sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A faixa de Gaza do vinho

Israel e Palestina. Eles precisam de um acordo, um meio termo significante que agrade as duas partes, não é? 
Então vamos fazer um paralelo com a guerra entre as posições opostas do mundo do vinho.
De um lado a ciência oficial: precisão enológica, garantia de resultado previsível, nenhuma aproximação livre de suporte numérico. E muitos belos produtinhos que fazem a felicidade da indústria.
De outro, a abordagem natural: condução dos vinhedos pouco invasiva, olho na vitalidade dos solos, práticas ancestrais ideológicas, textos sagrados de gurus que nunca vinificaram, procura da espontaneidade expressiva (what?), mão leve e desprezo profundo para quem torna o vinho uma receita. 
Pessoalmente me sinto longe dos dois lados em igual medida. Seja do vinho técnico, de confecção, vinhedo protegido quimicamente+leveduras selecionadas+enzimas+taninos adicionados+aromas artificiais, etc; seja do vinho imperfeito, que justifica os defeitos para esconder inabilidade e aproximação.  

Para quem quiser clarear as idéias talvez ajude o Natural European Wines, conferência que acontece nos próximos 14 e 15 de Novembro em Zurich, na Suíça.
Conduzido pela Master of Wine Isabelle Legeron, expert em vinhos naturais.
Entre os convidados, Claude e Lydia Bourguignon, que a partir da Borgonha rodam o mundo enológico analisando a microbiologia dos solos (até no Iraque!), o enólogo  Federico Giotto, consultor italiano especializado em fermentações espontâneas, o diretor de cinema/sommelier novaiorquino/carioca Jonathan Nossiter (autor de “Mondovino”) e Terje Meling, chefe do monopólio de importação de vinhos na Noruega, um dos maiores mercados para o vinho natural.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O grande teste do Mondovinho: descubra quanto você é enochato

Os enochatos são...chatos, justamente. Tornam tudo mais pesado, mais ainda no mundo do vinho que é já chato em si. Mais que aceitar um convite para um jantar com um deles, prefiro ir sozinho ao McDonald’s, me destruindo com Coca-Cola e hambúrguer. Para me defender de suas garras, com o tempo, desenvolvi um pequeno teste anti-enochato. Sugiro que o faça, caro leitor, e se você se reconhecer em pelo menos 5 pontos, ganhará a admiração da comunidade. Por favor, não agradeça.

1) Você não fala “um agradável retrogosto amendoaaado”
Você consegue degustar um vinho sem declarar de sentir uma nota de amêndoa no final. E quando isso é mesmo inevitável, se concentra pelo menos para não pronunciá-lo com ênfase na segunda “a”.

2) Você não compra somente Ornellaia/Almaviva/Achaval Ferrer/Lafite e tops do gênero
Você não tem o seu agiota de confiança. Isso porque encontra boas garrafas de ótima relação qualidade/preço (Bolso Esperto, para quem não conhece) até no mercadão, onde você tem um único objetivo. O microfone anunciará: “Se perdeu uma criança de 52 anos, convidamos a gentil clientela a entregá-lo aos seguranças na entrada do mercado onde a esposa o espera impacientemente”. Será encontrado sempre na seção do vinho, enquanto está lendo detalhadamente rótulo por rótulo.

3) Mas também não compra somente os vinhos da vinícola Seilá da denominação de origem Aondeéestelugar
Você não precisa do inspetor Kojac para encontrar bons vinhos.

4) Consegue não dizer “biodinâmico” para dois jantares consecutivos
Pode falar de vinho com os amigos sem ter que contar necessariamente a história do estrume dentro do chifre de vaca enterrado no outono e desenterrado na primavera. Além da enochatice, sugiro não falar de estrume na mesa. Nunca.

5) No restaurante pede Sauvignon Blanc com a entradinha de verduras e Chianti com a carne
Você evita comer picanha com um Riesling e geralmente se limita a escolher tintos com carne e brancos com peixe. É tão simples, por que vai querer complicar as coisas?

6) Não faz redemoinho com a sua taça por meia hora antes de beber
Você bebe o seu vinho pouco depois que foi servido, evitando montar a clara que nem tiramisù.

7) Não pede o decanter até para o Reservado
Você sabe que alguns vinhos, não que sejam reticentes, simplesmente têm pouco a dizer. Então, não os torture agitando-os por horas tentando que “confessem” a qualquer custo.

8) No Natal não me conta a história que em 1990 por um mero acaso bebeu um Romanée Conti e que não pareceu nada de especial.
Você só espera que um dia esse milagre aconteça. E já sabe que será uma emoção incrível, que nem uma aparição da Nossa Senhora.

9) De vez em quando experimenta um bag-in-box.
Sim, você faz isso e sem sentir a menor vergonha. E até acha agradável um ou outro.

10) Todas as manhãs lê o MondoVinho.
Ainda antes que o seu cérebro de manhã consiga fazer 2+2, já tem a página aberta do mais irreverente blog de vinhos do Brasil diante dos olhos. Sua casa não tem espaço para Wine Spectator e Decanter, e, se tiver, é perto da privada. Estas revistas te ajudam que nem ameixas.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Vinho alonga a vida. Aliás, não.

Mais uma desmentida. Vocês tinham lido que vinho tinto faz bem ao coração e a circulação; que protege o cérebro de acidentes vasculares; que previne o Mal de Alzheimer; que alonga a vida e ajuda a se manter jovens; tinham lido sobre mais dezenas de efeitos milagrosos do resveratrol (composto encontrado nas cascas e sementes das uvas tintas).
Nada disso!
Uma nova pesquisa inglesa, recentemente publicada na revista científica Nature, deu um passo atrás e revelou que tudo isso é engano.
Nada para ficar surpresos. Assim como não é para ficar surpresos se amanhã chegasse uma nova desmentida da desmentida: sabemos que a ciência muda de idéia a cada minuto, e estamos acostumados a mudanças de direção.
Enfim, como se isso mudasse alguma coisa para nós. Como se a gente bebesse vinho por motivos de saúde...
A gente bebe vinho porque é bom. Punto e basta.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A Toscana americanizada (e um Brunello gay)

Recentemente participei de uma degustação da renomada vinícola italiana Castello Banfi.
Prefácio: falar desta empresa para os italianos entendidos de vinho é que nem falar de Maradona pro Pelé...Acontece que a vinícola é fundada e gerenciada por americanos, que deram outra cara aos vinhos da Toscana. Se por um lado eles têm o mérito de ter dado fama aos vinhos da região, sendo os primeiros a produzir vinhos com uma cara mais “internacional” (para não dizer “novomundista”), os tradicionalistas os odeiam por eles terem começado esta tendência de vinhos italianos cada vez menos típicos e mais fáceis de beber até para quem não gosta de vinho.

A família ítalo-americana Mariani, dona desde a década de 20 de vinhedos na Califórnia e de uma importadora de vinhos italianos em Nova York, foi em 1978 que realizou o sonho de adquirir uma propriedade com vinhedos na Toscana, mais precisamente na área de Montalcino, o Castelo de Banfi. Em breve se tornou, graças também ao marketing (onde os americanos são mestres), uma das mais famosas vinícolas da Itália.

Mas vamos à degustação: provamos 5 vinhos (um branco e 4 tintos).

Centine Bianco IGT 2009: um corte de Sauvignon Blanc, Chardonnay e Pinot Grigio, com parcial maturação em madeira. Notas de fruta cítrica e pêssego, tem boa complexidade e acidez. Um belo branco, mas não chegou a empolgar. Preço médio R$65.


Centine Rosso IGT 2007: um bom supertoscaninho, corte de Sangiovese, Cabernet Sauvignon e Merlot, também com parcial passagem em barricas de carvalho. É um vinho que impressiona pelo paladar volumoso, frutado e aveludado, muito moderno, com mais cara de Napa Valley que da Toscana. De qualquer forma um belo tinto, com boa fruta silvestre, baunilha e notas tostadas, mas senti falta de acidez. Preço médio R$65.

Chianti Classico DOCG 2008: 90% Sangiovese e 10% Canaiolo. Leve, com boa acidez, muito gastronômico, curinga para qualquer prato (do peixe leve até uma carne gordurosa). Taninos muito delicados que acabaram com a tipicidade do Chianti (notório por seus taninos um tanto “rústicos”). Preço médio R$80.


Rosso di Montalcino DOC 2008: os vinhos desta denominação são considerados como os primos pobres do Brunello, como vimos aqui, por usar a mesma casta e proceder dos mesmos vinhedos do primo nobre. Este exemplar é um 100% Sangiovese Grosso, maturado por um ano em carvalho (metade em barricas pequenas e metade em grandes tonéis). Bom corpo, notas florais e terrosas e muito equilíbrio. Preço médio: R$110.


Brunello di Montalcino DOCG 2007: a denominação de origem mais famosa da região (e talvez da Itália inteira), um dos vinhos mais celebrados do mundo. 100% Sangiovese, passa dois anos em carvalho, mais um em garrafa antes da comercialização. Mas esta interpretação do Banfi deixou, em minha opinião, a desejar. Poderia dizer que é a versão gay do Brunello. Faltou corpo, textura, tanino e complexidade. Enfim, é um bom vinho, bastante elegante e equilibrado, mas não é um Brunello... Preço médio: R$240.


Resumindo, como vimos, o Castello Banfi faz uma interpretação diferenciada dos vinhos da Toscana e a minha pergunta é: então por que comprar vinhos da Toscana sem a tipicidade da Toscana? Por isso entre os rótulos degustados eu indicaria o Centine Rosso, que já nasce como vinho atípico com uvas internacionais e ainda tem uma boa relação custo/beneficio.

sábado, 24 de setembro de 2011

Vai um bolinho de vinho?

Vocês conhecem o cupcake? Nada mais que um bolinho doce, estilo muffin. 
Hoje vou apresentar a vocês a versão para enófilos. A coisa legal, que vai convencer até os mais céticos, é que para a realização pode ser utilizado qualquer tipo de vinho e é preciso somente de uma taça. O resto da garrafa pode ser degustado no meio do preparo.

Segue a receita:


Massa
1 pacote de preparo de bolo tipo muffin
¾ de um copo de água
½ taça de vinho tinto
½ xicara de óleo de soja
3 ovos
1 copo de chips de chocolate meio amargo (opcional, mas recomendado)

Faça a massa de bolo conforme indicado na caixa, usando mistura de bolo, água, ½  taça de vinho, óleo e ovos, misturando com chips de chocolate.
Divida a massa igualmente nas forminhas de muffin (até a metade do copinho)

Assar 20-22 minutos no forno em temperatura média ou até que um palito espetado no centro saia limpo. Deixe resfriar na bandeja por 10 minutos e em seguida retire a bandeja e deixe resfriar para mais 30 minutos. 

Cobertura
6 xicaras de açúcar em pó
½ xícara de manteiga
½ xícara de chocolate amargo em pó
½ colher (chá) de sal
½ taça de vinho tinto

Em uma tigela grande, bata o açúcar em pó, manteiga, cacau e sal com meia xícara de vinho com batedeira em velocidade baixa até misturar bem. Se a cobertura ficar muito densa, adicione mais vinho até a cremosidade desejada. E bom apetite!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Beberemos vinho bom e barato? (Considerações mercadológicas)

A crise econômica mundial se apresenta com várias facetas, mas há quem já pense no futuro. Este artigo do Vancouver Sun é iluminante. 
Vamos rebobinar um pouco a fita. Até cinco anos atrás o objetivo de um produtor de vinho era educar o consumidor a beber bem e fazê-lo pagar pela qualidade. Com a crise vimos que a classe de bebedores “educados” do primeiro mundo frequentemente preferiu até não beber vinho que comprar rótulos ruinzinhos de promoção de supermercado. Resultado? Queda da demanda.
Há, no entanto, quem tirou as devidas conclusões, e hoje está trabalhando para melhorar a qualidade dos vinhos com preço médio / baixo.
Os produtores têm que entender que é preciso quebrar o axioma preço=qualidade, até perdendo margens de lucro, se for necessário. Deste jeito o investimento seria na fidelidade do consumidor, que deveria permanecer assim também quando o mercado voltar à normalidade.
O que vocês acham?

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Um belíssimo Bordeaux (e com preço honesto)

Denis Dubourdieu é um produtor tradicional e sua vinícola familiar produz vinhos de qualidade na margem esquerda do Gironde, especificamente Sauternes e Premières Côtes de Bordeaux. Mas é talvez na área de Grave que seus vinhedos se expressam ao máximo.

Este Château Haura leva no rótulo justamente a denominação de Grave A.O.C. e é um corte procedente de vinhedos de Cabernet Sauvignon e Merlot (conduzidos de maneira orgânica) que estagia 12 meses em barricas de carvalho.

Na taça toda a tipicidade de Bordeaux: fruta negra, alcaçuz, notas tostadas e defumadas. Terroso, mineral e levemente vegetal. Taninos um pouco austeros, mas finos, bela acidez e final de boca prolongado. Álcool civilizado: 12,5%

Um dos mais interessantes Bordeuax que bebi nos últimos tempos. Verdade, a safra 2005 que provei é considerada excepcional e sem dúvida contribuiu para a ótima qualidade, mas o Château Haura é certamente um dos melhores exemplares bordaleses em sua faixa de preço.

Voto gringo: 8 ½

Vinho: Château Haura
Safra: 2005
Produtor: Denis Dubourdieu
País: França
Região: Bordeaux (Grave)
Uvas: Cabernet Sauvignon (54%) e Merlot (46%)
Teor Alcoólico: 12,5%
Importadora: Casa Flora / Porto a Porto
Custo médio: R$ 95,00

domingo, 18 de setembro de 2011

As taças “caracteriais”

Para os interessados em design, eis o novo projeto italiano do grupo Gumdesign: taças “comunicativas”, cada uma com o próprio caráter.
Temos:

A introvertida: taça em combinação com a jarra/decanter de meio litro na qual se encaixa perfeitamente de cabeça para baixo.

A altruísta: a borda superior da taça vem com um bico, para compartilhar o vinho com alguém.

A ambígua: indecisa sobre a forma, move-se e deforma-se gerando um motivo decorativo diferente.

A conservadora: uma rolha de cortiça fecha a entrada de ar e permite a conservação até o dia seguinte.

Os apaixonados: duas taças inclinadas uma em direção a outra, que representam um casal já pronto para o brinde.

A relaxada: para agradar com calma o degustador, taça meio deitada, decanta o vinho e se estende até a boca.

Possíveis definições para este projeto: interessante? Criativo? Revolucionário? Bobagem? Eu fico com esta quarta, mas aguardo comentários convencendo-me que estou errado (e quero saber a favorita de vocês!).

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O mundo de acordo com o álcool

Mapear a Terra de acordo com o consumo de álcool poderia fazer bastante sentido. Pegar vinho, cerveja, vodka, saquê, tequila etc, como instrumentos para ler uma cultura. Estudar consumo e geografia de fermentados e destilados diz muito a respeito de nós, da nossa história e do nosso presente. Um desenhista americano se divertiu brincando sobre este conceito.

Imagem: Dustin Glick

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Bolso Esperto da Rioja

Quase sempre tenho uma garrafa deste vinho na minha adega, pois em minha opinião representa uma das melhores relações preço/qualidade em matéria de tinto riojano no mercado brasileiro.

A Unión de Viticultores Riojanos é uma das mais tradicionais vinícolas de umas das mais tradicionais regiões da Espanha (e do mundo): fundada em Rioja Alta em 1910 conserva ainda hoje caráter familiar com condução orgânica das vinhas: poda controlada, adubos naturais, nada de química e colheita manual. 

Este Don Román é o tinto mais básico é juntamente o mais representativo da vinícola, homenageando no nome o seu fundador Román Montaña.
Corte de Tempranillo com 10% de Graciano, tem um estágio de 3 meses em barrica americana e 9 meses em garrafa. Produção "moderada" e garrafas numeradas.

É um tinto muito agradável, moderno, mas que não perde as características tradicionais da Rioja. Boa fruta silvestre, flores e notas herbáceas. Textura macia, taninos redondos e ótima acidez.  

Paguei em uma promoção R$29.90 (bolso espertíssimo!), recomendei para uns amigos, que aprovaram plenamente e estou repassando a dica para vocês. Inclusive sei que um amigo blogueiro também aprova a escolha, não é Nivaldo?

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Consumidor de vinho é burro mesmo?!

falamos deste vídeo por aqui uns meses atrás: um vinho de 14 euros dando um banho em badalados rótulos de até 1.500 euros. Explica em poucos minutos o que sempre tento dizer, por exemplo, aqui: preço não é sinônimo de qualidade (veja também a coluna Bolso Esperto).
O vídeo deu a volta mundo e se tornou um cult e quando uns amigos chamaram novamente a minha atenção a respeito, falei para eles de mais um significante detalhe que mostra a outra face da história.



O significante detalhe, apesar deste ótimo resultado e da grande divulgação, é que o Chateau Reignac não vende. O consumidor quer mesmo é pagar caro para uma garrafa de vinho.

Vou aqui contar confidencialmente uma confissão que um produtor italiano, meu amigo, uma vez me fez. Não vou obviamente revelar o nome por questões éticas, mas o que conta é o fato e garanto que é verídico.
Este produtor elaborou uns anos atrás um vinho que ganhou altas notas pela crítica internacional, fato importante mais ainda pelo seu baixo custo (cerca de 12 euros), competindo em qualidade com vinhos 2-3 vezes mais caros. Mesmo assim o vinho não vendia. Então, como o produtor precisa também por o prato na mesa, ele resolveu fazer uma jogada esperta: no ano seguinte pegou o mesmo vinho, mudou nome e desenho no rótulo e o colocou no mercado por 30,00 euros. Resultado: o vinho se tornou um best-seller, vendendo sozinho mais que os outros rótulos juntos da vinícola.
Moral da história: desonesto o produtor ou burro o consumidor?
Vocês que julguem.

domingo, 11 de setembro de 2011

Time-laps: a maturação da uva em 1 minuto

Este belo vídeo, feito nos vinhedos da Jordan Winery em Sonoma Valley, Califórnia, mostra em cerca de 50 segundos o que os franceses chamam de vèraison: ou seja, o começo da maturação das uvas e as consequentes variações de cor. Muito bonito.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Horóscopo do vinho: Virgem

Se cerca de pessoas que confia e foge do barulho e dos holofotes. Enfrenta tudo com cuidado, atenção e precisão, deixando um pouco o entusiasmo do lado. Gosta de admirar a sua adega, com todas as garrafas alinhadas, ordenadas por regiões/uva. Degusta o vinho com concentração e o analisa até reconhecer o mínimo aroma.
O seu vinho: Teroldego

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Deixe a faca do lado: este vinho não é para cortar

Quando tomei este vinho me lembrei do amigo Claudio, que comentou que ainda não provou nenhum tinto português que tenha gostado de verdade.
Realmente o mercado brasileiro está lotado de vinhos portugueses de discutível qualidade, mas sabendo escolher, existem também boas propostas e com boa relação preço/qualidade.
Em geral indico os vinhos do Douro, por estar em outro patamar se comparados com os demais de outras regiões lusitanas. Mas, atenção! A qualidade internacional do Douro muito frequentemente se traduz em vinhos muito carnudos e adocicados. Vinhos que dá para cortar com a faca e com sabor de chocolate. Isto sobretudo com os tops de linha. Já, como recentemente estava conversando com o colega Rodrigo da Casa Flora, vale mais a pena pegar um Douro de linhas menores para encontrar mais equilíbrio e elegância (e até o bolso agradece).

Este Crasto Superior é a exemplificação de tudo isso.
A vinícola Quinta do Crasto simplesmente dispensa qualquer apresentação, sendo a mais importante do Douro e talvez do País.
Este corte (veja ficha abaixo) da denominação Douro Superior é uma linha intermediária e é uma excelente escolha por ter tudo que agrada, mas na medida certa e sem exageros: corpo (mas não mastigável), boa fruta (mas não o inteiro hortifruti), notas florais (mas não da floricultura), de chocolate, café, tostado (mas não da padaria do lado). Enfim um vinho bastante complexo, mas muito equilibrado. Madeira não invasiva (1 ano em barricas francesas), textura aveludada, taninos maduros e boa acidez fecham o quadro, com um final prolongado.

Paguei R$ 69,00 em uma promoção, mas costuma custar uns R$20 a mais.

Voto gringo: 8

Vinho: Crasto Superior
Safra: 2009
Produtor: Quinta do Crasto
País: Portugal
Região: Douro
Uvas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Sousão e Vinhas Velhas
Teor Alcoólico: 14.5%
Importadora: Qualimpor
Custo médio: R$ 90,00

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O enólogo é um maníaco sexual!

WARNING: esta matéria pode ferir a sensibilidade de alguns (contém violência e sexo). Então coloque as crianças na cama e prepare-se para o pior...

No post anterior introduzimos a figura do enólogo. Hoje vamos mais fundo. A verdade é que o enólogo pode ser uma figura bem controversa. Um depravado? Um pervertido? Um desviado? Tudo isso e ainda mais. Mas para questões de comodidade, a psiquiatria internacional divide os enólogos em 3 grandes grupos de maníacos sexuais. Então se você tem um vinhedo e está pensando em contratar um profissional do ramo é melhor conhecer antes as categorias de perversão que lhe esperam.

1) O Voyeur (ou do amor platônico): dependendo dele, a uva, uma vez percebida a maturação deveria sozinha chegar com seus ramos até a mais próxima trituradora. Para ele as leveduras são obrigatoriamente indígenas e se deixaria cortar um braço ao invés de forçar a fermentação com artifícios químicos. Esquecem filtração e sulfitos: qualquer intervenção humana é passível de condenação à morte. O máximo permitido é passear nos vinhedos (mas somente em datas e horários preestabelecidos).
Depois de uns anos de inatividade total e vida contemplativa, a pergunta é só uma: “mas eu estou pagando este cara aí pra que?”. É a ultima questão antes de pegar o fuzil a napalm e dar fogo a ele e aos insetos que povoam os seus vinhedos.

2) O Performático (ou do sexo sem amor): não vai ser difícil compará-lo a um pornô-ator, e se o seu vinho é destinado para a Grande Distribuição, chame-o com confiança: ele é do gênero “satisfeito ou reembolsado”. Trata as uvas com menosprezo e tá nem aí com as fases lunares: quando der vontade de colheita ele corre nos campos e começa a cópula. É graduado em “Enxofrologia Adicionada” com pós em “Tartárica” e é Grande Mestre dos Cavaleiros da fermentação.
Temos que admitir que o pequeno químico sabe o que faz, mas os seu vinhos são todos iguais, frígidos e sem paixão. Com um assim não vai ganhar sequer um prêmio, mas vai acabar de direito nas liquidações dos mercados de periferia.

3) O estuprador em série (ou do sexo sem limites): é a figura mais notória no mundo dos astros da enologia, melhor conhecido como a "A Força das Trevas". Muito semelhante ao flaing uainmeiquer já citado, vai reconhecê-lo pelo número de vinícolas (não menos de cem) que fazem uso de sua maldade. O Mal, como vamos chamá-lo de agora em diante, não dispensa nem um olhar para a videira, nem se for posicionada nos melhores Crus da Borgonha ou nas colinas de Montalcino. Pinot Noir e Sangiovese são para ele palavras vazias sem sentido, mas coloque debaixo de seu nariz um cacho de cabernet e vai ver logo aparecer uma isca de maldade nos olhos. O Mal se alimenta de uvas bordolesas e molesta as vítimas com todos os expedientes que a tecnologia moderna dispõe. Antes de cada estupro, cheira taninos e se injeta doses de sulfatos. Um dos seus instrumentos de torturas prediletos é a barrica americana, melhor se de primeiro uso, onde deixa macerar por anos suas vítimas inocentes. Uma vez livre de torturas, o coitado do vinho é irreconhecível, mas muito reconhecível para a imprensa especializada que não vê a hora de premiar tamanha crueldade.
O Mal, inútil dizer, cobra contas astronômicas, nas quais são incluídos todos os taninos, as barricas, as leveduras selecionadissimas que ele mesmo manda produzir por misteriosos servidores. Escolher um assim para guiar a própria vinícola significa passar para o lado obscuro da força, e uma vez dentro, não haverá nenhum Skywalker para te salvar.