quinta-feira, 31 de março de 2011

E se eu lhe dissesse que um vinho em tetrapack ganhou duas medalhas de ouro?

Pois é, meus nobres camaradas. A notícia é daquelas que nos deixam pensar e reavaliar os nossos hábitos, consumos e preconceitos em relação ao vinho (preconceitos que eu mesmo admito ter em quantidade). O Cabernet Sauvignon da californiana Calnaturale ganhou duas medalhas de ouro em duas competições enológicas. Ele é produzido em Paso Robles, região de bastante prestígio, e, detalhe, trata-se de vinho orgânico. Dupla atenção ao meio ambiente e às uvas.

Agora, como disse, eu sou bastante tradicionalista e dificilmente me verão beber vinho de uma caixa de papelão, mas tentando deixar de lado o preconceito: o vinho é ecológico, econômico e de qualidade.

Então a provocação do dia é: why not?

Afinal nós tradicionalistas acabamos aceitando o screw-cap (rosca de rolha), outros querem vinho em garrafa PET, por que não aceitar vinho em tetrapack?
Deixe a sua opinião.

P.S.  pelo que eu li, o Tetrapack, por quanto reciclável, parece menos reciclável do que o vidro, e o processo ser mais caro. Não tenho certeza sobre isso e peço a ajuda de vocês, meus leitores competentes.
De qualquer forma a provocação continua de pe.

terça-feira, 29 de março de 2011

O Supertoscano do “maluco”

A história do meu conterrâneo napolitano Giampaolo Motta já é notória no setor por seu jeito de andar contracorrente. Resumindo brevemente: vindo de uma rica família de indústria do couro com um futuro seguro e próspero no mundo do curtume, ele, pelo contrário, deixou a empresa familiar em Napoli para trabalhar como empregado em uma vinícola na Toscana. Isso porque durante os seus estudos fez um estágio na França, onde se apaixonou pelos vinhos de Bordeaux e ficou com aquilo na cabeça (e no paladar). Apesar das boas condições econômicas da família ele trabalhou na vinícola como camponês mesmo, ganhando apenas um salário básico e uma cama para dormir. Para família e amigos ele era simplesmente um maluco. Mas depois de vários anos de duro trabalho, ele através de um empréstimo no banco conseguiu adquirir a propriedade da Fattoria La Massa que estava sendo vendida bem abaixo do valor para falência.
Pois bem, aquele que era considerado um maluco hoje produz uns dos vinhos mais respeitados no mundo (com pontuações como 97 pontos pela Wine Spectator) e anda de Ferrari. Quem é o maluco agora?

O La Massa IGT é o vinho de entrada da vinícola, que produz somente 2 vinhos (o outro é o cultuado ícone Giorgio Primo) no coração do Chianti Clássico. É um blend de Sangiovese com Merlot e Cabernet Sauvignon que estagia 14 meses em carvalho francês e, diferentemente dos outros Supertoscaninhos da mesma faixa, é bem mais estruturado. Precisou de uma boa decantação para abrir aromas e sabores que no começo estavam bem fechados. E depois de uma hora começou a aflorar a "verdadeira verdade" deste vinho. Nariz intenso de cassis, ameixa e muito tostado, café, tabaco com notas de chocolate. Muito concentrado, com taninos elegantes e, mesmo sendo opulento mostrou uma generosa acidez.

Ganhou 90 e 91 pontos pela Wine Spectator e Robert Parker.

Outra curiosa característica dos vinhos do Motta é que, usando uvas não permitidas pela regulamentação do Chianti Clássico, ele não pode aplicar o selo do Galo Negro, símbolo do Chianti, então querendo zombar das regras ele coloca no contrarótulo das suas garrafas um desenho de um galo assado no espeto.
Cara excêntrico sem dúvida, mas certamente não maluco. 

Voto gringo: 7 ½  

Vinho: La Massa IGT Toscana
Safra: 2007
Produtor: Fattoria La Massa
País: Itália
Região: Toscana
Uvas: Sangiovese(70%), Merlot(20%), Cabernet Sauvignon(10%)
Teor Alcoólico: 13,5%
Importadora: World Wine
Custo médio: R$ 150,00

domingo, 27 de março de 2011

Os EUA recusam doações das vinícolas para o Japão. Why?

DOISMILEONZE e ainda há pessoas nos Estados Unidos que associam criminalidade e álcool, que nem estivéssemos em plena Chicago anos ’20. Eu entendo, my brothers, que centenas de filmes sobre o Al Capone deixaram rastros em seu DNA, mas recusar beneficência de vinícolas para as vitimas do terremoto no Japão isto é demais.

Na semana passada sete vinícolas do Idaho doaram os proventos das vendas do fim de semana (várias milhares de garrafas) para as vítimas do tsunami, mas a Cruz Vermelha local recusou o dinheiro, porque, por regulamento, não pode aceitar o dinheiro de produtores de álcool e armas de fogo. De repente me aparece diante dos olhos o Scarface com metralhadora em uma mão e o frasco na outra...
Já a abordagem da mais “liberal” Califórnia é diferente: a Cruz Vermelha ali colabora há anos com os produtores de Napa Valley para recolher fundos destinados a todo tipo de atividades.

Nos EUA existem 10 seções da Cruz Vermelha que se reportam a uma única direção em Washington e o responsável se declarou contrário a "parcerias que possam incentivar um maior consumo de álcool."

Eu não sei que conclusões tirar desta história, mas tenho a impressão que a América ainda tem algum conflito cultural a resolver. 
Em um país que inventou a expressão "guerra humanitária", ainda não há espaço para os traficantes de vinho.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Horóscopo do vinho: Áries

Franco, sincero, às vezes um pouco agressivo, nunca se poupa até conseguir aquilo que programou. Inimigo da diplomacia, alegre e brincalhão, amante das coisas simples e amigo leal.

Para o Áries, vinho é cultura e conhecimento, parceiro essencial na mesa e tesouro na adega. Ele gostaria de aprender mais e não vê a hora de experimentar a próxima taça. Não excede em quantidade mas sim em variedade.

O seu vinho: Champagne



quinta-feira, 24 de março de 2011

Uma barganha excepcional para seu Bolso Esperto

Depois de uma boa seqüência de vinhos top vamos voltar a uma dimensão mais “humana”, também porque existem muitos vinhos que, mesmo não tendo pedigree de autor, proporcionam igual prazer. É o caso, por exemplo, deste tinto espanhol Sabor Real Jovem 2008.

Ele foi lançado no Brasil juntamente com seu irmão maior “Sabor Real Viñas Centenárias” que também era (e sou) curioso de experimentar, mas na dúvida segui o conselho do amigo/colega Silveste Tavares do blog Vivendo a Vida e peguei o Jovem, que inclusive é mais barato, então bingo!

Bodegas Campiñas é uma vinícola bastante nova, fundada em 2005 por 20 agricultores da região de Toro que procuravam expressar o melhor que aquele terroir oferecia. E pelo visto estão conseguindo.

Vindo de videiras com mais de 70 anos de idade (vocês sabem que quanto mais velha a vinha, tanto mais concentrado o suco) este 100% Tempranillo proporciona nariz intenso (amoras, batom, lavanda e um café), na boca é carnudo e sedutor, bastante equilibrado (mas teria gostado de um pouquinho mais de acidez) e com discreto final.

De qualquer forma uma das melhores barganhas ever! Por R$35,00 um vinho que poderia tranquilamente custar o dobro sem que ninguém reclamasse. É para comprar em caixas. 
Aliás, vou comprar logo a minha antes que produtor e importador leiam isso e aumentem o preço...

[Importado pela Grand Cru]

terça-feira, 22 de março de 2011

Napa x Supertuscan x Ribera del Duero x 1 jantar

Recentemente fui convidado para um jantar na casa do amigo enófilo (e colecionador) Rodrigo, que é também um ótimo chef. Ele queria degustar uma garrafa, eu fiz questão de levar uma outra minha e afinal acabamos tomando até uma terceira que não estava programada!
A viagem enófila partiu dos Estados Unidos, passou pela Itália e acabou na Espanha!
Abrimos as danças com antipasto de beringelas com pimentão e um belíssimo exemplar de Napa Valley: um Cabernet Sauvignon 2006 da Sequoia Grove.
Não tenho traços desta vinícola no Brasil, mas é bastante conhecida nos EUA, onde goza de ótima reputação.
Este cabernet sauvignon (100%), maturado por 18 meses em carvalho, mostrou bastante complexidade e dos californianos que já provei com certeza está entre os que têm mais cara de Velho Mundo. Boa fruta, também algo vegetal e herbáceo, boa madeira e taninos finos (Wine Enthusiast 93 pontos)
Voto gringo: 8

Seguimos com um penne ao pomodoro, basilico e búfala (deliciosos, por sinal!) e atacamos o vinho que eu levei e que por enquanto estava decantando: Tua Rita Giusto di Notri 2001
Um Supertoscano de elite. A vinícola é entre as mais celebradas e premiadas da região e este exemplar que tomamos foi espetacular.
Corte clássico bordalês de Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc mostrou uma evolução, mas ainda uma boa fruta e foi somente melhorando ao longo do jantar. Aroma de amarena, sugeriu o Rodrigo, de couro, de grama cortada e de defumado. Muito sedoso na boca, com boa acidez e madeira (18 meses) perfeitamente casada com os taninos. Final longuíssimo. Um vinhaço.
Voto gringo: 9

E entre uma conversa e uma garfada, o vinho se foi antes do esperado, quando fomos repetir a dose de massa tivemos que abrir mais uma garrafa e o Rodrigo escolheu o Protos Reserva 2005


A Protos foi a primeira vinícola a se instalar na Ribera del Duero, região hoje cultuada. Este Reserva é um 100% de Tempranillo (ou Tinta del País como é chamado na região.) e matura por 18 meses em carvalho.
A rolha já estava quase totalmente infiltrada, mas felizmente o vinho não foi prejudicado. Achei muito bom, de boa complexidade e bastante equilibrado, mas não chegou a encantar, talvez (aliás, com certeza) porque foi “matado” pelo Giusto di Notri que tínhamos acabado de tomar. Acho que se bebido como primeiro ou segundo vinho da noite teria se destacado mais. De qualquer forma um belo tinto.
Voto gringo: 7 ½

Valeu Rodrigo, logo logo vamos repetir!

Notas de compra:
-O Sequoia Grove ainda não é importado no Brasil.
-O Giusto di Notri é importado pela Grand Cru e o da safra mais recente (e menor) de 2005 custa R$ 476,00. A da safra 2001 que degustamos é já considerada uma garrafa para colecionadores (97 pontos pelo Parker): se encontrar deve custar pelo menos o dobro! 
- O Protos Reserva 2005 é importado pela Península e custa cerca de R$250,00

domingo, 20 de março de 2011

Embalagem original e low-cost


Quer dar de presente uma garrafa com um packaging original a custo zero? Você está no lugar certo (e no momento certo!).
Pessoalmente não tenho muita criatividade com embalagens, pacotinhos e envelopes. Mas esta é uma boa sacada para quem usa jornais e revistas somente para empacotar peixe.
Se não tiverem apaixonados por cinematografia tipo Jean-Luc Godard podem pular o primeiro minuto de cinema experimental e chegar ao que interessa.
Aquela usada no vídeo é uma garrafa de cerveja, mas o resultado não muda para vinhos. E dependendo do papel usado podem agradar e muito o presenteado.
Eu, por exemplo, não ficaria nem um pouco triste em ganhar um Barbaresco de Gaja embalado nas páginas da Playboy.
A dica "desinteressada" está dada.

sábado, 19 de março de 2011

Pensamento dramatúrgico


"O bom vinho é um camarada bondoso e de confiança,
quando tomado com sabedoria." 
William Shakespeare

quinta-feira, 17 de março de 2011

Os top 10 do ano no mundo

Nestes dias o blog The Gray Market Report publicou uns dados interessantes de um estudo da Vinexpo (a grande feira do vinho francês) com o ranking dos maiores Países produtores e consumidores de vinho do mundo. Uns nomes são os de sempre, mas tem várias surpresas. Confiram:

Top 10 dos maiores produtores de vinho fino:
Na briga pela liderança a França superou de novo a Itália, mas com uma pequena margem. Surpresa: a China faz melhor que Chile e África do Sul e fica logo atrás da Austrália.
A lista: França, Itália, Espanha, Estados Unidos, Argentina, Austrália, China, Chile, África do Sul, Alemanha.

Top 10 de maior consumo de vinhos tranqüilos (sem borbulhas)
Itália em primeiro e França no terceiro lugar, atrás dos Estados Unidos. Você teria apostado nisso?
A lista: Itália, Estados Unidos, França, Alemanha, Reino Unido, Argentina, China, Espanha, Rússia, Romênia (!)

Top 10 de maior consumo de vinhos espumantes (com borbulhas)
A Alemanha lidera e a China por enquanto está fora, mas vamos dar um tempinho para os chineses associarem borbulhas com luxo e aí veremos a virada.
A lista: Alemanha, França, Rússia, Estados Unidos, Itália, Reino Unido, Espanha, Austrália, Ucrânia, Polônia (quem diria!)

Top 10 dos maiores exportadores
Itália em primeiro, mas em volume; já a França ganha em valores. Quer dizer que a Itália tem maior relação de custo/benefício do que a França? Pode ser, mas a verdade é que os franceses sabem vender melhor os próprios produtos de faixa alta.
A lista (em valores): França, Itália, Austrália, Espanha, Chile, Estados Unidos, Alemanha, Argentina, Portugal.

Top 10 dos maiores exportadores nos EUA
É o mercado mais cobiçado, inútil dizer. A Itália aqui lidera fortemente, mas reparem no Chile e Argentina no top5!
A lista: Itália, Austrália, França, Chile, Argentina, Espanha, Alemanha, Nova Zelândia, África do Sul, Portugal.

Depois todas estas estatísticas a pergunta é: quanto custa mediamente uma garrafa de vinho no mundo? Triste, mas 71,4% dos vinhos consumidos worldwide custa menos de U$5,00. 21% entre 5 e 10 dólares e somente 7,6% supera os 10U$ a garrafa.
Isso, como eu disse, é o que acontece no mundo. Como estamos em outra galáxia, aqui no planeta Brasil praticamente todas as garrafas de vinho custam mais de U$10,00. Mas com um detalhe: o de 10 dólares aqui é o mesmo vinho que custa centavos lá fora.

terça-feira, 15 de março de 2011

Ícone chileno Carmín de Peumo: excelente, mas...

Na passada semana de Carnaval, não viajei nem cai na folia. O programa foi: casa, família e amigos. Em compensação me concedi uns grandes vinhos. Entre eles, um dos mais importantes rótulos da América Latina e, provavelmente o melhor carménère do mundo: Carmín de Peumo 2007.

O ícone da Concha Y Toro foi trazido diretamente da vinícola pelo casal de amigos Marcus e Raquel, com os quais compartilhamos a garrafa.
Da safra de 2007 considerada a melhor de sempre nos vinhedos da Concha Y Toro e procedente do melhor vinhedo para carménère (o de Peumo, no Vale de Cachapoal) leva no blend também pequenas parcelas de Cabernet Sauvignon (6,5%) e de Cabernet Franc (2,5%). Estagia por 18 meses em barricas de carvalho novo.

Achava que ainda não estivesse pronto, pois é relativamente “novinho” para um vinho de tamanha estrutura, mas evidentemente o limite dos vinhos latino-americanos de não serem idôneos a envelhecer muito, se tornou uma vantagem neste caso, pois depois de cerca de 2 horas de decantação achei o vinho “no ponto”.

Realmente um vinho espetacular. Os aromas iam mudando a cada gole: ameixa e flores no começo, depois apareceram um couro e um herbáceo, seguido por aromas animais e fechando com especiarias tipo cravo.
Na boca uma textura muito sedosa, e apesar do corpo grosso, é um vinho que me surpreendeu para se destacar mais em profundidade que em largura. Taninos muito maduros e finos, acidez levemente abaixo do conjunto (mas era de se esperar) e madeira bem integrada. Mesmo sendo um vinho potente (14% de álcool) mostrou boa elegância e um final prolongado.

Um grande vinho, mas em minha opinião não vale os R$ 700 cobrados aqui no Brasil (nem os U$200 na vinícola!), pois já tomei vinhos do mesmo nível custando metade que isso, mas, em si é certamente um belíssimo tinto que sabe agradar também os paladares mais exigentes.
Harmonizamos com Rigatoni com lingüiça toscana e molho de tomate (receita da minha mãe).

P.S. este vinho já levou 97 pontos pelo Parker, 95 pela Wine & Spirits, 94 pelo Descorchados e 92 pela Wine Spectator. Eu fico com a nota do Descorchados.

Voto gringo: 8 ½

Vinho: Carmín de Peumo
Safra: 2007
Produtor: Concha Y Toro
País: Chile
Região: Vale de Cachapoal
Uvas: Carménère (91%), Cabernet Sauvignon (6,5%) e Cabernet Franc (2,5%).
Teor Alcoólico: 14,7%
Importadora: VCT
Custo médio: R$ 700,00

sábado, 12 de março de 2011

A rainha da Argentina

Convidado pelo “Equipo de Wines of Argentina” a escrever uma matéria sobre Torrontés, não vou certamente deixar os hermanos chateados, inclusive porque já queria falar desta casta singular, pois gosto bastante.

A Torrontés é uma uva branca espanhola (da região da Galizia), mas, um pouco como aconteceu para a Malbec francesa, ela se tornou distintiva da Argentina e quase inexistente no país de origem. Aliás, a Argentina parece ser hoje o único país do mundo a produzir vinhos com esta casta.

Cultivada de norte a sul, é provavelmente na região de Salta que ela se expressa aos máximos níveis, mais especificamente na área de Cafayate, onde clima e terroir fazem um trabalho perfeito para a maturação desta uva tão aromática.
Mas podem experimentar sem medo torrontés de qualquer outra região (Mendoza, Catamarca, Rio Negro, La Rioja, San Juan) e tenho certeza que vai agradar.

Aliás, aqui no calor do Brasil este é um vinho que deveríamos tomar mais (sobretudo no verão!) ao invés dos encorpados e amadeirados chardonnays chilenos, pois o característico frescor dado pela boa acidez e o corpo delicado são ideais para o nosso clima quente (inclusive dá para ser servido um pouco mais gelado que os outros brancos).

A Torrontés é uma das uvas mais aromáticas do planeta, lembrando Viogner ou Moscatel (da qual é parente), entregando geralmente muita fruta no nariz, como pêssego, limão (frutos cítricos em geral), e também ervas frescas e flores do campo.

Recentemente tomei em um restaurante o Torrontés da famosa linha Crios da Domínio del Plata, vinícola da Susana Balbo, uma das enólogas mais respeitadas da Argentina (e do mundo!). Procedente justamente do Valle de Cafayate, na província de Salta, mostrou todas as características citadas e algo mais, como umas especiarias e grapefruit (toranja). Acompanhou belamente um leve filezinho de peixe grelhado.

De qualquer forma recomendo com frutos do mar e aperitivos em geral.
Um vinho ideal para festas. Como um champagne, mas sem borbulhas.



Japão: salvar primeiro as garrafas (e depois a vida)...


Um povo que durante o maior terremoto da sua história pensa em salvar as garrafas de vinho nas prateleiras merece todo o nosso carinho e admiração. 
Mas, na próxima vez, pense em fugir, por favor.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Passificação das uvas: 3 meses em 30 segundos




Reparem nas imagens deste belo vídeo, gravado com a técnica do time-laps: gravações longuíssimas visualizadas em tempo brevíssimo. Neste caso 3 meses em 30 segundos e voilà, as uvas estão passificadas.
Parabéns ao James Knott, que é o videomaker, mas o vídeo nos faz lembrar o trabalho dos vinhateiros que não possuem time-laps e tem que esperar com paciência meses para vinificar (e esperar mais ainda...). E se as coisas não vão como previsto tem que esperar o ano seguinte.

P.S. para quem quiser dar uma olhada nos bastidores, o autor explica a técnica aqui

terça-feira, 8 de março de 2011

Horóscopo do vinho: Peixes

Sensível até demais e preocupado com os outros, o do signo de Peixes procura fortes emoções. Meigo e sonhador vê tudo branco ou tudo preto. Capaz de se comover até as lágrimas na frente de um grande vinho, abre uma garrafa com o coração, nunca com a cabeça, porque o que importa é a lembrança do terroir e de todos os seus aromas.

O seu vinho: Barbaresco e Barolo

sexta-feira, 4 de março de 2011

Diga adeus ao seu decanter: chegou o sistema Martin Berasategui


Ou seja: a garrafa que decanta.
A idéia de servir o vinho decantando-o ao mesmo tempo é uma daquelas fáceis de vender, pois oferece a inestimável vantagem de poupar tempo, algo que os restaurantes, por exemplo, sempre tem curto.

Não é por acaso que a patente seja nascida justamente em um restaurante, o Galileo, na Galiza, juntando a cooperação do chef espanhol Martin Berasategui (3 estrelas Michelin), do qual o produto leva o nome, com mais 2 sócios (o Cristóbal Berzosa do restaurante Bodega Boecillo, e o chef meu conterrâneo Flavio Morganti).

Este sistema self-decanting é a prima garrafa tecnicamente estudada para segurar os depósitos no fundo, sem qualquer outra intervenção externa.
Esteticamente a garrafa apresenta uma dupla base comunicante. O espaço entre os dois fundos, criado pelo encolhimento da garrafa perto da base, mantém o depósito de vinho quando for colocar o conteúdo na taça.

As análises de laboratório mostram que o MBS é natural e eficaz, sem prejudicar a qualidade do vinho. Além de ser uma vantagem para o consumidor, que não vai precisar decantar mais, ajuda o trabalho dos sommeliers e dos enólogos também, que podem assim evitar de clarificar e filtrar demais até os vinhos jovens prontos para o mercado.

Parece que vários produtores espanhóis e bordaleses já adotaram o sistema Berasategui, até para azeites e licores.

A minha opinião é que além de ser um pouco feinha, a garrafa, se é verdade que resolve o problema dos depósitos, ainda não resolve o da areação.

De qualquer forma vamos esperar pra ver se for o caso de escrever um novo capítulo sobre a evolução da garrafa de vinho.





quinta-feira, 3 de março de 2011

Um Supertoscaninho o 10° melhor do mundo?

Este post é uma espécie de continuação do anterior, pois eu e o Claudio tomamos este vinho logo em seguida ao Nero d’Avola do Cusumano.

Vocês sabem que curto bastante os Supertoscanos, mas costumam ser caros, então, como o colega Peter do blog Alemdovinho afirma, "é nossa tarefa garimpar os que tem preço acessível".

Este Brancaia Tre é um deles, que entra na categoria por mim batizada de Supertoscaninhos, ou seja, supertoscanos mais simples: uns os chamam de mini-super (contradição em termos!), outros de baby-super, mas supertoscaninho me parece mais simpático.

Inclusive desta vinícola já tomei o top de linha Il BLU, verdadeiro ícone Supertoscano, que é fantástico, por sinal (leia minha avaliação aqui).

Fundada no coração do Chianti Clássico (mas com umas propriedades em Maremma também) por um casal suiço (Widmer) começou justamente a produzir chiantis em 1982, mas foi somente com os Supertoscanos que conseguiu a fama na década de 90.

Este Tre já ficou no 10° lugar na cobiçada Top100 list da Wine Spectator de 2009 com 93 pontos.
Obviamente não é o 10° melhor vinho do mundo (e nem chega perto, mas conhecemos a revista, né...dizer o que!), mas é um rótulo certamente interessante, considerando também o preço.

O nome Tre vem das 3 uvas (vindo de 3 propriedades diferentes) usadas no corte de Sangiovese, Merlot e Cabernet Sauvignon, que estagia 12 meses em carvalho e mais 2 em garrafa.

O vinho tem boa complexidade aromática e gustativa: baunilha, cassis, um tostado e um toque de chocolate. Uma bela textura, corpo médio/grosso, taninos muito finos e um bom final. Tendo que encontrar um defeito achei a madeira levemente em excesso e em geral um pouco demais com cara de Novo Mundo (Wine Spectator, I’m here!).

De qualquer forma é um rótulo interessante, sobretudo pelo preço: custa R$80 mais com a atual promoção, por R$68,00 vale certamente a pena.

Enfim, nesta tarde de Sicília X Toscana, obviamente são vinhos diferentes que não podem ser comparados, mas querendo levar a brincadeira até o fim eu diria que acaba em empate técnico: pois a primeira ganha em tipicidade e a segunda em complexidade.

Voto gringo: 7

Vinho: Tre
Safra: 2008
Produtor: Brancaia
País: Itália 
Região: Toscana
Uvas: Sangiovese, Merlot e Cabernet Sauvignon
Teor Alcoólico: 13,5%
Importadora: Grand Cru
Custo médio: R$ 80,00

quarta-feira, 2 de março de 2011

Um vinho da Sicília muito prazeroso

Tomei este vinho na Expand de Ipanema em uma “reunião” com o amigo/colega Claudio: ele estava cansado de vinho de Novo Mundo e foi direto para Itália. Não precisou dizer duas vezes, obviamente.
Escolheu este interessantíssimo siciliano: Nero d’Avola Cusumano (e em seguida tomamos o Tre de Brancaia, do qual falarei a seguir).

A vinícola Cusumano é referência  para vinhos da Sicília, exporta os seus vinhos praticamente no mundo inteiro e o sucesso está no seu estilo bem interessante: moderno, mas sem deixar de lado a tradição e tipicidade.

Este Nero d’Avola (casta típica da região), mesmo sendo da linha mais simples da casa me impressionou muito positivamente. Pra começar a linda rolha de vidro, que como expliquei aqui, para mim é a melhor alternativa à cortiça: acho melhor que screw-cap e rolha sintética.

Quanto ao conteúdo da garrafa, sabe aquele vinho que tem sabor de vinho? Este aí é um deles. Tem um marcado aroma de cereja madura com notas de café, na boca muito sedoso e envolvente, boa complexidade vindo de 5 meses de permanência nas próprias borras (sim, a técnica do sur lie é usada também para tintos), taninos maduros, acidez adequada e muito equilíbrio.
Elegante.

Já pegou 89 pontos pelo Robert Parker.

Ótimo custo/beneficio.

Voto gringo: 7

Vinho: Nero d’Avola IGT
Safra: 2009
Produtor: Cusumano      
País: Itália
Região: Sicília
Uvas: Nero d’Avola (100%)
Teor Alcoólico: 14%
Importadora: Aurora-Inovini
Custo médio: R$ 48,00