segunda-feira, 31 de maio de 2010

Os limites da Parkerização

Ontem senti a exigência de corrigir o trend do meu consumo de vinho dos últimos dias, pois na semana passada bebi muitos vinhos do Novo Mundo. Nada contra, é claro, inclusive alguns deles estavam maravilhosos, mas honestamente fiquei um pouco enjoado.

Talvez a palavra enjoado seja um pequeno exagero, mas senti a necessidade de degustar um vinho com mais sabor de vinho, e não de madeira e álcool. Não necessariamente rústico, mas um vinho com tipicidade própria.

E olhem que nesta semana não bebi somente os previsíveis argentinos e chilenos, mas também sul-africanos, australianos, e americanos. Analisados singularmente são cada um deles ótimos exemplares (falarei de alguns em breve), mas, paradoxalmente, a sensação final é de ter tomado o mesmo vinho a semana inteira. Mesmas cores, mesmo bouquet de aromas, mesmo paladar.

Este é o grande limite da tão debatida “Parkerização”: vinhos todos iguais, independentemente de casta de uva, País, clima, terroir, produtor, somente para encontrar o gosto do público que a premiada empresa Parker, Rolland & Cia de qualquer forma conseguiu padronizar.

Seja claro: eu gosto deste tipo de vinho (encorpado, macio, com muita fruta, muita madeira e final levemente adocicado), mas como é possível que um shiraz da McLaren Vale em Austrália seja tão aparecido com um zinfandel da Livermore Valley em Califórnia, ou que um pinotage da região de Paarl na África do Sul tenha características muito similares a um malbec da Patagônia?

E a coisa pior é que esta tendência está se difundindo (e muito) também no Velho Mundo e a cada ano temos que assistir impotentes a abdicação de vinícolas tradicionais, com séculos de história rendendo a própria identidade e tipicidade ao gosto de Mister Robert Parker e Monsieur Michel Rolland.

Eu não discuto o estilo (que como disse eu também gosto), nem tampouco critico as empresas, que justamente vivem disso e tem que visar o lucro, mas o que está acontecendo é na minha opinião de assustar: daqui a pouco não haverá mais sentido experimentar um rótulo X no lugar do rótulo Y pois as diferenças serão tão imperceptíveis que será como descobrir as diferentes nuances entre o guaraná Kuat e o guaraná Antártica.

Digressão: por admissão deles mesmo, o Parker e o Rolland são muito amigos e casualmente os vinhos que o enólogo francês elabora recebem sempre notas altas pelo crítico americano.

Um célebre provérbio italiano diz: “Suspeitar das pessoas é pecado, mas frequentemente se tem razão”.


quinta-feira, 27 de maio de 2010

E finalmente encontrei o BBB

Enfim o encontrei. Depois de tanta procura e de tantas provas e testes encontrei o BBB. E, engraçado, quase como querendo tirar sarro de mim, que rodei a cidade inteira e procurei na internet inteira para achá-lo, ele estava aqui na esquina de casa. Não em loja especializada ou importadora: mas no mercadinho de bairro.

O inatingível e quase lendário BBB.

Obviamente não estou falando do Big Brother Brasil, mas com BBB eu quis dizer: Bordeaux Bom e Barato.

Em geral se fala que para encontrar um Bordeaux que seja aceitável tem que se gastar pelo menos R$ 60,00. Talvez seja uma pequena exageração (pois já encontrei alguns bons exemplares na faixa de R$ 45), mas de qualquer forma concordo com o fato que Bordeaux barato em geral não presta.

Mas não è o caso deste Berger Baron, que custa R$ 29,00 (e eu comprei em oferta por R$ 22!) que talvez pode não oferecer uma experiência sensorial inesquecível, mas o seu bolso experto não esquecerá o favor que você fez pra ele...

Honestamente o comprei mais para aproveitar o preço, mas apesar do nome no rotulo (Rotschild: o mais importante grupo no mundo do vinho) não estava muito confiante, justamente para ser muito barato.

Mas fui surpreendido positivamente: se diz que nome não é tudo, mais aqui me foi demonstrado o contrario, ou seja, que as vinícolas famosas e premiadas trabalham com qualidade a linha inteira de produtos, do mais barato até o ícone, ao contrario de muitas que se dedicam somente na qualidade de alguns vinhos deixando de lado os demais.

Querendo botar defeito (se se pode chamar isso de defeito) é que tem mais cara de novo mundo, tendo muito menos mineralidade e terrosidade dos bordaleses clássicos e pessoalmente achei talvez o álcool sobressaindo um pouco.

Mas afinal de contas considerando o preço não se podia querer mais: é um Appellation Bordeaux Controlée com clássico corte de Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, perfeito para o dia a dia, que consegue habilmente agradar paladar e bolso.


Vinho: Berger Baron

Safra: 2006

Produtor: Baron Philippe de Rotschild

País: França

Região: Bordeaux

Importadora: Zona Sul

Custo médio: R$ 30,00

Use o intelecto



‘’O vinho é a parte intelectual de uma refeição.‘’

                                                                                   > Alexandre Dumas



quarta-feira, 26 de maio de 2010

Avaliação gringa: e falando em arte...

Antes que alguém me critique para falar quase exclusivamente de vinho tinto e até agora de nenhum vinho brasileiro vou matar dois coelhos com uma só cajadada (coitados dos coelhinos, mas fazer o que...).

Para a avaliação de hoje escolhi um vinho da categoria que mais se destaca no Brasil, ou seja, a dos espumantes, que, a diferença dos tintos e brancos nacionais, já estão a nível internacional e com um bom custo/beneficio.

A Casa Valduga é talvez a vinícola que mais conseguiu alcançar este nível e em seu catalogo tem aquele que é considerado pela crítica como o melhor espumante brasileiro, o 130, que inclusive ganhou vários prêmios internacionais.

A vinícola, uma das mais antigas do Pais, foi fundada em 1875 quando a família Valduga chegou ao Brasil vindo da cidade de Rovereto, na Itália. Os Valdugas se estabeleceram no Rio Grande do Sul, aonde logo começaram o cultivo das primeiras parreiras no meio do Vale dos Vinhedos.

Este Arte Brut é um espumante da linha mais comercial, mas oferece boa qualidade pelo preço cobrado.

È um corte de Chardonnay (70%) e Pinot Noir (30%) e é elaborado pelo método tradicional (champenoise).

Presenta uma cor amarelo clara e um perlage bastante persistente; no nariz maça e pão tostado; na boca bastante frescor e uma agradável cremosidade no final.

Custa mediamente R$ 30,00 e achei um preço justo. Eu paguei R$ 19,00 em oferta, então saí ganhando.

Voto gringo: 6        



Salame para ser admirado

Se for viajar na Itália, visitas culturais não vão faltar. Mas para extender o assunto dos museus “atípicos” (assim como vimos com o Museo do Brunello no último post), existem outros tipos de museus, a tema gastronômico, aonde as coleções expostas são produtos alimentares.

Dentro você olha e escuta, mas, sobretudo cheira, toca e degusta, em um percurso que envolve todos os sentidos.

Encontram-se varias exposições permanentes, frequentemente em lindos prédios históricos, como palacetes, castelos, ex-residências da nobreza, etc.

As maiores se concentram no centro da Itália. Perto de Parma se encontram, por exemplo, o Museu do Presunto, o Museu do Parmigiano Reggiano, e o Museu do Salame em um lindo castelo do do século XVIII . E em breve o Museu do Pomodoro (tomate).

Mas percorrendo a península de norte a sul é possível conhecer bem mais, como o Museu do chocolate, do mel, do alcaçuz, do confete, da pasta (não podia faltar!), da oliva, dos cogumelos e trufas, dos licores e dos destilados. E em todos eles o valor do ingresso inclui degustação.

No fundo nada de estranho: afinal, alimento é cultura.


terça-feira, 25 de maio de 2010

Louvre? Merci pas, je préfère le Brunelló

Se digo museu, com muita probabilidade o primeiro que passa na sua cabeça é o Louvre, não é?

Mas como este é um blog sobre vinhos, as belas obras de arte expostas no museu parisiense não cabem neste espaço, mas sim cabem outras expressões artísticas, como por exemplo, um vinho que fez a história do vinho.

Pois bem, perto da pequena cidade de Sant’Antimo, no coração de Montalcino, surge o Museo del Brunello: ele é situado entre as lendárias vinícolas Biondi-Santi e Fattoria dei Barbi, rodeado por vinhedos e paisagens de tirar o fôlego.

O museu se tornou uma referência para enólogos e enófilos, pois conta a história do vinho que se tornou um ícone mundial: como ele nasceu, quem foram os inventores, como acontece a vinificação a partir do vinhedo até a adega, os métodos de conservação, os personagens célebres que o quiseram nas próprias mesas, a história da comunidade de Montalcino e da gastronomia típica da região. Tudo através de uma exposição permanente com documentos originais, fotos, mapas da época, as primeiras garrafas (e jarras) e as primeiras máquinas, os primeiros apetrechos, as ferramentas, enfim tudo que é preciso saber sobre este mítico vinho.

Ademais na loja do museu é possível adquirir livros raros sobre o assunto e seus rótulos preferidos, já no Louvre você não pode levar a Monalisa para casa...

Para maiores informações e contatos (os diretores Srs. Mirco e Giulia são pessoas gentilíssimas): http://www.museodelbrunello.it/

Seguem algumas fotos do museu, da cidade de Montalcino, dos vinhedos e das redondezas (as coloridas Colinas Senesi são um dos lugares mais bonitos que já vi na vida!).
















domingo, 23 de maio de 2010

O Bolso Esperto começa na Espanha

CLOS DE TORRIBAS CRIANZA 2005.

Quis estrear a coluna com este vinho porque realmente apresenta uma relação preço/qualidade difícil de encontrar, sobretudo para vinhos espanhóis crianza.

Paguei R$ 26,00 no Pão de Açúcar e depois voltei a comprar mais vezes.

O vinho é um varietal 100% tempranillo, da região de Penedes, estagia 1 ano em carvalho francês e americano, e mais dois anos em garrafa.

Logo depois de aberto achei a madeira sobressaindo, mas deixando a taça oxigenar os aromas de fruta se despertaram e o vinho se tornou bem equilibrado.

Importante remarcar que este exemplar da vinícola Pinord, tem mais estilo de novo mundo, redondinho, macio e frutado.

Mas vale a pena, e se não acreditarem em mim talvez possam acreditar na Wine Spectator que o colocou na lista dos 100 Best Buys (ou seja com melhor custo/beneficio) do mundo, com 87 pontos.


O Bolso Esperto

Como anunciado, hoje vou estrear uma nova coluna: a do BOLSO ESPERTO.

Você gosta de comprar vinho, mas nem sempre gasta o correto?
Já aconteceu de ter se arrependido depois de ter comprado um vinho que não valia o preço pago?

Então se deixe guiar pelo BOLSO ESPERTO: é o seu bolso que escolhe o vinho pra você!

Brincadeiras a parte, simplesmente nesta coluna vou indicar vinhos que apresentam bom custo/beneficio, ou seja, os rótulos que em minha opinião valem mais do que custam.

O conceito que a maioria das pessoas tem, que vinho para ser bom tem que ser caro, não sempre corresponde à verdade, e é possível sim encontrar boas barganhas. Obviamente um rótulo que custa R$200 com a mesma qualidade de seus “colegas” de R$400 também entraria na categoria do Bolso Esperto, mas o propósito desta coluna é mostrar que não é preciso necessariamente gastar fortunas para tomar bons vinhos, então nesta seção do blog darei destaque a ótimos rótulos com preço inferior a R$ 40,00.

Então vamos lá com o primeiro vinho do B.E.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Avaliação gringa: o Superveneto do poeta

E com o gancho das palavras do Catulo, finalmente vamos a um vinho da minha pátria, que homenageia justamente o famoso poeta veronês amante do vinho e da boa vida.

Da região que se tornou um sucesso mundial, graças sobretudo aos seus grandes Amarone della Valpolicella, este vinho é obra de um dos produtores mais tradicionais do Veneto, fundada no ano de 1857.




Vinho: Catullo Igt

Safra: 2007

Produtor: Bertani

País: Italia

Região: Veneto

Importadora: Casa Flora / Porto a Porto

Custo médio: R$ 56,00


 
É um corte de Corvina (a mais típica uca da região) e Cabernet Sauvignon e estagia em carvalho francês a beleza de 18 meses.

Mostra-se de cara como vinho de velho mundo: cor rubi escura com reflexos violáceos, aroma intenso de frutas silvestres com notas de café e tabaco. Na boca muita estrutura, bom corpo, bastante mineral, boa acidez, taninos finos, madeira bem integrada e um longo final.

Enfim, um vinho moderno, mas que respeita a própria territorialidade e tipicidade.

Duvida: se os vinhos toscanos que usam corte de uvas autóctones com uvas não típicas se chamam de Supertoscanos, será que com o mesmo raciocínio poderíamos chamar este vinho de Superveneto?

Voto gringo: 7

quinta-feira, 20 de maio de 2010

E o poeta falou


"Vão aonde quiser arruinar o vinho,
águas perturbadoras, vão longe,
entre os abstêmios."
                                
                                                                                                                                               > Catulo


Bordeaux se torna um adega ao ar livre

Se um lugar tem a maior concentração no mundo de garrafas famosas (e caras), a maior produção de Merlot e Cabernet Sauvignon e o maior número de denominações (nada menos que 57 em toda a região) é natural que foque tudo no vinho.

A partir do início de junho, Bordeaux, a linda cidade do século XVIII (que também é patrimônio mundial da UNESCO) sobre as margens do majestoso Garonne, no verão europeu vai se tornar uma grande adega en plein air: no primeiro e terceiro sábado de cada mês a Secreteria de Turismo organiza o "Gourmet Tour" entre as melhores oásis gastronômicas da cidade; já os dia 5 e 6 de Junho, a Union des Grands Crus que reúne uma centena de produtores, vai promover o Week-end des Grands Amateurs, com mega-degustações no centro da cidade e jantares harmonizados nos próprios châteaux.

Mas o evento mais esperado vai de 17 de junho a 4 de julho: milhares de apreciadores de enogastronomia se encontram em Allées de Tourny para o Les Epicuriales, o festival aonde os melhore chefes e restaurantes levam a comida para as ruas a preço camarada, em estandes montados pela ocasião, e claro, garrafas de tinto e branco não vão faltar.

Então se esta planejando uma visita a Bordeux, agora já sabe quais são as melhores datas pra ir, e obviamente não deixe de se perder nos arredores, ao longo da rota do vinho e dos aristocráticos castelos com vinhedos, alguns dos quais transformados em hotéis, que dão o nome aos vinhos mais cultuados.

Para mais informações:

Seguem fotos da linda cidade e alguns châteaux (clique nelas para ampliá-las)






 


quarta-feira, 19 de maio de 2010

Mistral é vento ou evento?

Aproxima-se um evento imperdível (o quase) para os enófilos e apreciadores do fermentado de uva em garrafa: o esperado Encontro Mistral 2010.

Em um único lugar será possível conhecer e degustar vinhos de 80 produtores de velho e novo mundo do catálogo da importadora de Ciro Lilla. Entre eles alguns dos maiores nomes do planeta, que serão presentes na pessoa do próprio proprietário ou de enólogos e diretores.

O valor do ingresso não é propriamente camarada, mas por outro lado aonde você vai ter a ocasião de ter na frente mesas de degustação de produtores como: Biondi-Santi, Paul Hobbs, Catena Zapata, Cos d'Estournel, Luis Pato, Casa Lapostolle, Quinta do Vale Meão, Viña Montes e outros? E ainda poder bater um papo com os criadores destes fantásticos vinhos?

Então marque as datas e local e faça já sua reserva, pois o numero de ingressos é limitado.

O evento acontece nos dias 7,8 e 9 de Junho no Hotel Grand Hyatt de São Paulo e no dia 10 de Junho no Sheraton Rio Hotel e Resort no Rio de Janeiro.

Maiores informações aqui.

Estamos trabalhando para você

Como o blog é recém nascido, alguns ajustes vão ser feitos em tempo real, pois nem sempre da para respeitar o que se tinha planejado em fase de ideação e construção das páginas.

Então depois do primeiro mês de vida do meu blogzinho estou colocando algumas pequenas mudanças e (espero) melhorias.

É o caso, por exemplo, da coluna Frase do Dia - na qual reporto citações de personagens célebres sobre o vinho - que imaginei ser justamente diária, mas como nunca consigo postar todos os dias e também (faço publica admissão de culpa) às vezes fico mais focado nas notícias e nas avaliações, por respeito dos leitores resolvi mudar o nome da coluna simplesmente em Pensamento Di-vino, e a mesma vai ser publicada com freqüência variável.

Também mudei o índice dos argumentos (marcadores), que estava ficando muito comprido e deixei somente os assuntos principais.

Ainda em breve vai ter novas colunas, entre elas uma sobre vinhos de bom custo/beneficio, outra sobre viagens e enoturismo, novas enquetes e muito mais.

Então continuem acompanhando e aguardem as novidades.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Casar pode, mas não em Napa!



Nesta semana, Napa Valley, a mais famosa (e melhor) região vinícola dos Estados Unidos vedou uma prática que está se tornando comum em outras regiões (como por exemplo, na vizinha Sonoma Valley), ou seja, a de celebrar casamentos nos vinhedos.

Decisão difícil do Conselho de Supervisão do Vale do Napa, que, aliás, ganhou somente de 3 votos contra 2, porque em jogo existem interesses múltiplos.

De um lado os produtores mais votados ao lucro que, só em nome do sagrado comércio, visam esta como uma oportunidade para alugar os próprios espaços, cobrar caro a comida e, sobretudo fazer uma boa venda extra do próprio vinho.

De outro os que querem preservar o caráter original do vale, o respeito do solo, das videiras, dos frutos enfim o respeito pelo trabalho de gerações de cultivadores quem acreditaram na possibilidade de produzir grandes vinhos na região.

E tem também o lado do consumidor final.

Pois é, não é romântico se casar no meio de lindos vinhedos, em contato com a natureza e comemorando com os melhores vinhos daquele mesmo terroir onde você pronunciou a palavra “sim”?

Mas você gostaria que um paraíso bucólico como este em questão mudasse de visual, se tornando uma mistura de capelas, limusines, bagunça, farra, crianças correndo e brincando nas parreiras, saltos altos maltratando o solo e mais só para você ter uma festa bonita?

sábado, 15 de maio de 2010

Avaliação gringa: Borgonha em oferta não se recusa

Sabemos como é difícil encontrar um Pinot Noir da Borgonha de bons produtores abaixo de R$ 80,00 (que é também o preço deste vinho); achei este em uma promoção a R$ 59,00 então não pensei duas vezes.

 

Vinho: Bourgogne Pinot Noir – Recolte do Domain Voarick

 Safra: 2006

 Produtor: Michel Picard

 País: França

 Região: Bourgogne

 Importadora: Bruck

Custo médio: R$ 80,00

 
 
No nariz mostrou uma explosão de aromas doces, algo tipo caramelo e geléia, mas que não se confirmou no palato, aonde percebi uma suave estrutura tânica, acidez marcada e uma pontinha de amargor no final de boca.
 
Enfim é um vinho bastante simples e obviamente é bem longe dos Pinot Noir da Borgonha de grande complexidade, que inclusive o próprio Michel Picard produz, mas considerando o preço pago não posso reclamar.

Voto gringo: 6

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A outra Califórnia

Numa recente degustação promovida pela World Wine experimentamos alguns vinhos californianos da vinícola Delicato.

Plantados pelo italiano Gaspare Indelicato (realmente não dava para manter o sobrenome no rotulo!) em 1924 os vinhedos da Delicato são situados em Manteca, na Vale Central, pouco ao sul da mais famosa Napa Valley.
A vinícola produz só vinhos varietais com a proposta de oferecer vinhos de qualidade a bom preço.

Degustamos:

- Chardonnay
- Merlot
- Shiraz
- Zinfandel
- Cabernet Sauvignon

Todos da safra 2007.

Estando todos na faixa de preço de R$ 45,00 realmente confirmo que o custo é bem inferior a media dos outros compatriotas, mas sinceramente nenhum dos rótulos degustados me impressionou particularmente.

Normalmente os vinhos californianos costumam ser potentes, encorpados, com muita fruta e muita madeira. Já estes são leves, sem muito álcool e breve tempo de maturação em barrica. Reconheço a eles certa elegância, mas mesmo assim sem muita estrutura.

Tendo que escolher eu ficaria com o Shiraz, que mostrou um pouco mais de complexidade e caráter, mas infelizmente tenho que admitir que esta linha não caiu no meu gosto.

Isso não quer dizer que não são bons vinhos (olhem como sou diplomático!), afinal para o dia a dia podem ser uma alternativa interessante para quem gosta deste estilo, talvez eu esteja só mal acostumado com Mondavi e Hobbs...

terça-feira, 11 de maio de 2010

O placar das safras chilenas

Você deve ter bebido muito vinho chileno, não é? Já deve ter em mente a sua classificação pessoal dos seus cabernet e carmenere preferidos.

Mas diante de dois vinhos do Chile do mesmo rotulo, porém de safras diferentes, você já sabe qual escolher?

A famosa revista americana Wine Spectator acaba de publicar uma tabela com as avaliações dos últimos dez anos de colheitas de uva tinta nos vinhedos chilenos.

È bom remarcar mais uma vez que é tudo muito subjetivo e a WS muitas vezes é certamente criticável, mas de qualquer forma me parece um bom parâmetro de referencia inicial.

Seguem as pontuações:

200986-89

200889

200792

200691

200593

200488

200391

200288

200192

Como pode ver a última safra está entre as piores, por causa do muito calor e clima seco que no ano passado afetou o rendimento das uvas do País andino.
Já as melhores performances são de 2005 e de 2007.

Pronto. Agora em caso de dúvida já sabe como se comportar.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Saiba escolher e bom apetite!


Amigos cariocas, começa hoje o mais esperado evento gastronômico do ano, o Rio Restaurant Week 2010.

Nasceu em New York em 1992 e daí se espalhou em mais de 100 cidades no mundo, o evento acontece no Brasil apenas há 1 ano (melhor tarde que nunca!) e depois do grande sucesso de 2009, voltou este ano para sua segunda edição.

Com a fórmula do menu fixo, incluindo entrada, prato principal e sobremesa, paga-se o mesmo preço fixo - de R$ 27,50 no almoço ou R$ 39,00 no jantar - em 90 entre os melhores restaurantes da cidade.

Vale sublinhar que em New York e outras cidades, participam do circuito quase todos os restaurantes tops (incluindo também aqueles de luxo), já aqui no Rio a maioria dos participantes são de faixa média. Ou seja, mesmo fora desta promoção, o custo de uma refeição similar não seria tão longe deste aplicado durante a Restauant Week (e em alguns casos acho que seria até menor!).

Mas tem uma boa quinzena de estabelecimentos aonde realmente vale a pena aproveitar desta oportunidade, pois o preço cobrado normalmente é bem maior.
Então tem que saber escolher.

Já que vai economizar na comida, não seja avarento na bebida e peça um bom vinho: serão sugeridas harmonizações com rótulos da Viña Casablanca (ótima por sinal) que é um dos patrocinadores, mas pode pedir também o seu preferido.

O evento acontece do dia 10 até 23 de Maio.

Confira aqui a lista completa dos restaurantes participantes e relativos cardápios.

domingo, 9 de maio de 2010

Avaliação gringa: é Caro ou é Barato?


Vinho: Amancaya

Safra: 2008

Produtor: Bodegas Caro

País: Argentina

Região: Mendoza

Importadora: Mistral

Custo médio: R$ 60,00

 
 
 
A amiga Maria José, em ocasião da sua ultima viagem à Argentina nos trouxe de presente este vinho, coisa que obviamente não me deixou nem um pouco chateado...

É um rotulo que se encontra também aqui no Brasil (eu já tinha bebido o mesmo vinho na safra de 2007, mas achei esta de 2008 levemente superior), importado pela Mistral.

O nome Caro é a sigla que está por CAtena e ROtschild, pois é o resultado do trabalho junto do Domaine Barons de Rotschild e da Catena Zapata. Preciso dizer algo mais? Estamos falando simplesmente de dois dos maiores nomes da viticultura do mundo.

A bodega produz somente dois vinhos em Mendoza com o propósito de trazer o melhor da França e da Argentina.

Este Amancaya é um corte de 50% Cabernet Sauvignon e 50% Malbec, matura 12 meses em carvalho francês e recebeu 90 pontos pela Wine Spectator e 91 pontos pelo nosso amigão Robert Parker.

Na minha avaliação, mesmo depois de uma breve decantação, o vinho se mostrou ainda um pouco fechado, tanto nos aromas quanto no paladar, mostrando certo “nervosismo”: um belo corpo, mas o álcool estava sobressaindo e os taninos estavam ainda um pouco duros. Mas com o passar dos minutos evoluiu MUITO, liberando um belo bouquet de fruta madura com baunilha e tornando-se bastante macio na boca.

Ademais harmonizou otimamente com um prato de cozinha “fusion-contemporânea” inventado pela minha Jeane, que misturou cozinhas italiana e japonesa: pappardelle com shitake e alcachofras (mais alguns ingredientes secretos...), prato que se revelou delicioso (não a caso “Jeane é um gênio”, como justamente o seriado nos lembra) e com o acompanhamento musical de um cd de jazz do Roy Hargrove Quartet foi perfeito neste domingo chuvoso.

Afinal é um vinho de todo respeito e, apesar do nome, não é caro. Acredito que mais um ano de garrafa pode lhe fazer bem; em alternativa sugiro decantá-lo pelo menos meia hora.

Voto gringo: 7

Frase do dia (pensamentos di-vinos)


"Há mais filosofia e sabedoria numa garrafa de vinho, que em todos os livros".

                                                                              > Louis Pasteur

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O significado do vinho

Da última degustação de malbecs da Argentina (promovida pela sempre bonita e simpática Fabiana e conduzida mais uma vez pelo brilhante Eric Azevedo) vou falar proximamente. Por enquanto gostaria só de reportar o seguinte.

Na nossa mesa éramos eu, a Jeane, o Sr. Martins, o Sr. Osvaldo, a Cláudia e o Julio. Depois da degustação (ótima por sinal), tomamos mais um par de garrafas por nossa conta, nos entretendo em uma conversa muito agradável que tocou os mais diversos assuntos: de sapato feminino até filosofia e poesia (o que o vinho não faz, hein?)

No ultimo brinde da noite o Sr. Osvaldo, que estava também comemorando seu aniversario, fez um comentário que daria para colocar na coluna da frase do dia (alias do ano!). O comentário foi o seguinte:

“Este vinho não tem sabor frutado, não tem sabor de madeira, não tem sabor de tanino, nem de baunilha... Este vinho tem o sabor da amizade!”

Aplausos.


quinta-feira, 6 de maio de 2010

De Supertoscano a Supervovô

Vai se dedicar à família o príncipe dos enólogos italianos.

Giacomo Tachis, a quem devemos vinhos como o Sassicaia, o Tignanello e o Solaia, decidiu se aposentar.

Ainda disputado por vinícolas, pois as suas indicações s podem fazer a fortuna de um vinho, Tachis, piemontês, mas radicado há décadas na Toscana, escolheu a vida privada: "Deixo a 77 anos depois de grandes satisfações profissionais. Esta na hora de aproveitar a minha família, meus netos e meus livros”.

Considerado o criador de um renascimento do vinho italiano e inventor dos Supertoscanos, Giacomo Tachis vinculou o seu nome aos grandes tintos de Bolgheri e Chianti.

É um bibliófilo apaixonado e coleciona volumes antigos. Entre uma leitura e outra, prometeu continuar a dar uma olhada à viticultura.

"O vinho nunca vai conhecer crise - diz - porque as pessoas o bebem e vão bebê-lo para sempre".

Tachis, que não quer ser chamado de príncipe dos enólogos e se define "um humilde mesclavinho", afirma que o aspecto mais importante está em não alterar a natureza: "Nós respeitamos a natureza e a simplicidade do vinho. Portanto nada de química como é praxe hoje, e cuidados com a genética porque a natureza se rebela.”

”Existe vinho de pobre e vinho de rico. O vinho do pobre é o vinum operarium, feito simplesmente pelo camponês, que nasce do sentimento e que está mais perto da natureza. O agricultor serio faz o vinho como ele sente e a inspiração vem da campanha e da a harmonia alcançada com ela, assim que o vinho venha da mão do homem como a natureza quer. "

"O vinho do rico, ao contrario, é feito com técnicas sofisticadas, obtido por meio de decantação particular, microfiltração ou também mentiras tipo osmose reversa e muito mais e aposta em variedades conhecidas, as mais famosas."

Sobre o futuro do vinho nas regiões italianas: "É a vez da Maremma Toscana e do Sul (Campania, Puglia, Basilicata e Sicilia). Em Itália basta querer produzir bem para obter bons resultados, porque há luz, sol, a terra está bem exposta, trata-se de investir e trabalhar".

E no exterior?  “Califórnia, Chile, África do Sul, e Argentina vão crescer mais. E a Moldávia”.

Já no velho mundo, Tachis está convencido de que é um lance entre França e Itália: "Os franceses foram mais espertos, mas não são imbatíveis".

Palavra de Mr. Sassicaia.


terça-feira, 4 de maio de 2010

Avaliação gringa: bode expiatório

Da vinícola já falei amplamente no post anterior, então vamos logo à avaliação.


Vinho: Goats do Roam Red
 
Safra: 2008

Produtor: Goats do Roam - Fairview

País: África do Sul

Região: Paarl

Importadora: Expand / Vila Porto

Custo médio: R$ 42,00

 
 
Objetivamente é o sul-africano mais francês que já provei. Não a caso, as cabras perambulantes do nome do vinho fazem referencia à Côtes du Rhône e é um corte de 5 castas típicas desta região, nas seguintes percentagens:
Syrah 61%, Cinsaut 14%, Mourvèdre 13%, Grenache 8%, Carignan 4%

Aroma frutado e mineral, entrada macia e aveludada, achei os taninos bem presentes e um leve amargor no final.

Um vinho que obviamente não consegue alcançar a profundidade e intensidades dos grandes vinhos do sul da França, mas que, a partir do conceito do Rhône, consegue expressar um próprio caráter de vinho gastronômico, e de qualquer forma um estilo diferente dos vinhos sul-africanos que costumamos encontrar normalmente.

P.S. o belo desenho do bode no rotulo é inspirado em um antigo artefato da Mesopotâmia.

Voto gringo: 6



domingo, 2 de maio de 2010

Famosos Caprinos Sul-Africanos

Charles Back pode não produzir vinhos excepcionais, mas com certeza é um excepcional empresário e mais ainda um grande comunicador.

Ele trouxe para África do Sul várias uvas do Rhône e foi o primeiro a introduzir a Viognier.

Atualmente é dono de 4 vinícolas na região de Paarl: La Capra, Goatshed e Goats do Roam, todas controladas pela casa mãe Fairview, e para todas elas escolheu como símbolo uma cabra.

Cabras vivem nas propriedades das vinícolas do Charles Back fazendo a alegria dos visitantes e turistas. Ergueu a Goat Tower (torre das cabras) que se tornou mundialmente um símbolo distintivo dos vinhedos não só de Fairview, mas de Paarl e de todos os vinhedos sul-africanos.

Além disso, ele teve uma idéia de marketing tanto simpática quanto genial: para a línea de vinhos que estava produzindo em estilo mais francês, brincando com as palavras e com as pronúncias, colocou nomes no mínimo sugestivos.

Goats do Roam em inglês significa algo como cabras perambulantes, mas tem pronúncia muito aparecida ao francês Côtes du Rhône.

Mesmo discurso com o Bored Doe (corça entediada) que se pronuncia igual à Bordeaux, e por aí vai com Goat Door, Goat-Roti, Goats in Villages...

Os franceses tentaram de todas as maneiras proibir o uso destes nomes reclamando a denominação de origem, mas nada conseguiram, pois são escritos de forma diferente.

Charles Back praticamente revirou de cabeça pra baixo a imagem do vinho tradicionalmente austera, nobre e esnobe, tratando-a de forma divertida, usando personagens e bichos (fantástico também o The Goatfather do bode Dom Goatti que se refere ao Poderoso Chefão).

Falando dos vinhos, como já disse não são certamente memoráveis, mas são descomplicados e fácil de agradar.

Não sei se graças a isto ou graças ao marketing, fato é que os vinhos da Fairview se tornaram um sucesso mundial, particularmente a Goats do Roam, que é a marca de vinhos sul-africanos mais vendida nos EUA desde o ano 2000.

No próximo post a minha pessoal avaliação do Goats do Roam Red 2008.

Béééééé