quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

O vinho do ano

Quem acompanha as páginas “mondovínhicas” sabe que nunca publiquei aqui a lista dos meus melhores vinhos do ano e coisas similares. Até poderia, mas já expliquei várias vezes porque prefiro me eximir (sem criticar quem faz). Portanto no lugar de uma estéril lista dou a vez a apenas um vinho que pra mim mais se destacou nas inúmeras degustações ao longo de 2017. Isto não quer dizer tampouco que pra mim este seja o melhor vinho do ano em termos absolutos, mas de qualquer forma representa o que mais me surpreendeu e suscitou certa emoção.

E o rótulo que escolhi este ano é:

Quattro Soli 2011, Sforzato della Valtellina - La Perla (di Marco Triacca)



Sforzato della Valtellina é uma denominação quase desconhecida no Brasil, e até difícil de memorizar, eu sei. Mas vale a pena conhecer, pois os vinhos são bem interessantes.

Como explicar este vinho...hum, vejamos: pegue um Barolo e vinifique com as técnicas do Amarone, mais ou menos assim vai entender o que deve esperar deste caldo.

A uva Nebbiolo é cultivada na região de Lombardia desde sempre e com excelentes resultados. Especialmente dentro da área da Valtellina (na província de Sondrio) tem alguns exemplares competindo com os melhores rótulos da mais badalada região de Piemonte.

Já o Sforzato é um nebbiolo obtido com técnicas de passificação natural, assim como acontece na Valpolicella (Veneto) para o Amarone. Mas nem todo mundo sabe que a DOCG para o Sforzato foi concedida bem antes que a do Amarone, em 2003 versus 2011.

Para você ter ideia da categoria, um Sforzato di Valtellina já ganhou o título de melhor vinho da Itália inteira (o premiadíssimo Sfursat 5 Stelle do Nino Negri , simplesmente fantástico), mas este exemplar aqui também fez muito bonito e me deixou realmente feliz.



Vinícola jovem e pequena, a La Perla foi fundada em 2009, mas o Marco Triacco vem de família de viticultores e sabe o que faz. De 3 hectares de vinhedos, todos plantados com Nebbiolo (localmente conhecida também como Chiavennasca), ele engarrafa apenas 3 tintos em produção minúscula. Deste Quattro Soli são apenas 3.000 garrafas.

Depois de colhidas, as uvas são colocadas num espaço aberto protegido do sol e areado por cerca de 3 meses, onde perdem até 30% de água, concentrando portanto as restantes componentes.

Mas diferente do Amarone que resulta frequentemente numa pancada de geleia e álcool (podendo chegar até 17%), este Sforzato é um show de elegância e delicadeza.

No nariz um buquê de pétalas de flores com aromas balsâmicos e minerais como talco, gengibre e giz. Na boca é seco, com corpo delicado, mas estruturado, de rara finesse, acidez espetacular e taninos gostosos; apesar de seu estágio de 24 meses em carvalho, a madeira é apenas um sopro (se utilizam barris de até 1.000 litros); álcool contido em apenas 14,5%, (que para um passito como este é pouco); final longo e delicioso. Pra mim foi felicidade engarrafada. Pena o preço (R$ 450 na Belle Cave), que te devolve a tristeza imediatamente.

O moto da vinícola La Perla “cultivamos sonhos” me oferece o gancho para desejar que os sonhos que você e que todos nós aqui cultivamos possam se tornar realidade neste 2018 que está chegando.

Grande abraço a todos!






segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

É tempo de Peru!


Eu sei que, ainda mais em clima de Natal, se eu falar em Peru não estaremos pensando necessariamente na mesma coisa J Pois não é da ave que vai estar na mesa de fim de ano que estou falando, e sim do país, nosso vizinho sul-americano. E, porque não, de um vinho que pode também estar na sua mesa de Natal.

Não se deixe enganar pelo fato de não estar no mapa dos melhores terroirs internacionais: o Peru produz bons vinhos sim, afinal a gastronomia peruana está em alta no mundo e a enologia não podia ficar pra trás. Pessoalmente já tinha provado alguns rótulos da Intipalka, alguns trazidos de amigos diretamente de lá, outros proporcionados pela mesma importadora que trouxe o exemplar deste post, todos bem interessantes.

A Bodega Santiago Queirolo é a vinícola peruana mais badalada e a Intipalka a sua linha mais premiada e representativa nos mercados internacionais. A história da casa remete ao ano de 1877, quando a família Queirolo chegou a Lima vindo da cidade italiana de Genova. Três anos depois a família começou a produzir pisco (que se tornou rapidamente um dos melhores do país, inclusive até hoje), mas foi na década de 2000 que a vinícola foi totalmente reformada, estruturalmente e conceitualmente, com o intuito de produzir vinhos finos premium de perfil internacional.


Assim nasceu a Intipalka, que no idioma dos incas significa “vale do sol”, referencia á região de procedência. Situada aos pés dos Andes a área tem clima desértico com grandes amplitudes térmicas e solo rico em minerais, ademais a proximidade ao Oceano Pacifico (60 km) torna a temperatura mais amena: algo que pode ser comparado ao microclima de Mendoza, de acordo com o produtor.

Falando em Argentina, nestas páginas já avaliamos um Malbec da Intipalka (veja aqui) que a importadora Winelands me deu a oportunidade em provar. Este era da linha “Varietales”, a de entrada da vinícola, já desta vez falamos de um vinho Reserva, um dos premiums da casa.

Intipalka Reserva Cabernet Sauvignon- Syrah 2012
O corte, bastante comum em países como Austrália e África do Sul, normalmente providencia vinhos gordos, potentes, estruturados e este exemplar peruano também não foge a regra. O nariz intenso de cereja e groselha entrega também certo mentolado e um pimentão. Na boca é rico e suculento, mantendo intensidade e bom equilíbrio. O estágio em madeira de 6 meses acrescenta complexidade, mas sem se tornar invasivo e os taninos doces são balanceados por boa acidez. A casa sugere decantar no mínimo 1 hora, no meu caso não foi decantando, mas mesmo assim escoltou com sucesso uma bela picanha grelhada.

Mais um vinho exótico e marcante da Winelands Importadora e Clube de Vinho (R$ 125,00)






segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O vinho mais “borgonhês” de Bordeaux

De fato o Château le Puy sempre prezou pela elegância e finesse no lugar de opulência e força, o que acaba até enganando quem conhece o estilo consolidado da região. Alguns consideram seus vinhos mais parecidos com os da Borgonha que com os de Bordeaux, pessoalmente acho meio forçado, mas certamente os vinhos do Le Puy têm uma delicadeza rara naquelas coordenadas geográficas.

A vinícola produz seus vinhos de maneira “natural”, sem adição de sulfitos, leveduras ou outros aditivos desde 1990 e sucessivamente implementou em seus vinhedos também as técnicas biodinâmicas, que vem utilizando em toda a sua linha desde 1998.

Ficando na margem direita (especificamente em Saint-Cibard, a poucos km de Saint Émilion), seus tintos priorizam o uso da merlot, assim como manda o figurino. Uma preocupação da casa é utilizar barricas majoritariamente usadas para que a madeira seja apenas uma coadjuvante e não protagonista.

Este Emilien 2008 responde exatamente aos pré-requisitos: composto por 85% de merlot sendo o restante 15% dividido entre cabernet franc, cabernet sauvignon, malbec e carménère e matura por 24 meses em barricas de segundo e terceiro uso.

Com 9 anos de vida mostrou muita saúde e boas perspectivas de guarda (a despeito de quem acha que vinho natural não envelhece bem). No nariz mostrou de cara um leve reduzido, que rapidamente foi desaparecendo com areação na taça, liberando espaço para fruta silvestre e até certas lembranças cítricas, castanhas e tabaco. Na boca um suco rico, ágil, com um toque de salinidade numa textura aveludada. 

Um vinho esbelto e agradável, gastronômico, mas nada banal e sem qualquer indício das madeiras tristemente pesadas de muitos dos seus irmãos maiores. 


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

FICO Eataly World. Informações de utilidade pública


Se ainda não sabe do que estamos falando, dê uma olhada ao post anterior (clique aqui) e descobrirá porque se tornou em poucas horas uma das matérias mais lidos do blog.

Pois bem, agora que ficou com vontade de se tornar um dos 6 milhões de visitantes previstos por ano, o que vamos fazer aqui é te ajudar com umas infos uteis e práticas para você planejar sua visita.

A entrada do parque FICO Eataly World fica na área para feiras/exposições (para quem conhece, é onde antes tinha o Caab, Centro agroalimentare Bologna), a 20 minutos do centro da cidade e a 50 minutos do aeroporto.

Endereço:  Via Paolo Canali, 8 – Bologna

Numero de telefone: (+39) 051 0029001


Horário de funcionamento: todos os dias das 10h às 24h


Ingresso:  gratuito . Mas atenção, pois uma vez dentro podem se gastar valores consideráveis.

Como chegar: 


1) De carro

Se for de carro, vai encontrar toda uma serie de sinais especialmente montados que irão te levar ao parque a partir das principais ruas de Bolonha e saídas das autoestradas.
O estacionamento contempla 2.500 vagas e é gratuito para as primeiras 2 horas. Depois, apenas 1,50 euro por hora.


2) De trem
A companhia de trens nacional Trenitalia criou um meio especial para quem chegar a Bolonha sob trilhos. Na estação de trem vai encontrar um veículo ecológico (um trem/van elétrico) que vai te levar até a entrada do parque e também até a cidade.


3) De ônibus
Em vários pontos da cidade você poderá embarcar no Ficobus, ônibus híbrido, até o parque. Ao custo de 5 euro (uma passagem) ou 7 euros (ida e volta), a cada 20 minutos. Grupos com mais de 4 pessoas ganham desconto.



4) De avião
Do aeroporto terá taxi com uma tarifa conveniada de no máximo 23 euros. Mas se sugere pegar o transfer para a estação de trem e de lá o Ficobus (veja acima), por um custo total de 16 euros e o meio ambiente agradece.

5) De taxi
De pontos específicos do centro da cidade, com tarifa conveniada de no máximo 20 euros


Mapa: clique aqui para abrir em alta. Se esquecer de levar, de qualquer forma poderá retirar uma versão impressa na entrada. Fundamental para planejar o seu roteiro que pontualmente você não respeitará porque desviado por centenas de distrações.




Site: www.eatalyworld.it Aqui encontrará todas as informações adicionais, especialmente sobre as aulas e atividades didáticas, a lista de fábricas e restaurantes com relativas especialidades culinárias, lojas, mercados e todo mais.

Pronto, agora está com faca e queijo na mão para começar seu tour. Aliás ali encontrará facas e inúmeras variedades de queijo também. E uma equipe de 700 funcionários prontos para te atender e te explicar que na verdade o espaguete á bolonhesa não existe J







terça-feira, 21 de novembro de 2017

Abre o primeiro parque de diversão eno-gastronômico do mundo!





Já foi apelidado de “a Disneyland da enogastronomia”, mas no lugar do Mickey tem um figo como símbolo. No último dia 15 de novembro abriu oficialmente as portas o primeiro parque temático inteiramente dedicado ao mundo agro-alimentar. Diferente de outros parques o ingresso é gratuito, mas a diversão é garantida da mesma forma. Onde podia acontecer isto senão na Itália? E não por acaso numa das cidades mais famosas pela sua culinária: Bolonha.



Mas o que é exatamente este parque? Alguns de vocês já devem ter entrado numa das lojas da Eataly espalhadas pelo mundo (de Nova York a Toquio, passando por São Paulo). Pois bem, pegue uma destas lojas, multiplique x 10, adicione campos, fazendas, vinhedos, oliveiras, fabricas artesanais e mais dezenas de atividades divertidas e didáticas.

O FICO Eataly World nasce de uma joint venture entre a citada Eataly e a Coop (cooperativa italiana que reúne dezenas de produtores, distribuidores e varejistas de alimentos). FICO significa “Fabbrica Italiana Contadina”, mas joga também com a palavra que em italiano indica o figo, mas também uma gíria par indicar algo que é bem legal, bacana, o equivalente do inglês “cool”.

Alguns números para dar a ideia da majestosidade do projeto:

O parque ocupa 10 hectares, sendo 2 ao ar livre; 90mil metros quadrados de superfície comercial; 32 espaços de produção; 47 restaurantes; 9 mercados, um cinema, um teatro, um centro convenções, 200 animais numa fazenda didática and much more.

- Para facilitar seus deslocamentos de uma parte a outra do parque tem triciclos equipados com cestas para compras e compartimentos para conservar a comida refrigerada



- Encontrará várias fábricas (de massas, pães, doces, azeites, vinho) que irão mostrar todo o processo de produção a partir de onde vem o produto até chegar ao seu prato


- No meio das fábricas, centenas de mesas, dezenas de restaurantes, que servem comidas de todo tipo e para todos os bolsos: de street food a alta gastronomia (inclusive com filiais de uns restaurantes estrelados)  

- 6 atrações interativas que relacionam o homem com a terra, com o mar, com o fogo, com os animais, e finalmente, com o futuro do planeta




- Visitas guiadas dos dois hectares dedicados a campos e estábulos, onde crescem as principais variedades da agricultura italiana e pastoreiam 200 animais de raças nativas, como vacas, cavalos, cabras, galinhas, etc.


- Cursos, workshops e aulas sobre variados assuntos: você pode aprender sobre trufas ou sobre jardinagem, produzir seu queijo ou seu sorvete. As ofertas são inúmeras e mudam periodicamente

- A enorme loja do Eataly: 2500 mt quadrados de azeites, massas, carnes, cafés, queijos e vinhos que você viu ao longo do percurso. Mais um grande departamento dedicado a produtos de casa, eletrodomésticos e utensílios de cozinha.

- Interessante e útil, se estiver com pouco espaço nas malas: antes da saída vai encontrar um ponto de embalagem oficial do Correio (Poste Italiane), para o envio das compras em qualquer lugar do mundo. E ainda com o reembolso dos impostos, como nos aeroportos.

- E, se você não pretende comprar nada, vai poder se entreter de qualquer forma nas várias áreas de lazer que incluem cinema, teatro, academias, playgrounds, quadras de futebol, ou de beach volley com areia verdadeira trazida da costa. A ideia é tornar o parque um ponto de encontro e de distração para ser frequentado todo dia e a qualquer hora, para um jogo de frescobol com os amigos ou para uma aula de tango, para ver como se cria um charuto artesanal ou para cortar o cabelo num salão “orgânico”.



Eo Vinho?

Indo para a parte que nós interessa mais de perto: a sagrada bebida.

Você poderá literalmente produzir o seu próprio vinho a partir de uvas do vinhedo externo plantado com 40 variedades italianas. 



Já nas prateleiras há mais de 1500 rótulos de centenas de produtores, mas com foco nos 52 principais parceiros chamados de mais “cool” (obviamente lideram Borgogno e Fontanafredda, de propriedade do patrão de Eataly, mas também grandes nomes como Antinori, Frescobaldi, Planeta, Ceci, Falesco, Grattamacco, il Poggione, La Spinetta, Castello di Ama, Feudi San Gregorio, etc). Cada uma dessas vinícolas tem uma barrica de envelhecimento dentro da estrutura e vinhos para venda em taça em todos os espaços de consumo, além de wine-dinner semanais com a presença do enólogo.

Além disso, são disponíveis cursos, aulas, masterclasses e degustações diárias. Mas se quiser apenas provar algo terá 100 rótulos à disposição para degustação em taça (em Enomatic) com preços que variam de 4 a 50 euro.


No próximo post: algumas informações práticas para programar sua visita ao parque.


quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Hora da matemática: já provou a uva Concejon? E a Moristel?

Primeiro interesting fact: a garrafa é certamente chamativa, com os números serigrafados percorrendo a superfície do vidro e o π evidenciado no meio, em vermelho. Estamos falando obviamente da famosa constante matemática conhecida como PI grego, correspondente a um número infinito que começa por 3,14...

Mas o que tem a ver isto com o nome do rótulo? Simples, as uvas utilizadas para este vinho provêm de um vinhedo único de 3,14 hectares. Achei genial.

O segundo interesting fact é a variedade da uva, muito pouco conhecida internacionalmente. Confesso que eu nunca tinha ouvido falar antes. No título do post na verdade quis fazer uma brincadeira, pois Concejon e Moristel são dois nomes diferentes para a mesma casta espanhola. A denominação muda conforme ao lugar. Aqui estamos em Calatayud (não confunda com Catalunya), província de Zaragoza, região de Aragón, aos pés dos Pireneus. E aqui esta uva é chamada de Concejon e acredita-se que seja uma variante local da Monastrell (Mourvèdre).  Usada tradicionalmente em blends para acrescentar cor e corpo, nos últimos tempos está sendo explorada também em versão varietal.

A vinícola Langa com seus 150 anos de história e inúmeros prêmios nacionais e internacionais se tornou estrela da região. Vamos então ao vinho:

Bodegas Langa PI 3,1415 safra 2014

O vinhedo único (de 3,14 he) de uvas Concejon tem uma idade entre 90-100 anos e está situado a cerca de 1000 mt de altitude. Vinificação tradicional e estágio de 1 ano em barricas de carvalho (americano e francês) e em garrafa por mais 6 meses.

O resultado foi muito interessante. O corpo mais leve do que sua cor extraída e intensa deixava imaginar. Fiquei surpreso (e assustado) com o álcool: 15%! Mas totalmente imperceptível. O nariz um pouco rústico denotava um toque animal, fruta silvestre, alcaçuz, e um defumado em destaque. Na boca é longo e de bom equilíbrio, com as sensações acima confirmadas e taninos firmes, mas bem definidos, quase esculpidos. Agradou bastante.

- R$ 120 na Wine



segunda-feira, 6 de novembro de 2017

O segundo do Cantemerle...será que é bom?


Entre nós: se a classificação oficial de Bordeaux de 1855 fosse escrita agora, o Château Cantemerle muito provavelmente ia ficar de fora. Desde então ela nunca foi modificada (menos que para a entrada “política” do Mouton) e, portanto alguns podem se gabar por virtudes que não tem mais enquanto outros reclamam da vida porque agora seu vinho é bem melhor que 200 anos atrás e não tem uma nova classificação para comprovar.

Pois bem, o Cantemerle pertence à primeira categoria, sendo um dos mais “fracos” dentro da prestigiada lista. Por contra mantém um preço acessível, portanto faz a felicidade de quem quer que esteja escrito Grand Cru Classé no rótulo independentemente do conteúdo da garrafa. Não me entenda mal: a vinícola faz um ótimo trabalho e os vinhos de fato são bons, mas estar na mesma categoria que Lynch-Bages ou Pontet-Canet é covardia (5º cru)

Enfim. O Château Cantemerle fica na abrangente apellation de Haut-Médoc, especificamente no vilarejo de Macau.

Provei algumas vezes o top da casa e, apesar de bom, nunca me empolgou, por isto não tinha muitas expectativas para o irmãozinho, mais ainda sendo de safra difícil. Mas não é que me surpreendeu?


O Les Allées de Cantemerle 2013 foi produzido em 160mil garrafas, apenas com Cabernet Sauvignon e Merlot (enquanto em outras safras podem entrar também Cabernet Franc e Petit Verdot) das vinhas mais jovens da propriedade. Vinificação tradicional, mais estágio de 1 ano em barricas de carvalho.

O resultado foi um tinto muito fino. Nariz de ameixa, cereja, charuto, folhas secas, notas balsâmicas. Na boca ótima fruta, acidez excelente e taninos gostosos. Já pronto agora, ainda vai envelhecer bem por mais uma década. Chapéu 🎩

Em proporção vale muito mais este que o primeiro vinho (uns R$ 200 contra uns R$ 400).


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Os 10 vinhos italianos mais aclamados pela crítica inteira


Comparar as listas dos melhores vinhos entre diversas publicações é um exercício que deixa certamente perplexo: os resultados são frequentemente destoantes ou no mínimo bem diferentes. O melhor vinho para a revista X não é nem citado nos primeiros 100 do guia Y e por aí vai. Isto por vários motivos, tipo:

·        *  Nem todas as vinícolas enviam as amostras para todas as publicações
·        *  Os vinhos foram degustados em momentos e situações diferentes
·        *  Diferentes sistemas de degustação e avaliação
·        *  Interesses e parcerias comerciais (inútil negar a evidência)
·        *  Cada degustador tem um paladar diferente de outro
·         * ....(complemente você mesmo)

Mas quando todos os guias confirmam a mesma opinião sobre um rótulo então é sinal que ou todos os pontos listados acima foram devidamente se encaixando por alguma razão, ou muito mais simplesmente porque o vinho é bom mesmo.

Olhando para o meu quintal chamado Itália, por lá existem várias publicações, todas de certa relevância e com o próprio público cativo, como Gambero Rosso, Slow Wine, L’Espresso, Veronelli, Luca Maroni, Doctor Wine, Vitae, Bibenda, Veronelli, Touring Club e mais algumas. Pois bem, previsivelmente a lista dos melhores do ano deu resultados totalmente diferentes em cada uma delas. Mas alguns vinhos constam em todas elas. Então, esperando as novas listas para o 2018, selecionamos aqui os 10 vinhos italianos que conseguiram agradar toda a imprensa especializada em 2017 (5 tintos, 2 brancos, 1 rosé,  1 espumante e 1 de sobremesa):



- Monprivato in Castiglione Faletto 2011 Mascarello Giuseppe e figlio Barolo
- Barbaresco Rabaja 2013 Giuseppe Cortese
- Chianti Classico 2014 Badia a Coltibuono
- Montepulciano d’Abruzzo 2012 Valentini
- Etna rosso 2015 Pietradolce
- Tauma 2015 Pettinella
- Verdicchio di Matelica 2015 Collestefano
- Fiano di Avellino 2014 Rocca del Principe
- Franciacorta Dosage Zéro Noir 2007 Ca’ del bosco
- Passito di Pantelleria Bukkuram “Padre della vigna” Marco De Bartoli

E agora hein...? Será que eles estão realmente certos? Muitos destes rótulos não estão à venda no Brasil, já os restantes são muito caros por aqui. Portanto só nos resta que fingir que concordamos e voltar aos nossos vinhozinhos do dia-a-dia 😉

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A verdadeira vocação de La Mancha numa garrafa

Quem acha que a denominação de origem La Mancha não produza vinhos Premium está enganado. Claro (e é daí que surge o equívoco), esta região no centro da Espanha tem historicamente focado sua produção especialmente na quantidade: por lá verdadeiras indústrias vinícolas tem inundado o mercado local e internacional com rótulos de baixo custo. É mais ou menos o que aconteceu por aqui também, onde o nosso mercado “doente”, devido a N fatores (que não estaremos discutindo aqui), pede cada vez mais rótulos mais baratos, com a consequência de ter prateleiras estufadas de vinhos simples demais, inclusive desta região.

Mas afinal se a D.O. La Mancha é a maior denominação de vinho do mundo isto se deve também e principalmente á qualidade das uvas. E se enxergar além do trivial é possível encontrar belos caldos sim, como este daqui: 

Imperial Toledo Old Vine Selection 2009 da Bodegas Verdúguez



A vinícola Verdúguez está situada na província de Toledo, exatamente na terra onde o célebre cavaleiro Dom Quixote combatia os moinhos de vento na obra do Miguel de Cervantes.

Este tinto é o top da casa, mais precisamente era oferecido ao patriarca da família e já a embalagem preanuncia que estamos na frente de um vinho considerado especial, pois a garrafa vem nesta bela caixa dourada e preta.




Já dentro da garrafa, se trata de um Tempranillo 100% procedente das vinhas mais antigas da propriedade que ficam a 722 metros acima do nível do mar. Com um longo estágio em barricas de carvalho francesas novas este exemplar de safra 2009 está agora em sua plena maturidade e ainda tem estrutura para envelhecer tranquilamente por mais anos. O nariz entrega aromas complexos de cereja, ameixas, batom, tabaco, alcaçuz e toques de especiarias do Mediterrâneo. Na boca a palavra chave é “equilíbrio”: o grande corpo e estrutura são balanceados por taninos finos e elegante acidez, que juntamente á madeira bem integrada entregam um conjunto harmônico.

Mais uma bela descoberta da Winelands Importadora e Clube de Vinhos


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Correção: as mulheres preferem vinho branco, menos as brasileiras

Em resposta a esta matéria que comprovaria que as mulheres preferem de maneira geral vinho branco, a comunidade de enófilas meio que insurgiu nas redes sociais declarando orgulhosamente o próprio amor ao tinto.

Justo, elas têm toda razão. De fato, se eu parar pra pensar, posso dizer que quase todas as minhas amigas, confrades (ou seria confreiras?) e colegas têm predileção para tinto.

Então devemos concluir que o citado estudo é um fake? Furado? Longe da verdade dos fatos? Fiquei intrigado e comecei a reparar na questão. Vamos analisar comigo os seguintes fatores (mas obviamente posso estar enganado):

1)      Estas amigas que afirmam preferir tinto são, como disse, enófilas de carteirinha senão profissionais do vinho, ou no mínimo apreciadoras interessadas no assunto (afinal os comentários surgiram em grupos de vinho) e portanto com o paladar já mais acostumado. Já a pesquisa pegou 600 pessoas “random”, de maneira totalmente casual: certamente havia umas com certa vivência com vinho, mas provavelmente também diversas pessoas iniciantes ou até sem nenhum tipo de experiência, imagino especialmente as da Republica Tcheca (diga-se de passagem, o maior consumidor de cerveja do mundo) onde não existe uma cultura do vinho propriamente dita.

2)      Estas mesmas meninas brasileiras red lovers foram criadas num País que sempre teve aversão ao vinho branco, onde o consumidor médio mesmo com 45º graus lá fora prefere tomar um tinto encorpado e alcoólico mais que um branco leve e refrescante. Por outro lado os produtores de vinho sulamericanos que mandam no nosso mercado não se destacam certamente pela produção de brancos (embora haja algumas exceções) e raramente chegam ás nossas prateleiras coisas diferentes dos trivias Chardonnays e Sauvignon Blancs. Portanto, se for verdade (como a própria pesquisa afirma) que a cultura de um povo/lugar influencia o gosto pessoal então podemos claramente afirmar que a definição do gosto das nossas amigas brasileiras foi influenciada por este fator cultural, já que provavelmente foram iniciadas a tomar vinho através do tinto encorpadão mesmo.

3)      Seguindo o mesmo raciocínio e lembrando que a pesquisa fala especificamente da percepção da sensação de amargor/adstringência, os tintos mais consumidos por aqui são basicamente vinhos do novo mundo ou com características “modernas” como Malbec, Carménère, Primitivo (de maneira geral tipologias de tintos bastante macios e com açúcar residual importante).  Já me pergunto se a situação seria a mesma em regiões onde os tintos mais comuns são com base em Sagrantino, Tannat, Nebbiolo, Aglianico, Sangiovese...?


 Isto sem polêmica alguma, apenas analisando os dados. Por exemplo, na minha região de origem (Campania, Itália) o vinho branco é alegremente e igualmente consumido por homens e mulheres, pois o lugar produz talvez os melhores brancos do País inteiro e a gastronomia típica focada em peixe e frutos do mar pede especialmente esta tipologia de vinho. Por outro lado os tintos locais, embora adorados por um público expert, são um pouco difíceis para os iniciantes por causa da forte carga tânica. Portanto, dentro destas condições, por lá é mais provável ser iniciado ao mundo dos vinhos através de brancos, o que ocorreu exatamente comigo.

Portanto eu não condenaria o citado estudo como não verdadeiro e sim ressaltaria mais ainda o que na verdade o mesmo pretende provar, ou seja, que os fatores culturais podem até chegar a condicionar a genética.

De qualquer forma acredito ser errada de modo geral a postura em que devemos nos preferir uma tipologia de vinho em vez de outra. Eu amo todas da mesma maneira, apenas vou escolher uma no lugar de outro conforme ao momento e especialmente à comida que irão acompanhar.

sábado, 14 de outubro de 2017

As mulheres preferem vinho branco. Agora é comprovado cientificamente

As mulheres preferem vinho branco. Clássico lugar comum, mas desta vez parece que podemos afirmar esta sentença com o aval da ciência.

Um estudo internacional envolvendo oito Universidades e Centros de Pesquisa de Itália, Republica Tcheca e Alemanha abordou o tema e o resultado foi publicado nas páginas da Scientific Reports 

A ideia inicial partiu do princípio que quando comemos alimentos como verduras ou chocolate as sensações e especialmente a sensibilidade ao gosto amargo de algumas pessoas é diferente da nossa. Então para estudar mais aprofundadamente as sensações de amargor e adstringência os cientistas em questão pensaram em utilizar uma substância rica em polifenóis como o vinho tinto.

A equipe de pesquisadores envolveu 300 pessoas de nacionalidade italianas e 300 da República Tcheca que foram convidadas a saborear um vinho tinto muito encorpado. Mas em vez de se limitar à descrição subjetiva dos voluntários, o estudo avaliou as sensações em nível dos genes receptores do sabor. Os genes do gosto amargo e adstringente estão presentes em todas as pessoas, mas o estudo destacou um modo de ativação diferente. No caso foi evidenciado que a ativação dos genes receptores da adstringência no sexo feminino é mais significativo que nos homens, o que explicaria porque as mulheres consomem mais vinho branco.

Além disso, comparando os grupos por nacionalidade, veio á tona uma questão interessante, ou seja, que os participantes italianos resultaram menos sensíveis ao sabor amargo, independente dos próprios genes. Isto indicaria que a cultura também desenvolve um papel fundamental na determinação do gosto pessoal. “Afinal se o povo italiano é mediamente menos sensível ao amargor então deveria consumir muito mais vinho tinto do que os povos do norte da Europa, mas o que ocorre é exatamente o contrário” afirma o coordenador do estudo Alberto Bertelli, do Departamento de Ciências Biomédicas para a Saúde da Universidade de Milão. A hipótese do cientista, portanto é que o gene sozinho não explica tudo e que talvez ele seja influenciado pelo efeito de diferentes culturas e estilos de vidas.

Este estudo é um primeiro passo para continuar examinando se os fatores culturais podem realmente condicionar a genética.

“Temos que concluir que estas pesquisas têm de ser aprofundadas, sem esquecer que o consumo de vinho com moderação é uma característica própria dos países do Mediterrâneo, e em particular da Itália: este modelo virtuoso parece ter a mesma importância que os efeitos dos genes”, conclui o coordenador do estudo.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Lançamento mundial do Pêra Manca 2012 será no Brasil!

  Press agency news*
       
Um dos nomes principais nomes do mundo do vinho no Brasil, Ricardo Castilho -- membro das Confrarias de vinhos do Alentejo, Dão e Vinho do Porto, todas em Portugal; e cavalheiro da Confraria de Champagne, na França, traz para o Brasil o lançamento mundial do vinho Pêra Manca Tinto 2012. A novidade será apresentada numa degustação guiada por Gabriela Fialho Gerente de Exportação Conselho da Fundação Eugênio de Almeida (FEA), no I Fórum Internacional de Vinhos, que acontecerá dia 26 de outubro, durante a Semana Mesa SP.

No encontro os apaixonados pela bebida têm a oportunidade de conhecer em primeira mão o emblemático rótulo português elaborado somente em anos de grandes safras – processo estabelecido desde 1990. Produtor conhecido e querido entre os brasileiros, a safra 2012 chega ao país como um ícone representativo da região lusitana.



“Com o crescimento de apreciadores de vinhos, vislumbramos a importância de aproximar consumidores e especialistas do setor. Com isso, trouxemos para a Semana Mesa SP, maior evento de gastronomia do Brasil, o Fórum de Vinhos, que vem para aproximar ainda mais os produtores internacionais e nacionais do seu público final”, explica Castilho.

Ainda no encontro, Michel Friou, enólogo do Almaviva, promove uma vertical de quatro safras dos rótulos da vinícola, considerado o melhor tinto sulamericano. A programação também conta com rodada de negócios, intercâmbio de informações e degustação exclusivas, que acontecem na Sala do Atos, decorada com um enorme painel de Portinari. Dias 26 e 27 de Outubro, das 15 às 21h.
Serviço

Degustações Premium/ Sala Atos

26 de Outubro

Perâ – Manca
Apresentação: Gabriela Fialho
Horário: a partir das 18h30
Valor: R$350

Vertical Alma Viva
Apresentação: Michel Friou
Horário: a partir das 20 horas
Valor: R$350

27 de outubro
A influência da taça na degustação de vinhos
Apresentação: Bruna Giglio
Horário: a partir das 17 horas
Valor: R$160

Syrahs: França x Austrália
Apresentação: Sara Ferreira
Horário: a partir das 20 horas
Valor: R$160

I Fórum de Vinhos/Mesa Ao Vivo – 26 a 28 de outubro
1 dia – R$ 55
2 dias – R$ 100
3 dias – R$ 120
*ingresso válido para programação de Mesa Vinho e Queijos do Brasil

*Informações e texto fornecidos pela assessoria de imprensa do evento