Vinopoly

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Correção: as mulheres preferem vinho branco, menos as brasileiras

Em resposta a esta matéria que comprovaria que as mulheres preferem de maneira geral vinho branco, a comunidade de enófilas meio que insurgiu nas redes sociais declarando orgulhosamente o próprio amor ao tinto.

Justo, elas têm toda razão. De fato, se eu parar pra pensar, posso dizer que quase todas as minhas amigas, confrades (ou seria confreiras?) e colegas têm predileção para tinto.

Então devemos concluir que o citado estudo é um fake? Furado? Longe da verdade dos fatos? Fiquei intrigado e comecei a reparar na questão. Vamos analisar comigo os seguintes fatores (mas obviamente posso estar enganado):

1)      Estas amigas que afirmam preferir tinto são, como disse, enófilas de carteirinha senão profissionais do vinho, ou no mínimo apreciadoras interessadas no assunto (afinal os comentários surgiram em grupos de vinho) e portanto com o paladar já mais acostumado. Já a pesquisa pegou 600 pessoas “random”, de maneira totalmente casual: certamente havia umas com certa vivência com vinho, mas provavelmente também diversas pessoas iniciantes ou até sem nenhum tipo de experiência, imagino especialmente as da Republica Tcheca (diga-se de passagem, o maior consumidor de cerveja do mundo) onde não existe uma cultura do vinho propriamente dita.

2)      Estas mesmas meninas brasileiras red lovers foram criadas num País que sempre teve aversão ao vinho branco, onde o consumidor médio mesmo com 45º graus lá fora prefere tomar um tinto encorpado e alcoólico mais que um branco leve e refrescante. Por outro lado os produtores de vinho sulamericanos que mandam no nosso mercado não se destacam certamente pela produção de brancos (embora haja algumas exceções) e raramente chegam ás nossas prateleiras coisas diferentes dos trivias Chardonnays e Sauvignon Blancs. Portanto, se for verdade (como a própria pesquisa afirma) que a cultura de um povo/lugar influencia o gosto pessoal então podemos claramente afirmar que a definição do gosto das nossas amigas brasileiras foi influenciada por este fator cultural, já que provavelmente foram iniciadas a tomar vinho através do tinto encorpadão mesmo.

3)      Seguindo o mesmo raciocínio e lembrando que a pesquisa fala especificamente da percepção da sensação de amargor/adstringência, os tintos mais consumidos por aqui são basicamente vinhos do novo mundo ou com características “modernas” como Malbec, Carménère, Primitivo (de maneira geral tipologias de tintos bastante macios e com açúcar residual importante).  Já me pergunto se a situação seria a mesma em regiões onde os tintos mais comuns são com base em Sagrantino, Tannat, Nebbiolo, Aglianico, Sangiovese...?


 Isto sem polêmica alguma, apenas analisando os dados. Por exemplo, na minha região de origem (Campania, Itália) o vinho branco é alegremente e igualmente consumido por homens e mulheres, pois o lugar produz talvez os melhores brancos do País inteiro e a gastronomia típica focada em peixe e frutos do mar pede especialmente esta tipologia de vinho. Por outro lado os tintos locais, embora adorados por um público expert, são um pouco difíceis para os iniciantes por causa da forte carga tânica. Portanto, dentro destas condições, por lá é mais provável ser iniciado ao mundo dos vinhos através de brancos, o que ocorreu exatamente comigo.

Portanto eu não condenaria o citado estudo como não verdadeiro e sim ressaltaria mais ainda o que na verdade o mesmo pretende provar, ou seja, que os fatores culturais podem até chegar a condicionar a genética.

De qualquer forma acredito ser errada de modo geral a postura em que devemos nos preferir uma tipologia de vinho em vez de outra. Eu amo todas da mesma maneira, apenas vou escolher uma no lugar de outro conforme ao momento e especialmente à comida que irão acompanhar.

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