quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

O vinho do ano

Quem acompanha as páginas “mondovínhicas” sabe que nunca publiquei aqui a lista dos meus melhores vinhos do ano e coisas similares. Até poderia, mas já expliquei várias vezes porque prefiro me eximir (sem criticar quem faz). Portanto no lugar de uma estéril lista dou a vez a apenas um vinho que pra mim mais se destacou nas inúmeras degustações ao longo de 2017. Isto não quer dizer tampouco que pra mim este seja o melhor vinho do ano em termos absolutos, mas de qualquer forma representa o que mais me surpreendeu e suscitou certa emoção.

E o rótulo que escolhi este ano é:

Quattro Soli 2011, Sforzato della Valtellina - La Perla (di Marco Triacca)



Sforzato della Valtellina é uma denominação quase desconhecida no Brasil, e até difícil de memorizar, eu sei. Mas vale a pena conhecer, pois os vinhos são bem interessantes.

Como explicar este vinho...hum, vejamos: pegue um Barolo e vinifique com as técnicas do Amarone, mais ou menos assim vai entender o que deve esperar deste caldo.

A uva Nebbiolo é cultivada na região de Lombardia desde sempre e com excelentes resultados. Especialmente dentro da área da Valtellina (na província de Sondrio) tem alguns exemplares competindo com os melhores rótulos da mais badalada região de Piemonte.

Já o Sforzato é um nebbiolo obtido com técnicas de passificação natural, assim como acontece na Valpolicella (Veneto) para o Amarone. Mas nem todo mundo sabe que a DOCG para o Sforzato foi concedida bem antes que a do Amarone, em 2003 versus 2011.

Para você ter ideia da categoria, um Sforzato di Valtellina já ganhou o título de melhor vinho da Itália inteira (o premiadíssimo Sfursat 5 Stelle do Nino Negri , simplesmente fantástico), mas este exemplar aqui também fez muito bonito e me deixou realmente feliz.



Vinícola jovem e pequena, a La Perla foi fundada em 2009, mas o Marco Triacco vem de família de viticultores e sabe o que faz. De 3 hectares de vinhedos, todos plantados com Nebbiolo (localmente conhecida também como Chiavennasca), ele engarrafa apenas 3 tintos em produção minúscula. Deste Quattro Soli são apenas 3.000 garrafas.

Depois de colhidas, as uvas são colocadas num espaço aberto protegido do sol e areado por cerca de 3 meses, onde perdem até 30% de água, concentrando portanto as restantes componentes.

Mas diferente do Amarone que resulta frequentemente numa pancada de geleia e álcool (podendo chegar até 17%), este Sforzato é um show de elegância e delicadeza.

No nariz um buquê de pétalas de flores com aromas balsâmicos e minerais como talco, gengibre e giz. Na boca é seco, com corpo delicado, mas estruturado, de rara finesse, acidez espetacular e taninos gostosos; apesar de seu estágio de 24 meses em carvalho, a madeira é apenas um sopro (se utilizam barris de até 1.000 litros); álcool contido em apenas 14,5%, (que para um passito como este é pouco); final longo e delicioso. Pra mim foi felicidade engarrafada. Pena o preço (R$ 450 na Belle Cave), que te devolve a tristeza imediatamente.

O moto da vinícola La Perla “cultivamos sonhos” me oferece o gancho para desejar que os sonhos que você e que todos nós aqui cultivamos possam se tornar realidade neste 2018 que está chegando.

Grande abraço a todos!






segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

É tempo de Peru!


Eu sei que, ainda mais em clima de Natal, se eu falar em Peru não estaremos pensando necessariamente na mesma coisa J Pois não é da ave que vai estar na mesa de fim de ano que estou falando, e sim do país, nosso vizinho sul-americano. E, porque não, de um vinho que pode também estar na sua mesa de Natal.

Não se deixe enganar pelo fato de não estar no mapa dos melhores terroirs internacionais: o Peru produz bons vinhos sim, afinal a gastronomia peruana está em alta no mundo e a enologia não podia ficar pra trás. Pessoalmente já tinha provado alguns rótulos da Intipalka, alguns trazidos de amigos diretamente de lá, outros proporcionados pela mesma importadora que trouxe o exemplar deste post, todos bem interessantes.

A Bodega Santiago Queirolo é a vinícola peruana mais badalada e a Intipalka a sua linha mais premiada e representativa nos mercados internacionais. A história da casa remete ao ano de 1877, quando a família Queirolo chegou a Lima vindo da cidade italiana de Genova. Três anos depois a família começou a produzir pisco (que se tornou rapidamente um dos melhores do país, inclusive até hoje), mas foi na década de 2000 que a vinícola foi totalmente reformada, estruturalmente e conceitualmente, com o intuito de produzir vinhos finos premium de perfil internacional.


Assim nasceu a Intipalka, que no idioma dos incas significa “vale do sol”, referencia á região de procedência. Situada aos pés dos Andes a área tem clima desértico com grandes amplitudes térmicas e solo rico em minerais, ademais a proximidade ao Oceano Pacifico (60 km) torna a temperatura mais amena: algo que pode ser comparado ao microclima de Mendoza, de acordo com o produtor.

Falando em Argentina, nestas páginas já avaliamos um Malbec da Intipalka (veja aqui) que a importadora Winelands me deu a oportunidade em provar. Este era da linha “Varietales”, a de entrada da vinícola, já desta vez falamos de um vinho Reserva, um dos premiums da casa.

Intipalka Reserva Cabernet Sauvignon- Syrah 2012
O corte, bastante comum em países como Austrália e África do Sul, normalmente providencia vinhos gordos, potentes, estruturados e este exemplar peruano também não foge a regra. O nariz intenso de cereja e groselha entrega também certo mentolado e um pimentão. Na boca é rico e suculento, mantendo intensidade e bom equilíbrio. O estágio em madeira de 6 meses acrescenta complexidade, mas sem se tornar invasivo e os taninos doces são balanceados por boa acidez. A casa sugere decantar no mínimo 1 hora, no meu caso não foi decantando, mas mesmo assim escoltou com sucesso uma bela picanha grelhada.

Mais um vinho exótico e marcante da Winelands Importadora e Clube de Vinho (R$ 125,00)