Vinopoly

domingo, 20 de março de 2016

Você compraria vinho de um ''babaca''?

Se o vendedor da loja de vinho onde você acabou de entrar for arrogante, ignorante, egocêntrico, incompetente, agressivo, esnobe, e outros lindos adjetivos do gênero, provavelmente você não colocará mais os pés nesta loja: é compreensível e até justo. Mas o que acontece se este for o caráter do produtor de vinho que você tanto ama?

De forma geral o caráter da pessoa não deveria influenciar na avaliação do trabalho dele. Desde o mundo das artes á política, passando por esporte e empreendedorismo, temos centenas de exemplos não exatamente simpáticos, mas cujo trabalho é  fundamental e, justamente, idolatrado. Mas se um torcedor não se importa do caráter do Pelé, Maradona, ou Cristiano Ronaldo, contanto que seu time ganhe, ou fãs apaixonados aprovam os excessos de artistas como Justin Bieber e Madonna, conseguindo separar vida privada do trabalho deles, será que com o vinho somos capazes de aplicar a mesma fórmula de maneira fria?

Já é sabido que existe uma correlação entre simpatia do produtor e valor percebido do vinho. Isto é algo que os produtores não deveriam subestimar.

A percepção do vinho é influenciada por uma somatória de fatores externos, como o ambiente, a companhia, a comida, o humor do momento, etc. E acredito que a pessoa que está atrás do vinho, o criador daquela garrafa, também possa influenciar na avaliação.  

Diferentemente de quanto possível com os astros do esporte, musica e cinema, para os apaixonados em vinho é muito mais fácil conhecer pessoalmente os produtores. Com visitas ás vinícolas, feiras, eventos, degustações, as possibilidades de entrar em contato direto com os winemakers são múltiplas. E ademais, agora temos os social networks, portanto mesmo não chegando a conversar pessoalmente, através de instrumentos como Facebook, Twitter, Instagram, etc, conseguimos ter uma idéia do Sr. Produtor, saber como ele pensa e verificar a compatibilidade da sua personalidade com a nossa. Isto dá uma variável adicional ao critério de avaliação.

Voltando ao exemplo do início do post: se você vai comprar um vinho X e for mal atendido pelo vendedor, simplesmente bastará comprar o vinho numa outra loja. Mas se for se você for mal recebido diretamente pelo produtor daquele vinho X durante uma visita á sua vinícola ou a um seu estande, ou for mal atendido numa pergunta feita numa rede social, você vai continuar comprando o vinho dele?

Pessoalmente, como profissional do ramo, tento não me deixar influenciar e até acho que consigo separar bem os dois aspectos, mas não posso dizer o mesmo com as garrafas que compro para meu consumo particular: neste caso o produtor ‘’babaca’’ não tem espaço na minha adega. Já o mais simpático ou com o qual tenho mais afinidade acaba ganhando sempre um bônus. Sei que friamente não seria uma escolha racional, mas afinal vinho não é sobretudo emoção?


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