Na semana passada fui convidado a participar de uma
degustação promovida pela Comissão Vitivinicola Regional da Península de
Setúbal. O evento aconteceu no belo restaurante Salitre, em Ipanema e contou
com a presença de Andreia Lucas, responsável da promoção dos vinhos da região,
vindo diretamente de Portugal.
A Andréia fez questão de ressaltar que não é expert em
vinho, pois trabalha no departamento de marketing, mas pelo contrário mostrou
muito preparo e competência no assunto, comandando a degustação com leveza,
propriedade e simpatia.
A degustação foi focada em Moscatel, verdadeiro símbolo da
região. A delimitação geográfica da D.O.C. engloba os concelhos de Setúbal,
Palmela e parte do de Sesimbra. Obviamente estamos falando de vinhos
“generosos”, termo usado para os vinhos fortificados (ou seja, com a
fermentação interrompida através de adição de aguardente vínica). As harmonizações
propostas foram as 2 clássicas: com queijos e com doces.
Vamos aos 5 vinhos provados:
- MALO TOJO Moscatel
de Setúbal 2009. A vinícola tem mais de 100 anos de tradição e este
mesmo rótulo ganhou medalha de ouro no concurso “Muscats du Monde”, realizado
na França (Frontignan-la-Peyrade). No nariz mel e geléia de damasco com leves
notas cítricas; na boca é amplo e doce, embora o açúcar residual não chegue a
incomodar.
- SIVIPA Moscatel de
Setúbal Superior 10 Anos. A Sociedade
Vinícola de Palmela é especializada em vinhos licorosos, mas é muito
premiada também por seus brancos e tintos de mesa. A Andréia nos explicou que
para o rótulo levar a apelação “10 Anos”, a parcela de vinho mais novo tem que
ter no mínimo esta idade, podendo ser mesclado com outras mais antigas também. Este
caiu mais no meu gosto: com aromas florais, de laranja, pêssego e amêndoas,
mostrou mais complexidade também na boca, mas a maior acidez o deixou mais
equilibrado.
- BACALHÔA
Moscatel de Setúbal Roxo 2001. A variedade de uva Moscatel Roxo é muito rara, sendo
cultivada em cerca de 35
hectares no mundo inteiro, estando todos praticamente na
peninsula de Setúbal. A casa seja a talvez a mais famosa da região e uma das
vinícolas portuguesas mais conhecidas no Brasil. Este moscatel recebeu 40
prêmios em 4 anos e realmente é um fora de série. Depois de uma breve fermentação
e longa maceração o vinho envelhece por 8 anos em barricas de carvalhos usadas
para whisky, numa estufa com grandes amplitudes térmicas. O resultado é um
vinho realmente “generoso” nos aromas e no paladar. A cor, também diferente
remete a um destilado tipo brandy ou cognac. No nariz o aroma primário, por
incrível que pareça é de uva (!), depois evoluindo para uva passa, ameixa,
nozes, mel. Na boca é volumoso e a alta acidez proporciona um bom frescor em
contraposição ao final adocicado.
- CVRPS Moscatel de
Setúbal 100 Anos Lote Comemorativo. A indicação no rótulo não se refere a idade
deste vinho e sim a data de nascimento da Denominação
de Origem Moscatel de Setúbal, uma das mais antigas de Portugal, criada em
1908. Portanto em 2008, para comemorar um século de existência, a Comissão
Vitivinícola Regional da Península de Setúbal quis lançar uma edição especial.
O lote comemorativo é o resultado da união de lotes de qualidade superior das
oito adegas produtoras deste vinho: Adega
Cooperativa de Palmela, Bacalhôa – Vinhos de Portugal, Enoport – Dom Teodósio,
Ermelinda Freitas, Horácio Simões, José Maria da Fonseca, SIVIPA e Venâncio da
Costa Lima. Por ser um blend de diversos anos e procedências, não é safrado
e a edição é limitada a 9.000 garrafas. A idéia não é de fazer um grande vinho
(seria até bem difícil com este pressuposto), mas sim de criar um vinho gostoso
que apresentasse um resumo de diferentes estilos em uma única garrafa
colacionável. O resultado foi atingido: o vinho é fácil de beber, entregando um
pouco de todos os aromas e sabores acima descritos, todos na medida certa.
- JOSÉ MARIA da
FONSECA Alambre 20 Anos. O produtor, com mais de 200 anos de história, é um
bestseller aqui no Brasil (lhe diz algo o nome Periquita?). Este moscatel é um blend de 19 safras, sendo a mais
nova de 20 anos e a mais antiga de 80 anos. Ficou em contato com as cascas por
5 meses e envelheceu em barris de carvalho usado. O vinho é um espetáculo de
complexidade e estrutura e, além dos clássicos aromas, mostrou algo mais como
baunilha, caramelo, café, fruta cristalizada e até umas notas verdes, vegetais.
No palato é macio e aveludado e prima pelo grande equilíbrio.
Quanto a harmonização, de uma maneira geral diria que os 5
moscateis se deram melhor com os queijos (especialmente com o sensacional
Queijo de Azeitão, trazido na mala pela própria Andreia) que com a
sobremesa. Vale porém ressaltar que o dessert servido era uma torta de
chocolate com um creme inglês particularmente doce, que ficou brigando com a doçura
dos vinhos. Uma boa alternativa seriam sobremesas sem muita concentração dos
açucares, como torta de limão ou laranja ou também um tiramisu, onde os elementos
ácidos e amargos cortariam a doçura geral.
As 2 maiores responsáveis pelo evento: Andreia Lucas do CVRPS e Andréa Fantoni da Interação Rede de Comunicação |
Lolô Riccobene, co-organizadora e co-promotora do evento e MondoVinho (eu) |
A Andreia nos fornecendo preciosas informações |
Os convidados posando para foto-recordação |
Mais uma pose para a imprensa |
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