Quem acompanha as páginas “mondovínhicas” sabe que nunca
publiquei aqui a lista dos meus melhores vinhos do ano e coisas similares. Até
poderia, mas já expliquei várias vezes porque prefiro me eximir (sem criticar
quem faz). Portanto no lugar de uma estéril lista dou a vez a apenas um vinho
que pra mim mais se destacou nas inúmeras degustações ao longo de 2017. Isto
não quer dizer tampouco que pra mim este seja o melhor vinho do ano em termos
absolutos, mas de qualquer forma representa o que mais me surpreendeu e
suscitou certa emoção.
E o rótulo que escolhi este ano é:
Quattro Soli 2011, Sforzato della Valtellina - La
Perla (di Marco Triacca)
Sforzato della
Valtellina é uma denominação quase desconhecida no Brasil, e até difícil de
memorizar, eu sei. Mas vale a pena conhecer, pois os vinhos são bem interessantes.
Como explicar este vinho...hum, vejamos: pegue um Barolo e vinifique com as técnicas do Amarone, mais ou menos assim vai
entender o que deve esperar deste caldo.
A uva Nebbiolo é
cultivada na região de Lombardia desde sempre e com excelentes resultados.
Especialmente dentro da área da Valtellina (na província de Sondrio) tem alguns
exemplares competindo com os melhores rótulos da mais badalada região de
Piemonte.
Já o Sforzato é um nebbiolo obtido com técnicas de
passificação natural, assim como acontece na Valpolicella (Veneto) para o
Amarone. Mas nem todo mundo sabe que a DOCG para o Sforzato foi concedida bem
antes que a do Amarone, em 2003 versus 2011.
Para você ter ideia da categoria, um Sforzato di Valtellina
já ganhou o título de melhor vinho da Itália inteira (o premiadíssimo Sfursat 5
Stelle do Nino Negri , simplesmente fantástico), mas este exemplar aqui também fez
muito bonito e me deixou realmente feliz.
Vinícola jovem e pequena, a La Perla foi fundada em 2009, mas o Marco Triacco vem de família de
viticultores e sabe o que faz. De 3 hectares de vinhedos, todos plantados com
Nebbiolo (localmente conhecida também como Chiavennasca),
ele engarrafa apenas 3 tintos em produção minúscula. Deste Quattro Soli são
apenas 3.000 garrafas.
Depois de colhidas, as uvas são colocadas num espaço aberto
protegido do sol e areado por cerca de 3 meses, onde perdem até 30% de água,
concentrando portanto as restantes componentes.
Mas diferente do Amarone que resulta frequentemente numa
pancada de geleia e álcool (podendo chegar até 17%), este Sforzato é um show de elegância e delicadeza.
No nariz um buquê de pétalas de flores com aromas balsâmicos
e minerais como talco, gengibre e giz. Na boca é seco, com corpo delicado, mas
estruturado, de rara finesse, acidez
espetacular e taninos gostosos; apesar de seu estágio de 24 meses em carvalho,
a madeira é apenas um sopro (se utilizam barris de até 1.000 litros); álcool
contido em apenas 14,5%, (que para um passito como este é pouco); final longo e
delicioso. Pra mim foi felicidade engarrafada. Pena o preço (R$ 450 na Belle
Cave), que te devolve a tristeza imediatamente.
O moto da vinícola La Perla “cultivamos sonhos” me oferece o
gancho para desejar que os sonhos que você e que todos nós aqui cultivamos
possam se tornar realidade neste 2018 que está chegando.
Grande abraço a todos!
No evento realizado aqui em SP este vinhofoi um dos meus prediletos! Escolha acertadíssima!
ResponderExcluirQue bom, Jeriel! Mais uma vez em sintonia, fico feliz!
ExcluirGrande abraço e feliz ano novo!