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domingo, 31 de agosto de 2014

Cortiça: a verdadeira amiga do homem

A APCOR (Associação Portuguesa de Cortiça, entidade que atende aos interesses dos produtores de cortiça em Portugal) me convidou a participar de uma campanha de divulgação, coisa que aceitei com o maior prazer, pois sempre declarei a cortiça como o melhor tipo de vedação para garrafas de vinhos e já apoiei a causa em mais de uma ocasião.

Embora não tenha nada contra os sistemas mais modernos, continuo preferindo a rolha de cortiça: não pelo ritual da abertura da garrafa que muitos consumidores lamentam, por exemplo, na frente de um screw-cap e sim para 3 motivos fundamentais:

1) Ainda o é melhor sistema em comércio para ao mesmo tempo preservar e oxigenar o líquido.
2) É o sistema mais ecológico
3) É saudável

Sobre o primeiro ponto nem preciso estender muito a conversa: a particular estrutura da rolha de cortiça, com seus minúsculos furos, permite que o vinho receba uma micro-oxigenação benéfica para o vinho. Ou seja, o líquido consegue respirar e maturar ao longo dos anos, trocando inclusive taninos e outras substáncias. Mesmo com estudos e testes de novos tipos de vedação para este propósito, hoje em dia não existe nenhuma outra vedação que permita a evolução de um vinho em garrafa (pensando especialmente aos grandes vinhos de guarda).

Sobre a questão ecológica. Primeiramente, ao contrário do que erroneamente se pensa, para produzir rolhas de cortiça não é necessário cortar as árvores, e sim só a casca, que cresce novamente (o descortiçamento acontece em intervalos mínimos de 9 anos). Um sobreiro (árvore de cortiça) vive mediamente 300 anos, já o ecossistema demora bem mais que isso para degradar materiais sintéticos. 
Muito pelo contrário, o abandono do uso da cortiça vai ser prejudicial para o nosso planeta. Como já falei por aqui, segundo um relatório do WWF (o programa “Cork Oak Landscapes”) espera-se que por causa da crise do uso de rolhas de cortiça (que em 2015 poderá ser apenas o 5% do mercado global) e do abandono subseqüente da exploração das florestas, nos próximos 10 anos poderiam ser perdidos 75% das árvores de cortiça no Mediterrâneo Ocidental, uma área igual a dois terços da superfície da Suíça! Como o sobreiro tem notável índice de fixação de CO2, os danos seriam enormes, inclusive para muitas espécies da fauna local já ameaçadas de extinção. Isso sem falar da perda de cerca de 62.500 empregos no setor.

Ademais, a cortiça é um material totalmente sustentável e reciclável. Já perdemos a conta dos vários modos de reutilização: de agendas a poltronas, passando por sapatos, luminárias, vasos, e inúmeros objetos de decoração e utilidade domesticas (veja alguns que já mostrei aqui , aqui e aqui).

Para finalizar, outra coisa que nem todos sabem, uma rolha de cortiça é muito mais saudável que as das concorrentes. Ela também contem componentes químicos como taninos e flavonóides, notórios agentes anti-oxidantes e anti-cancerígenos, devido a seus fatores de prevenção de dano e envelhecimento celular.

Já muitos cientistas acusam produtores que trabalham com sistemas de vedação alternativos de compensar (e prevenir) os efeitos da anaerobiose (ocorrência das reações químicas na ausência de oxigênio que desenvolvem aromas estranhos nos vinhos) usando quantidades elevadas de sulfato de cobre, danosas para a saúde.

Ao meu ver, os únicos inconvenientes da rolha de cortiça seriam a questão do bouchonné e da oxidação, ambos bastantes raros. O primeiro, mais conhecido como “cheiro de mofo” (ou de rolha), acontece quando um fungo ataca a cortiça, dando aquele odor típico de pano molhado: o fator é totalmente natural e muito raro. Por exemplo, comigo, em milhares de garrafas abertas ao longo da minha experiência, deve ter acontecido umas 3 vezes. O segundo pode acontecer quando a própria rolha é fabricada com defeito ou depender de um mal armazenamento: a cortiça acaba ressecando e favorecendo a entrada de mais oxigênio do que desejado, acelerando portanto o decaimento do vinho. Em todos os casos, de qualquer forma, o consumidor pode ficar tranqüilo que vinho com bouchonné ou oxidado, não é prejudicial à saúde e qualquer vendedor sério vai tranquilamente trocar sua garrafa ou devolver o valor do produto.

Portanto, para um consumo consciente, saudável e sustentável: vá de cortiça.










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