segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

As novas tendências do vinho para o 2011

Os grandes Países produtores de vinho, é sabido, consomem basicamente o próprio produto nacional, então para entender as tendências mundiais é preciso olhar para os grandes importadores, como Inglaterra e Estados Unidos. Pois bem, navegando para sites e blogs anglo-saxões é possível deduzir que as novas tendências do mercado do vinho em 2011 seriam as seguintes:

1) O Chardonnay morreu, não tem mais bebedores desta casta branca.
2) O Pinot Noir está próximo ao colapso.
3) Consumidores perderam interesse em vinhos franceses e italianos.
4) Bordeaux também morreu: ele foi substituído, no gosto dos consumidores, pelo Châteauneuf-du-Pape.
5) Os vinhos sul-americanos estão na moda porque são bons e baratos.

Obviamente estamos falando de mercados maduros, porém modernos, onde os vinhos chilenos e argentinos são ainda uma interessante novidade.
Feitas as devidas proporções e conversões para o mercado ainda moçinho do Brasil, eu diria que aqui, no hemisfério oposto, as 5 tendências seriam basicamente opostas. Seguem as minhas pessoalíssimas interpretações e previsões:

1) “No mas” vinhos chilenos e argentinos: ninguém agüenta mais.
2) Maior consumo de vinhos espanhóis, que juntam modernidade e tradição.
3) O interesse para franceses e italianos continua, mas descobrindo regiões menos badaladas, como Loire e Alsácia para França e Campania, Puglia e Sicília para Itália.
4) Chardonnay continuará liderando os brancos, mas o gosto evolui para os mais elegantes e não mais para aqueles chardonnays cheios de madeira que parece de estar lambendo um tronco de uma arvore. Sauvignon Blanc da Nova Zelândia obrigatório para os enochatos enófilos exigentes.
5) A verdadeira novidade será a Califórnia, interessante opção para quem gosta de vinhos modernos, mas que tem como forte referência oVelho Mundo. Já chegaram novos rótulos a preços bem interessantes (e outros vão chegar): a Califórnia tem tudo para se tornar uma nova moda nos gostos dos brasileiros.

Como bônus poderia adicionar também um maior interesse para vinhos brasileiros. Mas somente se os preços baixarem.

E vocês, o que acham? Palpites?

 
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domingo, 30 de janeiro de 2011

Borgonha estragado...ninguém merece!

Este vinho tinha tudo para ser um companheiro agradável do meu almoço: casta “nobre” (Pinot Noir), região badalada (Borgonha), produtor reconhecido (Chanson Pére & Fils, desde 1750), terroir selecionado (Côte de Beaune) e inclusive no corte entravam parcelas de uvas dos melhores 1er e grand cru da vinícola.

Mas (por que tem que ter sempre um mas?) não deu certo. O fatídico bouchonée estava à espreita.

O aroma ainda não estava totalmente prejudicado, lá no fundo dava para perceber algo mineral e uma fruta (bem de longe!), mas, mesmo leve, o inconfundível cheiro de rolha mofada era bem percebível. Pronto. Já sabia que tinha perdido o vinho.

Fiz a prova gustativa, justo para “esporte”, sem nenhuma esperança, e de fato o vinho já era.

Eu e minha apologia da rolha de cortiça...Viva o screw-cap!

Não, estou brincando, isso faz parte, mas realmente acontece muito raramente. A última vez que aconteceu comigo deve ter sido há mais de 10 anos atrás, e considerando que bebo vinho quase todo dia, diria que a média é aceitável.

Então continuo com a mesma opinião (preferindo a cortiça).

E você? Já aconteceu com uma das suas garrafas?

Relate aqui a sua experiência.

Voto gringo: – sem nota

Vinho: Le Bourgogne – Pinot Noir
Safra: 2007 
Produtor: Chanson Pére & Fils
País: França
Região: Borgonha
Uvas: Pinot Noir (100%)
Teor Alcoólico: 12,5%
Importadora: Vinci Vinhos
Custo médio: R$ 80,00

sábado, 29 de janeiro de 2011

Deus salve o Gambero Rosso do James Suckling

Vocês conhecem este homem na foto. Para quem não o conhece, esta cara de serial killer com cabelo de roqueiro falido corresponde ao nome de James Suckling. Já falei dele neste post (inclusive vão achar mais notícias sobre ele neste recente post do colega Fábio Baptista do ótimo blog Vinhão!) 
Em breve, este senhor americano com residência em Montalcino (dentro da Tenuta il Borro, vinícola do cultuado estilista Salvatore Ferragamo), era o editor europeu da revista Wine Spectator. Recentemente deixou a revista para se dedicar à produção do já citado (quanto improvável) vinho e para cuidar do seu site auto-celebrativo, no qual proclama quanto ele é bom.

Notícia desta semana: logo depois a saída do Daniele Cernilli como diretor do Gambero Rosso, o presidente Paolo Cuccia declarou que o James Suckling vai colaborar com a célebre revista italiana. Em seguida o Suckling desmentiu no seu blog. Afinal ainda não se sabe se realmente teve um acordo ou não, mas pessoalmente estou torcendo contra.

Nada contra o Suckling, que certamente é um grande conhecedor, mas se os Parkers & Cia estão condicionando o mercado mundial segundo o gosto dos americanos, seria bom que pelo menos uma revista nacional respeite o gosto e a tradição local.

Como cansei de dizer, estamos indo sempre mais em direção de uma uniformidade de gosto, o que tornará praticamente inútil comparar rótulos e até estar aqui falando de vinhos, pois serão todos iguais.

Muita sorte para o Gambero Rosso!
E para nós também.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O top 10 dos micróbios na sua taça de vinho

Somente desta vez vou convidar vocês a levar a taça à orelha ao invés do nariz. Ouviu nada? Estranho, pois o vosso vinho está cheio de micróbios fazendo bagunça. Uns são bem-vindos para um precioso trabalho, outros são responsáveis pelos piores cheiros já sentidos e umas vezes são visíveis a olho nu. Para saber mais sobre eles o MondoVinho apresenta o “Top Ten dos micróbios na sua taça”.

Vamos lá.

Saccharomyces cerevisiae – no degrau mais alto do pódio, ele, é o mago da fermentação. Graças a este pequeno fungo incansável o pão fermenta e o mosto se torna Chianti. Guloso como ninguém, passa o tempo comendo açucares e...hem, transformá-los em álcool (bom...vocês entenderam). O Saccharomyces (literalmente: fungo do açúcar) vive de preferência nas peles das uvas, mas é usado também na fermentação da cerveja. Morre, geralmente, quando o vinho atinge os 16-17 graus alcoólicos. Se o suco tiver um teor de açúcar superior, o vinho será doce o suficiente para ser vinho de sobremesa.

Oenococcus oeni – é o responsável pela fermentação malolática, aquela que transforma o ácido málico presente no vinho no mais amanteigado ácido lático. Sabem aqueles aromas de manteiga do chardonnay? Tudo mérito dele. Ele amacia e tira as asperezas, sobretudo das uvas criadas em climas frios, que maturam com dificuldade.

Lactobacillus – praticamente é aquele presente no iogurte e no seu intestino. Se a sua garrafa apresenta alguns simpáticos filamentos em suspensão, melhor deixar pra lá: ele está ai. É o parente malvado do Oeni (mesma família de bactérias láticos), capaz de transformar em 48 oras um ótimo vinho em um ótimo vinagre. Um dos seus parentes próximos, o Hilgardii Lactobacillus, é responsavel pelo aroma de “rato morto” que aflige umas preciosas garrafas de tinto.

Schizosaccharomyces pombe – descoberto pela primeira vez em África, nas cervejas de milho (em idioma swahili pombe significa cerveja), é uma espécie de levedura bastante potente, pois é capaz de uma intensa fermentação alcoólica.

Brettanomyces – protagonista de ferozes debates entre apaixonados, você o reconhece logo pelo cheirinho de suor de cavalo, que nos casos mais sortudos vai para cheiros de couro. De origem e hábitos desconhecidos, vive um pouco onde quiser, preferindo as barricas de certa idade e as bombas usadas na adega. Alem do suor de cavalo, são conhecidas pelo menos mais uma dezena de fedorzinhos produzidos por este fungo, como de fármacos, plástica, borracha, queimado e outros.

Pediococcus – o do cheiro de “meia suija”. Os seus efeitos no vinho incluem também uma desagradável sensação amanteigada e uma pesada viscosidade do liquido. É usado para a fermentação dos chucrutes, e isso já diz tudo.

Acetobacter – já o nome não deixa imaginar nada de bom. Quando ele tiver presente, o seu vinho se transforma em ácido acético, aquele líquido bom somente para temperar a salada. Sabem quando os experts falam em “volatilidade alta”? Pois bem, estão falando da nossa bactéria que, porém não se expressou ao melhor das suas possibilidades, por isso o vinho está passado, mas não completamente perdido. Entre os compostos que o Acetobacter é capaz de produzir, o acetaldeído, responsável por aquele cheiro desagradável de maça amassada de uns brancos passados do ponto. Diferentemente de outros, precisa de oxigênio para viver e se reproduzir, então é só guardar o vinho corretamente para evitar surpresas desagradáveis.

Hanseniaspora – é uma levedura que se forma nas cascas em mínima quantidade e com pouca capacidade de fermentação. Parece ser entre os responsáveis pelos primeiros estágios de transformação de açúcar, mas morre quase imediatamente por causa do álcool, coitadinho.

Botrytis Cinerea – fungo tanto feio quanto delicioso em seus efeitos, conhecido também como podridão cinzenta. Em uns casos é até desejado nas vinhas: na presença de umidade, ataca os bagos concentrando o açúcar até as uvas passificar tornando o suco doce e licoroso. Por um capricho da natureza o que era pra estragar se torna em uns dos mais deliciosos e caros vinhos do mundo como Sauternes, Tokaji e Trockenbeerenauslese. Por isso se fala de “podridão nobre”.

Levedura Flor – singular família de leveduras presentes em certos tipos de xerez espanhol. Eles se apóiam como uma película sobre a superfície e protegem o vinho da excessiva exposição ao oxigênio. Muitos destes microorganismos são filtrados durante o processo de engarrafamento, mas muitos produtores evitam filtragem drásticas, que fatalmente acabam diminuindo o corpo do vinho. Em qualquer caso, desconfie das rolhas que estouram ao abrir: se não for champanhe, o seu vinho está perdido para sempre.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Como saber se o espumante é bom somente com uma olhada

Verdade, as festas de fim de ano são os dias em que se consome mais espumante. Mas com o nosso clima tropical e o verão apenas começado, prevejo muitos espumantes frescos chegando por ai. Pelo menos na minha taça.

Então seguem as dicas básicas para saber distinguir um bom espumante de um ruim, somente olhando para a taça. Cheia, é claro.

1) Borbulhas minúsculas (puntiformes), perlage espesso e incessante, movimento ascensional lento e implacável: vinho espumante de alta qualidade.
2) Borbulhas médias (mais ou menos como a cabeça de uma agulha), “colar” carbônico não muito consistente: vinho espumante de média qualidade.
3) Borbulhas de mergulhador (de diâmetro de um botão de camisa): vinho espumante de modesta qualidade
4) Uma única bolha na taça, grande como uma moeda de 1 Real: vinho espumante de péssima qualidade.

Obviamente os pontos 3 e 4 são uns meus exageros de brincadeira, espero que não existam espumantes com borbulhas deste tamanho.
De qualquer forma o recado está claro: quanto menor e numerosas as borbulhas, melhor o espumante.

Para evitar encontrar estas desagradáveis surpresas, se não quiser extrapolar com Champagne francês, recomendo Franciacorta e Prosecco, da Itália. E a seguir, os ótimos como falei várias vezes, espumantes da Serra Gaúcha Brasileira.

E se mesmo achar um com uma única bolha, para não desperdiçar o preço pago, podem sempre usar a taça como nível de espírito: para verificar a inclinação da sua mesa, da sua parede ou para pendurar quadros.

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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O vinho gosta de Mozart

É sabido de criadores de animais que fazem escutar música clássica aos bichos, mas já ouviram de viticultores que colocam Mozart para as uvas?

Thomas Koeberl e Markus Bachmann, enogastronomistas vienenses, quiseram demonstrar que Mozart não faz bem somente a alma, mas também ao vinho. E estão acolhendo adeptos da teoria da “Sonor Wines”, a descoberta musical-enológica que acabaram patenteando. De acordo com essa teoria os efeitos da música clássica, e de Mozart em particular, seriam milagrosos. A sinfonia n.41, por exemplo, traria excepcionais benefícios durante a fermentação: “O sabor do vinho muda, se torna melhor e mais refinado” afirmam.

De acordo com o jornal Kurier, já 6 produtores se convenceram com a idéia e colocaram várias serenatas para o mosto em fermentação, não somente de Mozart, mas também ópera lírica, valsa e polka.

Esta bizarra teoria parece ser confirmada por esta experiência feita na escola de enologia de Klosterneuburg: um Gruener Veltliner 2009 “escutando música”. O efeito foi o aumento de glicerina e diminuição de açúcar.

O aumento da glicerina corresponde ao falado mouthfilling: o vinho é mais profundo, maduro, redondo rico e denso. Bachman afirma: “Nada de esoterismo, isto é o efeito das ondas sonoras sobre as leveduras, que melhoram o processo de fermentação”.

Na verdade, a viniviticultura acompanhada por música clássica não é novidade absoluta. Na Itália, o Carlo Cignozzi (advogado milanês que deixou os tribunais para produzir Brunellos na Toscana), desde 2008 produz vinho com o auxilio da música clássica. A diferença é que ele coloca os alto-falantes diretamente nos vinhedos e não para o mosto.
E as parreiras da sua vinícola Paradiso di Frassina que escutaram Mozart e Vivaldi, cresceram 50% a mais do normal, sem nenhum tipo de parasita e as uvas maturaram antecipadamente.

De fato a universidade de Florença estuda há anos a relação entre música e natureza, e nasceu justamente o projeto “Suono&Vigna” (Som&Vinha).

O fundamento cientifico não está ainda verificado, mas para os produtores funciona mesmo assim. Isso sem contar o benéfico trazido pelas estratégias de marketing: já há orquestras pedindo vinhos com as mesmas afinidades musicais.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Horóscopo do vinho: Capricórnio

Primeiramente devo dizer que não acredito muito na astrologia e nunca leio o meu horóscopo; mas como no começo do ano parece matéria obrigatória, pensei em escrever algo que ligue os astros ao vinho (afinal a biodinâmica ensina) e, com a ajuda de umas pessoas que, ao contrário de mim, acreditam e entendem de astrologia, elaboramos um “horóscopo enológico”.

Vamos começar pelo primeiro signo do ano, o Capricórnio, que inclusive é o meu signo:

Determinado, dedicado ao trabalho, parcimonioso, deseja amar e ser amado. Sabe exatamente o que ele quer. E ama muito a sua independência.
O vinho para os Capricórnios, tem que ser forte e marcante, que não admite inseguranças nem meio termos. O analisam detalhadamente, através dos reflexos na taça, avaliando os aromas e o corpo, adstringência e maciez. O Capricórnio nem sempre adora compartilhar uma garrafa, mas não por egoísmo, mais porque não gostaria de abri-la com quem não a saberia apreciar.

O seu vinho: Chianti Classico

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Enquête sobre as vinícolas mais espetaculares do planeta (vote)

Dando continuidade ao último post sobre as vinícolas mais espetaculares do planeta, coloquei a enquête na coluna direita da página para votar as suas preferidas.

Votem bastante e vamos assim descobrir os gostos eno-arquitetônicos dos leitores do Mondovinho!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

As 20 vinícolas mais espetaculares do mundo (vote a sua preferida)

Se pensar em vinícolas, logo vem na mente a imagem de lindos Chateaux franceses ou de encantadoras vilas italianas. Mas, como o mundo do vinho evolui, com o mesmo passo está mudando também o visual das vinícolas. O estilo clássico cede o lugar a construções modernas e ousadas; e com a assinatura de arquitetos badalados, os produtores ampliam a própria gama de instrumentos de marketing e de atração eno-turisticas nas próprias adegas.

De Frank Gehry, a Renzo Piano, de Zaha Hadid a Santiago Calatrava, confira os mais bonitos projetos ao redor do mundo.

Comente e escolha o seu preferido. Indique também outros que você goste e não aparecem na lista.

 Bodegas Ysios - Espanha


Adega Mayor - Portugal


Loisium - Áustria


Cantine Petra - Itália


Dominus Estate - Estados Unidos


López de Heredia (Viña Tondonia) - Espanha


Distillerie Nardini - Itália


Viña Pérez Cruz - Chile


O. Fournier- Argentina


Grenzlandhof Reumann - Áustria


Disznókő - Hungria


Faustino (Foster) - Espanha


Peregrine Winery – Nova Zelândia

Viña las Niñas - Chile


Weingut Loimer - Áustria

 
Opus One (Mondavi-Rotschild) - Estados Unidos


Rocca di Frassinello (Castellare di Castellina) - Itália


Marques de Riscal - Espanha


Evelyn County Estate - Austrália


Marchesi Antinori (projeto) - Itália









segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Vinho e negócios...


"Se o vinho atrapalha teu negócio, larga teu negócio!"

> MAURO CÔRTE REAL



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domingo, 16 de janeiro de 2011

O futuro-passado do Brunello

Uma volta ao passado que soa como novidade: os Brunellos estão abandonando a barrique.
Como vimos neste post, a tendência de envelhecer vinhos em pequenas barricas de 225 litros (resultando em vinhos cheios de madeira) está mudando e até os famosos Brunellos di Montalcino estão fazendo um passo atrás, voltando a usar grandes tonéis de carvalho.

Como afirma a Valerie Lavigne, enóloga francesa da celebrada vinícola toscana Cinelli Colombini, e professora na mais famosa universidade de enologia do mundo, a de Bordeaux, “é verdade que o vinho quanto mais concentrado e rico em compostos fenólicos suporta melhor os pequenos recipientes em madeira, mas o fato que ele resiste a excesso de madeira não significa que seja justo impô-lo. O Brunello tem que maturar em carvalho pelo menos 2 anos. Para um armazenamento tão longo, o produtor deve escolher um recipiente que lhe permita beneficiar das vantagens associadas à utilização de madeira (oxigenação, clarificação, aromas e sabor) , preservando ao mesmo tempo a personalidade do vinho (frutas, frescor e equilíbrio). A madeira não deve dominar o vinho, ela tem que permanecer um suporte”.

Usando uma metáfora gastronômica, a madeira é como um pãozinho que acompanha um prato, ou melhor, no Brasil podemos compará-la a uma farofa que acompanha uma carne: ela é justamente de suporte, mas não pode sobressair no sabor.

sábado, 15 de janeiro de 2011

O irmãozinho de raça do Sessantanni

Já não é mistério: sou fã declarado de uva Primitivo e falei aqui de um dos meus preferidos: o Primitivo di Manduria Sessantanni (Luccarelli Old Wines). Mas não é propriamente econômico, né?

Pois bem, a dica para o seu Bolso Esperto de hoje traz o irmãozinho caçula dele.

Da mesma vinícola Feudi San Marzano, este Primitivo Puglia IGT, mesmo sendo anos luzes distante do Sessantanni, é uma escolha interessante para ter uma idéia do estilo dos primitivos da vinícola a um preço bem mais acessível: custa cerca de R$ 30,00 (inclusive não vai encontrar nenhum outro vinho italiano da mesma qualidade por este preço).

Criado no “salto da bota”, em um terroir caracterizado por altas temperaturas e pouco chuvoso (o que torna as uvas mais doces) é um varietal 100% de Primitivo sem passagem em madeira, para manter o frescor da fruta. Mesmo assim o pequenino mostra boa complexidade e volume. Notas de ameixa e cerejas com um toque vegetal. Bom corpo, acidez correta e taninos amistosos completam o quadro deste vinhozinho harmônico e agradável.

[Importado pela Casa Flora/Porto a Porto]

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Solidariedade para as vitimas das enchentes

Meus amigos leitores, enquanto nós estamos tranqüilos, tomando vinho dentro dos nossos lares, nossos vizinhos estão vivendo uma verdadeira tragédia.

Por isso queria, com este post, pedir a solidariedade de vocês para a população da região serrana do Rio de Janeiro.

Neste link vão encontrar um mapa com todos os locais de arrecadação de ajudas para as vitimas das enchentes.

Podem doar comida (não perecível), água mineral, roupa, colchões, remédios, ítens básicos de higiene ou dinheiro.

Se puder, contribua.


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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Um outro belo Merlot chileno

Uma vez escolhido o País, faz sentido beber um vinho feito com a uva emblemática daquele País? Faz, pois geralmente trata-se da uva que melhor se adapta aquele determinado solo e mais expressa aquele terroir.
Mas faz sentido tomar somente a uva emblemática deixando de experimentar outras castas menos “típicas”? Nem um pouco: as maiores surpresas se escondem ali.

Falando, por exemplo, do Chile, a uva representativa é a Cabernet Sauvignon (e recentemente a Carmenere), mas aqui falei de como me empolguei com Merlot ou Syrah chilenos.

Um outro exemplo é o Santa Ema Gran Reserva 2007. Provei outras castas da mesma vinícola e até da mesma linha, mas este Merlot foi o que mais me encantou.

A vinícola produz vinhos de qualidade desde o ano 1956 no Vale do Maipo. O Gran Reserva Merlot 2007 é um varietal 100%, colhido manualmente e maturado por 8 meses em carvalho francês, mais 4 em garrafa antes de ser comercializado.

Sugiro uma breve decantação, pois ele começa com aromas fechados e taninos durinhos, mas depois de uma boa areação vai liberando bonitos aromas de fruta silvestre e chocolate, já na boca se torna muito equilibrado e redondo, com taninos maduros e doces e boa madeira. Álcool abaixo da média chilena.

Um vinho de boa complexidade e bastante elegante.

Voto gringo: 7 ½

Vinho: Merlot Gran Reserva
Safra: 2007
Produtor: Santa Ema
País: Chile
Região: Maipo
Uvas: Merlot (100%)
Teor Alcoólico: 13,5%
Importadora: Vinoteca
Custo médio: R$ 70,00


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Você é obeso? Parabéns: tem o melhor nariz

Uma recente pesquisa médica afirma que quem estiver acima do peso tem um olfato melhor. O estudo, feito pela Universidade de Portsmouth, na Inglaterra, declara que os quilos extras tornam as pessoas mais sensíveis ao cheiro de alimentos, mesmo depois de ter comido. Praticamente o agudo olfato dos obesos poderia de fato encorajar estas pessoas a comer mais, mesmo quando satisfeitos, facilitando daí o acúmulo de peso.

Notícia confortante pra mim, pois desde novembro estou ainda comendo panettones sem parar: com este ritmo em breve vou poder desafiar os melhores sommelieres do mundo...!

Já para vocês que não comem panettone, a sugestão é repassar as dicas para reconhecer os aromas e desenvolver o seu nariz aqui.


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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Na Europa não existe vinho orgânico (5 verdades sobre vinhos “bio”)

Inspirado pelos comentários recebidos neste post sobre vinho biodinâmico, gostaria agora de postar aqui 5 coisas que sei sobre vinho orgânico.

1) O vinho orgânico ainda não existe na Europa, ou melhor, existe, mas não é certificável. Diferentemente de alguns Paises do Novo Mundo, a legislação européia ainda não prevê um certificado para vinhos biológicos e a última proposta de certificação foi rejeitada pelo Parlamento de Bruxelas em junho passado. Isso, naturalmente, para agradar os grandes lobbies de produtores. Por enquanto no rótulo é possível somente declarar “vinho procedente de uvas orgânicas”, até mesmo se o vinho for biodinâmico e não for usado nenhum tipo de química.
2) Alguns dos maiores vinhos do mundo são vinhos orgânicos. Se não concordar, favor ligar para Madame Leroy, proprietária dos maiores Crus da França (ligar na hora do almoço para seguinte número: +33 (0)380212110).
3) Orgânico não quer dizer sustentável (ou pouco poluente). Se a vinícola usar energias alternativas, melhor, mas uma coisa não comporta necessariamente a outra. Se brincar ela tem uvas orgânicas, mas tratores com 30 anos de idade.
4) Depois de ter pago o alto custo da certificação, muitos produtores não declaram no rótulo a viticultura biológica. Não que sejam loucos, mas somente porque muita gente está convencida que o vinho orgânico seja pior do vinho convencional. Isso nos leva diretamente ao ponto 5, ou seja:
5) Alguns vinhos orgânicos são horríveis a serem bebidos. Exatamente como muitos vinhos convencionais.

sábado, 8 de janeiro de 2011

O Bolso Esperto franco-argentino

33° é o paralelo que passa pela província de Mendoza, onde este vinho é criado e produzido; Bodegas Chandon é o projeto argentino da casa francesa, que pertence ao grupo Moët Hennessy; e Latitud 33 é a linha de vinhos jovens e frescos da vinícola.

Da linha já provei outras castas, mas entre eles prefiro o Cabernet Sauvignon, apesar do malbec ser o carro-chefe da região.

É um 100% varietal, com passagem em madeira de 3-4 meses.

Ele me agrada pela sua vocação um pouco mais gastronômica, com boa acidez e taninos firmes (isso sem deixar de lado a fruta e o equilíbrio). E me agrada sobretudo pelo preço: paguei em uma promoção cerca de R$15! Mas normalmente custa uns R$ 10-15 a mais. De qualquer forma mais um vinhozinho despretensioso e agradável que vai se acomodar placidamente na nossa lista do Bolso Esperto.

Importado pela Moët Hennessy do Brasil.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O futuro do chopp? De cabeça pra baixo

A cerveja entra pelo fundo do copo e não por cima. Parece um falso, mas é verdade. Esta maquina já está sendo usada em vários lugares dos Estados Unidos e alem de ser um espetáculo inédito é particularmente vantajosa, pois permite de encher 4 copos ao mesmo tempo, tendo as mãos livres.

Confira.



Aqui o vídeo que explica o funcionamento:

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Que tal uma vinho-terapia no endereço mais badalado do mundo?

Nova York: metrópole frenética e agitada; mas no endereço mais badalado da cidade e talvez do planeta (Quinta Avenida com Central Park South), se “esconde” um refúgio de paz e bem estar. À base de vinho, é claro!

No 4° andar do símbolo da grandeur americana, o Hotel Plaza, está situada a Spa Vinothérapie da Caudalie, famosa marca de produtos de cosmética francesa.

Entre as paredes do monumental hotel-residence, a bebida de Baco comanda as “operações”: ali é possível mergulhar em um banho quente enriquecido com mosto de uvas frescas micro-fragmentadas (what?), ou fazer uma esfoliação com sementes de uva; já para os casais o romance é garantido por cabine VIP com sala de relaxamento: 2.30h de banho em barrica de carvalho, chuveiro e banheiro privativo.
E ainda pedicure, manicure e tudo que envolve relax, beleza e saúde relacionados ao vinho. Ademais um sommelier e um wine-bar estão à disposição dos hóspedes.

Com certeza a experiência deve ser bastante interessante. Mas aqui no Brasil, temos a filial latino-americana da mesma rede: o Hotel e Spa do Vinho Caudalie, em Bento Gonçalves. No Vale dos Vinhedos, no meio da natureza e das parreiras acho que seja mais apropriado e bonito. E deve ser até mais econômico.
Ou talvez não.


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Supertoscaninho de classe

Quem me conhece sabe que adoro Supertoscanos. Talvez porque em um único produto encontro todos os meus lados de consumidor: a raiz e o terroir (juntos ao know-how) italianos, uvas francesas e estilo moderno/novomundista de qualidade. O melhor da globalização aplicada ao vinho...

Ontem abri este belo representante da categoria a preço não exorbitante: Le Volte da Tenuta dell’Ornellaia. A vinícola simplesmente dispensa qualquer apresentação. Estamos falando de um dos maiores nomes da Itália e do mundo. Um dos pioneiros do “genro” Supertuscan e hoje cultuado pela crítica internacional (o seu ícone Masseto já ganhou 100/100 pela Wine Spectator e 99/100 pelo Robert Parker) e pelos apreciadores apaixonados do mundo inteiro.

Este Le Volte é o vinho mais “simples” da vinícola, se é correto dizer simples. Pois de simples tem bem pouco.

Da sub-região de Bolgheri (a mais celebrada para Supertoscanos) é um blend de Sangiovese, Merlot e Cabernet Sauvignon, afinado 10 meses em barricas de segundo e terceiro uso (previamente usadas para o Masseto e o Ornellaia).

Aromas lindos de framboesa e canela, com notas de eucalipto; concentrado e estruturado, tem boa fruta, taninos maduros e finos, madeira leve e final prolongado e fresco.

Um vinho jovem, exuberante e saboroso, mas com toda a elegância de Ornellaia.

Voto gringo: 8

Vinho: Le Volte Igt
Safra: 2008
Produtor: Tenuta dell’Ornellaia
País: Itália
Região: Toscana
Uvas: 50% Sangiovese, 40% Merlot, 10% Cabernet Sauvignon
Teor Alcoólico: 13,5%
Importadora: Grand Cru
Custo médio: R$ 130,00

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A China aprende rápido a pior lição do Ocidente

Como vimos aqui, a viticultura na China está evoluindo com rapidez, mas, esperando a qualidade, os chineses estão aprendendo rapidamente também o que de pior o mundo do vinho tem em ocidente: a falsificação.

De acordo com o China Times, na província de Hebei, cerca de 30 vinícolas foram fechadas após seus vinhos serem comprovados como falsificados, durante um programa de tv. Nesta reportagem, um gerente de vendas admitiu que uns vinhos da região tinham uma pureza de 20%. O restante era composto de água, aromas artificiais, corantes e ácido cítrico.

Que beleza, hein!

Agora o que pode fazer um consumidor para se defender destas trapaceadas? Infelizmente não existe um método certo, é preciso um esforço de avaliação crítica.
Talvez possa ajudar o velho sistema dos preços baixos. Como vimos, preço alto não é necessariamente sinônimo de qualidade, mas preço muito baixo é pelo menos suspeito. Considerando que este vinhos eram vendidos a U$0,75 a garrafa, o suspeito deveria ser espontâneo.
Um pouco como acontece com uns Chianti e Valpolicella vendidos por aqui a R$ 15,00 – R$ 20,00. Talvez não sejam água e corante, mas umas dúvidas sobre a qualidade são certamente autorizadas.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Deus nos livre da alergia ao vinho

Hoje em dia 500 milhões de pessoas são obrigadas a abrir mão de uma boa taça de vinho.
Motivo? Alergia ao vinho.

Pois é, cerca de 8% da população sofre com isso e às vezes nem sabe.

No banco dos réus os sulfitos de sempre, substâncias contendo enxofre, presentes na natureza e mais frequentemente adicionados ao vinho para evitar a deterioração.

Mas na verdade entre os responsáveis desta intolerância, um estudo sobre chardonnay publicado no Journal of Proteome Research individuou mais 28 glicoproteínas. São moléculas cobertas por cadeias de açúcares, produzidas naturalmente durante a fermentação das uvas. Os sintomas mais comuns causados por estas moléculas são: dor de cabeça, nariz entupido e erupções cutâneas.

Esperando em vinhos totalmente hipoalergênicos a dica para os alérgicos é tentar com orgânicos e biodinâmicos.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Os 10 mandamentos para o enófilo do 2011

O novo ano chegou e seja você um novato que está se aproximando ao mundo da uva fermentada, seja um enófilo experiente, seja um guru que consegue adivinhar a varietal com a taça a 30 cm de distância, tem que se lembrar que os pecados mortais dos enochatos estão à espreita, então tome cuidado!

Porque conversar das notas de grafite da nova safra de Châteauneuf-du-Pape com o motorista de táxi ou aconselhar um Jerez envelhecido com método Soleras para a sua mãe que vai convidar os tios para o almoço não são bons sinais.

Então anote essas 10 regras para levar a paixão à frente com perseverança e dedicação para o ano novo (melhor, para sempre), sem cair nas eno-chatices. E não falta espaço para vocês adicionarem mais.

1) Não fique se achando
Este é o primeiro e mais importante mandamento. Esteja pronto para rejeitar qualquer vontade de ostentação e forma de tirar onda, pensando o quanto pouco você sabe sobre física quântica ou história das relações internacionais. Se realmente precisa desafogar, faça com pessoas que te desafiem com frases como: “2005 na Borgonha me parece uma safra superestimada, invés já provei uns Oregons ma-ra-vi-lho-sos...

2) Experimente tudo sempre que tiver a oportunidade
Se puder, tente fazer “à cega”, sem saber antes o que é, e de vez em quando (basta uma vez a cada 6 meses) tome um vinho “ordinário” ou até de garrafão: vai te ajudar a lembrar de onde você vem e, sobretudo quanto está curtindo agora.

3) Adote um produtor
De preferência pequeno. Escolhê-lo de acordo com os vinhos e afinidade. Compre as novas safras e compare com as antigas. E se puder fazer esta viagem, visite-o pessoalmente. O prazer de conhecer de perto aquele terroir e aquele vinho que você gosta é incomparável.

4) Se deixe adotar por um honesto vendedor
Ele vai te ajudar a se orientar, a descobrir novos mundos e a economizar dinheiro. Como escolhê-lo? Simples, primeiramente tem que ser simpático, e depois você deve observá-lo enquanto fala dos vinhos favoritos: se você vê uma luz brilhar nos olhos e não consegue pará-lo, não tenha dúvida: é ele. Mas cuidado: o teu paladar é soberano, se não gostar de um vinho não é porque você não o entende, é porque você não gosta.

5) Priorize os produtores que se preocupam com o meio ambiente (bio-alguma coisa)
Vinho bom precisa de natureza não destorcida.

6 ) Não beba sozinho
A beleza do vinho é a socialização e, ademais, se dividir, economiza (quem divide multiplica).

7) Monopolize educadamente a lista de vinhos no restaurante
Não é para se exibir, mas é porque este é o lugar onde você coloca em prática o seu exercício para a finalidade última que qualquer apreciador de bom vinho deve ter, ou seja, o momento das "3 G”s: good company, good food, good wine.

8) Vá pelo menos uma vez a uma feira ou evento de vinhos permanecendo sóbrio (não totalmente, mas sóbrio).
Não há necessidade se deslocar até uma outra cidade, outro estado ou até outro País para beber como uma esponja até não saber distinguir mais um Sangue de Boi de um Barolo. O legal é degustar muitos vinhos, cuspindo-os com diligência. Mas obviamente não estamos em uma feira do masoquismo: os melhores têm que ser engolidos, e até repetindo a dose.

9) Leia um pouco de tudo, mas, sobretudo o que te chateia menos.
Evite a imprensa parcial (que fala em formato de anúncios publicitários disfarçados de artigos jornalísticos) e aquela chata que dispara descritores a caso. A vida já é curta demais para beber mal, imagine para ler mal sobre vinhos. E reze acesse o Mondovinho pelo menos 3 vezes por dia.

10) Crie uma sua trajetória pessoal.
Se apaixone por uma casta, por uma região, um terroir, uma tipologia e vai descobrindo dentro deste caminho o que há de bom, sem pressa, sem usar as notas e pontuações como bússola, mas pulando de rótulo em rótulo dependendo da ocasião, das idéias, das notícias, da casualidade. E finalmente quando se sentir confiante o suficiente para ser você o guia, faça um saudável proselitismo. Vinho bom precisa de bons bebedores. Conte para os seus colegas de mesa como você chegou naquele vinho, quem o faz, a sua história e quais lembranças te ligam àquela garrafa. Enquanto isso encha de novo as taças deles.

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