Uma das visitas mais agradáveis que fiz durante minha recente viagem
a Bordeaux foi ao Château Figeac, Premier Grand Cru Classé de Saint Emilion.
Estamos na famosa margem direita, verdadeira meca para os merlot lovers (que
nem eu). Mas, diferentemente das demais vinícolas da região que privilegiam justamente
a uva merlot, no Figeac a casta é singularmente usada em proporção menor.
A origem parece remeter diretamente ao século 2 dC, a uma
família da Gália-Romana de nome Figeacus que de acordo com historiadores,
fundou o vilarejo de Figeac, no departamento de Lot. Uma das 5 casa nobres de
Saint Emilion, o Château já pertenceu à
família Lescombes (que possuía o Château Ausone) e parte de seus terrenos foram o do
atual Cheval Blanc, cedido em 1832.
A mudança radical (e definitiva) aconteceu em 1892, com
chegada da família Manoncourt que deu para Château Figeac a cara e estilo que permanecem até
hoje.
Especialmente o engenheiro agrônomo Thierry Manoncourt, soube manter as características tradicionais,
mas melhorando as técnicas vitivinícolas, com isso ganhando fama de grande inovador.
Inclusive foi o primeiro a introduzir os tanques de inox na região, sendo
considerado como um dos inventores desta ferramenta de fermentação. Ele inclusive definiu o corte que se tornou a marca da casa
e que nunca mais mudou:
30% Merlot, 35% Cabernet Franc e 35% Cabernet Sauvignon.
A propriedade é linda e na minha chegada fui recebido
diretamente pelo simpaticíssimo diretor executivo M. Frédéric Faye, trocando
idéias num agradável papo sobre vinhos em geral. A seguir a competente e
também simpática Gwennaëlle Brieu me acompanhou no tour pela propriedade, contando a história da vinícola, explicando detalhadamente as técnicas de vinificação e finalizando numa degustação.
O solo em Figeac é sem igual, composto por areia e cascalho, numa
mistura de quartzo, sílex e argila. A camada de cascalho tem 7 metres de profundidade,
coisa única em Saint Emilion. Os vinhedos têm idade média de 40 anos, sendo algumas
videiras de merlot do ano 1921 (quase a mesma idade do sujeito na foto a seguir!)
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Os vinhedos, com o Cheval Blanc no fundo |
As melhores videiras são periodicamente selecionadas para enxerto de novos plantios, para preservar a identidade dos vinhedos e manter o padrão de qualidade.
Na vindima também é usada uma mistura de técnicas tradicionais com as mais modernas: colheita e desengace manual, seleção das melhores uvas através de leitor óptico.
O mosto fermenta em toneis de carvalho e em tanques de aço e estagia até 20 meses em barricas de carvalho.
O momento mais esperado da visita aconteceu na linda sala de
degustação, quando Gwennaëlle abriu 2 garrafas do Grand Vin e o Sr. Faye se juntou a nós para a prova.
Chateau Figeac 2011: nariz complexo de mirtilo, cassis,
alcaçuz, folhas secas e toque de especiarias (pimenta e canela). Na boca tem
uma textura aveludada, com uma excelente acidez que transporta o grande corpo
através camadas de sabores, em grande equilíbrio com álcool, madeira e taninos
ainda jovens, mas muito finos. Longa persistência. (WE 94; JS 94)
Chateau Figeac 2009: safra histórica em toda Bordeaux, pegue
as descrições acima e multiplique x 2 em intensidade. Grande complexidade e
estrutura, groselhas, morango, tabaco, notas defumadas. No palato é pura seda,
de grande volume e corpo bem macio, com alta acidez e taninos redondos. Final longuíssimo. (JS 98;
WS 96)
Mais uma experiência única. Agradeço novamente a vinícola, nas pessoas de Mlle Gwennaëlle Brieu e M. Frédéric Faye por ter
providenciado esta visita inesquecível com grande simpatia e competência.
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Com a Gwennaëlle |
Parabéns, belo post!
ResponderExcluirObrigado!
ResponderExcluirExcelente post Mario, muito didático...
ResponderExcluirMuito obrigado Dimas. Fico feliz que gostou
ExcluirAbraço