quinta-feira, 20 de abril de 2017

Já provou vinho ucraniano?

Que hoje em dia se produz vinho bom em praticamente todos os cantos do planeta isto é fato e já não é mais surpresa, especialmente quando falamos de velho mundo. Mas mesmo assim, quando o assunto é Europa, vamos combinar que a Ucrânia certamente não é entre os primeiros países que vem a cabeça dos enófilos experientes.

Mas a Ucrânia tem longa tradição vinícola, com registros que remetem ao século VII A.C! Para um europeu como eu provar pela primeira vez vinho da Ucrânia aqui no Brasil soa certamente estranho, mas a verdade é que, como acontece também em outros pequenos países produtores, os vinhos ucranianos praticamente não saem para o exterior porque são todos absorvidos pelo mercado interno.

Esta tarefa é apenas para importadores ousados e antenados como o nosso amigo Fernando Zamboni da Winelands, que com garimpo primoroso traz constantemente para o Brasil novidades exóticas, rótulos e uvas diferentes de regiões pouco exploradas e sempre interessantes.

Provei dois vinhos da vinícola Shabo, talvez a mais respeitadas da Ucrânia, ambos procedentes da região de Odessa, consideradaa melhor para viticultura local.

- Shabo Young Cabernet Sauvignon & Merlot 2015: como o próprio nome indica, é para se desfrutar jovem, aproveitando seu frescor e abundante fruta vermelha tanto no nariz quanto na boca. É um vinho leve e simples, mas de qualquer forma correto e bem equilibrado. Inclusive um belo coringa para harmonizações.



- Shabo Classic Merlot 2014: este, mesmo sendo também um vinho leve, já tem mais presença (inclusive tem passagem em madeira) e estrutura. Boa intensidade aromática, com destaque para frutas silvestres e um paladar bem agradável, suportado por boa acidez, taninos finos e carvalho bem integrado.



Resumindo (também para você não achar que estou rasgando demais a seda do Fernando), os vinhos podem não ser memoráveis, mas são muito bem feitos, e se você se considera um enófilo curioso e atento, aberto a novidades e a países menos badalados, aí eu digo que você tem o dever de provar. Nem que seja para adicionar mais um país ao seu Vivino ;-)



segunda-feira, 17 de abril de 2017

Vem aí o evento Coisa Nossa Vinho Etc

Quem me conhece e acompanha estas páginas, sabe que sou estrênuo defensor dos vinhos nacionais. De maneira geral posso dizer que hoje prefiro vinho brasileiro ao dos demais concorrentes sulamericanos, pelo menos em determinadas categorias e faixas de preço. E não falo apenas dos já consagrados espumantes, mas sim de tintos e brancos que dizem muito em respeito ao próprio terroir.

Claro que o Brasil é ainda uma criança em sentido enológico e muita coisa ainda precisa ser feita, tanto no quesito produtivo quanto no comercial. Mas, se por um lado ainda há amadorismo e táticas predadoras querendo explorar um mercado ainda pouco maduro, do outro lado existem empresas sérias e compromissadas, produtores experientes e competentes que mostram um trabalho louvável que deveria orgulhar qualquer enófilo brasileiro.

Portanto só posso ficar feliz em divulgar eventos como este do Coisa Nossa Vinho Etc, que promove o produto brasileiro. Neste caso não é apenas vinho, mas também queijos, conservas, pâtisserie, etc, e haverá também palestras informativas comandadas por alguns nossos amigos Mestres Jedi no assunto. 

Então não me resta que parabenizar a vinda deste evento inédito para a cidade maravilhosa e deixar todos os detalhes abaixo (release oficial com os expositores confirmados, programação das palestras, contatos e link para aquisição do ingresso).

Bora prestigiar!















A Enseada de Botafogo será palco de um evento enogastrômico inédito no Rio de Janeiro, o “Coisa Nossa Vinhos e etc”.

Marcado para o dia 4 de maio, no Novotel Botafogo, no Rio de Janeiro, o evento reunirá o que existe de melhor na produção vitivinícola brasileira, além de pequenos produtores de queijos, conservas e etc.

O público terá a oportunidade de conhecer, degustar e comprar uma variedade de produtos provenientes dos mais diversos “terroris” brasileiros e se surpreenderá com a qualidade de nossos produtos, seja ele queijo, espumante, vinho tinto e tudo mais que estiver presente.

O espumante brasileiro domina o mercado nacional em vendas. A cada 100 espumantes vendidos, 80 são brasileiros. No caso dos vinhos tranquilos o cenário se inverte, mas estamos certos que não é por falta de qualidade de nossos produtos e sim por desconhecimento. Com esta certeza nasceu a página “Coisa Nossa Vinhos e etc” em 2016 e agora o evento.

Além da parte de exposição o público poderá assistir aulas magnas ministradas por grandes especialistas, como: Rogério Dardeau, Valdiney Ferreira, Rafael Puyau e Daniel Martins. Cada aula abordará um tema específico.

Na entrada do evento será disponibilizada uma taça para cada visitante e a mesma irá acompanhá-lo nas mais diversas experiências de sabor e história. Será uma verdadeira imersão na cultura brasileira!

O evento “Coisa Nossa Vinhos e etc” é uma grande oportunidade para aproximar os produtos brasileiros, o que é coisa nossa, do público em geral, seja ele, profissional da área ou consumidor final.

EXPOSITORES CONFIRMADOS:

Gastronomia
Arte em Conservas
Blé Patisserie
Empório Império
Estação Sabor de Minas
Liga do Açai
Orolatte Queijos Artesanais
Queijo com Prosa
Queijo d'Alagoa

Vinhos
Cattacini
Cave Nacional
Decanter com Hermann e Quinta da Neve
Le Chateau com Laurentia
Lídio Carraro
Luiz Porto
Pericó
Pizzato
Routhier & Darricarrère
Serrado Vinhos
Vinum Rio

SERVIÇO DO EVENTO

Evento: Coisa Nossa Vinho e etc
Local: Novotel
Endereço: Praia de Botafogo, 330, Botafogo, Rio de Janeiro
Data: 04 de maio de 2017
Horários: 14h às 17h (convidados) e 17h às 22h (consumidor final)
Ingressos: http://www.ingressocerto.com/coisa-nossa-vinhos-e-etc-p148530


sexta-feira, 14 de abril de 2017

Cuidado, estão chegando os vinhos ingleses!

O clima do nosso planeta está mudando, e, como previsto, vinhos produzidos em regiões supostamente impensáveis estão começando a dar certo. É o caso da Inglaterra, onde até a década passada a idéia de produção vitivinícola era considerada absurda, mas que hoje está já mostrando seus bons resultados.

Famílias de pioneiros como Mosses, Nyetimber e Bolney, que na década de 80 acreditaram e apostaram naquela ideia absurda, plantando videiras no sul da país (particularmente nas regiões de Kent e Sussex), hoje estão colhendo os frutos (literalmente) daquela escolha corajosa.   

Os tintos ingleses ainda engatinham, mas parece que os espumantes já estão estourando (não apenas literalmente), representando hoje 2/3 da inteira produção de vinhos do País.

A aposta está dando tão certo que umas grandes maisons de Champagne come Louis Roederer, Taittinger e Pommery começaram a investir forte na região, enxergando grande potencial nesta nova área de produção.


As uvas utilizadas para os sparkling ingleses são as mesmas de Champagne (Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier). Afinal existe um documento datado de 1662 em que o cientista inglês Christopher Merret apresenta para a Royal Society de Londres um processo para obter vinho espumante com o tal do método clássico, isso 20 anos antes que a mesma técnica fosse descrita na França pelo monge beneditino Dom Perignon.

Enfim, despontou mais um concorrente para o já disputadíssimo mercado de borbulhas mundial; vamos ver se os ingleses vieram para ficar. O primeiro desafio será de passar o teste do exigente mercado interno, maior consumidor de Champagne do mundo. 

Antecipo que nunca provei nenhum vinho dos produtores abaixo citados, mas conforme minhas pesquisas, seguem os nomes para ficar de olho (em ordem alfabética):

- Bolney 
- Chapel Down
- Gusbourne 
- Hattingley Valley
- Langham
- Lynchgate 
- Nyetimber 
- Ridgeview 
- Wiston Estate

Já se quiser conferir algum rótulo especifico talvez este artigo da prestigiada revista Decanter possa ajudar (com pontuações chegando até 96 pontos!).

Pronto, se você estiver indo para Inglaterra agora já sabe com qual vinho se divertir e qual garrafa colocar na mala. Mas não se esqueça de colocar uma a mais pra mim, afinal seria o mínimo para agradecer as dicas não é? ;-)





sexta-feira, 7 de abril de 2017

Os vinhos mais finos da World Wine Experience Península Ibérica

Do recente World Wine Experience Península Ibérica seria meio que óbvio e redundante destacar monstros sagrados como Marqués de Murrieta, Quinta da Falorca, Carm, Herdade do Rocim, Vivanco... então prefiro aqui falar de uma vinícola menos conhecida que me impressionou muito positivamente e que pra mim foi o verdadeiro destaque: Bodegas y Vinêdos Ponce.

Estamos na D.O. Manchuela, no centro-leste da Espanha, precisamente nas províncias de Albacete e Cuenca a menos de 200km do mar em direção a Valencia.

Os vinhos desta denominação são majoritariamente produzidos com a uva autóctone Bobal. A casta já foi muito usada em corte (frequentemente com a Arién), mas uma recente revolução da viticultura local está mostrando ao mundo o grande potencial da Bobal quando vinificada de maneira varietal.

Pessoalmente gosto bastante, pois é uma uva que normalmente produz vinhos pouco alcoólicos, mas com bons taninos e uma acidez gostosa. Os vinhos da Ponce não fogem a regra.

O Juan Antonio Ponce fundou a vinícola em 2005, com apenas 23 anos de idade. Até então tinha ganho uma respeitável experiência trabalhando como o braço direito do “bad boy” Telmo Rodriguez, um dos enólogos mais talentosos e revolucionários da Espanha recente.

Para os seus vinhedos o Juan Antonio abraçou a filosofia biodinâmica e uma abordagem de pouca intervenção, utilizando quantidades mínimas de sulfitos e leveduras indígenas. Para isso elegeu justamente a Bobal como protagonista em respeito ao seu terroir, que utiliza em 90% dos seus vinhos.

Na degustação da World Wine tive a oportunidade de provar praticamente a linha inteira, todos de ótima qualidade e com preço razoável.



 - Reto 2015: branco produzido com 100% de uva Albilla, fermentado em barricas de carvalho de 600 lt. Leve e refrescante, perfeito para aperitivos, ainda vai evoluir na garrafa (R$ 141,00)
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-  Clos Lojen 2013: varietal de Bobal vinificado no estilo Beaujolais (com maceração carbônica), matura por 7 meses em toneis de carvalho usado. Gostei, mas acredito que sua proposta seja para desfrutar mais jovem, portanto, ao contrário do caso anterior, acho que uma safra mais nova entregaria algo a mais, especialmente as sensações frutada (R$ 88,00)
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- Buena Pinta 2013: o meu segundo preferido do painel. Aqui o corte leva a uva Moravia Agria junta com a Bobal, vinificadas separadamente. O blend final matura com as borras durante 6 meses e é engarrafado sem filtração. Equilíbrio excelente entre boa fruta, acidez refrescante e taninos finos (R$ 141,00)
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- La Casilla 2013: este procede de um vinhedo único de Bobal. Mais extração de cor, mais taninos (aqui um pouco mais rústicos, mas gostosos), pede uma bela carne (R$ 141,00)
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- PF 2014: o meu preferido da sequência. Procedente de 4 vinhas velhas (com idade média de 75 anos) plantadas em pé franco, fato bastante raro na Europa. Vinificação e maturação são praticamente as mesmas do Buena Pinta, mas neste os aromas são muito mais nítidos e frescos, assim como o paladar. Finíssimo (R$ 163,00)
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- Pino 2013: o vinho top da vinícola e o mais pontuado (93 e 94 pontos Parker e Guia Peñin) seja talvez o único que não compraria (mas isto não é novidade pelo que me concerne...). Uma versão mais encorpada do vinho anterior, 100% Bobal, 11 meses de barrica, provavelmente o menos fino do painel. Mas atenção, isto não significa que o vinho não seja bom! Apenas, em minha humilde opinião, você pode gastar 100 reais a menos e se divertir muito mais (R$ 242,00)
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Uma videira de 85 anos nos vinhedos Ponce