Na minha recente viagem ao Canadá consegui também dar uma
rápida passada na região vinícola de Niagara, no Ontário. A paisagem é linda, repleta de vinhedos que acabam no lago.
A região é responsável
sozinha pelo 85% da produção mundial de Icewine (vinho de sobremesas cujas uvas
“sofrem” congelamento natural durante o inverno, concentrando mosto e açucares), que é a verdadeira especialidade vinícola do País. O vinho do gelo seja talvez
o estilo de vinho de sobremesa que mais aprecio, pois costuma ter sempre alta
acidez e mineralidade para equilibrar a doçura. E ainda com um teor alcoólico
baixo para vinho doce (média de 10-11%). Estes vinhos não costumam ser
baratos (nem lá, por sinal), mas oferecem, a meu ver, melhor custo/beneficio se
comparados com os mais badalados Sauternes e Tokaji, por exemplo.
Mas a península de Niagara, além destes sensacionais
néctares, produz também brancos e tintos tranqüilos bem interessantes. As uvas
que se dão melhor são Riesling e Gewürztraminer para brancos, já para tintos o
destaque vai para Pinot Noir e Cabernet Franc.
Tive a oportunidade de visitar uma das mais respeitadas
vinícolas locais, a Diamond Estates. A propriedade pertence ao ator canadense
Dan Aykroyd (famoso sobretudo para The Blues Brothers e GhostBusters – os caças fantasmas) e é a
vinícola oficial da NHL, a Liga Nacional de Hockey, esporte nacional e
verdadeira paixão dos canadenses.
O forte da vinícola são naturalmente os icewines, mas produz
também tintos e brancos de todo respeito. Degustei 3 vinhos tranqüilos e 2
icewines:
- Hat Trick White
2011 VQA Ontário. Corte de Gewürztraminer,
Riesling e Chardonnay muito interessante. Leve e fresco, tem discreta
complexidade: pêra, lichia e abacaxi; no palato, apesar da alta acidez, é macio,
lembrando maça e mel. É o vinho oficial dos jogos do campeonato de Hockey e os
proventos de cada garrafa vendida vão para o NHL Alumni Association para dar
suporte a várias causas beneficentes.
- Dan Aykroyd Discoveries
Series Cabernet/Merlot 2011 VQA Niagara Peninsula: esta seja talvez a linha
de vinhos tintos canadenses que mais vende no mundo, sobretudo pela relação
qualidade/preço (vi inclusive este vinho em muitas lojas dos Estados Unidos),
tendo já ganho vários concursos como melhor corte bordales abaixo de 25
dólares. O vinho é realmente gostoso, com nariz de fruta silvestre e notas
defumadas; no palato é redondo, de corpo médio, com boa fruta e especiarias.
Estagia 8 meses em carvalho.
- East Dell Black
Label Shiraz 2011 VQA Niagara Península: este vinho procede de uma
propriedade vizinha pertencente ao mesmo grupo. Como sabemos que a uva syrah
(ou shiraz) se dá particularmente bem em clima quente ou temperado,
pessoalmente não estava esperando muita expressão deste tinto. Mas fui
positivamente surpreendido. Ele tem menos corpo do que os shiraz do novo mundo
que conhecemos, mas não por isto menos complexidade. Amoras, alcaçuz, tabaco e
especiarias tanto na boca quanto no nariz. A textura é um pouco rústica, assim
como os taninos o que lhe dá um toque de vinho tradicional europeu.
- Lakeview Riesling
Icewine 2012 VQA Niagara Peninsula: o clássico icewine com base em riesling:
limão e laranja, pêssego, mel, baunilha, damasco, com notas ferrosas. Muito
equilibrado e fresco, além de sobremesa harmoniza também com muitos queijos.
- Lakeview Cabernet
Franc Icewine 2013 VQA Niagara Península: nunca tinha provado um icewine
tinto e este foi uma prova de um ainda não engarrafado. Embora mantendo aquelas
notas de mel e baunilha, o bouquet vai mais para morango e cereja, sobretudo
tipo amarena. Talvez porque ainda não definitivamente estabilizado, achei um
pouco doce demais para meu gosto, de qualquer forma gostoso. Diria perfeito com
chocolate.
Enfim, esta experiência, junto com outros bons vinhos locais
que provei ao longo da viagem, mostra mais uma vez que não podemos ter preconceitos
(nem para o bem nem para o mal) quando o assunto é vinho e o quanto é legal
conhecer coisas novas. Os vinhos canadenses são uma realidade interessante, com
personalidade própria. Lembraram-me em algum momento aqueles vinhos brasileiros
feitos com carinho, com pouco álcool e taninos verdadeiros, sem necessariamente
querer copiar os vinhos da moda dos Países vizinhos, mas mantendo um ligado com
a tradição européia.
Jardim |
Pátio |
Passeando nos vinhedos |
Cabernet Franc |
Este vinho na taça vem deste vinhedo de cabernet franc |
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