segunda-feira, 27 de novembro de 2017

O vinho mais “borgonhês” de Bordeaux

De fato o Château le Puy sempre prezou pela elegância e finesse no lugar de opulência e força, o que acaba até enganando quem conhece o estilo consolidado da região. Alguns consideram seus vinhos mais parecidos com os da Borgonha que com os de Bordeaux, pessoalmente acho meio forçado, mas certamente os vinhos do Le Puy têm uma delicadeza rara naquelas coordenadas geográficas.

A vinícola produz seus vinhos de maneira “natural”, sem adição de sulfitos, leveduras ou outros aditivos desde 1990 e sucessivamente implementou em seus vinhedos também as técnicas biodinâmicas, que vem utilizando em toda a sua linha desde 1998.

Ficando na margem direita (especificamente em Saint-Cibard, a poucos km de Saint Émilion), seus tintos priorizam o uso da merlot, assim como manda o figurino. Uma preocupação da casa é utilizar barricas majoritariamente usadas para que a madeira seja apenas uma coadjuvante e não protagonista.

Este Emilien 2008 responde exatamente aos pré-requisitos: composto por 85% de merlot sendo o restante 15% dividido entre cabernet franc, cabernet sauvignon, malbec e carménère e matura por 24 meses em barricas de segundo e terceiro uso.

Com 9 anos de vida mostrou muita saúde e boas perspectivas de guarda (a despeito de quem acha que vinho natural não envelhece bem). No nariz mostrou de cara um leve reduzido, que rapidamente foi desaparecendo com areação na taça, liberando espaço para fruta silvestre e até certas lembranças cítricas, castanhas e tabaco. Na boca um suco rico, ágil, com um toque de salinidade numa textura aveludada. 

Um vinho esbelto e agradável, gastronômico, mas nada banal e sem qualquer indício das madeiras tristemente pesadas de muitos dos seus irmãos maiores. 


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

FICO Eataly World. Informações de utilidade pública


Se ainda não sabe do que estamos falando, dê uma olhada ao post anterior (clique aqui) e descobrirá porque se tornou em poucas horas uma das matérias mais lidos do blog.

Pois bem, agora que ficou com vontade de se tornar um dos 6 milhões de visitantes previstos por ano, o que vamos fazer aqui é te ajudar com umas infos uteis e práticas para você planejar sua visita.

A entrada do parque FICO Eataly World fica na área para feiras/exposições (para quem conhece, é onde antes tinha o Caab, Centro agroalimentare Bologna), a 20 minutos do centro da cidade e a 50 minutos do aeroporto.

Endereço:  Via Paolo Canali, 8 – Bologna

Numero de telefone: (+39) 051 0029001


Horário de funcionamento: todos os dias das 10h às 24h


Ingresso:  gratuito . Mas atenção, pois uma vez dentro podem se gastar valores consideráveis.

Como chegar: 


1) De carro

Se for de carro, vai encontrar toda uma serie de sinais especialmente montados que irão te levar ao parque a partir das principais ruas de Bolonha e saídas das autoestradas.
O estacionamento contempla 2.500 vagas e é gratuito para as primeiras 2 horas. Depois, apenas 1,50 euro por hora.


2) De trem
A companhia de trens nacional Trenitalia criou um meio especial para quem chegar a Bolonha sob trilhos. Na estação de trem vai encontrar um veículo ecológico (um trem/van elétrico) que vai te levar até a entrada do parque e também até a cidade.


3) De ônibus
Em vários pontos da cidade você poderá embarcar no Ficobus, ônibus híbrido, até o parque. Ao custo de 5 euro (uma passagem) ou 7 euros (ida e volta), a cada 20 minutos. Grupos com mais de 4 pessoas ganham desconto.



4) De avião
Do aeroporto terá taxi com uma tarifa conveniada de no máximo 23 euros. Mas se sugere pegar o transfer para a estação de trem e de lá o Ficobus (veja acima), por um custo total de 16 euros e o meio ambiente agradece.

5) De taxi
De pontos específicos do centro da cidade, com tarifa conveniada de no máximo 20 euros


Mapa: clique aqui para abrir em alta. Se esquecer de levar, de qualquer forma poderá retirar uma versão impressa na entrada. Fundamental para planejar o seu roteiro que pontualmente você não respeitará porque desviado por centenas de distrações.




Site: www.eatalyworld.it Aqui encontrará todas as informações adicionais, especialmente sobre as aulas e atividades didáticas, a lista de fábricas e restaurantes com relativas especialidades culinárias, lojas, mercados e todo mais.

Pronto, agora está com faca e queijo na mão para começar seu tour. Aliás ali encontrará facas e inúmeras variedades de queijo também. E uma equipe de 700 funcionários prontos para te atender e te explicar que na verdade o espaguete á bolonhesa não existe J







terça-feira, 21 de novembro de 2017

Abre o primeiro parque de diversão eno-gastronômico do mundo!





Já foi apelidado de “a Disneyland da enogastronomia”, mas no lugar do Mickey tem um figo como símbolo. No último dia 15 de novembro abriu oficialmente as portas o primeiro parque temático inteiramente dedicado ao mundo agro-alimentar. Diferente de outros parques o ingresso é gratuito, mas a diversão é garantida da mesma forma. Onde podia acontecer isto senão na Itália? E não por acaso numa das cidades mais famosas pela sua culinária: Bolonha.



Mas o que é exatamente este parque? Alguns de vocês já devem ter entrado numa das lojas da Eataly espalhadas pelo mundo (de Nova York a Toquio, passando por São Paulo). Pois bem, pegue uma destas lojas, multiplique x 10, adicione campos, fazendas, vinhedos, oliveiras, fabricas artesanais e mais dezenas de atividades divertidas e didáticas.

O FICO Eataly World nasce de uma joint venture entre a citada Eataly e a Coop (cooperativa italiana que reúne dezenas de produtores, distribuidores e varejistas de alimentos). FICO significa “Fabbrica Italiana Contadina”, mas joga também com a palavra que em italiano indica o figo, mas também uma gíria par indicar algo que é bem legal, bacana, o equivalente do inglês “cool”.

Alguns números para dar a ideia da majestosidade do projeto:

O parque ocupa 10 hectares, sendo 2 ao ar livre; 90mil metros quadrados de superfície comercial; 32 espaços de produção; 47 restaurantes; 9 mercados, um cinema, um teatro, um centro convenções, 200 animais numa fazenda didática and much more.

- Para facilitar seus deslocamentos de uma parte a outra do parque tem triciclos equipados com cestas para compras e compartimentos para conservar a comida refrigerada



- Encontrará várias fábricas (de massas, pães, doces, azeites, vinho) que irão mostrar todo o processo de produção a partir de onde vem o produto até chegar ao seu prato


- No meio das fábricas, centenas de mesas, dezenas de restaurantes, que servem comidas de todo tipo e para todos os bolsos: de street food a alta gastronomia (inclusive com filiais de uns restaurantes estrelados)  

- 6 atrações interativas que relacionam o homem com a terra, com o mar, com o fogo, com os animais, e finalmente, com o futuro do planeta




- Visitas guiadas dos dois hectares dedicados a campos e estábulos, onde crescem as principais variedades da agricultura italiana e pastoreiam 200 animais de raças nativas, como vacas, cavalos, cabras, galinhas, etc.


- Cursos, workshops e aulas sobre variados assuntos: você pode aprender sobre trufas ou sobre jardinagem, produzir seu queijo ou seu sorvete. As ofertas são inúmeras e mudam periodicamente

- A enorme loja do Eataly: 2500 mt quadrados de azeites, massas, carnes, cafés, queijos e vinhos que você viu ao longo do percurso. Mais um grande departamento dedicado a produtos de casa, eletrodomésticos e utensílios de cozinha.

- Interessante e útil, se estiver com pouco espaço nas malas: antes da saída vai encontrar um ponto de embalagem oficial do Correio (Poste Italiane), para o envio das compras em qualquer lugar do mundo. E ainda com o reembolso dos impostos, como nos aeroportos.

- E, se você não pretende comprar nada, vai poder se entreter de qualquer forma nas várias áreas de lazer que incluem cinema, teatro, academias, playgrounds, quadras de futebol, ou de beach volley com areia verdadeira trazida da costa. A ideia é tornar o parque um ponto de encontro e de distração para ser frequentado todo dia e a qualquer hora, para um jogo de frescobol com os amigos ou para uma aula de tango, para ver como se cria um charuto artesanal ou para cortar o cabelo num salão “orgânico”.



Eo Vinho?

Indo para a parte que nós interessa mais de perto: a sagrada bebida.

Você poderá literalmente produzir o seu próprio vinho a partir de uvas do vinhedo externo plantado com 40 variedades italianas. 



Já nas prateleiras há mais de 1500 rótulos de centenas de produtores, mas com foco nos 52 principais parceiros chamados de mais “cool” (obviamente lideram Borgogno e Fontanafredda, de propriedade do patrão de Eataly, mas também grandes nomes como Antinori, Frescobaldi, Planeta, Ceci, Falesco, Grattamacco, il Poggione, La Spinetta, Castello di Ama, Feudi San Gregorio, etc). Cada uma dessas vinícolas tem uma barrica de envelhecimento dentro da estrutura e vinhos para venda em taça em todos os espaços de consumo, além de wine-dinner semanais com a presença do enólogo.

Além disso, são disponíveis cursos, aulas, masterclasses e degustações diárias. Mas se quiser apenas provar algo terá 100 rótulos à disposição para degustação em taça (em Enomatic) com preços que variam de 4 a 50 euro.


No próximo post: algumas informações práticas para programar sua visita ao parque.


quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Hora da matemática: já provou a uva Concejon? E a Moristel?

Primeiro interesting fact: a garrafa é certamente chamativa, com os números serigrafados percorrendo a superfície do vidro e o π evidenciado no meio, em vermelho. Estamos falando obviamente da famosa constante matemática conhecida como PI grego, correspondente a um número infinito que começa por 3,14...

Mas o que tem a ver isto com o nome do rótulo? Simples, as uvas utilizadas para este vinho provêm de um vinhedo único de 3,14 hectares. Achei genial.

O segundo interesting fact é a variedade da uva, muito pouco conhecida internacionalmente. Confesso que eu nunca tinha ouvido falar antes. No título do post na verdade quis fazer uma brincadeira, pois Concejon e Moristel são dois nomes diferentes para a mesma casta espanhola. A denominação muda conforme ao lugar. Aqui estamos em Calatayud (não confunda com Catalunya), província de Zaragoza, região de Aragón, aos pés dos Pireneus. E aqui esta uva é chamada de Concejon e acredita-se que seja uma variante local da Monastrell (Mourvèdre).  Usada tradicionalmente em blends para acrescentar cor e corpo, nos últimos tempos está sendo explorada também em versão varietal.

A vinícola Langa com seus 150 anos de história e inúmeros prêmios nacionais e internacionais se tornou estrela da região. Vamos então ao vinho:

Bodegas Langa PI 3,1415 safra 2014

O vinhedo único (de 3,14 he) de uvas Concejon tem uma idade entre 90-100 anos e está situado a cerca de 1000 mt de altitude. Vinificação tradicional e estágio de 1 ano em barricas de carvalho (americano e francês) e em garrafa por mais 6 meses.

O resultado foi muito interessante. O corpo mais leve do que sua cor extraída e intensa deixava imaginar. Fiquei surpreso (e assustado) com o álcool: 15%! Mas totalmente imperceptível. O nariz um pouco rústico denotava um toque animal, fruta silvestre, alcaçuz, e um defumado em destaque. Na boca é longo e de bom equilíbrio, com as sensações acima confirmadas e taninos firmes, mas bem definidos, quase esculpidos. Agradou bastante.

- R$ 120 na Wine



segunda-feira, 6 de novembro de 2017

O segundo do Cantemerle...será que é bom?


Entre nós: se a classificação oficial de Bordeaux de 1855 fosse escrita agora, o Château Cantemerle muito provavelmente ia ficar de fora. Desde então ela nunca foi modificada (menos que para a entrada “política” do Mouton) e, portanto alguns podem se gabar por virtudes que não tem mais enquanto outros reclamam da vida porque agora seu vinho é bem melhor que 200 anos atrás e não tem uma nova classificação para comprovar.

Pois bem, o Cantemerle pertence à primeira categoria, sendo um dos mais “fracos” dentro da prestigiada lista. Por contra mantém um preço acessível, portanto faz a felicidade de quem quer que esteja escrito Grand Cru Classé no rótulo independentemente do conteúdo da garrafa. Não me entenda mal: a vinícola faz um ótimo trabalho e os vinhos de fato são bons, mas estar na mesma categoria que Lynch-Bages ou Pontet-Canet é covardia (5º cru)

Enfim. O Château Cantemerle fica na abrangente apellation de Haut-Médoc, especificamente no vilarejo de Macau.

Provei algumas vezes o top da casa e, apesar de bom, nunca me empolgou, por isto não tinha muitas expectativas para o irmãozinho, mais ainda sendo de safra difícil. Mas não é que me surpreendeu?


O Les Allées de Cantemerle 2013 foi produzido em 160mil garrafas, apenas com Cabernet Sauvignon e Merlot (enquanto em outras safras podem entrar também Cabernet Franc e Petit Verdot) das vinhas mais jovens da propriedade. Vinificação tradicional, mais estágio de 1 ano em barricas de carvalho.

O resultado foi um tinto muito fino. Nariz de ameixa, cereja, charuto, folhas secas, notas balsâmicas. Na boca ótima fruta, acidez excelente e taninos gostosos. Já pronto agora, ainda vai envelhecer bem por mais uma década. Chapéu 🎩

Em proporção vale muito mais este que o primeiro vinho (uns R$ 200 contra uns R$ 400).