segunda-feira, 29 de maio de 2017

Vinho natural não existirá mais (e outras previsões da Wine Spectator)

Num recente editorial da Wine Spectator, a mais lida revista de vinhos do mundo, o jornalista Matt Kramer arrisca as suas previsões sobre o futuro do mercado do vinho. Vamos analisar o que nós esperaria nas duas próximas décadas, de acordo com a visão dele.

Antes de falar de previsões Kramer lembra que o futuro do vinho é uma “invenção” recente. Antes dos anos de 1970 ninguém pensava em como seria o mundo do vinho nas décadas seguintes. Até então o que contava era o passado: os famosos Chateaux de Bordeaux, os crus da Borgonha, um punhado de Champanhes de prestígio, umas poucas casas do Porto e uns riesling da Alemanha. Era isso aí e só.

Mas vamos às previsões:

 • O futuro “atual” do vinho será determinado pelos Millennials (os nascidos entre os anos de 1978 e 2000), que representam a faixa etária maior. Por exemplo, só nos EUA são 76 milhões as pessoas com idade entre 17 e 39 anos e todos eles têm mostrado bastante interesse em vinho. São os donos do futuro do vinho. 

O Cabernet de Napa continuará em alta (e com altos preços). Além da qualidade dos vinhos, a região oferece experiências enoturisticas únicas em todos os sentidos (hospedagem, visitas, comida, entretenimento, etc).

Os tintos do Norte da Europa (Alemanha, Áustria, e Itália do Norte) ganharam alto valor. Nestas regiões conhecidas por grandes brancos as mudanças climáticas criarão o habitat ideal para as uvas tintas também, especialmente a Pinot Noir. 

As rolhas de cortiça serão se não obsoletas, pelo menos ultrapassadas. As novas gerações de enófilos se importam muito menos do tipo de vedação que os tradicionais apreciadores da bebida e para eles não fará diferença alguma se o vinho tiver screw-cap (tampa de rosca), rolha sintética, de aglomerado, de vidro, tampa de coroa metálica (tipo cerveja), ou até novas formas de vedação.

• Os vinhos chamados “naturais” não existirão mais. Isso porque os naturais se tornarão a normalidade. Será normal para os produtores criar vinhos mais ou menos na linha dos que hoje são considerados “naturais”, com a diferença que serão todos bem feitos (em comparação com o naturalismo imprevisível de hoje).

• Por outro lado técnicas puxadas como osmose inversa e cones rotativos para reduzir o álcool serão cada vez mais comuns e aceitas, e os produtores serão francos e explícitos a respeito. Por incrível que pareça hoje, isso será o novo “natural”.

• Com o aumento da demanda de vinhos poucos alcoólicos, os produtores de regiões mais quentes terão que estudar novas soluções para reduzir o volume alcoólico de seus vinhos. E se eles saberão demonstrar que a remoção criteriosa do álcool através da tecnologia não afeta materialmente a "naturalidade" do vinho, então isto não será um problema para a nova geração de bebedores “tecno-conscientes”.

No final da matéria, o autor também se pergunta se a Chardonnay continuará sendo a rainha das brancas, se os blends ganharão a batalha contra os varietais, se Portugal será a nova Itália (com suas centenas de castas autóctones), não arriscando palpites sobre estas pautas.

De qualquer forma surpreende (e conforta) que até os americanos estão começando a enxergar a derrota daquele estilo de vinhos potentes que eles mesmo contribuíram a criar e padronizar. 

Claro, vale lembrar que o Matt Kramer talvez seja os que mais mostrou apreciar vinhos menos musculosos dentro da turma da WS, mas de qualquer forma está nítido que o caminho está traçado.

Só me pergunto (tendo em vista que o consumidor brasileiro prefere vinhos encorpados e alcoólicos tipo Malbeccão, Shirazão, Primitivão, etc): se a potência será mundialmente substituída pela leveza, quem irá mais tomar vinho no Brasil?






quinta-feira, 25 de maio de 2017

Chega aí o Grand Tasting 2017!


  
*A importadora Grand Cru (www.grandcru.com.br) inicia esse mês a edição de 2017 da sua maratona de experiências em torno do vinho batizada de Grand Tasting. Ela tem início por Porto Alegre (29/05), seguindo para Curitiba (30/05), Londrina (31/05), Goiânia (1/06), Niterói (2/06), Rio de Janeiro (5/06), São Paulo (6/06 [Profissionais do Setor e Imprensa] e 7/06 [Consumidor Final]), Maceió (8/06) e Natal (9/06), respectivamente.

Dentre as vinícolas confirmadas: Cave Geisse, Errazuriz, Leyda, Grandes Viños de San Pedro*, Koyle, Zorzal, Escorihuela Gascón, Pulenta Estate, Cobos, Bottega, Brancaia, Fanti, San Marzano, Mazzei, Talenti, Vila Medoro, Ixsir, Morande Adventure, Barone Montalto, Soprassasso, Ricossa, Matetic, Heras Cordon, Bodegas Pablo e Saint Clair.

* Em SP e RJ, no stand da Grandes Viños de San Pedro, será possível conferir as últimas cinco safras do ícone Altair.

Além de poder conhecer cada uma dessas vinícolas e seus vinhos, o evento contará ainda com 15 estações temáticas, divididas nas seguintes categorias:

1 – Champagne Billecart Salmon
2 – Espumantes
3 – Brancos leves
4 – Brancos estruturados
5 – Rosés pelo Mundo
6 – Novidades do Novo Mundo
7 – Novidades do Velho Mundo
8 – Pinot Noir pelo Mundo
9 – Península Ibérica (com destaque para o Alentejo, Ribatejo, Toro, Alicante e Priorat)
10 – Terrois da França (com destaque para os vinhos do Languedoc, Loire e Bordeaux)
11 – Super Pontuados
12 – Vinhos de Autor
13 – Douro x Duero
14 – Vinhos do Porto
15 – Vinhos de Sobremesa

Como não poderia deixar de ser, o Grand Tasting trará para o Brasil alguns lançamentos como Vila Medoro (ITA), Round Hill (EUA), Casanova di Neri (ITA) e Errazuriz e mais uma seleção de vinhos franceses e espanhóis. Nem tão novos, mas não degustados na edição de 2016, estarão presentes no Grand Tasting deste ano os rótulos Cave Geisse, Fanti e Billecart Salmon.

O investimento por pessoa é de R$ 280 - dos quais R$ 140 revertidos em crédito para compras acima de R$ 1 mil.

No dia do evento, as garrafas serão vendidas com 10% de desconto. Em São Paulo, o Grand Tasting montará uma loja teste no local para o cliente que desejar levar os produtos para casa.

Presenças confirmadas:

Paulina de Lucca, enóloga da Grandes Viños de San Pedro (Chile), em todo o circuito Daniela Salinas, enóloga da Morandé Adventure (Chile), em todo o circuito

Max Undurraga, proprietário da Viña Koyle (Chile), em todo o circuito 
Giacomo Neri, proprietário da Casanova di Neri (Itália), estará presente em SP e RJ
Diego Pulenta, proprietário da Pulenta Estate (Argentina) e Daniel Geisse, proprietário da Cave Geisse (Brasil), também marcarão presença em algumas praças.

Eventos das praças com lojas próprias:


POA | 29/05 - 17:00 às 22:00
(abrirá para profissionais às 17h e às 19h para o consumidor) Local: Grand Cru - Porto Alegre

Endereço: Av. Mariland, 1388 - São João, Porto Alegre - RS, 90440-190, Brasil

  Curitiba | 30/05 - 15:00 às 18h (sommeliers) / das 19h às 22:00 (consumidor final) Local: Bo Bardí

Endereço: Av. Munhoz da Rocha, 757 - Cabral, Curitiba - PR, 80035-000

  RJ | 05/06 - 15:00 às 18:00 (on trade) / 19:30 às 22:00 (consumidor final)

Local: Casa Julieta de Serpa
Endereço: Praia do Flamengo, 340 - Flamengo, Rio de Janeiro - RJ, 22210-030

  SP | 06/06 - 15:00 às 21:00 (exclusivo para clientes on/off trade) Local: Casa da Fazenda do Morumbi

Endereço: Av. Morumbi, 5594 - Morumbi, São Paulo - SP, 05607-000

  SP | 07/06 - 19:00 às 22:00 (consumidor final)

Local: Casa da Fazenda do Morumbi
Endereço: Av. Morumbi, 5594 - Morumbi, São Paulo - SP, 05607-000

Degustação paralela em São Paulo (vagas limitadas):

Dia 07/06, das 20h30 às 21h30: Seleção 100 pontos – R$ 1,9 mil por pessoa, dos quais R$ 800 poderão ser utilizados nas compras acima de R$ 5 mil.

-  Dominus 2010 – intruso

-  Château Haut-Brion 2010

-  Château Montrose 2010

-  La Mondotte 2009

-  Mouton Rothschild 2010


RSVP E VENDAS: eventos@grandcru.com.br

Se beber, não dirija

No dia dos eventos nas praças de POA, CWB, RJ e SP, os visitantes do evento poderão usufruir de uma parceria firmada com o serviço de transporte Cabify que concederá 25% de desconto aos participantes. Basta utilizar o código abaixo, de acordo com a respectiva cidade, para obter o benefício:

Porto Alegre

GRANDCRUPOA

Curitiba

GRANDCRUCWB

Rio de Janeiro

GRANDCRURIO

São Paulo

GRANDCRUSAO

Sobre Grand Cru: a maior rede de lojas de vinho no Brasil




Detentora da mais completa carta de vinhos Bordeaux Grand Cru Classé da América do Sul, a importadora tem atuação multicanal e possui 46 lojas com sua bandeira pelas principais cidades do Brasil

Com uma de vinhos das mais importantes regiões vitivinícolas do mundo, a importadora de vinhos Grand Cru está presente no Brasil desde agosto de 2002 e hoje já conta com 46 lojas de bandeira própria (entre filiais e franquias) espalhadas pelas principais cidades do Brasil. A importadora é a única multicanais em atividade no país, com operação de ON e OFF Trade, E-Commerce, Lojas Próprias, Franquias, Central de Televendas e Clube de Vinhos, conhecido como Confraria Grand Cru.

Originária da Argentina, a empresa também tem unidades no Uruguai e prevê para 2017 a abertura de ao menos 5 novas lojas. Inicialmente de propriedade familiar, a empresa iniciou suas atividades na em Buenos Aires, em 1998 e, em seguida, estendeu seu relacionamento a outros países. Iniciou no Brasil com foco nos vinhos argentinos e logo deu início à venda de grandes vinhos Chateaux de Bordeaux, tornando-se a maior referência desses rótulos no país. Com o tempo, ampliou seu foco de atuação para outras vinícolas do Velho e Novo Mundo, como Chile, Espanha, Portugal, Itália, Austrália, Líbano e Nova Zelândia. Atualmente mantém seu catálogo com 1,2 mil diferentes rótulos, sendo aproximadamente 850 deles de importação exclusiva. Entre suas principais marcas, destaque para Viña Cobos, Pulenta Estate, Escorihuela Gascón, Leyda, Grandes Vinos de Pedro, Casanova di Neri, Canalicchio di Sopra, San Marzano, Mazzei, Billecart Salmon, Bodegas Mauro, Vega Sicilia, entre outros.

* Texto fornecido pela assessoria de imprensa da importadora. 

segunda-feira, 22 de maio de 2017

O espumante do corte improvável!

No recente evento Coisa Nossa Etc., focado em vinhos nacionais, entre os rótulos que ainda não conhecia o que mais chamou minha atenção foi este espumante:

Laurentia Brut Excellence

A Laurentia é a vinícola mais perto de Porto Alegre (à apenas 40 km), fora do circuito clássico do Rio Grande do Sul. Foi fundada em 1996 pelo casal de médicos Gilberto e Leonor Schwartsmann , que depois de morarem por muito tempo nos EUA e Europa voltaram para o Brasil com o sonho de transformar a fazenda de família - localizada em Barra do Ribeiro-  numa vinícola boutique. Com a ajuda e consultoria de alguns dos nomes mais marcantes da viticultura nacional (como Ormuz Rivaldo, Adolfo Lona, Cleber Andrade e Evalde Filipon) conseguiram implantar vinhedos na propriedade com variedades importadas da Europa. Depois de quase uma década de experimentação os primeiros rótulos comerciais foram lançados em 2005 e ao longo dos anos a vinícola vem ganhando prêmios nacionais e internacionais, que comprovam a qualidade de seu trabalho.



Provei 4 rótulos da casa, todos bem feitos,  mas este espumante me impressionou particularmente, porque além de ser bom é vinificado com uvas no mínimo inusitadas, para não dizer improváveis!

O corte leva 50% de Chardonnay (e até aqui tudo bem), e o restante é dividido em partes iguais em Montepulciano e Nebbiolo, uvas tintas italianas que não me lembro de ter visto antes em nenhum tipo de espumante. Mas não é que esta escolha supostamente duvidosa deu certo?

Produzido com o método clássico, as leveduras trazem no nariz o típico toque de panificação, com fruta branca (tipo maça e pera), e notas de limão. Na boca tem bom ataque e volume, com um final cremoso e muito agradável. Teria gostado de uma pitada de acidez a mais, mas ninguém é perfeito, né? J

De qualquer forma um espumante muito interessante, e com um preço muito apetitoso (cerca de R$ 50).

Interessados do RJ podem contatar o representante aqui:
e-mail: sulriovinhos.miguel@gmail.com







quarta-feira, 17 de maio de 2017

CANTU DAY 2017, COMEÇOU A 5ª EDIÇÃO!

Já estão à venda os ingressos para a 5ª edição do Cantu Day (www.cantuday.com.br), importante evento do universo do vinho que reunirá mais de 270 rótulos de 13 países produtores para degustação em 5 capitais brasileiras. Dentre eles, destaque para os lançamentos da chilena Viña Ventisquero (www.ventisquero.com), da francesa Calvet (www.calvet.com) e da italiana Da Vinci, da Toscana (www.cantineleonardo.it).

Além da oportunidade de experimentar vinhos de diferentes tipos de uva, maturidade e terroir, o evento é uma grande oportunidade para conhecer e conversar com autoridades de vitivinicultura mundial, a exemplo de Edgardo Del Popolo, um dos ícones da viticultura Argentina e gerente-geral da Susana Balbo Wines (www.susanabalbowines.com.ar), produtora do belo vinho NOSOTROS.

Também estarão presentes Alexandre Relvas, proprietário e enólogo da Herdade de Sao Miguel (www.herdadesaomiguel.com); Pedro Poças, proprietário da Poças Junior (www.pocas.pt), que elabora grandes vinhos do Porto e Douro; Paulo Giusti, proprietário da Giusti & Zanza Vigneti e produtor do Dulcamara, um dos vinhos Supertoscanos mais destacados; e Francisco Ruidiaz, diretor da Viña Ventisquero (www.ventisquero.com), com seus ícones Vértice, Pangea e Grey, altamente pontuados pela critica internacional e reconhecidos do mercado brasileiro e será lançado o Grey Sauvignon Blanc 2016. Além deles, estarão presentes produtores de várias regiões do mundo.



Ingressos

Os ingressos para pessoa física das 4 etapas da 5ª edição do Cantu Day devem ser adquiridos exclusivamente pelo site Foodpass, por R$ 90. No dia do evento, o participante ganha uma taça.

Cidades

As etapas acontecerão nas cidades de Belo Horizonte (16/05/17), Rio de Janeiro (18/05/17), São Paulo (23/05/17) e Curitiba (25/05/17). No mês de agosto (08/08/17), haverá mais uma etapa no Recife.

Cantu Day Belo Horizonte

Dia 16.05.17 das 16 às 21h

Local do evento: Espaço Meet - Av. Raja Gabaglia, 2671

foodpass.com.br/cantu-importadora- de-bebidas- ltda-foodpass- com-br- cantu-day- bh2017

Cantu Day Rio de Janeiro

Dia 18.05 das 16 às 21h

Local do evento: Iate Clube do Rio de Janeiro - Av. Pasteur, 333

foodpass.com.br/cantu-importadora- de-bebidas- ltda-https- foodpass-com- br-cantu-

importadora-de- bebidas-ltda- foodpass-com- br-cantu- day-rj2017

Cantu Day São Paulo

Dia 23.05.17 das 16 às 21h

Local do evento: Espaço Infinitto - Av. Moffarej, 167

foodpass.com.br/cantu-importadora- de-bebidas- ltda-https- foodpass-com- br-cantu-

importadora-de- bebidas-ltda- foodpass-com- br-cantu- day-sp2017

Cantu Day Curitiba

Dia 25.05.17 das 16 às 21h

Local do evento: Buffet Nova Curitiba - Rua Paulo Gorski, 510

foodpass.com.br/cantu-importadora- de-bebidas- ltda-https- foodpass-com- br-cantu-

importadora-de- bebidas-ltda- foodpass-com- br-cantu- day-cwb2017

Cantu Day Recife

Dia 08.08.17 das 16 às 21h

Local do evento: a confirmar

Vendas: ainda não disponível

www.cantuimportadoracantuday.com.br

App

Os visitantes também contarão com o apoio do aplicativo Cantu Day 2017. Nele os enófilos poderão consultar informações sobre o evento, expositores e muito mais.


Sobre a Cantu Importadora

Empresa do grupo Cantu que iniciou suas atividades no ano de 2004 quando passou a representar com exclusividade no Brasil os vinhos da chilena Viña Ventisquero. Atualmente conta com uma seleção de vinhos reconhecidos e premiados internacionalmente, provenientes de 11 países, sendo mais de 400 rótulos de vinho de 75 produtores, além da cerveja artesanal Insana, produzida em Palmas (PR), e da cerveja tailandesa Singha. Atualmente possui matriz em São Paulo e filiais em Recife, Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, além de armazém central na cidade de Itajaí (SC).


* Texto fornecido pela assessoria de imprensa da importadora. 

terça-feira, 9 de maio de 2017

Com as raízes na lava

Os vinhos da Sicília (assim como um pouco todos do sul da Itália) já são um sucesso e se tornaram moda no mundo, mas dentro desta fascinante ilha no meio do Mediterrâneo tem uma área vinícola que em tempos recentes está dando muito que falar: a do Etna. Até que enfim, eu acrescentaria, pois a do Etna foi a primeira DOC (Denominação de Origem Controlada) reconhecida da Sicília e uma das mais antigas da Itália (em 1968).

Ali, nas encostas e arredores do homônimo vulcão – o maior e mais ativo da Europa, diga-se de passagem - crescem vinhedos centenários , plantados ainda em pé franco, principalmente das castas autóctones Nerello Mascalese e Nerello Cappuccio para as tintas e Cataratto e Caricante para as brancas.

Os vinhos do Etna são muito peculiares devido a uma equação de fatores única para viticultura: o solo (uma mistura de lava, areias pretas/cinzas e calcário) literalmente pega fogo; o sol escaldante da região é mitigado pela brisa do mar próximo; a altitude de até 1.100 mt gera  grande amplitude térmica (que pode chegar até 30 graus de diferença entre dia e noite); a idade dos vinhedos, em muitos casos da época pre-filoxera.

O resultado são vinhos diferentes, que se distinguem pela delicadeza, onde a fragilidade representa a própria força, mas que trazem bastante complexidade aromáticas e de sabores, onde predominam a mineralidade, a salinidade e as especiarias, junto com a fruta. E por isso  estão encantando os enófilos do mundo inteiro.

Para você ver que não estou inventando, basta pegar qualquer guia de vinho internacional dos últimos anos para reparar que os vinhos mais premiados da Sicília são justamente desta denominação.


É o caso inclusive do vinho de hoje, que ganhou 93 pontos pela Wine Enthusiast, 91/100 por James Suckling e 90/100 pela Decanter.

Tornatore Etna Rosso DOC 2014
O produtor é um dos nomes mais importantes e tradicionais da região (desde 1865). O vinho procede de vinhedos das duas variedades de Nerello, localizdos a 600 mt de altitude e matura por mais de um ano em toneis de carvalho grande (a vinícola não utiliza barriques para que a madeira não se sobreponha ao conjunto).  É tipicamente pouco extraído na cor, lembrando um bom pinot noir, e tem perfumes sutis de sálvia, menta, pólvora, terra molhada e exuberantes frutos de bosque. Na boca delicada, se destaca a mineralidade e os sabores mentolados, mantidos firmes pela grande acidez em equilíbrio com taninos prazerosos e madeira perfeitamente integrada. Final levemente salgado. Um vinho ao mesmo tempo alegre e sério, vivaz e elegante, de muita personalidade.

Vinho:
Etna Rosso D.O.C.
Safra:
2014
Produtor:
Azienda Agricola F. Tornatore
País:
Itália
Região:
Sicília
Uvas:
Nerello Mascalese e Nerello Cappuccio
Alcoól (Vol.)
13,5%
Importadora:
Nova Fazendinha
Custo médio:
R$ 130,00
Avaliação MV
* bom,
** marcante,
*** memorável
**




Veja também Um vinho explosivo” 


quarta-feira, 3 de maio de 2017

4 surpreendentes exemplares de Pinot Noir do Brasil

É opinião comum e largamente consolidada que a uva que melhor se adapta ao terroir brasileiro seja a Merlot, mas tomo a liberdade de afirmar que esta é uma meia verdade. Porque ao lado de bons merlots, pra mim outras uvas se dão tão bem quanto e merecem ficar na briga. Falo por exemplo da Cabernet Sauvignon, da Cabernet Franc (que inclusive anteriormente foi a “escolhida” da vez), de umas italianas como Ancellotta, Barbera e Sangiovese entre outras. Mas mais que todas estas eu venho me surpreendendo a cada vez mais com a casta supostamente mais improvável para o Brasil: a Pinot Noir.

Mas como? A uva mais difícil e temperamental do mundo está dando certo no Brasil? Yes, ladies and gentleman. Claro, não é qualquer um que a faz, e tampouco não é qualquer um que a sabe fazer, mas grosso modo eu diria que o caminho certo está sendo traçado. Mas atenção em não cair na clássica armadilha: comparar com a Borgonha. Isto seria até covardia, mas me arrisco em dizer que alguns pinots brasileiros são a coisa mais parecida com pinot de velho mundo de maneira geral.

Recentemente tive modo de provar, em breve espaço de tempo, 4 pinots nacionais, portanto decidi agrupar as minhas impressões aqui num único post, até para comparação de estilos.

- Monte Paschoal Dedicato Pinot Noir 2014: da tradicional vinícola da família Basso (de origem italiana), este vinho procede de vinhedos situados em Encruzilhada do Sul (RS). De cor bastante extraída para a casta, o nariz não é tão limpo, mas os aromas típicos estão todos aí: fruta silvestre fresca, vegetação rasteira, com aromas terciários tipo cogumelos, alcaçuz e um toque animal. Boa presença de boca, com acidez em equilíbrio com os taninos um tanto rústicos e a com a madeira. Talvez peque um pouco em precisão, mas me pareceu um vinho sincero, por isto me conquistou (R$ 90,00)


- Casa Valduga Terroir Identidade 2015: indicado pela revista britânica Decanter como um dos melhores pinots brasileiros. Do mesmo terroir que o anterior, este já tem a cor mais tênue que você esperaria de um pinot, muito límpida, e também paladar mais delicado. Bastante fruta vermelha e hortelã, com notas de baunilha. Pareceu-me mais puxado para o estilo de pinot de Novo Mundo, lembrando os da região de Casablanca no Chile, por exemplo. De qualquer forma bem agradável e tecnicamente impecável (R$ 85,00)




- Pericó Basaltino Pinot Noir 2013: aqui estamos em outro terroir, aliás em outro estado mesmo: em Santa Catarina, mais precisamente em São Joaquim. Um vinho de altitude (1300 mt a cima do nível do mar), que mostrou mais corpo e presença. Em plena fase evolutiva, os perfumes frutados deixaram espaço para os aromas terciários, de madeira tostada, café, tabaco, couro. Diferente e interessante (R$ 130,00)



- Serena Pinot Noir Vinhedo São Paulino 2015 : este é um fora de série e mereceria uma categoria a parte. O Mauricio Voigt Ribeiro produz em Nova Pádua provavelmente o melhor pinot noir do Brasil. Na vertente dos vinhos chamados “naturais”, vem de cultivo orgânico e biodinâmico; fermentação espontânea, mínima intervenção humana e quase zero sulfitos. Tinha já provado o Vinhedo Serena - em mais de uma ocasião, das safras 2011 e 2012 (uma pequena joia mesmo), mas ainda não conhecia este rótulo que vem de outro vinhedo. O resultado é basicamente o mesmo, um vinho finíssimo, perfumado, elegante e de um frescor incrível (R$ 160,00).





Estes são apenas os últimos provados, mas tem outros vinhos primorosos e excelentes com base nesta casta produzidos em território brasileiro. Enfim, a pinot noir nacional vem a cada vez mais mostrando seu potencial para chegar ao topo da viticultura brasileira.