sábado, 31 de março de 2012

Salton fala sobre a salvaguarda

E continuando com o mesmo assunto, segue na íntegra a entrevista ao Daniel Salton., presidente da homônima vinícola que protagonizou o caso das salvaguardas (diretamente da Revista Menu).

"O processo de salvaguarda para o vinho brasileiro foi montado a partir de informações de seis vinícolas gaúchas. Uma delas foi a centenária Salton. Uma semana após a abertura do processo, a Salton informou, em nota oficial, que não apoiaria mais a causa. Hoje, Daniel Salton, presidente da vinícola, explicou as razões de a empresa ter se retirado do processo. “A salvaguarda viria para proteger um setor fragilizado e com vinícolas em dificuldades. Nossa intenção inicial foi a de ser solidários com a causa e aos problemas enfrentados por empresas próximas de nós”, respondeu ele, por e-mail, para a Menu.
O que levou a Salton a enviar documento para a Ibravin informando que não apóia mais a salvaguarda?
Primeiro queremos deixar claro que a Vinícola Salton não estava liderando nenhum tipo de movimento de salvaguardas, como tem sido informado, e sim, apenas apoiando as entidades representativas do setor. Não estávamos acompanhando as negociações. Reforçamos ainda que analisamos os critérios de salvaguarda e após isso tomamos a decisão de não apoiar a causa, já que o assunto poderia gerar transtornos aos consumidores e dificultar o acesso aos produtos. A partir do momento que julgamos que os critérios em jogo poderiam restringir o livre arbítrio de nossos consumidores decidimos nos posicionar e não apoiar a causa.
O documento foi enviado apenas à Ibravin ou a Vinícola Salton enviou para o governo também? Se sim, para qual departamento?
A Salton é associada à Uvibra (União Brasileira de Vitivinicultura), que é filiada ao Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho). Enviamos para ambas uma correspondência oficial formalizando que não estamos mais apoiando a medida de salvaguarda.
Como foi a contribuição da Salton para o pedido de salvaguarda? Na circular do governo, está escrito que os dados para justificar a salvaguarda se basearam em informações fornecidas por algumas vinícolas, entre elas a Salton.
Concordamos com uma primeira discussão sobre o assunto, e quando nos deparamos com a interpretação e falta de esclarecimentos de pontos importantes da salvaguarda, como dissemos anteriormente, resolvemos não apoiar mais. É importante deixar bem claro também que a Salton nunca deixou de prosperar e crescer em volume de vendas e faturamento e não precisaria de uma medida para continuar trilhando seu caminho de sucesso.
O Ibravin informou que levou meses para formalizar o documento pedindo a salvaguarda. Como a Salton contribuiu para esta discussão?
A empresa participou de algumas discussões em 2010, com o objetivo de buscar uma concorrência mais justa e melhores condições para seus fornecedores de uvas, famílias que dependem do cultivo das parreiras para sobreviver. A salvaguarda viria para proteger um setor fragilizado e com vinícolas em dificuldades. Nossa intenção inicial foi a de ser solidários com a causa e aos problemas enfrentados por empresas próximas de nós. Em nenhum momento concordamos com ações que pudessem lesar qualquer das partes. Por conta disso, decidimos nos retirar do movimento."
Cada um que tire as próprias conclusões.    

Os últimos boicotes


Não podia fechar a semana sem as atualizações sobre o “Salvaguarda Gate”.

A campanha do boicote fez outros adeptos ilustres: depois da Roberta Sudbrack, mais restaurantes célebres decidiram aderir à campanha retirando os vinhos nacionais das vinícolas “incriminadas” da própria carta de vinhos.

No Rio o famoso Aprazível, o restaurante Oro (o mais badalado do momento) e as casas gastronômicas do renomeado chef francês Claude Troisgros (OlympeCT Boucherie e CT Brasserie) também aderiram ao boicote.

em São Paulo o exemplo foi seguido pelo restaurante Tasca da Esquina e pelo mais prestigiado chef brasileiro, Alex Attala. O Attala foi mais radical ainda, retirando mais de 20 rótulos nacionais dos seus restaurantes D.O.M. e Dalva e Dito, sem fazer distinção entre os que apóiam e aqueles que são contra a medida.

E por completar o grupo Fasano, liderado nas adegas pelo conceituado sommelier Manoel Beato, anuncia que Fasano não vai comprar mais vinho brasileiro em nenhum dos 10 restaurantes do grupo.

Enfim, a “guerra” está assumindo proporções sempre maiores, mesmo assim a Ibravim e as outras entidades e vinícolas que levantaram a proposta das salvaguardas, não parecem ser intencionados a retirar o pedido.

A única consideração para se fazer é a seguinte. Independentemente da medida ser aprovada ou não, fato é que a imagem do vinho nacional sai de qualquer jeito manchada e o consumo prejudicado.


sexta-feira, 30 de março de 2012

Harmonização vinho com gravata?!


Já vimos harmonizações difíceis e ousadas, mas esta você nunca viu: gravatas com vinho. Pois bem, o Armand Olivier Bell, vendedor do departamento masculino da loja Saks Fifht Avenue em Nova York, é o único cara no mundo a fazer harmonizações deste tipo.
Originário de Camarões, adquiriu a paixão pelos vinhos estudando na Itália e na França, antes de chegar nos Eua, onde começou a vender gravatas na Saks há 17 anos. Desde o começo pareceu natural para ele encontrar ajuda e referências nos estilos de vinhos para explicar aos clientes os estilos das gravatas. 
Um Haut-Brion é um clássico assim como uma gravata Charvet, por exemplo. Uma Ferragamo evoca a idéia de Sauternes, já uma gravata de cor dorada lembra um Pinot Grigio de Santa Margherita. E aí continuando podemos harmonizar uma Armani com um Medoc (os consumidores de Armani são conservadores) ou uma gravata do cultuado Isaia (pequeno produtor artesanal da minha cidade de Napoli) com um Valpolicella. E os vinhos da Califórnia? “Não temos nada feito na China”, responde Mr. Bell.


quinta-feira, 29 de março de 2012

Agora é a vez do carro para champagne


Existem vários acessórios para vinho: ha quem prefere um balde de gelo, quem prefere um saca rolha, quem um termômetro para a temperatura... honestamente eu prefiro um carro.
Aqui já vimos o Fiat 500-Sassicaia e o Range Rover Wine Car. No mesmo estilo, acaba de ser apresentado em Verona, durante a ultima edição da feira Vinitaly (que terminou ontem) o Range Rover Evoque Bollinger*, versão especial dedicada aos amantes de Champagne, particularmente da Bollinger. Além de ter logos da marca um pouco em qualquer canto (dos quais um enorme no teto), no porta-malas tem dois vãos climatizados capazes de conter até 12 garrafas. De champagne, é claro.

Lembra que no ano passado falamos do vinho italiano em tour dentro de um motor-home (relembre aqui)? Pois bem, este ano o "carrompagne" da Bollinger vai acompanhar o caminhão nas degustações itinerantes.

Enfim carro & vinho parece ser a cada vez mais mais um binômio de sucesso. E realmente os enofilos mais chatos exigentes podem se interessar em um produto deste. Pessoalmente ficaria feliz também somente com o Range Rover, sem marca de vinho alguma.

*Link enviado pelo sempre atento amigo Claudio Perlini, que agradeço aqui publicamente.



quarta-feira, 28 de março de 2012

Que vinho harmoniza com chocolate?


A Páscoa se aproxima e a farra de chocolate também. Um dos grandes desafios para os amantes da bebida de Baco é a harmonização vinhoXchocolate. Na verdade, uma das regras não escritas neste eno-mundo é: nunca vinho com chocolate. Será que é assim mesmo?

Realmente o chocolate é um dos alimentos mais difíceis para casar com um bom vinho, devido à sua grande complexidade aromático-gustativa e longa persistência.

Especificamente, no olfato o chocolate é rico em aromas primários (devido ao próprio cacau) e secundários (que vêm do processo de fermentação, torrefação, refinamento, etc). Já no paladar o leque de sensações é ainda maior: a doçura do açúcar, o amargor do próprio cacau, a acidez resultante da transformação do cacau, a suculência típica, a gordura da manteiga de cacau e a persistência no palato por bastante tempo. A isso temos que adicionar também outros fatores, conforme o tipo de chocolate: especiarias, frutas, baunilha, café, amêndoas, etc.

Enfim, a harmonização parece realmente uma tarefa complicada, não é?
Por isso chocolate é normalmente indicado com destilados encorpados do sabor quente como rum, conhaque ou brandy.

Então os vinhos estão fora de cogitação? 


Claro que não! Excluindo obviamente gostos e preferências pessoais, a harmonização vinho/chocolate tem que ser feita respeitando os dois princípios básicos: por semelhança (ex: doce + doce) ou por contraste (ex: gordura + acidez).

Simplificando mais ainda, para casar com o chocolate sem se sobrepor, nem ser sobreposto, basicamente o vinho tem que ter:

- elevado teor alcoólico
- grande estrutura e complexidade
- taninos macios e elegantes
- açúcar residual mais o menos elevado
- intensidade aromática e gustativa
- persistência intensa (final longo)

Na base disso tudo, podemos então arriscar uns tintos de certa espessura, como alguns gandes cortes do Novo Mundo (eu escolheria um potente syrah australiano), mas é evidente que vamos obter melhor resultados com os vinhos ditos “de sobremesa” ou fortificados.

A harmonização clássica (e sempre bem sucedida) é com o Vinho do Porto, melhor se vintage.
Um outro par perfeito do chocolate é o Banylus, típico do sul da França.
Sugiro experimentar também com uns bons italianos tipo Recioto della Valpolicella, Barolo Chinato, ou um Passito.
A Espanha também ajuda, com seus Jerez Pedro Ximenez.
Quanto aos vinhos botritizados (atacados pelo fungo Botrytis Cinérea), pessoalmente evitaria, pois costumam ser bastante delicados, sobretudo os Sauternes: se quiser arriscar mesmo com a podridão nobre, tente um Tokaji Aszù da Hungria bastante envelhecido.

A partir destas dicas pode ir experimentando e testando tipos de chocolates e vinhos diferentes até obter a sua harmonização perfeita; senão, caso queira jogar a toalha, pode correr logo para esta solução sem graça. 

terça-feira, 27 de março de 2012

E você, prefere a janela ou o espelho?


Voltando ao maldito assunto da lei das salvaguardas, já ressaltei que nem todas as vinícolas participam do pedido: os principais responsáveis, pelo menos os mais falados parecem ser: Miolo, Salton (que voltou atrás), Aurora, Aliança, Don Giovanni, Garibaldi, Casa Valduga and Dal Pizzol, enfim as grandes marcas nacionais.

Já os pequenos produtores, não aprovam e, no caso a medida passar, serão os maiores prejudicados, juntos com nós consumidores.

As vinícolas Adolfo Lona, Angheben, Cave Geisse e Vallontano - por sinal produtores de alguns dos melhores vinhos nacionais – uniram as forças mantendo firme as próprias posições e questionaram de forma clara e sensata alguns itens que continuam inexplicáveis.

Leia aqui na integra o manifesto oficial:


“As vinícolas ADOLFO LONA VINHOS E ESPUMANTES, ANGHEBEN VINHOS FINOS, CAVE GEISSE e VALLONTANO VINHOS NOBRES vêm a público se manifestar a respeito da polêmica da salvaguarda solicitada por algumas entidades do setor vinícola.

Causou-nos estranheza a solicitação dessa medida já que no nosso entendimento os benefícios serão mais uma vez destinados às grandes indústrias, penalizando a diversidade da oferta e o consumidor.

Por outro lado o pequeno produtor, que enfrenta hoje diversas dificuldades, não pára de se questionar:

Por que estas entidades não buscam o SIMPLES para o pequeno produtor?
Por que não pedem o fim das normativas (IN05 etc..) que limitam e dificultam as atividades de pequenas vinícolas?
Por que essas mesmas entidades impediram que entrasse em vigor a dispensa da aplicação do SELO FISCAL para quem produzisse até 20.000 litros de vinho (IN RFB N – 1.188/2011 DOU 1 DE 31/08/2011)?
Por que não concentram seus esforços para baixar os tributos do vinho brasileiro ao invés de aumentar a taxa do importado?
Por que para produzir vinho temos que seguir normas de produção de alimentos, mas na hora de pagarmos impostos somos produtores de bebida alcoólica?

Porém, o que parece responder a estas perguntas é a intenção de simplesmente burocratizar o setor e defender os interesses das grandes corporações. Estamos caminhando para a era da industrialização em massa, estamos dando aval ao vinho commodity em detrimento da diversidade brasileira. Isso é degradante.

Não podemos compactuar com quaisquer iniciativas que não sejam discutidas de forma ampla e democrática, com todo o setor. Precisamos sim de uma salvaguarda para a sobrevivência da diversidade do vinho brasileiro. As empresas que representam a minoria poderosa já começam a sofrer retaliações por parte de jornalistas, formadores de opinião, proprietários de restaurantes, supermercadistas, sommeliers e consumidores. Algumas inclusive já estão mudando de opinião!!

Esperamos que ao contrário do acontecido com o selo fiscal, desta vez nossa voz seja ouvida. Uma frase de Ettore Scola pode sintetizar este momento: “Ho sempre preferito la finestra allo specchio”- "Sempre preferi a janela ao espelho.". Não está na hora de começarmos a mirar pela janela ao invés de nos centrarmos nos nossos umbigos? O mundo é vasto, vivemos um momento de encurtamento de distâncias, quedas de fronteiras e ao mesmo tempo de valorização das identidades locais e não será uma salvaguarda limitada e preconceituosa que resolverá as mazelas do vinho brasileiro!!”

domingo, 25 de março de 2012

5 argentinos de alto nível



Semana passada mais uma reunião da nossa Confraria “Gran Reserva”. O tema escolhido foi Argentina “genérico”, ou seja, sem restrições de castas, regiões, etc.

Na mesa 5 tintos, na ordem cronológica de degustação:

1) Luigi Bosca Gala 1 2008 (trazido pelo confrade Rafael). Corte diferente de Malbec com Petit Verdot e Tannat, se mostrou mais elegante que da safra anterior aqui comentado. Achei a madeira menos invasiva, a fruta menos abundante, e uma maior acidez. Certamente muito mais equilibrado que da 2007.  Importado pela Decanter

2) Tikal Almanegra Misterio 2008 (trazido pelo confrade Murilo). Do grupo da família Catena, precisamente do Ernesto Catena (filho do Nicolas) este tinto declarado como “corte secreto” é um blend de uvas não reveladas (???). Intenso nos aromas e no paladar, um belo vinho, mas foi talvez o que menos se destacou da noite, porém ganhou em quesito “melhor rótulo”! Importado pela Mistral

3) Lagarde Primeiras Viñas 2008 (trazido pelo confrade Martins). Malbec procedente de um vinhedo de 1906 (!) foi certamente o vinho que mais impressionou no primeiro gole: pelo grande corpo, pela textura aveludada, pela riqueza da fruta e pela potência. Mostrou, estranhamente pela sua idade, leves notas de evolução (garrafa?). Importado pela Devinum

4) Navarro Correas Structura 2005 (trazido pela confrade Margareth). Corte de Malbec com Cabernet Sauvignon e Merlot. Apesar de uvas e safras diferentes, francamente achei bastante parecido com o Lagarde (este é o limite que sempre critico dos vinhos “novomundistas”: muitos deles acabam parecendo um com o outro), mas, mesmo sendo de safra mais antiga, estava menos pronto. Importado pela Interfood

5) Riglos Gran Corte 2006 (trazido por mim). Entre os melhores 5 vinhos da Argentina segundo o guia Descorchados, é um corte de Malbec, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc produzido em pequena quantidade. Pra mim o mais elegante, equilibrado e complexo da noite (e não porque foi a minha garrafa!): frutas de bosque, café, tabaco e leves especiarias no nariz. Já na boca mostrou muita estrutura, excelente acidez, taninos finos e um longo final. Importado até esta safra pela Grand Cru, hoje pela Decanter

Aos votos, a maioria dos presentes escolheu também o Riglos Gran Corte como o grande ganhador da noite.
A nota curiosa sobre o produtor é que antes de se tornar a prestigiada vinícola que hoje é (com a consultoria do cultuado enólogo Paul Hobbs), as uvas de seus vinhedos eram vendidas para outras vinícolas como as próprias Catena-Zapata e Luigi Bosca, aqui derrotadas. Os alunos que superam os mestres.

sábado, 24 de março de 2012

Atualizações sobre as famigeradas “salvaguardas”


Nestes dias não se fala de outra coisa neste nosso eno-mundo, eu tentei acompanhar tudo e venho com as últimas atualizações para vocês  (agradecendo vários amigos blogueiros como Silvestre Tavares, Luiz Cola, João Filipe Clemente, Didu Russo e Sabrina Maciel, entre outros, pela tempestividade das preciosas informações ).

Mais writers ilustres comentaram a absoluta inutilidade da medida, como os conceituados jornalistas Jorge Lucki no Valor Economico, Marcelo Copello na VejaRioLuiz Horta no Estadão e Beto Gerosa no IG.

A famosa chef Roberta Sudbrackcomeçou o boicote em seu homônimo e cultuado restaurante, retirando logo da carta de vinho os rótulos das vinícolas “incriminadas”.

Em campo internacional também se discute: obviamente os produtores mundo afora estão preocupados e indignados: já na imprensa o prestigiado jornal espanhol El Mundo se manifestou contra o "protecionismo exacerbado" e até a renomeada crítica inglesa Jancis Robinson publicou uma matéria em seu site.

Enquanto isso, os primeiros frutos da campanha contra (em poucos dias a petição chegou a mais de 4600 assinaturas) começaram a florescer: esta é a nota oficial da Vinícola Salton, que deu o primeiro passo atrás. Também acho muito fácil mudar de ideia depois que o pedido já está encaminhado querendo logo se limpar e deixar a culpa para os outros, mas pelo menos é um começo (apesar da marca ficar, na minha modesta opinião, manchada de qualquer forma).

Em seguida a Vinícola Cave Geisse (que produz excelentes espumantes, por sinal), que sempre foi contrária, enviou para a imprensa esta carta exemplar de extrema lucidez e bom senso.

E finalmente veio a carta oficial das entidades que estão pedindo a lei da salvaguarda, ressaltando com força as próprias razoes, e tentando amenizar os tons do debate, mas honestamente, de maneira bem pouco convincente.

Talvez eu seja o último titulado a falar (ainda mais que sou gringo!), mas pelo pouco que conheço o Brasil, já imagino que a medida vai ser infelizmente aprovada de qualquer forma e que, como sempre, os pequenos (produtores artesanais e nós consumidores) vão pagar as contas. Além de tudo, quem vai perder é o próprio vinho.
Espero ardentemente estar enganado e que este nosso esforço valha algo.

Abaixo, mais comentários ilustres (fonte Paladar)

CIRO LILLA, importador
"Um espanto. Não consigo entender como o vinho nacional, um setor que cresceu mais de 7% no ano passado - quase três vezes a média do crescimento do PIB - precisa de salvaguarda. A definição de salvaguarda é proteção contra risco de colapso, e os produtores flagrantemente prosperaram. É um retrocesso, vamos voltar aos anos 80: o que vai acontecer é que haverá na prateleira meia dúzia de vinhos gigantes, os que aguentam as taxas."
ROGÉRIO FASANO, restaurateur do Grupo Fasano
"É um absurdo, é protecionismo e quem vai pagar a conta é o consumidor. Não é isso que vai fazer crescer o vinho nacional, até porque o grande concorrente do vinho brasileiro é o vinho da América Latina, que não vai entrar na salvaguarda. O concorrente do vinho do Rio Grande do Sul é o argentino. Não faz sentido penalizar o francês, o italiano."

ROGÉRIO D’ÁVILA, importador  

"O mais grave são as cotas - se for determinado que no Brasil só podem entrar 5 milhões de caixas, a gente vai voltar 40 anos. O governo brasileiro não incentiva a pequena bodega - nos últimos seis meses fecharam cem delas. Vão fechar mais 200 e a culpa não é dos vinhos importados. Elas vão fechar porque o governo trata pequenos e grandes produtores  do mesmo jeito."

ARTHUR AZEVEDO, diretor executivo da ABS-SP 

Fiz a promessa de que enquanto durar essa brincadeira eu não tomo vinho brasileiro e não falo de vinho brasileiro. A coisa mais importante no vinho chama-se diversidade, mas você vai ter de se conformar com aquela meia dúzia de vinhos mequetrefes que produzem lá embaixo. Aí o que vai acontecer? Contrabando. Mas eles esqueceram que hoje nós temos Twitter, Facebook.

ALEX ATALA, chef 

Esse é um lobby prejudicial ao vinho brasileiro, na reta final. Eu tenho colocado vários vinhos brasileiros no cardápio do D.O.M e as pessoas preferem não provar, por segurança – ficam com os argentinos e chilenos. Essa medida só vai piorar. É cedo para falar o que vai acontecer, ainda não tenho uma opinião formada, mas acredito que essa alíquota vá aumentar o consumo de argentinos, uruguaios e chilenos. O mercado não confia no vinho nacional. 

E para fechar, fique aqui  com as sábias palavras do enologo Fernando Andreazza

sexta-feira, 23 de março de 2012

O saca-rolha definitivo


Qual é o abridor de garrafas ideal? Depois de inúmeros modelos e tantas dúvidas, finalmente achamos o saca-rolha definitivo. Leve, pequeno, prático e rápido, o sonho de qualquer enófilo. Pessoalmente, já encomendei dois destes, esperando agora a versão para screw-cap. 
 

Fonte: Geekologie  

quinta-feira, 22 de março de 2012

Contra a lei da salvaguarda


Amigos, o problema da tão falada “lei da salvaguarda” (aumento de impostos para vinhos importados) é sério e está gerando milhares de polêmicas. Inútil ressaltar que o MondoVinho é contra esta medida: a posição de quem pediu (os grandes produtores brasileiros) e de quem apoiou (Ibravin mais outras entidades), por quanto eu me esforce de entender as razões, é, francamente, indefensável.
Teria muita coisa para escrever e criticar, mas vou deixar duas vozes mais preeminentes que a minha ressaltar o nível absurdo da situação. Especificamente as palavras de Alexandre Lalas, crítico de vinho da Wine Report (clique aqui), e do Ciro Lilla, presidente da importadora Mistral (clique aqui) explicam de modo lúcido e claro o que está acontecendo e o que vai acontecer se a medida for aprovada.
É preciso mobilizar massas e sensibilizar a opinião publicas para que o mercado do vinho brasileiro não volte ao estado pré-histórico, onde quem perde é o vinho de qualidade, os pequenos produtores, e, sobretudo, o consumidor.

terça-feira, 20 de março de 2012

COMO RECONHECER OS VINHOS FALSOS (e como falsificar)


O garotão se chama Angeleno Rudy Kurniawan, 35 anos, chinês-indonésio emigrado para Califórnia, considerado um dos maiores colecionadores de vinhos da Borgonha. E também um dos maiores fraudador do mundo do vinho.
O sujeito já tinha sido pego vendendo vinhos de safras nunca produzidas (por exemplo, um Domaine Ponsot 1929, sendo que a vinícola começou a engarrafar em 1934, e outros casos similares) até ser definitivamente preso e levado para cadeia na semana passada.

Esta matéria publicada pelo Business Week fala sobre isto e, sobretudo, sobre os truques mais na moda para falsificar garrafas de prestígio; achei bem interessante e resolvi fazer uma tradução sumária para vocês.
Enjoy.

"Na semana passada o FBI prendeu um milionário de 35 anos, comerciante de vinho suspeito de tentar vender US $ 1,3 milhões em vinhos falsificados. Este caso notável é apenas o mais recente exemplo de um tipo de fraude que se espalhou para todos os cantos do mundo do vinho nas últimas décadas, a partir da expansão do mercado chinês até o circuito de leilões internacionais.

Tendo em conta os preços que os colecionadores estão dispostos a pagar para garrafas de faixa alta – por exemplo, garrafas de grand crus franceses da safra 1982 com valores entre US $ 2.000 e $ 5.000 dependendo da confiabilidade da fonte – a comercialização de vinho falsificado pode ser um negócio muito rentável. Fraudadores aspirantes precisam apenas de um pouco de know-how e algumas centenas de dólares de custos de arranque. Segue um resumo sobre algumas de suas técnicas.

Escolha o tipo de vinho alvo:
As safras mais antigas são mais fáceis de falsificar. Costumam permanecer fechadas nas adegas como itens de colecionadores. E até mesmo estando bêbados, os conhecedores entendem que o vinho dentro da garrafa pode ter mudado ao longo do tempo; chega um certo ponto em que o gosto não é indicador confiável de autenticidade.

Os métodos:

1) Re-rotulagem: os mais simples e possivelmente mais cruel modo para falsificar vinho é botar o rótulo de um vinho prestigiado em um outro vinho com a garrafa similar (formas de garrafa tendem a variar por região – confira aqui - Ndt). Para enganar os conhecedores, que iriam perceber logo provado o líquido fraudulento, os falsificadores mais diligentes vão usar uma garrafa do mesmo vinho, mas de uma safra menos aclamada.

Requisitos: garrafa nova; rótulo original. 
Prós: relativamente simples e barato. 
Contras: Uma olhada para a rolha, que leva na cortiça nome e safra do vinho, e a festa acabou.


2) Reciclagem: Este método requer o uso de garrafas autênticas, devidamente rotuladas, e safras de grande valor, preenchidas com vinho de qualidade inferior, se não com porcaria mesmo. O fato que garrafas vazias do Chateau Lafite-Rothschild 1982 possa valer 1,500 dólares no mercado negro pode ser uma evidência da popularidade deste método. Tampar novamente as garrafas, de preferência com rolhas originais, requer um equipamento especial. A cápsula deve então ser enfiada sobre o topo da rolha. Cápsulas de vinhos de qualidade são feitas de alumínio ao invés de plástico, o que torna mais fácil extraí-las de uma garrafa e colocá-las sobre uma outra.

Requisitos: garrafa original; rolha original; vinho substituto; maquina para engarrafar.
Prós: pouca evidência de adulteração; evita as contramedidas (como micro-incisões e marcas ultravioletas) que os fabricantes começaram a colocar em suas garrafas no final dos anos 80 para combater a falsificação.
Contras: A prova está no próprio vinho, e um substituto convincente pode ser caro.


3) Fraude inversa: um método raro, mas audacioso. Franck Bourrières de Prooftag, uma empresa que fornece sistemas de autenticação tecnologicamente avançadas para vinícolas, uma vez me contou sobre um caso recente em que um comprador comprou uma garrafa de um vinho autêntico através de um notório vendedor on-line. Com o vinho entregue, o comprador pediu para a venda ser cancelada, pois ele tinha razão para acreditar que a garrafa fosse falsa. O comprador então enviou uma garrafa falsa de volta para o vendedor, mantendo pra ele a garrafa autêntica.

Requisitos: Custo da garrafa original (será recuperado quando a garrafa é devolvida); garrafa falsificada (veja acima). 
Pros: Se o lance funcionar, o fraudador cobriu com sucesso seus rastros.
Contras: a técnica não facilmente adaptável para larga escala.

Toque mágico:
Uma vez que o sucesso do engano depende inteiramente da qualidade do vinho substituto, os falsificadores às vezes tomam medidas adicionais para tornar o sabor do próprio liquido o mais semelhante possível ao original. Isso requer um know-how incomum e pode ser bem caro. De acordo com um artigo publicado no volume de 2006 do World Forensic Science, a adição de uma pitada de Pomerol a um Château Petrus del 1960, por exemplo, pode fazer que pareça com o mais desejável Petrus 1961. Os fraudadores podem também adicionar açúcar ou água se for necessário para aproximar o sabor, mas estes métodos são de pouca utilidade para um falsificador sem um paladar educado."

segunda-feira, 19 de março de 2012

Robert Parker indica o seu sucessor!


Lembra o que comentamos aqui, sobre um provável abandono do Robert Parker e os rumores insistentes que apontavam o Antonio Galloni como eventual sucessor na direção da Wine Advocate? Bem, esquece tudo. O próprio Parker, em uma entrevista ao blog da Liv-ex afirma que não entende largar o osso a poltrona para os próximos cinco anos e que o eventual herdeiro designado para o trono seria talvez o inglês Neal Martin, um dos seus mais jovens colaboradores. “Eu ainda não garanti a vaga para ele, mas vejo que ele tem talento e melhora a cada dia. Digamos, por agora, está claramente entre os meus favoritos”, afirmou o Robertinho, desmentindo de uma vez os comentários que queriam o Galloni como próximo dono da Wine Advocate e ele mesmo muito próximo a aposentadoria. De qualquer forma ele admite que as coisas (e as pessoas) podem mudar até lá e também cita o Galloni e a Lisa Perrotti-Brown como destaques do time e como eventuais sucessores.
Mais cinco anos. Haja resistência...


Vinho ao chocolate é o que faltava


A Páscoa se aproxima, e ao invés de quebrar a cabeça para as possíveis harmonizações vinho-chocolate, temos aqui a solução definitiva ao problema: um vinho ao sabor de chocolate.
O Chocolate Shop faz sucesso e a alegria do povo lá fora: produzido na Califórnia a partir de um corte bordales, é um tinto enriquecido com adição de chocolate natural e açúcar.
Em 2011 os americanos beberam 1.2 milhoes de garrafas, já para o 2012 é prevista uma venda de 50mil caixas só no Reino Unido.
A Espanha está pensando na Tempranillo como casta para achocolatar, já a Austrália vai tentar com a Shiraz.
E depois a gente reclama dos vinhos de mesa produzidos por aqui...



quinta-feira, 15 de março de 2012

Lição para as vinícolas: GENIAL!


Este é um vídeo que recomendo a todos, particularmente aos especialistas de marketing e mais ainda aos produtores brasileiros: ao invés de pensar em como duplicar os impostos dos vinhos importados e combater a concorrência de modo desleal, concentre-se no seu próprio produto e faça uma sana divulgação.
Este clipe realizado pela vinícola californiana Gundlach-Bundschu é um sucesso na web e um exemplo de ótima comunicação com custo zero: os atores são os próprios donos da vinícola (os irmãos Bundschu) e conta de forma divertida e ao mesmo tempo instrutiva a história do Merlot. Simplesmente genial.
Podemos criticar os americanos sob vários aspectos, ma em alguns quesitos são indiscutivelmente mestres: podemos somente aplaudir e tentar aprender deles. 

P.S.Para quem perdeu, sugiro dar uma lida nas 9 coisas para saber sobre merlot antes de assistir ao vídeo) 


quarta-feira, 14 de março de 2012

Nome difícil, vinho fácil de gostar


Pera aí, para escrever o nome deste vinho é preciso me concentrar: 
Fritz Haag Brauneberger-Juffer Riesling Kabinett Trocken 2007.
Para comodidade o chamaremos de “joão”.
Fritz Haag é um dos produtores tops da Alemanha, precisamente da região do rio Mosel; produz exclusivamente vinhos brancos, todos com a casta Riesling.
A denominaçao “kabinett” indica os vinhos frescos e aromáticos, já “trocken” indica que trata-se de vinho seco (pois na região são bastante comuns brancos doces).
Este “joão” é um bom exemplar da casta, bastante delicado nos aromas (sem querosene!) e no paladar.
Delicado, mas complexo: maça verde, mel, limão no nariz; já na boca é um vinho mineral e fresco (boa acidez equilibrada pelo álcool de 12%), e com um final levemente cremoso.
Perfeito nestes dias de calor e ideal para acompanhar aperitivos e petiscos.

Voto gringo: 7 ½
 

Vinho: Brauneberger-Juffer Riesling Kabinett Trocken
Safra: 2007
Produtor: Fritz Haag
País: Fritz Haag
Região: Mosel
Uvas: 100% Riesling
Teor Alcoólico: 12%
Importadora: Grand Cru
Custo médio: R$ 94
Notas: WS92

terça-feira, 13 de março de 2012

Vem aí o evento de vinhos tops da Itália!


Neste mês o Brasil está sendo invadido por vinhos de Bordeaux: grandes eventos e grandes degustações aconteceram e vão acontecer nestes dias. Já no mês que vem chegam os italianos! 
A Gambero Rosso, mais influente publicação de vinhos do (meu) País da bota, continuando seu trabalho no desenvolvimento e promoção dos vinhos italianos mais importantes do mundo e de produtos gastronômicos de qualidade, decidiu organizar uma quinta edição do Top Italian Wines Roadshow, para acompanhar um seleto grupo de produtores nos principais mercados internacionais.
O evento nasceu em 2007 com o objetivo de contar as grandes mudanças que ocorreram na Itália nos últimos 20 anos no setor do vinho e já passou em várias cidades ao redor do mundo, como Berlim, Paris, Bruxelas, Londres, Moscou, Varsóvia, Zurique, Copenhague, Estocolmo, Praga e Oslo. Nesta nova edição (evidenciando como os mercados mudam) as prioridades são Ásia e América do Sul, esta última representada finalmente pelo Brasil (veja release oficial em baixo)
Ao evento participam cerca de 50 empresas tops do setor eno-gastronômico (reparem os nomes!) e é destinado tanto a profissionais quanto ao consumidor final.

Próximas etapas:

SÃO PAULO
23 april, 2012
Hotel Unique

RIO DE JANEIRO
27 april, 2012
Sheraton Rio Hotel & Resort



domingo, 11 de março de 2012

É esta a garrafa do futuro?


Nos últimos 200 anos a evolução da garrafa não fez praticamente nenhum progresso, e, a parte alguns esporádicos e excêntricos casos, continuamos hoje usando basicamente os mesmos tipos de garrafa que usavam os nossos bisavôs.
Mas com a aceleração dos ritmos de vida e sempre menos tempo à disposição, parece que antes ou depois iremos aposentar mesmo o nosso decanter em favor de uma garrafa mais “inteligente”. Objetivamente, hoje em dia, muitas pessoas não têm muito tempo (nem saco!) para deixar um vinho decantando horas, problema ainda mais acentuado aqui no Brasil, onde, com as nossas temperaturas, deixar o vinho por muito tempo no decanter vai resolver um problema e criar outro (um vinho decantado mas quente).
vimos aqui  uma garrafa que desenvolve a função do decanter relativa ao depósito de borras (mas que não cuidava da parte da oxigenação). Agora foi inventada a garrafa que oxigena (mas não cuida dos depósitos...nunca se pode ter tudo, né?).

Esta garrafa auto-oxigenante tem duas superfícies, onde a interna possui pequenos furos que permitem a oxigenação diretamente na hora do serviço. Não sei se funciona, por enquanto foi registrada somente a patente nos EUA e ainda não entrou em produção. Mas se realmente funcionar, pode ser uma inovação bem interessante e aí deveremos realmente começar a pensar em usos alternativos dos nossos decanter, transformando-os em vasos para plantas, luminárias de mesa ou mini-aquários.

quinta-feira, 8 de março de 2012

15 rótulos divertidos!


Recentemente vimos uns rótulos horrorosos e assustadores, hoje vamos descobrir alguns mais divertidos, seja pelo nome ou pela gráfica.

1) Fat Bastard: já definido um “fenômeno de marketing” pelo Business Week o Fat Bastard é um projeto franco-inglês e um sucesso de vendas nos EUA



2)  Le Vin de Merde: nem precisa de tradução. O produtor francês, cansado das baixas notas dadas pela críitica internacional aos vinhos de Languedoc-Roussillon, decidiu colocar este nome só de raiva.



3) Bitch: a palavra “bitch” é repetida 77 vezes no contra-rótulo, terminando com “algo mais”. Um p#ta vinho



4) Chat-en-Oeuf: brilhante jogo de palavras em francês. Querendo lembrar o mais famoso Châteauneuf, aqui significa “gato no ovo”



5) Honeymoon: Um vinho para a lua de mel. Se não encontrar mel nos aromas, vai ter bastante na embalagem


6)  Ooops: o nome vem do fato que a vinícola esqueceu de colocar a casta da uva no rótulo de algumas safras anteriores



7) Boarding Pass: shiraz australiano com rótulo muito criativo, reproduzindo um cartão de embarque de avião. Perfeito para quem gosta de viajar



8) Arrogant Frog: aqui temos um sapo arrogante (e eno-chato) 



9) Frog’s piss: e aqui o xixi de sapo



10)  Cat’s pee on a gooseberry bush: e falando em xixi, não podia faltar um dos aromas típicos de uns sauvignon blancs: xixi de gato (em um arbusto de groselha)



11)  Elephant on a tightrope, o elefante na corda bamba (coitada da corda!)



12)   Mad Housewife: as donas de casas não são somente desesperadas, mas também loucas



13)  Mr Noir e Mrs Grigio: pinot noir e pinot grigio para os amantes do gênero detetive / investigativo



14)  Bath Wines: o verdadeiro vinho para tomar na piscina



15)  Fechamos com o meu favorito: Neil Ashmead GTS. Onde GTS significa Grand Tourer Shiraz. O desenho da cápsula é simplesmente fantástico. Impossível resistir