quinta-feira, 29 de junho de 2017

Coma antes de ir para o restaurante! E outras dicas do Gordon Ramsey


Quem não gosta de comer em restaurante? De ser servido, de saborear uma comida deliciosa, harmonizada com um belo vinho num ambiente acolhedor? Tudo de bom, né? Mas muitas vezes as expectativas são frustradas por experiências nada agradáveis. Então o badalado chef britânico Gordon Ramsay, dono de cerca de 40 restaurantes espalhados pelo mundo (10 dos quais estrelados) protagonista de famosos programas de TV como Masterchef USA, Hell’s Kitchen e Kitchen Nightmares, revelou ao jornal The Guardian algumas dicas para reduzir as chances de algo dar errado durante a merecida refeição num restaurante.

Portanto vamos ver a lista de regrinhas que o estrelado chef televisivo sugere para não errar:

Ligue, não reserve on-line
Claro, reservar pela internet além de seu charme tecnológico tem sua comodidade, mas se dar o trabalho de ligar vai resultar em mais chances de conseguir vaga (ou uma mesa melhor). No site do restaurante está avisando que não tem mesa disponível? Bem, ligando diretamente pode ter algo ainda livre sim (aconteceu inclusive também comigo!), caso não tenha poderá entrar numa lista de espera e se for particularmente simpático e gentil pode até ganhar a melhor mesa.
Além do mais, eu acrescento, desta forma você já começa a conhecer o nível de atendimento da casa: a pessoa que te atende ao telefone é seu primeiro contato para avaliar a experiência como um todo.

Observe os banheiros
Uma velha regra, mas sempre válida. Se quiser saber como é um restaurante então repare no estado dos banheiros. Um restaurante que não mantém os níveis básicos de higiene diz tudo em respeito ao resto.

Coma antes de sair de casa
Pode parecer uma contradição, mas não é; isto porque ninguém é capaz de julgar corretamente a qualidade de um prato se estiver com muita fome. Então a sugestão é comer um leve lanche uma hora antes de sair. Desta forma vai também evitar de comer muitos aperitivos (seja um cover, um buffet, pães, etc) e ficar já estufado antes que cheguem os pratos principais.

Vá para o almoço e não para o jantar
Esta regra vale particularmente para os restaurantes que oferecem cardápios diferenciados entre dia e noite ou que tenham um menu executivo de bom nível e com preços mais competitivos. Vale também para poder provar pratos de chefs estrelados sem ter que necessariamente harmonizar com um vinho caro. Bom, isto nem sempre.

Confie no especialista
Especialmente em matéria de vinho, confie em quem sabe mais que você. Se por um lado é verdade que vários estabelecimentos (especialmente no Brasil) pecam no quesito vinho, cujo serviço é delegado a garçons ou curumim despreparados, por outro há muitas casas que investem em sommeliers competentes (como muitos meus amigos e colegas) que vão saber harmonizar a sua comida da melhor maneira e ainda com o melhor custo para o seu bolso.

Reclame, reclame, reclame
Ninguém quer deixar o restaurante com um gosto amargo na boca. Então se tiver algo errado fale logo! Se a mesa estiver em falso e oscila em síncrono com a lava-louca, se ela estiver na porta do banheiro, se o vinho for ruim, se o cozimento do prato não estiver de seu agrado, não tenha medo de externar para os atendentes. Os donos de restaurantes preferem tentar consertar o que deu errado (talvez com uma sobremesa cortesia, uma taça de vinho extra ou um desconto) do que ter um cliente sorridente que paga a conta sem dizer uma palavra e depois corre para casa esculhambar o restaurante com uma avaliação negativa no Trip Advisor.

De qualquer forma o chef Ramsey faz questão de ressaltar que a maioria dos restaurantes trabalha com margens apertadas e que os donos e chefs tem que ser muito “criativos” quanto à execução e precificação dos pratos (especialmente em época de crise econômica como aqui!), mas afinal das contas todos eles querem os clientes felizes.





terça-feira, 27 de junho de 2017

A rainha da Campania

Hoje falamos de uma uva não muito conhecida por aqui, mas que mora no meu coração: a Falanghina.

A falanghina é apontada por muitos como a casta porta-bandeira da minha região da Campania. Sobre isto podemos concordar ou não, afinal tem tintos e brancos sensacionais de outras castas (clique aqui para mais detalhes ), mas certamente os brancos feitos a partir de Falanghina são os mais consumidos por lá, também devido ao forte acento da culinária local focada em frutos do mar. É a uva protagonista nos catálogos das vinícolas da região.

Enfim, porta-bandeira ou não, a casta é de grande prestigio. Apesar de sua história antiga e gloriosa, correu o risco de cair em declino (justamente por causa alta demanda se preferiu produzir quantidade no lugar de qualidade), mas felizmente nas últimas décadas importantes enólogos e produtores resgataram e revalorizaram a natureza desta “pequena joia” do sul da Itália.

Baste citar que em 2015 o prestigiado guia “Annuario dei Vini Italiani” elegeu um falanghina como o melhor vinho italiano em absoluto (o “Janare Senete” da vinícola La Guardiense), batendo a concorrência de tintos e branco badalados do País inteiro.

Hoje é produzida em outras regiões também, mas a falanghina é uma uva autóctone da Campania, onde os primeiros registros de sua existência podem ser encontrados nos tratados da agricultura de 1800, com referência a suposta origem grega.

Já quanto à origem do nome existem diversas teorias. A mais aceita afirma que a videira crescia apoiada em postes de madeira chamados “falangos” em grego num sistema de condução ainda utilizado em algumas áreas da região (veja foto abaixo). Já outra teoria acredita que a uva seja antepassada da Falerno Bianco, produzido com uva “falernina” e uma possível modificação do termo pode ter resultado em  falanghina.

Condução a "falangos"
As áreas de origem da casta são basicamente duas: Taburno e Campi Flegrei, com dois diferentes clones que diferem em forma e tamanho. Especialmente na segunda área os vinhedos são ainda plantados em pé franco, onde o solo vulcânico ainda em atividade impede a reprodução da filoxera e outros parasitas.

A falanghina é uma casta vigorosa e com produtividade constante, e bastante eclética, capaz de transmitir características diferentes dependendo do seu terroir (ou até micro-terroir).

Os vinhos obtidos mostram em sua juventude os aromas primários da casta independente da área de cultivo: banana, maça verde, abacaxi. Já os mais maduros ganham um caráter próprio conforme seu terroir: os do interior exaltam as notas floreais, mentoladas e balsâmicas; já os da costa desenvolvem aromas de fruta cítrica e de vegetais.

A legislação permite a utilização da falanghina em monovarietal ou em corte em diferentes denominações (DOC) como come Falerno bianco e Galluccio, Sant'Agata dei Goti, Sannio, Capri, Campi Flegrei, Vesuvio, Penisola Sorrentina, Costa D'Amalfi e Irpinia.

Aqui no Brasil infelizmente não temos muita variedade disponível no mercado (mas estou tentando trazer mais um bom produtor), entre os poucos rótulos disponíveis* indico:

- Mastroberardino Falanghina del Sannio DOC [Mistral]
- Terredora Falanghina IGT [Cantu]
- Villa Matilde Falanghina Rocca dei Leoni [Grand Cru]
- Marisa Cuomo Furore Costa d’Amalfi [Cellar]
- Villa Raiano Falnghina Beneventano [Decanter]
- Manimurci Puella Falanghina [Enoeventos]
- Feudi San Gregorio Lacryma Christi (corte de falnghina e coda de volpe) [World Wine]
- Ocone Falanghina Flora [Zona Sul]

*alguns destes rótulos já estão com importação descontinuada, mas ainda é possível encontrar algumas garrafas nas prateleiras.

Campi Flegrei

Campi Flegrei
Taburno
Monte Taburno no inverno

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Mais uma novidade: chega aí a garrafa achatada!

Já vimos aqui alguns dos formatos de garrafa mais falimentares revolucionários destinados a mudar para sempre o mundo das bebidas, como as seguintes (clique em cada item para ler mais a respeito):

- a garrafa de 500 ml 
- a garrafa de papel 
- a garrafa cubica que salvará o mundo 
- a garrafa PET
- a garrafa auto-oxigenante
- a garrafa desmontável 

E outras bizarrices do tipo.

Depois de tudo isto será que agora você está pronto para a garrafa achatada? E em plástico, inclusive? 

Pois é, meus amigos enófilos, eis mais uma invenção revolucionária (???) do mundo do vinho.  A garrafa em questão foi criada como uma mail-sized bottled, ou seja, uma garrafa perfeita para frete.

O mercado de compra de vinho on-line está em forte expansão, especialmente no Reino Unido, assim a Garçon Wines, empresa londrina especializada em packaging, desenvolveu este produto peculiar estudado para entrar diretamente na caixa de correio. O formato e o material foram particularmente adaptados ás caixas postais inglesas, embutidas diretamente na porta de entrada das residências, onde o risco de quebrar sempre foi alto.

Assim a clássica garrafa de vidro de 750ml foi substituída por uma garrafa achatada em plástico sutil, com tampa de rosca e um pouco mais comprida que as tradicionais.

A ideia pareceu tão boa que foi selecionada para participar do programa televisivo britânico “Pop Up Start Up” (algo tipo Shark Tank), para conseguir financiar o projeto e começar a fabricação em escala.

Será que a moda vai pegar?





segunda-feira, 19 de junho de 2017

Quando e como decantar um vinho? Aqui um guia essencial (rápido e prático)

Nestas páginas já falamos de várias e inovadoras formas de decantação do vinho, como a garrafa decantadora, decanter sonoro, a garrafas auto-oxigenante, o decanter antissulfitoa  maquina para vinho em cápsula que decanta, e até decantamos um vinho no liquidificador, mas me dei conta que em momento algum abordamos a questão da maneira mais tradicional.

Afinal, mesmo que já se tenha dito de tudo a respeito, as pessoas continuam me fazendo a mesma pergunta clássica: quando devo decantar meu vinho?
De fato a questão parece simples, mas na verdade pode apresentar diferentes níveis de complexidade.

Primeiramente é bom lembrar para os amigos literados e poetas que neste caso a frase “decantar um vinho” não é usada para louvar ou enaltecer as qualidades do líquido, e sim significa transvasar o mesmo de um recipiente (normalmente uma garrafa) para outro (normalmente algo similar a uma jarra).

A operação é delicada e até mesmo depois de décadas de experiência é possível tomar a decisão errada e só uma longa vivencia de vinhos de diferentes tipologias, idades e estruturas pode diminuir a margem de erro.

Mas com a nossa usual abordagem simplificadora vamos propor aqui um guia rápido e prático para você saber de maneira geral quando e como decantar seu vinho.  

É para decantar:

1) Normalmente vinhos tintos, menos frequentemente vinhos brancos, ainda mais raramente vinhos espumantes e vinhos de sobremesa.

2) Se o vinho for jovem e reduzido, ou seja, quando logo depois da abertura apresenta cheiros nada agradáveis (lembrando armário fechado, casca de queijo, ovo podre, enxofre, cebola, couve-flor, etc).

3) Se o vinho for maduro (dependo do tipo, pode ser depois de cinco, dez ou mais anos) e não desenvolve um bouquet aromático intenso e nítido, mas apresenta odores fracos e evasivos.

4) Se o vinho for de venerável idade (de 20 a 40 anos ou até mais) e parece meio adormecido e, portanto precisando “soltar as articulações”. Mas cuidado, esta operação é para ser feita com delicadeza poucos antes de beber o vinho, caso contrario o líquido pode morrer no decanter, ou seja, oxidar muito rapidamente.

Em todos os outros casos é mais que suficiente desarrolhar, servir e deixar uns minutos o líquido na taça, onde o vinho tem tempo de respirar e se expressar.

Finalmente, para os pontos 3) e 4) é preciso evitar de transvasar no decanter também eventuais depósitos (borra) presentes na garrafa. Você deveria servir cautelosamente o vinho colocando o pescoço da garrafa contra uma fonte de luz e parar assim que você ver a chegada de partes sólidas.


Como disse, o guia é longe de ser definitivo, mas de alguma maneira agora você tem umas diretrizes gerais para seguir, umas regrinhas básicas para se orientar na selva da decantação. 

Quanto ao formato, o de forma tradicional, assim como o da foto no começo do post, é mais que suficiente. Daí os designers de divertiram criando decantadores de formas improváveis sinuosas feitas apenas para quem gosta de impressionar os amigos, mas que não agregam nada quanto à sua função (aliás, em muitos casos dificultam o serviço e a limpeza). Mas se achar interessante, seguem alguns exemplos de decanters em comércio de formas inusitadas.














terça-feira, 13 de junho de 2017

Da Bulgária para o mundo!

Aos poucos os vinhos búlgaros estão se tornando mais populares internacionalmente (inclusive no Brasil). Até que enfim, eu diria! Pois falamos da região do mundo onde provavelmente tudo começou, pois se acredita que mesmo ali, cerca de 4500 anos antes de Cristo a nossa amada bebida nasceu.

A vinícola Stambolovo é uma das mais conhecidas da Bulgária, e está situada no vale do Trácia, próxima às fronteiras com Grécia e Turquia, justamente na rota principal que levou os primeiros vinhos para a Europa central.

Com mais de 80 anos de tradição e prêmios acumulados ao longo dos anos, produz uma boa gama de vinhos brancos e tintos a partir de castas autóctones e internacionais. Já provei vários rótulos, todos de excelente qualidade. Inclusive uns anos atrás coloquei o Merlot AOC da Stambolovo  numa degustação onde apresentei 9  merlots do mundo, e este búlgaro surpreendeu todo mundo quando comparado com 8 outros rótulos de  vinícolas e países  bem mais badalados.

Uma trabalhadora nos vinhedos em traje tradicional búlgaro

Hoje vou falar aqui de 2 um tinto e de um branco da linha Estate (um pouco abaixo da linha citada acima, mas de qualidade similar e preço melhor).

Stambolovo Estate Sauvignon Blanc 2015


É um sauvignon blanc bem no estilo europeu, sem aquele caráter vegetal e o maracujá acentuado que estamos acostumados a encontrar em vinhos feitos desta uva no Novo Mundo (especialmente no Chile). Ele mantém estas características, mas de forma mais delicada e harmônica com o resto do conjunto, onde também aparecem maça verde, limão e camomila. Na boca é muito equilibrado, acidez e notas doces se contrastam perfeitamente, deixando um final ao mesmo tempo fresco e untuoso. Bem agradável.


Stambolovo Estate Merlot 2015






A uva merlot é o carro-chefe da casa (inclusive a vinícola tem disponíveis no mercado alguns merlots de safras antigas que devem estar uma belezinha) e este não faz por menos. Apesar de ser um tinto leve, tem bastante complexidade aromática, (flores, baunilha, amoras, ameixas, notas terrosas) e na boca é um veludo, onde mais uma vez o equilíbrio é a principal constante sensorial entre fruta, acidez e tanino. Um tinto impossível de não agradar feito com esmero e competência.


Estes vinhos estão disponíveis na Winelands, importadora especializada em produtos diferenciados e surpreendentes.