Chargui e Santo
acordaram cedo. Acordar nas primeiras horas da manhã é o ideal, é mais fresco e
o trabalho fica menos pesado. A tarefa deles é limpar a vinha, extirpando os
arbustos da colina no centro de Gorgona, uma ilha-prisão do arquipélago
toscano. Chargui é um tunisiano de 47 anos
e Santo um italiano de 36: ambos são detentos viticultores, que há tempo se
dedicam ao vinhedo implantado e administrado pela histórica família Frescobaldi.
A badalada vinícola toscana
há 6 anos gerencia 2 hectares e meio de terrenos de propriedade estatal de
vinhas onde nascem 2 vinhos produzidos totalmente pelos detentos: o Gorgona
Bianco (feito com as uvas Vermentino e Ansonica) e o Gorgona Rosso (100%
Sangiovese), conduzidos em maneira orgânica. Em Gorgona só chegam condenados à longa prisão e Chargui e Santo
ainda tem muitos anos de pena para cumprir. Mas trabalhar no vinhedo alivia
parcialmente o peso da liberdade negada e, acima de tudo, permite que eles
aprendam uma profissão.
Dia após dia se tornam mais experientes, mais sensíveis e
responsáveis. Enquanto cavam a terra encontram algumas folhas familiares, e daí
um ramo grande e robusto...para tudo, para tudo! Estão na frente dos restos de
videiras históricas muito antigas (talvez seculares): de fato em Gorgona desde
1800 os monges cultivavam uvas. Emocionados os detentos chamam o agrônomo e o
próprio Lamberto Frescobaldi, dono da empresa toscana. Agora aquelas videiras
serão estudadas e quem sabe, podem representar uma importante descoberta.
Este é apenas um dos milagres que é possível assistir nos 2
km quadrados da ilha, situada perto de Livorno. “Na minha vida cometi erros
graves e estou desapontado comigo mesmo – afirma Chargui – mas esta é a minha
ocasião: deram-me confiança e estou fazendo o meu melhor para provar que a
mereço. Aqui estou aprendendo uma profissão, quando sair da cadeia gostaria de
trabalhar neste setor”. Se ele conseguir não será o primeiro: já vários
ex-detentos foram contratados pela própria Frescobaldi e outros por diversas
vinícolas também.
Este é o sentido do projeto Gorgona, dar para estas pessoas
uma segunda chance. Mas quem acha que é moleza está enganado: o trabalho na
vinha é duro e cansativo, mas se colhem os frutos, literalmente.
O resultado se vê na taça. Os vinhos, tanto o branco quanto
o tinto, são delicados e intensos com os perfumes típicos das ilhas do
mediterrâneo. Estruturados, frescos e com breve passagem em barricas prometem
longa guarda. Por enquanto são produzidas 4000 garrafas por ano, vendidas de
Nova York a Hong Kong, passando, é claro, pelos melhores restaurantes da
Itália.
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