Vinopoly

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

O Pinot alemão que desafiou a Borgonha

Eis a aposta louca: arrancar as videiras de Riesling numa terra (Mosel, Alemanha) onde há séculos vive de glória e sucessos para plantar no seu lugar a Pinot Noir, a casta mais complicada e inconstante que existe; e ainda pensar em desafiar neste severo terroir os gigantes da Borgonha, ou seja os vinhos mais cobiçados (e mais caros) do mundo. Ousadia? Parece mais um suicídio ou até um sacrilégio para alguns. 

O autor desta ideia aparentemente bizarra não é daqueles vinhateiros improvisados que confundem paixão por iluminação, mas um respeitado profissional da área. Daniel Twardowski, é um wine merchant de grande reputação: em suas mãos passam justamente aqueles rótulos extraordinários que ele pretende desafiar com o propósito de trazer de volta a região de Mosel para suas origens, quando os romanos construíam obras e pontes ainda hoje perfeitos sobre o rio e traziam as uvas rigorosamente tintas.

O alemão plantou seu pinot noir no Mosel em 2003, num vinhedo único de 3 hectares conduzido de maneira orgânica e começou a engarrafar em 2009, com pouquíssima intervenção humana. O vinho foi chamado de Pinot Noix (literalmente “pinot noz”, assim nomeado porque os corvos da área usam as rochas ao redor do vinhedo como um quebra-nozes, deixando cair do alto as nozes roubadas das plantas que crescem perto do rio). Para o afinamento, as melhores barricas de carvalho francês, 90% usadas.



Assistido pelo especialista italiano Luca Martini, já melhor sommelier do mundo, o Daniel fez provar às cegas seu Pinot Noix a um painel de degustadores profissionais junto com o crème de la creme da Borgonha, garrafas como Clos de Beze e Chambertin Grand Cru do Armand Rousseau, o raro e caríssimo Mersault Rouge do mítico Coche Dury, o Echezeaux e o Corton Rouge do lendário Romanée-Conti todos das safras 2011, 2012 e 2013.

Pois bem, entre 9 vinhos (3 garrafas do humilde Pinot Noix e 6 grandes borgonhas) o alemão se colocou em 4º lugar, deixando para trás monstros sagrados como Romanée Conti e Coche Dury. Veja como ficou o resultado final:

  1. Chambertin Grand Cru Clos de Beze Domaine Armand Rousseau 2013  
  2. Echezeaux Grand Cru Cote de Nuits Domaine de la Romanée-Conti 2011
  3. Chambertin Grand Cru Domain Armand Rousseau 2013  
  4. Pinot Noix Ardoise 2012 Daniel Twardowski
  5.  Pinot Noix Ardoise 2013 Daniel Twardowski
  6. Clos St. Jacques Gevrey-Chambertin omaine Armand Rousseau 2011
  7.  Pinot Noix Ardoise 2011 Daniel Twardowski
  8.  Meursault Rouge Cote de Beaune Domaine Coche-Dury 2013
  9. Corton Grand Cru Domain de La Romanée-Conti 2013
Nada mal para o estreante pinot alemão: tendo em vista que o vinhedo do Pinot Noix ainda é jovem e não está em pleno regime, diria que o resultado, é certamente promissor. Afinal, mesmo considerando todos os poréns e as armadilhas da degustação às cegas, vale lembrar que umas garrafas concorrentes custam sozinhas quanto uma caixa de Pinot Noix...





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