaltaria mais ainda o que na verdade o mesmo pretende provar, ou seja,
que os fatores culturais podem até chegar a condicionar a genética.
De qualquer forma
acredito ser errada de modo geral a postura em que devemos nos preferir uma
tipologia de vinho em vez de outra. Eu amo todas da mesma maneira, apenas
vou escolher uma no lugar de outro conforme ao momento e especialmente à comida
que irão acompanhar.
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