Chovia muito sobre Santiago, com temperatura por volta dos 5
graus e um vento frio, que junto com a umidade do ar levava a sensação térmica
perto de zero. Definitivamente não o melhor dia para visita á vinícolas. Mas isto
faz parte, e afinal estava me esperando não uma vinícola qualquer e sim uma das
mais badaladas da America Latina: a Almaviva. Então armado de um bom casaco e
um bom guarda-chuva sai para esta nova aventura.
A vinícola fica nos arredores da cidade, em direção sul, Puente
Alto. Por lá ficam localizadas outras vinícolas ícones como a Vinhedo Chadwick
(praticamente ao lado) e a própria Concha Y Toro. Dá para chegar de taxi ou de
ônibus. A primeira opção pode sair um pouco cara (são cerca de 30 km do centro
de Santiago) e a segunda pode ser arriscada se não conhecer o ponto de descida.
No meu caso, na dúvida também pelo trânsito parado por causa da chuva, optei
por um meio termo: metro + taxi. Desci na Plaza de Puente Alto, ponto final da
linha 4 (pode ser na estação Las Mercedes também) e de lá peguei um taxi para
mais uns 6-7km finais até a vinícola. Ficou rápido, prático e econômico.
Cheguei assim á vinícola no horário marcado, aonde a
simpática e competente señorita Christel me conduziu numa interessante visita pelas
instalações da propriedade.
Devido às condições climáticas adversas decidimos pular o
passeio nos vinhedos e fomos direto ao assunto.
O vinhedo |
Vinhedo de Cabernet Sauvignon, visto do 1o andar da propriedade |
Para quem ainda não sabe a vinícola é fruto de uma joint-venture
entre uma das mais badaladas vinícolas do Velho Mundo, o Chateau
Mouton-Rothschild, e uma das mais badaladas do Novo Mundo, a Concha Y Toro. A
pareceria entre as duas partes foi assinada em 1997, com o intuito de criar um
vinho chileno nível Premier Grand Cru Classé de Bordeaux.
No Chile não existe uma classificação oficial de vinhos, mas
mesmo assim o Almaviva foi o primeiro vinho chileno classificado como “Primer
Orden”, para trazer em espanhol o conceito de premier cru. Para isto o vinho
tem que ser produzido a partir de um único vinhedo, numa única vinícola e ter
sua própria equipe, sendo as 3 coisas dedicadas exclusivamente para a produção
de um único vinho.
O nome Almaviva vem da literatura francesa: o Conde de
Almaviva é o herói da peça teatral Le Mariage de Figaro (As bodas de Figaro, em
português), que depois se tornou
também uma ópera do Mozart. Já o logo da casa homenageia a história ancestral
do Chile reproduzindo o símbolo da Terra e do Universo na visão Mapuche. O
desenho aparece no “kultrun”, um instrumento de percussão usado nos rituais
deste povo indígena.
O kultrun |
Os 85 hectares de vinhedo são plantados em sua maior parte
com cabernet sauvignon, e com pequenas parcelas de merlot, cabernet franc,
carmenere e petit verdot. Solo pedregoso e calcário, irrigação feita por um
engenhoso sistema de gotejamento subterrâneo.
A colheita é rigorosamente manual e as uvas são previamente selecionadas
também manualmente e depois numa triagem mais restrita através de um leitor
óptico. Por gravidade o mosto vai para os toneis de aço onde fermentam em
temperatura controlada e finalmente para o descanso final em barricas de
carvalho novas.
A sala das barricas |
No final da visita numa linda salinha de jantar nos esperava
uma garrafa do Almaviva 2009 para degustação. O blend desta safra foi o
seguinte: 73% Cabernet Sauvignon, 22% Carmenere, 4% Cabernet Franc, 1% Merlot,
com estágio de 16 meses em barricas de carvalho francês novas.
O vinho surpreendeu pela fruta em grande destaque mesmo
depois de 7 anos: cassis, cereja, morango com notas de tabaco, café e baunilha.
As mesmas sensações repetidas em camadas numa boca encorpada, elegante e de
textura aveludada. Super-equilíbrio entre acidez, álcool e taninos maduros, com
a madeira bem integrada, para um final de longa persistência.
Salinha de prova |
Na taça: Almaviva 2009 |
A visita foi muito boa, tudo lembrou muito o esmero e o
primor dos grandes chateaux de Bordeaux. Muito obrigado a Almaviva e sua equipe
pela disponibilidade e cortesia.
Confira mais fotos a seguir
Borras |
Dois personagens da mitologia :-) |
Processo de engarrafamento e embalagem |
O laboratório para as analises quimicas |
Olá Mario,
ResponderExcluirTenho uma curiosidade sobre o vinho Almaviva,será que com o passar dos anos a fruta e o corpo intenso, ira dar lugar para um vinho com uma pegada velho mundo, mais fino e aromas mais sutis...?
Olá Dimas,
ExcluirComparado com outros chilenos, de maneira geral ele já nasce um pouco com uma pegada mais de velho mundo, se bem que as características típicas do Chile que você citou estão bem presentes. Com o passar do tempo ele vai perdendo a fruta e os aromas terciários ficarão mais em evidência, mas isto não vai tornar o vinho mais sutil ou fino.
Abraço!
Mário, estive em agosto na almaviva e também degustei a safra 2009. Achei o vinho super pronto para o consumo, o que me faz pensar a respeito do potencial de guarda que o mesmo pode vir a ter. Acabei trazendo uma garrafa e posteriormente adquiri em uma loja em Santiago um 2013 justamente para a guarda. A visita é imperdível. Abs. Fábio
ResponderExcluirPois é Fábio, a sensação que o 2009 me deixou é que está hoje no ponto e daqui a pouco deve começar a "descer a ladeira". Posso estar enganado, mas me pareceu uma safra para 10 anos. Já outras que provei até mais antigas (como a 2006 e 2007) me pareceram mais longevas. Concorda?
ExcluirPenso exatamente o mesmo. Mais uns 5 anos de guarda, mas o ideal é consumir em no máximo 2 anos.
ExcluirAtt.Fábio
Que bom que estamos em sintonia!
ExcluirAbraço
Como conseguir agendar essa visita? No ano passado, tinha viagem marcada para o Chile em novembro e meses antes enviei inúmeros e-mails à vinícola, que simplesmente não respondeu. Em agosto, irei novamente ao Chile e novamente não encontrei nada no site da vinícola sobre agendamento de visitas.
ResponderExcluirEduardo, não sei responder. No meu caso a resposta foi imediata e nem posso dizer que isso foi por eu ser um profissional da área, pois vários amigos que não são do setor também conseguiram visitar (com a única diferença que para eles foi cobrado um valor, enquanto pra mim foi totalmente grátis). O que posso deduzir é que a vinícola mudou a política e que é possível que decidiram não abrir mais ao público. De qualquer forma sugiro seguir tentando, prove pelo telefone também.
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